Réplica monumental da escultura "Opa Exin ati Eiye Meji" de Mestre Didi pelo artista Oscar Ramos no Pelourinho. Prefeito Mário Kertz.
Foto M.A. Luz
Professor Marco Aurélio, Bem-vindo!
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Professor Marco Aurélio, Bem-vindo!
O
Sr. MARCO AURÉLIO LUZ:
-
Bom dia a todos e a todas. Ago awon aburo
ati ebomi. Peço licença aos mais novos e aos mais antigos.
Queria
registrar a minha emoção de estar aqui. Atravessei uma trajetória muito
especial em minha vida, que foi compartilhada com Mestre Didi e Juana Elbein
dos
Santos. Fizemos coisas do arco-da-velha.
A
Conferência Mundial da Tradição dos Orixás, em 1983, foi uma das realizações
mais resplandecentes dessa nossa trajetória. Mestre Didi e Juanita iniciaram
isso na histórica reunião em Nova York em 1980,
estiveram na Iª Conferência em Ifé, em 1981, e depois foi realizada aqui
em Salvador, quando veio uma delegação africana muito importante lá da Nigéria,
com babalaôs e tudo mais, inclusive um rei de Ejigbô, o Elegibô.
Vou
citar um episódio dessa ocasião. O Elegibô vinha entrando pelo Centro
de
Convenções e várias pessoas deram dodobale, quer dizer, o saudaram mostrando um
sinal
de humildade e respeito à pessoa do rei. Até que ele se deparou com Mestre
Didi, que
ficou na mesma posição que estava. E ele perguntou ao Mestre Didi:
-
“Você não vai me dar dodobale?” Mestre Didi respondeu: “Não é
que eu não queira; eu não posso, porque eu sou Alapini, e
Alapini está acima de um rei, de um obá”.
Esta
situação do Mestre Didi é uma obrigação, não é que ele não quisesse ou
fosse
uma escolha, mas ele é um omo bibi, um bem-nascido, aquele que herda uma
herança
ancestral de muito compromisso, uma reposição que é a reposição da tradição
religiosa
nagô.
O
destino levou Mestre Didi a ser o responsável pelos ancestres mais antigos da
tradição nagô no Brasil e por isso recebeu o título de Alapini. Em Oyo o Alapini
cuida dos ancestrais mais antigos no afin no
palácio.
Réplica Monumental da escultura Opo Baba Nla de Mestre Didi na praia da Paciência Rio Vermelho. Prefeito Imbassay
Foto M. A. Luz
Ele me disse uma vez: “Pode-se dizer que a história da tradição do Orixá na Bahia se confunde com a história da minha família”. Porque foram as ancestrais dele,
Foto M. A. Luz
Ele me disse uma vez: “Pode-se dizer que a história da tradição do Orixá na Bahia se confunde com a história da minha família”. Porque foram as ancestrais dele,
Iyá Nassô, Iyá Obá Tosi, fundadoras das primeiras casas de culto aqui
na Bahia.
Iniciaram as pessoas que fundaram o Gantois e o Ilê Axê Opó Ofonjá.
Então
esse tronco da tradição africana esteve na responsabilidade da família Asipá, fundadora de cidade lá na África, como Ketu saindo de Oió e se projetando na Bahia nessa reposição.
Eu
penso que o Mestre Didi e vários líderes se destacaram na luta pelos
direitos
civis, lutando contra o racismo. Mas Mestre Didi se destaca como um líder da
história
do negro no Brasil e no mundo de modo geral, lutando pela liberdade, de modo muito
especial porque ele lutou pela reposição da tradição africana, dos valores da
tradição
africana, da linguagem da tradição africana, suas instituições que irriga a
alma da identidade brasileira.
Isso
é uma coisa fundamental. E ele se destacou por isso, não se destacou fazendo alarde.
Ele dizia que deveríamos seguir a estratégia dele, que é a de trabalhar
como cupim, sempre fazendo as coisas sem alarde, sem aparecer. Por isso que
muita gente
aqui não conhece o esplendor da trajetória do Mestre Didi. Vem conhecendo
pouco
a pouco, porque ele mesmo tinha uma estratégia que era a de fazer pouco a pouco
e
dessa forma, porque a situação não era para a gente estar se mostrando e se
demonstrando,
nem precisava disso. Ele dizia sempre que ele sabia quem ele era, não precisava
estar dizendo para ninguém, nem ninguém dizendo dele, mas nós dizemos porque
admiramos e convivemos com ele, temos essa obrigação de enaltece-lo.
Como
Gildeci,
que me antecedeu, falou nessa casualidade do dia do samba ser um dia também
ligado
ao 2 de dezembro – data do nascimento do Mestre Didi –, eu vou pedir licença
para
cantar um samba que já cantei uma vez com Alaor Macedo, que é sobrinho do
Mestre
Didi, fundador da Lira Imperial e também participou de movimentos das escolas
de samba. Como as coisas entre nós acaba em samba, eu vou pedir licença para
cantar
essa música de minha autoria.
(Canta
uma música.)
No dia 2 de dezembro de 1917 nasceu
aqui na Bahia um princípe real/ da África ao Brasil a continuação da família
Asipa...
Muito
obrigado a todos.
A
Srª PRESIDENTA
(Dra. Fabíola Mansur):- Salve essa voz,
professor!