Por Marco Aurélio Luz
Para Lélia de Almeida eterna lembrança
Símbolo da sociedade secreta Ogboni que reune líderes de instituições de poder feminino e de poder masculino no universo civilizatório nagô.
Imagem disponível na Internet
Acompanhando
os ensinamentos de Sigmund Freud, tentaremos explicar algumas razões do
inconsciente da masculinidade e feminicídio.
Uma lógica do inconsciente se baseia no par de oposição DA(aí) e FORT(lá) ou presença
e ausência. Trata-se da situação do nascituro nos inícios de sua vinda ao mundo
integrado ao corpo da mãe, e totalmente dependente dela para viver. Trata-se do
mistério da transformação do corpo da mulher na gestação e em fonte de
alimentação amor e proteção.
A
presença da mãe (DA) gera satisfação e plenitude ao recém-nascido ao contrário
da ausência (FORT), causa desprazer carência e desespero. Essa é a dinâmica de
uma simbiose prolongada.
Poderíamos
intuir que estamos diante da tomada de consciência do mistério do existir, vida
e morte. Na mitologia grega, Eros Deus
do amor e Thanatos Deus da morte,
conceitos
usados na psicanálise.
Os
seres humanos têm consciência desse ciclo natural, mas tentam retardar ou
ludibriar a morte. Eros x Thanatos, pulsão de vida contra a pulsão de morte.
Uma
das maneiras é a onipotência, como se o poder frente aos outros, garantisse a
ausência da morte. É a situação apresentada no célebre escrito de Freud “Totem
e Tabu”, que apresenta a “horda primitiva”
presente no solo imaginário do inconsciente. Trata-se da luta instalada no
grupo para erigir o macho vencedor como aquele que terá o direito a procriação
com todas as fêmeas, o que gera tensões e disputas constantes, até que o mais
potente atinja a impotência, Eros dá
a vez a Thanatos dando início a um
novo ciclo e assim sucessivamente.
Toda
essa demonstração de violência física das disputas, têm a finalidade de
aterrorizar as fêmeas, isto porque essas detêm o formidável poder da procriação
que constitui a inexorável complementação sem a qual a masculinidade perderia
sentido.
Egito negro faraônico. O casal Miquerinos e Kamerernebti II .
Imagem disponível na internet
No
caso das sociedades humanas atualmente em geral, vemos a tentativa de os grupos masculinos deterem
os poderes políticos da organização social alijando desse comando os grupos
femininos. Como disse Mao Tse Tung “o poder está na ponta dos fuzis”.
Mais
do que isso, procuram subjugar e colocar as mulheres ao seu dispor para aplacar
sua angústia de dependência desde o nascimento. Para isso, tentam colocar ao
seu dispor o corpo da mulher.
O
patriarcado que predomina no mundo vem sofrendo questionamentos. Movimento de
mulheres e novas atitudes de empoderamento feminino tem causado diversas
reações. A masculinidade despreparada e desesperada, tenta apelar para
tentativas de submeter as mulheres pela força física e a covardia. Consequência da neurose de abandono.
As
estatísticas de feminicídio aumentam a cada dia, muito triste.
A
superação da simbiose agora neurótica, “homem infantil” e “mulher mãe” é que
poderá engendrar através da elaboração de luto dessa situação a constatação da alteridade homem e mulher.
Tradição nagô; escultura dos Ibeji, Tayo, Keinde e Dou.
Imagem e escultura de M.A. Luz
Cada qual revestidos da riqueza da complementação asseguram a continuidade do existir da espécie .
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