quarta-feira, 27 de março de 2019

MASCULINIDADE E FEMINICÍDIO

Por Marco Aurélio Luz                                      
Para Lélia de Almeida eterna lembrança

Escultura em bronze representando o casal unido por elos, corrente de ancestralidade. 
Símbolo da sociedade secreta Ogboni que reune líderes de instituições de poder feminino e de poder masculino no universo civilizatório nagô.
Imagem disponível na Internet

                         
 Acompanhando os ensinamentos de Sigmund Freud, tentaremos explicar algumas razões do inconsciente da masculinidade e feminicídio.
Uma lógica do inconsciente se baseia no par de oposição DA(aí) e FORT(lá) ou  presença e ausência. Trata-se da situação do nascituro nos inícios de sua vinda ao mundo integrado ao corpo da mãe, e totalmente dependente dela para viver. Trata-se do mistério da transformação do corpo da mulher na gestação e em fonte de alimentação amor e proteção.
A presença da mãe (DA) gera satisfação e plenitude ao recém-nascido ao contrário da ausência (FORT), causa desprazer carência e desespero. Essa é a dinâmica de uma simbiose prolongada.
Poderíamos intuir que estamos diante da tomada de consciência do mistério do existir, vida e morte. Na mitologia grega, Eros Deus do amor e Thanatos Deus da morte, conceitos usados na psicanálise.
Os seres humanos têm consciência desse ciclo natural, mas tentam retardar ou ludibriar a morte. Eros x Thanatos, pulsão de vida contra a pulsão de morte.
Uma das maneiras é a onipotência, como se o poder frente aos outros, garantisse a ausência da morte. É a situação apresentada no célebre escrito de Freud “Totem e Tabu”, que apresenta a “horda primitiva” presente no solo imaginário do inconsciente. Trata-se da luta instalada no grupo para erigir o macho vencedor como aquele que terá o direito a procriação com todas as fêmeas, o que gera tensões e disputas constantes, até que o mais potente atinja a impotência, Eros dá a vez a Thanatos dando início a um novo ciclo e assim sucessivamente.
Toda essa demonstração de violência física das disputas, têm a finalidade de aterrorizar as fêmeas, isto porque essas detêm o formidável poder da procriação que constitui a inexorável complementação sem a qual a masculinidade perderia sentido.


Egito negro faraônico. O casal Miquerinos e Kamerernebti II . 
Imagem disponível na internet 
No caso das sociedades humanas atualmente em geral, vemos a tentativa de os grupos masculinos deterem os poderes políticos da organização social alijando desse comando os grupos femininos. Como disse Mao Tse Tung “o poder está na ponta dos fuzis”.
Mais do que isso, procuram subjugar e colocar as mulheres ao seu dispor para aplacar sua angústia de dependência desde o nascimento. Para isso, tentam colocar ao seu dispor o corpo da mulher.
O patriarcado que predomina no mundo vem sofrendo questionamentos. Movimento de mulheres e novas atitudes de empoderamento feminino tem causado diversas reações. A masculinidade despreparada e desesperada, tenta apelar para tentativas de submeter as mulheres pela força física e a covardia. Consequência da neurose de abandono.
As estatísticas de feminicídio aumentam a cada dia, muito triste.
A superação da simbiose agora neurótica, “homem infantil” e “mulher mãe” é que poderá engendrar através da elaboração de luto dessa situação a constatação da alteridade homem e mulher. 


Tradição nagô; escultura dos Ibeji, Tayo, Keinde e Dou.
Imagem e escultura de M.A. Luz
Cada qual revestidos da riqueza da complementação asseguram a continuidade do existir da espécie .



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