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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


domingo, 12 de outubro de 2025

30 ANOS DE AGADÁ, UMA OBRA DE AXÉ

 

Por Gildeci de Oliveira Leite


"Busto de Nefertiti," bronze originário do Reino do Benim, restituída à Nigéria após décadas em que foi saqueada por soldados britânicos em 1897. Sobre a expansão colonialista e a dinâmica do tráfico escravista na África, o livro Agadá, dinâmica da civilização africano brasileira, aborda com veemência as agressões desencadeadas no continente africano.

Imagem disponível em https://expresso.pt/cultura/2021-04-03-Ha-mudancas-no-mundo-da-arte-em-Berlim.-Os-bronzes-do-Benim-vao-ser-restituidos-ao-pais-b28b9643

 


Minha primeira leitura do livro “Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira” foi durante a construção da dissertação de mestrado, concluída em 2003. O livro do Oju Obá — olhos do Rei Xangô — Marco Aurélio Luz já estava na segunda edição, vi nele caminhos para comprovação de tese, que havia arriscado ainda durante a graduação em exercícios da disciplina “Metodologia Científica” com a professora Hilda Ferreira e depois aperfeiçoada com as orientações do Professor Doutor Cid Seixas na pós-graduação.

Como obra basilar, “Agadá” proporciona compreender mais a respeito de orixás e da ancestralidade afro-brasileira, por isso tenho indicado como leitura obrigatória a alunos e orientandos da graduação e da pós-graduação.

 


 O Agadá aborda as COMTOCs Conferências Mundiais da Tradição dos Orixá e Cultura, desdobramentos da culminância do processo de aproximação e intercâmbio dos integrantes do contínuo civilizatório do culto das entidades de origem africana. A primeira foi realizada em Ile Ifé.

Acervo de M.A. Luz


Cartazes de divulgação das Comtocs que registram o fenômeno da importância das COMTOC.

 Acervo de M.A. Luz


Acervo de M.A. Luz

São trinta anos desde a primeira edição do livro, que continua atual e conforme disse Muniz Sodré em live comemorativa no dia 16 de setembro, um manancial de novas teses, que são propostas em suas linhas às leitoras e aos leitores atentos.

 






Muniz Sodré se refere ao Agadá, como uma fonte expressiva de prototeses  reunindo a riqueza de relatos transitivos e vivências.

 A obra faz jus ao seu título, age como um agadá, abre caminhos para novas pesquisas e por isso é citada em diversos trabalhos acadêmicos. Para que o leitor entenda melhor, agadá é a espada sagrada, emblema de Ogum, orixá guerreiro, desbravador, inventor, aquele que faz “coisas impossíveis”, conforme nos ensina o pesquisador nigeriano Félix Ayoh Omidire.

 

 Espada de Ogum

Foto Pierre Verger

Imagem disponível em https://atarde.com.br/cultura/culturaexposicao/mostra-e-livro-mantem-vivas-memoria-e-obra-de-pierre-verger-976932

 

 A obra é desbravadora e, nas palavras do professor Ricardo Oliveira Freitas (UNEB), é uma das manifestações pioneiras a considerar o legado africano como centralidade para a compreensão da cultura brasileira. Afinal, a escrita de Marco Aurélio Luz tratou de descolonização do pensamento no período em que tal abordagem não era tão pautada em pesquisas universitárias brasileiras.

 


O autor de AGADA ao lado de Mestre Didi e Everaldo Duarte numa mesa no âmbito da III ª Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura em Nova York em 1986.

 Com linguagem acessível, o que facilita o entendimento e amplia a possibilidade de construção de novos saberes por diversos leitores e leitoras de diferentes áreas, Agadá é um também uma palavra crítica de axé, feita por quem habita o lado de dentro da porteira.

Conforme pode ser visto na live “30 Anos Agadá: a Civilização Africana e seu legado transatlântico”, à disposição no canal da EDUFBA, sob a curadoria da doutora Narcimária Correia do Patrocínio Luz, o escritor é um homem de axé, portanto, como dito, habita o lado de dentro da porteira.

 


Mestre Didi e Marco Aurélio Luz na atmosfera do barracão no Ilê Asipá

 Foto do acervo de Marco Aurélio Luz

 Desta forma, trata-se de uma inscrição de quem foi autorizado a ler e a gravar no papel saberes ancestrais, respeitando os limites impostos pela tradição e certamente por isso, compreendendo melhor as leituras em suas diversas modalidades, proporcionando ao leitor fruições mais acertadas.

Parabéns ao nosso autor de axé pela energia que alimenta nossas investidas através de sua criação Agadá!

Gildeci de Oliveira Leite com Marco Aurélio Luz no âmbito do  I Simpósio Internacional de Baianidade -SINBAIANIDADE em Seabra em 2011.

 Afinal, com o agadá vários caminhos foram, são e serão abertos!

  


Imagem disponível em https://depositphotos.com/br/photo/ecuador-rainforest-green-nature-hiking-trail-path-tropical-jungle-mindo-566971590.html

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Gildeci de Oliveira Leite  é escritor, sócio do IGHB, PPGEL/UNEB. Autor do livro A casa do Mistério ou a Casa do Renascimento publicado pela Editora 2º Selo.

Instagram: @gildeci.leite

 

 

 

 

sábado, 4 de outubro de 2025

AGADÁ, TRANSCENDÊNCIA

 

 


De Otun Omi L’Ayó Narcimária Luz

Para o Oju Obá e Elebogi, Marco Aurélio Luz

 

LEITURA BANHADA POR POESIA

P-O-E-S-I-A   

DE ...

ORIGEM

RAIZ

AXÉ

EXU LAROYÊ!



Exu L'onan o Senhor dos caminhos
Escultura de M.A, Luz
Foto Otun Elebogi

A leitura que nos apresenta OKOTÔ, magnífica espiral que promove a expansão da civilização.

Leitura guiada pela espada de Ogum, ASIWAJÚ aquele que vai à frente, singrando caminhos pelas matas e florestas transformando minérios em metais, permitindo o florescer de tecnologias que sustentam a civilização.




A leitura segue envolta a

INÃ!

FOGO que aquece a leitura e alumia as saudosas lembranças daquelas e daqueles que arborizaram nosso caminho com dignidade e altivez.

Repleta de ANCIANIDADE

Grávida da filosofia nagô.




Pêndulo do silêncio tênue entre AIYÊ E ORUN

Espelho da nossa identidade profunda e mistério do existir.

Abrigo do sagrado e do ritmo do tempo cósmico.

Pilão de grãos e sementes ancestrais.

Leitura que exala ODARA, impregnando a nossa existência.

AYÓ!

Alegria milenar transbordante.

Sabedoria milenar que inspira a tessitura  das tranças na escolha dos fios que tecem a trama dos panos da costa, ojás, turbantes e filás que dão imponência ao ORÍ

Mosaico extraordinário de contas, cristais e cores que ornamentam e estruturam a composição de colares e brajás, nos ligando ao divino.

Aquela que faz cintilar o vivido-concebido dos ILÊ AXÉ.

Consagração dos itans, mitos e histórias dramatizadas pelo encantamento AKPALÔ



Que nos convida a conhecer a floresta sagrada onde EKUN a pantera, caminha suave, atenta e confiante.




Geografia ancestral de aldeias, palenques, quilombos e cidades.

Expressão magistral do conhecimento africano, manancial de tecnologias e grandiosas arquiteturas.

Manto mágico de ORIKIS, arte escultórica, danças, culinária, vestuário e dramaturgia.

A leitura segue banhada por...

OMI!

Água corrente que carrega seixos de cânticos e polirritmia que anima o xirê

Ensolarada pela ginga da capoeira, samba e maracatus.



Enluarada pela percussão do atabaque, tambor e berimbau.

Faz transbordar o direito de SER e EXISTIR.

AGADÁ, DINÂMICA DA CIVILIZAÇÃO AFRICANO BRASILEIRA!

Leitura que nos transporta para

IGBÓ!

Nos fazendo adentrar pela floresta e nos apresenta uma ÁRVORE magnífica e generosa no compartilhar das sementes, flores e frutos que, metamorfoseados, exaltam o pensamento, valores e linguagens do continuum civilizatório transatlântico africano.

ODARA PUPO!

Mo jubá Oju Obá, os olhos do rei!

 



Mo jubá Elebogi, o adorador de árvores!




 

PRIMAVERA DE 2025

 

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A imagem de Exu L'onan o Senhor dos caminhos é uma escultura de M.A, Luz e a foto é de Kleysson Assis,Otun Elebogi. As demais ilustrações foram criadas  através do Chat GPT.



domingo, 28 de setembro de 2025

AGADÁ: A CIVILIZAÇÃO AFRICANA E SEU LEGADO TRANSATLÂNTICO

 



Escultura em Bronze de Benim Reino do Benin  hoje Nigéria,entre os séculos XV e XIX.

Imagem disponível em https://ensinarhistoria.com.br/bronzes-de-benin-arte-africana- tecnologia/#:~:text=Assim%2C%20as%20cabe%C3%A7as%20de%20bronze,de%20alimentos%2C%20bebidas%20e%20sacrif%C3%ADcios.



Por Ricardo Freitas

Boa tarde,

Inicio agradecendo o convite para participar desse evento, falando da minha alegria em dividir essa live com o professor Muniz Sodré, que foi meu orientador durante o mestrado,  lá no início da década de 1990, e com o professor Félix Omidire, outra referência das muitas leituras, há muitas décadas. Aproveito para agradecer ao professor Gildeci Leite, companheiro de trabalho, à professora Narcimária Luz, pela gestão desse encontro, e à EDUFA pela bela homenagem acerca desses 30 anos da publicação da primeira edição de Agadá: a civilização africana e seu legado transatlântico. Por fim, agradeço ao autor, professor arco Aurélio Luz, pela existência da obra. 



Cheguei à Escola de Comunicação, a ECO da UFRJ, em 1993; portanto, quatro anos após a conclusão do doutorado pelo professor Marco Aurélio. Quando Marco Aurélio lançou Agadá, no ano em que terminei o Mestrado, 1995, lembro que já tinha tido acesso ao texto, através da leitura da tese, disponível no repositório da Biblioteca da ECO. Também lembro que fiquei muito interessado pelo texto, considerando que poucos, naquele momento, eram os textos publicados que pensavam questões da cultura com base num discurso que privilegiava a centralidade do legado africano naquilo que reconhecemos como ancestralidade africana traduzida como base para a formação do patrimônio cultural brasileiro.  Nesse ponto, vale mesmo ressaltar as afirmativas que dão conta de que toda expressão cultural brasileira é negra e, por isso, africana no Brasil ou, como queiram, africano-brasileira ou ainda afro-brasielira. 



Originais da tese de Doutorado na Escola de Comunicação da UFRJ


Agadá, ao promover um estudo sobre o legado da civilização africana no Novo Mundo incitou um tipo de estudo pós-colonial ou decolonial, num tempo bastante anterior à emergência do debate no Brasil sobre colonialidade e subalternidade, centrados numa crítica ao eurocentrismo, que tem engrossado a produção das ciências sociais nos últimos anos; sobretudo, a partir do caso do Sul global, onde se inclui a diáspora negra no Novo Mundo. 


O pensamento de Marco Aurélio Luz e seu livro Agadá, influenciou sobremaneira iniciativas na área de Educação, a exemplo do Programa Descolonização e Educação-PRODESE no âmbito da Universidade do Estado da Bahia, envolvendo gerações em atividades de pesquisa e extensão com reconhecimento nacional e internacional.

O aspecto ativista do texto também merece ser ressaltado, no sentido de que Agadá promoveu um tipo de resgate da africanidade fundamental para pensarmos o processo civilizatório brasileiro, numa época em que bem poucos textos (publicados em português) tratavam o tema com base numa visão afrocentrada. Me lembro da coleção Sankofa, da professora Elisa Larkin Nascimento, viúva do ativista Abdias Nascimento, constituída com base num curso anualmente por ela ministrado na UERJ; da produção do SECNEB, com os trabalhos de Juana Elbein; e dos clássicos e imprescindíveis textos do professor Muniz Sodré, que já propunha um estudo da formação sociocultural brasileira com base nos nossos muitos modos afro-derivados de nos situarmos no mundo.

https://ipeafro.org.br/

A coleção Sankofa são publicações importantes organizadas pelo Ipeafro instituto criado por Abdias do Nascimento e Elisa Larkin do Nascimento

  O que quero dizer com isso é que debates sobre cosmogonia, cosmovisão, relações totêmicas, parentesco e família eram temas quase que exclusivos da Antropologia, que, quando pensava o caso das afro-brasilidades, o tratava de dentro daquilo que se convencionou chamar Antropologia das Religiões Afro-Brasileiras.  Filosofia Africana, por exemplo, era coisa quase que inexistente, ainda que já houvesse iniciativas importantes encabeçadas pelos movimentos negros e por intelectuais e ativistas negros.  É somente a partir da promulgação da Lei 10.639, de 2003, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas, que a filosofia africana, tanto como disciplina como curso de formação, vai se popularizar no Brasil. 



Awon igba kekere. Criação Narcimária Luz.

  

Agadá, nesse sentido, foi um texto de vanguarda e, num certo sentido, insurgente, ao se propor a pensar as experiências das muitas africanidades no Brasil ou, ainda, ao se propor analisar a base das múltiplas afro-brasilidades (o que as reunia e o que as afastava) com base na ideia do legado africano desde dentro da academia brasileira, historicamente europeizada e embranquecida. 

Também devo destacar a importância de Agadá para recompor histórias secularmente, e ainda hoje, subalternizadas, ao propor, como lembra Narcimária Luz, “pensar para além das obviedades das análises fixadas na História moderna, suas análises empíricas e racionalistas que geralmente não conseguem indicar novos horizontes para a compreensão mais ampla dos povos e suas civilizações”.  Nesse sentido, Agadá contribuiu e ainda contribui para reescrever histórias (no plural) e, por extensão, a própria história oficial brasileira.

Por fim, ressalto o fato de Marco Aurélio Luz ter pensando o tema não somente a partir da sua experiência científica e acadêmica, mas, também, a partir da experiência empírica adquirida, fruto da sua atuação junto à comunidade do ilê Asipá, terreiro de culto à ancestralidade (situado em Salvador, Bahia), terreiro em que tive a honra de conhecer o célebre Mestre Didi e onde tive a sorte de ter me tornado amigo de seu saudoso neto, José Félix, que muito me ajudou nas minhas caminhadas a fim de obter algum tipo de conexão junto à minha ancestralidade africana.

A propósito das comemorações dedicadas aos 100 anos do Mestre Didi, evento organizado pelo seu neto José Félix dos Santos.

Esse fato pode parecer pouco importante para quem está distanciado da realidade dos terreiros ou que desconhece os modos e formas com que africanos e descentes reorganizaram dinâmicas para existência em diáspora.

Aqui, chamo a atenção para o fato de que se deve considerar a complexidade das muitas possibilidades de encontro com formas de aproximação junto à ancestralidade africana, constituinte por excelência disso que Agadá trata, desde o seu título, como o “legado transatlântico da civilização africana”.

Por isso, se hoje, nessa live, se encontra alguém que desconhece essa complexidade, indico a leitura de Agadá como caminho, como guia, que, certamente, muito contribuirá para que o leitor leigo, após a leitura do livro, amplie seu entendimento sobre a importante contribuição da “alteridade civilizatória africana” para a organização social, cultural, econômica e política brasileira com base na “força civilizatória africana brasileira”, a fim de que possa, ele ou ela mesma, reencontrar a Mama África, mítica ou autêntica.


Lançamento do livro Agadá. Foto acervo M.A. Luz

Concluo com o lindo trecho da canção "Havemos de Voltar", composta por Augusto Moreira Daltro, Cuiuba e Edson de Carvalho (Xuxu) para o Ilê Aiyê.



Identidade visual do Ilê, criada pelo artista Jota Cunha

Imagem disponível em https://www.facebook.com/ileaiye/

 “A Angola sempre livre

Sempre foi seu pensamento

Sua vontade permanecerá

A bela Pátria Angola

Nossa terra, nossa mãe

Nós havemos de voltar”

 Agadá é isso: fala tanto do retorno como da permanência.  Mas, de uma permanência em que, mesmo em diáspora, permanecemos africanos. 

Axé!

Ricardo Freitas

Ogan Gilewá

 

 

 

 

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

AQUARELAS SEMÂNTICAS QUE COMUNICAM A SINGULARIDADE A OBRA/EPISÓDIO 4

Por Narcimária Luz


Selo comemorativo

Criação Marcelo Luz

 

A singularidade da obra Agadá Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira reside, sobretudo, na implosão que o autor provoca com os limites positivistas, valorizando, a partir daí, as narrativas míticas da tradição africana como fonte da pujança do contínuo de civilização.

Sobre isso, Marco Aurélio desenvolve reflexões importantes e  decisivas para quem se propõe a fazer uma imersão no Agadá.

Numa dessas reflexões ele afirma:

O mito para nós, portanto, não somente se constituirá, na presente tese, no principal discurso capaz de transmitir a especificidade da concepção de mundo constituinte do processo civilizatório negro-africano, bem como sua forma própria de comunicação, mas também, terão papel revolucionário de procurar retirar-nos da ditadura da pretensa eficiência de "racionalidade" do discurso científico para que se possa acordar e sair do pesadelo daquela "paisagem de cogumelos atômicos".(1)

 

Goya Lopes, "Fundo do mar"

Imagem disponível em https://www.premiopipa.com/2024/04/hanayra-negreiros-apresenta-exposicao-com-narrativas-entre-as-artes-visuais-e-a-moda/

  E mais:

Somente o mito poderá falar das diversas dimensões do existir característico da cultura negra, onde o Ser é, e o não Ser também é: o mundo dos vivos, o existir dos ancestrais, as forças cósmicas que governam o universo. Esse mundo e o além, em processo de interação permanente. Em suma, o mito é o discurso capaz de representar a vida e a morte, o tudo e o nada, o pleno e o vazio, o visível e o invisível, o dito e o inefável, o mistério da existência ...”(2)


Imagem disponível https://blog.jumpinbed.com.br/cachoeiras-do-rio-de-janeiro/


 E ainda:

É o mito que se constitui no discurso capaz de elaborar e realizar o reconhecimento da alteridade, dos outros e do Outro, ao contrário da ciência totalitária, que querendo explicar tudo, muito fala e pouco ou nada diz.”(3)

 


Awon xekere kekere pequenas cabacinhas adornadas.

O Xekere é importante instrumento sagrado na religião nagô.


 Essas reflexões nos convidam a entrar na cadência do pensamento  poético e rítmico do autor, e trazer um pouco do universo simbólico africano-brasileiro que conduz as aquarelas semânticas da obra.

No universo simbólico nagô, há uma grande espiral mítica ligada aos feitos de Exu Yangi, orixá representado por uma pedra (laterita) inaugural, de onde tudo se desdobra para o infinito e reflete toda a dinâmica que energiza a vida promovendo a expansão de   civilização envolta a comunicação entre Aiyê(mundo dos vivos) e Orun (o além).

 




Laterita

https://pt.dreamstime.com/rocha-laterita-sobre-fundo-branco-ou-tijolo-vermelha-%C3%A9-um-tipo-de-solo-causado-por-material-decaimento-chamado-processo-image180001928

  Essa espiral também está representada por uma concha que tem uma estrutura, que se desenvolve formando um desenho espiralado, que vai imprimindo movimentos à medida que a concha cresce expandindo a sua crosta.



Okotó

Foto Narcimária luz

Esses símbolos espiralados de expansão, movimento, crescimento, dilatação, ampliação e extensão caracterizam a dimensão mítico-cósmica que rege a filosofia nagô e nela, um dos seus itans, que faz referência à origem de Exu Okòtò. Esse itan conta a façanha de Exu Okótó com Orumilá que adquiri, a capacidade de tornar-se múltiplo, amplificado, prolongado, expandindo os elos da espiral no orun, o além.

 


Estampa Exu de Goya Lopes

Criação feita para o afoxé Bandarere de Belo

Horizonte ,que em 2020  homenageou Exu.

Imagem disponível em https://www.facebook.com/goya.lopes/photos/a.329896253819238/1723352914473558/?_rdr

 

A imagem dessa grande espiral “(...)desperta no seu interior a pulsação de movimentos dos quais se desdobram redes de alianças comunitárias, comunalidades. Nessa grande espiral, entrelaça-se a origem das cidades, compondo em seu traçado urbano elos de ancestralidade, cosmogonias, hierarquias, instituições, organização territorial, famílias, linhagens, grupos sociais, enfim uma vida social em que circula a dinâmica da existência, o ciclo vital que constitui morte, vida, nascimento, renascimentos, descendência.”(4)

 


Okotó

Foto Narcimária luz


Para que a espiral se expanda e irradie a dinâmica da complementação harmoniosa dos múltiplos e diferentes aspectos do existir, as células comunitárias instituem ritos de sociabilização que se caracterizam por cerimônias, celebrações, obrigações, ritualizações, condutas comportamentais prescritas por valores e linguagens características do patrimônio civilizatório que alicerça a espiral.


Imagem disponível em https://br.freepik.com/imagem-ia-premium/uma-concha-espiral-com-uma-ponta-pontiaguda-e-padroes-intrincados-fica-em-uma-superficie-de-madeira-rustica_312795932.htm

 

Através dos ritos de sociabilização, as pessoas passam a pertencer e serem dignas de respeito e admiração de todos os membros da sua célula comunitária, assumindo vínculos sociais que comunicam sua identidade própria e lhes dão acesso à hierarquização de poderes na dinâmica da espiral. São os ritos de sociabilização característicos das comunalidades tradicionais que constituem a dinâmica da formação social brasileira.

 


Aldeia Demini, Terra Indígena Yanomami, Amazonas

Preparando a pupunha para festa

Foto: Kristian Bengtson, 2003

Imagem disponível em https://img.socioambiental.org/d/373345-1/103_0302.jpg


Para a compreensão da dinâmica da espiral, Okòtò, é importante pensar que a fundação de uma cidade tem como ponto de origem o mercado e em torno dele vem o palácio, em torno do palácio se reúne as famílias, linhagens, hierarquias sacerdotais e política e assim vão se criando os elos que dão pulsação a espiral, que vai crescendo e expandindo vínculos de sociabilidade que organizam a vida das cidades.

Ilê Ifé é um exemplo dessa dinâmica de expansão de civilização que teve desdobramentos transatlânticos significativos, influenciando os modos de organização das territorialidades africano-brasileiras.

 

Linhagens no entorno do afin palácio do Alafin em Oyo.

A família Asipá constitui uma das sete linhagens fundadoras de Ketu e é originária de Oyo.

 

Assim, a espiral Okòtò, desenha a circularidade de um tempo e espaço singular que funda o traçado urbano das territorialidades, a dramatização da vida enfim, histórias humanas.

Todo um complexo de conhecimentos espiralados que permitem que cresçamos, juntos, através de um forte laço comunal, tornando-nos uma das células dessa espiral. Parafraseando Maffesoli (2007) [7], a prevalência daquilo que nos liga ao outro.

 


Espiral em expansão
Foto Narcimária Luz

Assim propus a metodologia compreensiva durante o ciclo de vivências na graduação e pós-graduação, primeiro por considerar que ela nos indica uma espiral imaginária, cuja estrutura é espontânea; segundo porque ela nos lança ao encontro de outras epistemes vinculadas às alteridades civilizatórias que dão pulsão e sabor às atividades de pesquisa que nos sempre propomos a realizar.

Na nossa convivência com Muniz Sodré, aprendemos que é preciso pensar radicalmente o lugar onde você está. Você só muda a partir da sua comunidade. Você só se universaliza a partir da sua territorialidade.

Caruru (2022), de Goya Lopes.

Serigrafia em tecido 100% algodão e impressão digital sobre tela.

Imagem disponível em https://www.sescsp.org.br/editorial/uma-saga-afro-atlantica-exposicao-no-sesc-pinheiros-e-inspirada-no-livro-um-defeito-de-cor/


Ler e estudar Agadá é ousar a fazer o exercício de aproximação da espiral que caracteriza o PENSAMENTO AFRICANO BRASILEIRO.

É uma obra que floresceu através do pensamento espiralado que cresce e se expande como uma gestação, que liga a origem e o devir, a origem das comunalidades e as experiências coletivas que as constituem.

Assim, o Agadá, dinâmica da civilização africano-brasileira através da metodologia compreensiva promove um exercício exaustivo de uma arqueologia das ideologias, revisando criticamente conceitos e descrições identificando os obstáculos ideológicos, colocando-as numa outra perspectiva que desestruture e/ou desestabilize o racismo velado das grandes narrativas da abordagem histórica que detêm o monopólio autocrático da suposta “verdade” que vem sustentando as metodologias da pesquisa universitária.

 


Monumento em homenagem a August Comte criador do positivismo evolucionista na praça da Sorbonne Paris V.

https://paris1900.lartnouveau.com/paris05/places/place_de_la_sorbonne.htm

 

 Celebrar os  30 anos da obra Agadá, é reconhecer o valor do pensamento espiralado africano-brasileiro que se mantêm aceso e pulsante junto as gerações que através da leitura da obra, aprende a valorizar as narrativas comunais e suas insondáveis dimensões que envolvem, por exemplo: os mitos, ciclo do tempo, as dinâmicas de sociabilidade e, no interior delas, a multiplicidade de histórias individuais e coletivas, os valores e linguagens que organizam instituições, territorialidades, hierarquias, finalmente expandem conhecimento.

 


Agemo o camaleão símbolo do conhecimento e sabedoria

Capa do livro Pensamento Insurgente,2018/Edufba  criação do designer Marcelo Luz

 

Mas para além do universo mítico-simbólico da civilização africano-brasileira e toda a riqueza que o caracteriza, o livro se propõe também a sublinhar, que o elo mais forte do sistema colonial mercantilista escravista europeu foi o capital financeiro, e nele a atividade mais rentável era o tráfico escravista, que caracterizava a pedra angular do triângulo comercial Europa, África e América.

 

Tumbeiro (2022), de Goya Lopes.

Serigrafia em tecido 100% algodão e impressão digital sobre tela.

Imagem disponível em https://www.sescsp.org.br/editorial/uma-saga-afro-atlantica-exposicao-no-sesc-pinheiros-e-inspirada-no-livro-um-defeito-de-cor/

 

Por outro lado, o livro nos leva a perceber que o elo mais fraco desse sistema era o próprio tráfico escravista, que proporcionava a incessante vinda dos africanos para as Américas.

Esse fato propiciou a expansão constante da insurgência de africanos nas Américas, a exemplo de fatos históricos como Palmares, independência do Haiti , os grandes quilombos da Jamaica, Cuba e, principalmente, a luta de afirmação existencial cotidiana do povo negro, inviabilizando a acumulação mercantil escravista.

 


Opa Exin ati Eiye Meji
Escultura de Mestre Didi 
Foto M.A. Luz


As populações negras são apresentadas no livro como sujeitos coletivos da história, que interferem diretamente no fim do tráfico e da escravatura, além de repor, nas Américas, suas comunidades e instituições, baseadas em seus valores, linguagens e formas de sociabilidade das suas diversas tradições

É importante destacar a coexistência do contínuo civilizatório africano com as civilizações fundadoras das Américas, marcando as diversas formas de enfrentamento dessas populações.



Culto aos ancestrais, troncos adornados para o ritual Kuarup

Imagem disponível em https://conexaoplaneta.com.br/blog/o-kuarup-em-uma-aldeia-waura/

 

 

Agadá aprofunda a perspectiva que trata da tensão entre os valores etnocêntrico-evolucionistas que regem a sociedade oficial as comunalidades africano-brasileiras e os povos originários, demonstrando, que é no seio dessa tensão que se dá a dinâmica histórica das formações sociais nas Américas, para além do paradigma das lutas de classe.

 

Exú Lonan o Asiwaju o que vai a frente abrindo os caminhos.

Escultura de Marco Aurélio Luz

Foto: Otun Elebogi

 


Essas tensões se caracterizam pelo colonialismo e seus desdobramentos estratégicos, como: catequização, políticas genocidas, políticas de embranquecimento, repressão, recalque; por outro lado, há insurgências negras e dos povos originários pela afirmação existencial e coletiva dos seus patrimônios civilizatórios. Assim, essa luta envolve, portanto, formas geralmente desprezadas pelos cientistas sociais, ou seja, uma dinâmica na microfísica do poder, rotulada como "cultura", que abarca as tentativas de impor valores e políticas de abandono para atender os interesses dos Estados transnacionais.

 


Ekun meji dois leopardos símbolo de poder e nobreza africana

Escultura de M.A.Luz

Foto Hans Olubi

 

 

É de suma importância ressaltar aqui, o repertório semântico que Marco Aurélio semeou nas Ciências Humanas e Sociais, permitindo as gerações sucessoras o uso de noções, categorias e conceitos que hoje fluem de forma leve e escorreita, fortalecendo argumentações teórico-epistemológicas essenciais, a exemplo de: processo civilizatório africano-brasileiro, continuum civilizatório, ancestralidade, ideologia do recalque, dimensão lúdico-estética, Odara, pluralidade cultural, akpalô, alteridade civilizatória, apartheid ideológico, ancianidade, comunalidade, pedagogia nagô, dialética nagô, estética do sagrado, dinâmica vivido-concebido, dimensão estética africano-brasileira da educação episteme africano-brasileira, ética comunitária, genocídio neocolonial, hierarquias comunais, identidade profunda, obstáculos ou entulhos teórico-ideológicos,      filosofia nagô,   política de embranquecimento, pedagogia do embranquecimento, patrimônio civilizatório, sociabilidade africano-brasileira e outras tantas noções geradas através do pensamento africano-brasileiro.


Mulheres e crianças Yanomami colhem folhas para transformar em timbó, substância que utilizam para a pesca.

Imagem disponível em https://survivalbrasil.org/povos/yanomami


Também é bom frisar que nem sempre essas noções, categorias e conceitos são aplicados com a devida ética exigida, omitindo o seu teor profundo, negligenciando a referência, a fonte, a qual é o Agadá de Marco Aurélio Luz.

Sobre essa negligência, mais uma vez recordo do saudoso Professor e amigo Dalmir Francisco, alertando-nos sobre o uso indevido do rico manancial de noções, categorias e conceitos contidos no Agadá elaboradas por Marco Aurélio Luz.

 Em 2005, o Programa Descolonização e Educação organizou, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade do Departamento de Educação Campus I na Universidade do Estado da Bahia, uma palestra dedicada aos 10 anos do Agadá, na ocasião o Professor Dalmir Francisco contribuiu de modo valioso sobre a importância do Agadá. Na oportunidade, Dalmir alertou:

“Fico muito chateado ao ver pessoas usando os conceitos de Marco Aurélio extraídos do Agadá, sem ter o zelo acadêmico de informar a fonte de onde os retirou.”


Dalmir Francisco(primeiro à esquerda da foto) saúda os tambores Bata do terreiro de Pai Adão no Encontro do INTECAB

Foto M A Luz

Agadá Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira magnifica a episteme africana, abrindo perspectivas de afirmação do princípio de ancestralidade que dinamiza o estar no mundo de muitas comunalidades portadoras de sabedorias milenares.

Sendo assim, ouso afirmar que o Agadá é um SAMBA!

 


Desfile da Acadêmicos do Grande Rio em 2022 com o enredo  homenageando Exú.

O ator e dançarino Demerson D’Álvaro dramatizando Exu

Imagem disponível em https://portalpopline.com.br/exu-grande-rio-primeiro-titulo-carnaval-carioca/

 

Samba enredo e samba de roda!

É samba, porque nos vincula à identidade profunda da civilização africano brasileira, gerando um bom enredo que convida a formação de uma grande roda que se expande como uma espiral.

Os sambas se tornaram legendas na história do Brasil por várias razões: a primeira por contar os modos de insurgência das populações negras e sua competência para fundar territorialidades que recusam o recalque à sua alteridade civilizatória; a segunda pela poesia que nos emociona e nos leva a dramatizar por meio da dança e da ginga as situações que carregam a pulsão de sociabilidade africano-brasileira.

 

Samba de Roda

Ganhadeiras de Itapuã

Imagem disponível em https://todabahia.com.br/funceb-abre-inscricoes-para-projeto-mapa-musical-da-bahia/ganhadeiras-itapua-samba-roda/

 

Agadá Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira é o samba de roda, que traz o movimento da espiral Okotô, pois tem a síncopa, cadência, ritmo e poesia que expande a história e complexidade da civilização africana.

 É samba, porque   nos permite compreender o universo simbólico mítico africano brasileiro e dele, aprender sobre como as comunalidades africano-brasileiras repuseram suas tradições, instituições e sociabilidades, mantendo com dignidade o legado das/os antepassados/as, características essenciais no exercício do direito à nossa alteridade civilizatória.

 


Morro da Mangueira

Voz das comunidades

Imagem disponível em https://vozdascomunidades.com.br/favelas/morro-da-mangueira-recebe-primeira-edicao-do-cinema-sobe-o-morro/

 

Alvorada lá no morro/ Que beleza/ Ninguém chora/ Não há tristeza/ Ninguém sente dissabor/ O sol colorindo é tão lindo/ É tão lindo/ E a natureza sorrindo/ Tingindo, tingindo” (Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Belo).

Agadá nos chama atenção para a necessidade de transcender o discurso geográfico, mensurável e estático que, esquadrinhando os espaços, diz o que é, e o que deve ser o “morro”.

O morro aqui é uma metáfora! Em cena estão todas as territorialidades no Brasil imantadas pelo patrimônio de valores e linguagens africano-brasileiras.

 

Cartola na comissão de Frente da Escola de Samba da Mangueira

Imagem disponível em https://comissaodefrente.blogspot.com/2012/04/nossa-historia-cartola-mangueira-1978.html

 

“Podem me prender/ Podem me bater/ Podem até deixar-me sem comer/ Que eu não mudo de opinião/ Daqui do morro/ Eu não saio, não” (Zé Kéti).

De um lado, a geografia e o traçado urbano eminentemente africano-brasileiro com suas instituições e hierarquias; de outro, o asfalto (parafraseando Marco Aurélio Luz) com a sua a geografia civilizatória racista e seu traçado urbano asséptico produtivista, voltado para a acumulação de capital.

 


Morro e asfalto, contraste da afirmação secular dos valores africanos-brasileiros que, em espiral, nos liga à Rainha Nzinga dos reinos de Ndongo e Matamba, e seus desdobramentos em Canudos no início do século XX.

Imagem disponível em https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/historia-brasil-favelas-cariocas.phtml

 

Todos os sambas que destaquei falam das tensões e conflitos entre a singularidade africano-brasileira e as políticas genocidas e de abandono que desencadeiam uma dinâmica da violência que vem ceifando a vida de milhares de homens, mulheres, crianças e jovens.

“Eu sou o samba/ A voz do morro sou eu mesmo sim senhor/ Quero mostrar ao mundo que tenho valor/ Eu sou o rei do terreiro/ Eu sou o samba/ Sou eu quem levo a alegria/ Para milhões de corações brasileiros/ Salve o samba, queremos samba/ Quem está pedindo é a voz do povo de um país/ Salve o samba, queremos samba/ Essa melodia de um Brasil feliz” (Zé Kéti).

 



Zé Kéti compositor do samba A Voz do Morro

Imagem disponível em https://www.cartacapital.com.br/cultura/ze-keti-a-voz-do-morro-que-ocupou-o-asfalto-nasceu-ha-100-anos/

 Toda a abordagem que o Agadá Dinâmica da Civilização Africano Brasileira nos apresenta carrega o ritmo, cadência, poesia e também as histórias extraordinárias que o samba nos conta.

Aqui vale lembrar a preciosa expressão de Nei Lopes no prefácio da 5ª edição do Agadá ao se referir a Marco Aurélio como um “herói fundador”.

 É necessário fazer esse registro!

 


Awon Agbé e Caxixi

Arte de Narcimária luz

 Por fim, insisto aqui em afirmar: a contribuição desse clássico, Agadá, dinâmica da civilização africano-brasileira exalta o pensamento africano, abrindo perspectivas de afirmação do princípio de ancestralidade que dinamiza o estar no mundo de muitas comunalidades na Bahia, portadoras de sabedorias milenares, nos permitindo a compreensão da África e sua expansão transatlântica nas Américas e Caribe a partir do repertório recriado aqui, tornando-o visceral em nossas vidas.


REFERÊNCIAS

[1]  OJO, Afolabi. Yoruba Palaces, a Study of Afins of Yorubaland. Londres:University of London Press 1966, p. 71

[2]LUZ, Marco Aurélio. Agadá, dinâmica da civilização africano-brasileira.Salvador:Edufba,1995.

[3] Idem op cit.

[4] LUZ, Narcimária. Por uma metodologia compreensiva. In:LUZ, Marco Aurélio; Luz Narcimária (Org)Pensamento Insurgente, direito à alteridade, comunicação e educação. Salvador, Edufba,2018.

LUZ, Narcimária. Ritos De Sociabilização Enciclopédia Intercom de Comunicação. – São Paulo: Sociedade Brasileira De Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2010.

MAFFESOLI. Michel. O Ritmo da Vida: variações sobre o imaginário pós-moderno. Rio de Janeiro: Record,2007.