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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Pronunciamento de Abdias Nascimento em 17/10/1997 -Discurso no Senado Federal

 HOMENAGEM PELO TRANSCURSO DOS 80 ANOS DE DEOSCOREDES MAXIMILIANO DOS SANTOS, MESTRE DIDI, A MAIOR FIGURA VIVA DA TRADIÇÃO RELIGIOSA AFRO-BRASILEIRA.

Abdias do Nascimento


 

Imagem disponível em https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/abdias-nascimento/exilio/

 

O SR. ABDIAS NASCIMENTO (Bloco/PDT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, sob a proteção de Olorum, inicio este pronunciamento.

Se a cultura africana é a principal matriz da cultura brasileira, a religião constitui o ponto focal de onde essa cultura se irradiou. Pois é na prática religiosa que se encontram os elementos constitutivos da visão de mundo e da cosmogonia africanas, onde se expressam com maior profundidade e clareza os traços fundamentais que caracterizam a maneira africana de ser e estar no mundo. Não foi à toa que os europeus, ao invadirem e ocuparem o continente africano, buscaram sempre destruir ou, pelo menos, neutralizar as manifestações religiosas, que percebiam claramente como o principal esteio ideológico a sustentar a identidade individual e de grupo, sem a qual os africanos seriam presa fácil da exploração e da inferiorização humana promovidas pelos "colonizadores".

Transplantadas para as Américas com o tráfico de africanos escravizados, as religiões africanas aqui desenvolveram, como forma de sobrevivência, a estratégia do disfarce e do silêncio. Nesse contexto, a oralidade impôs-se como necessidade, não apenas do ponto de vista de sua dinâmica interna, mas também, e principalmente, de seu posicionamento de defesa diante da cultura branca dominante. Daí o primado da tradição, que, num sistema de comunicação oral, constitui o veículo de conservação e transmissão do saber, através do tempo e do espaço, entre as gerações.

  

 Ilesaiyn casa de adoração aos ancestrais masculinos os Egungun no ile Asipa, fundado por Mestre Didi Alapini.

Disponível em Wikipedia

  É assim, com enorme respeito e admiração que subo hoje a esta tribuna para prestar minha homenagem à maior figura viva da tradição religiosa afro-brasileira, que encarna em si mesmo toda a força, poder e mistério de um sistema de crenças que persistiu a séculos de massacre físico e psicológico. Refiro-me a Deoscóredes Maximiliano dos Santos, Mestre Didi, o Assogbá do Axé Opô Afonjá, uma das mais importantes comunidades religioso-culturais afro-brasileiras.

 

 


 Mãe Senhora iyalorixá Oxun Muiwa recebendo importante visita de Zélia Gattai, Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, e Jorge Amado no Ile Axé Opo Afonja.

Disponível em https://br.pinterest.com/pin/296111744231868603/

 

 Nascido em Salvador, Bahia, em 1917, filho da respeitada sacerdotisa Mãe Senhora, Mestre Didi é descendente de uma antiga linhagem de sacerdotes dos cultos de origem ketu-nagô. Tendo alcançado ainda a convivência com africanos na Ilha de Itaparica, foi iniciado aos oito anos de idade no culto dos ancestrais - o culto dos eguns -, tendo recebido o título de Korikouê Olukukotun; e, aos 15, no culto dos orixás. Ainda adolescente, foi investido com vários títulos e funções na complexa hierarquia das duas comunidades religiosas, afirmando-se como líder natural da tradição afro-brasileira. Em 1936, pelas mãos da ialorixá Obabiyi - Eugênia Ana dos Santos, a famosa Mãe Aninha -, é confirmado Assogbá, supremo sacerdote do culto de Obaluaiê, no Axé Opô Afonjá, uma das comunidades mais ortodoxas e fiéis aos ensinamentos e tradições transmitidos pelos seus fundadores africanos. Membro mais velho da linhagem dos Axipá no Brasil, em 1968 foi ordenado Balé-Xangó, numa histórica cerimônia realizada na cidade de Oyo, Nigéria, de onde o culto, assim como seus próprios antepassados, foram trazidos para a Bahia quase dois séculos atrás.

  

 Mãe Aninha Iyalorixá Obabiyi fundadora do Ile Axé Opo Afonjá

Imagem disponível em https://memoriafeminista.com.br/imagens/mae-aninha/

 


  Em 1949, Mestre Didi publica, pela editora e livraria Moderna, seu primeiro livro, Iorubá Tal Qual se Fala, um dicionário e vocabulário Iorubá-Português, no qual chama a atenção para a existência e persistência da utilização de uma língua africana como meio de identificação e comunicação de grupos afro-brasileiros concentrados nos templos ou terreiros do candomblé. É o início de uma vasta obras, incluindo livros e ensaios, sobre a cultura oral afro-brasileira. Uma obra que inclui:

Axé Opô Afonjá, com prefácio de Pierre Verger e notas de Roger Bastide, editado no Rio de Janeiro em 1962, pelo Instituto de Estudos Afro-Asiáticos; Contos de Nagô (1963), com ilustrações de Carybé, pela GRD do Rio de Janeiro; West African Rituals and Sacred Art in Brazil, em co-autoria com sua esposa, a Antropóloga Juana Elbein dos Santos, editado em 1967, pelo Instituto de Estudos Africanos da Universidade de Ibadan, Nigéria; Um Negro Baiano em Ketu, edição do Jornal A Tarde, Salvador, 1968; Ancestor Worship in Bahia: The Egun Cult, editado pelo Journal des Americanistes, no 48º Encontro das Sociétés des Americanistes, Paris, 1969; Eshu Bara Laroyê: A Comparative Study, pelo Instituto de Estudos Africanos da Universidade de Ibadan (1971);

  


 Imagem disponível em https://www.travessa.com.br/esu/artigo/603ebfe2-ba70-4f81-be6a-f269afd896e0?srsltid=AfmBOoon_bDN00sOXq-hcirMrOno2yffi2bAfH8bAoAL3695vOsxI6xb

Eshu Bara: Principle of Individual Life in the Nago System, mais uma vez em colaboração com Juana Elbein dos Santos, publicado em 1973, na coletânea La Notion de Personne en Afrique Noire, edição do Centre National de Recherche Scientifique, de Paris; Religião e Cultura Negra na América Latina, em co-autoria com Juana Elbein dos Santos, publicado pela Unesco, em 1977, em co-edição com a Siglo XXI, na coletânea África na América Latina;

  


 Contos de Mestre Didi, editado pela Codecri, do Rio de Janeiro, 1981

 Por que Oxalá usa Ekodidé, Fundação Cultural do Estado da Bahia, Salvador, 1982; The Nago Culture in Brazil: Memory and Continuity, na coletânea African Studies, edição da Unesco, Paris, 1985; Xangô, El Guerrero Conquistador y Otros Cuentos de Bahia, Buenos Aires, SD, 1987; no mesmo ano, Contes Noires de Bahia (Brésil), Paris, Editions Khartala; Mito da Criação do Mundo, com litogravuras de Adão Pinheiro, Editora Massangana, Recife, 1988; História de um Terreiro Nagô, pela Max Limonad, São Paulo, 1989

  


  Acervo de M.A. Luz

Fiz questão de citar individualmente cada um dos componentes dessa lista exaustiva apenas para ressaltar o fato de um autor brasileiro, com uma vasta obra publicada em vários países de diferentes continentes e em diversos idiomas, ser virtualmente desconhecido em sua própria terra. Talvez por não ser um branco falando sobre o negro, mas, sim, um autêntico produtor da cultura afro-brasileira, dotado de suficiente capacidade e ousadia para exprimir, com a própria voz, a visão e os anseios de sua comunidade.

  

Acervo de M.A. Luz

De par com seus deveres religiosos e sua obra literária, Mestre Didi elaborou e desenvolveu também, desde a sua adolescência, um importante trabalho na área das artes plásticas - particularmente depois de ter sido eleito chefe do culto de Obaluaiê, e, como tal, estar incumbido da função e responsabilidade do manejo dos materiais sagrados e de zelar pela tradicional execução de emblemas e paramentos rituais.

 


Xaxará emblema de Obaluaiye por Mestre Didi Asogba.

   Acervo de M.A.Luz

Ibiri emblema de Nanan por Mestre Didi Asogba

 Imagem disponível em https://museuafrobrasil.org.br/acervo/ibiri-emblema-do-orixa-nana/

 

 Xaxara Ibiri ati ejo Oxumare recriação de Mestre Didi

Acervo de M.A.Luz


Em 1964, realizou em Salvador sua primeira exposição individual, início de uma carreira que o consagraria como o artista mais expressivo e autêntico da tradição africano-brasileira. Estados Unidos, Argentina, França, Inglaterra, Nigéria, Gana - esses são alguns dos países em que ele expôs, em mostras individuais e coletivas, suas belas e elegantes esculturas, elaboradas com materiais como couro, búzios, contas, sementes e nervura de palmeira. Nelas se fazem presentes os elementos plásticos dos modelos tradicionais em novas concepções, esculturas-objetos diretamente inspiradas no significado dos símbolos em suas relações míticas, testemunhando explorações estéticas profundamente ligadas, do ponto de vista formal e conceitual, à cultura de que se originam. Como explica o pesquisador Marco Aurélio Luz, "o valor máximo da arte escultórica de Mestre Didi está em conseguir estabelecer um padrão estético original que harmoniza a passagem do espaço no contexto das recriações profanas, mantendo a complexidade simbólica e a profundidade das elaborações sagradas".

  


 Imagem disponível em https://aloalobahia.com/notas/fazer-a-curadoria-de-uma-exposicao-de-mestre-didi-foi-um-verdadeiro-presente-conta-thais-darze

Tudo isso valeu a Mestre Didi uma profusão de prêmios e menções elogiosas, inscrevendo o seu nome na reduzida galeria dos artistas plásticos brasileiros, de qualquer origem, considerados dignos de tal reconhecimento. Uma vez mais, porém, isso não lhe trouxe a merecida fama fora dos círculos especializados.

  

 Imagem disponível em https://www.arteinformado.com/guia/f/deoscoredes-maximiliano-dos-santos-mestre-didi-48889

 Mas as notáveis contribuições de Mestre Didi não se esgotam no terreno religioso e artístico. Desde 1967, a serviço da Unesco, tem realizado, especialmente na Nigéria e no Benim, importantes pesquisas a respeito de pontos especiais de origem dos afro-brasileiros de ascendência nagô. Ao mesmo tempo, suas preocupações com o destino da cultura e do povo de origem africana no Brasil o levam a atuar em organizações identificadas com esses mesmos propósitos.

  


Encontro SECNEB

 Acervo M.A. Luz


É o caso da Secneb - Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil, de Salvador, na qual foi escolhido, em 1974, conselheiro e coordenador de assuntos comunitários. Na mesma linha, cabe destacar o notável trabalho educativo realizado pela Secneb, em conjunto com o Axé Opô Afonjá, que funcionou por quase dez anos: a Minicomunidade Obá-Biyi - uma escola que incorporou ao seu currículo, bem como à sua prática pedagógica como um todo, os elementos fundamentais da tradição africana no Brasil. Embora interrompida em função dos eternos problemas de recursos financeiros que infelizmente costumam acompanhar iniciativas dessa natureza, a Minicomunidade constitui um marco revolucionário na história da pedagogia no Brasil, tanto pela orientação pedagógica, que contemplava os elementos fundamentais da tradição nagô, quanto pela metodologia, caracterizada pelo respeito à alteridade ou à diferença, fundamental num contexto de multirracialidade e pluriculturalismo.

  


 Acervo M. A. Luz

Ainda assim, e embora os alunos que por ela passaram apresentassem melhor aproveitamento dos conteúdos curriculares e sensível redução na evasão escolar, burocratas do Ministério da Educação resolveram cortar as verbas que a mantinham, sob a alegação de que se tratava de uma experiência "de cunho religioso". Com os novos ventos que sopram de Brasília, onde temos pela primeira vez um Presidente da República aparentemente preocupado em encaminhar soluções para a questão racial neste País, esperamos que esse importante projeto possa ser retomado.

Certa ocasião, no apartamento do casal Zora e Antônio Olinto, fiquei conhecendo Mãe Senhora, a respeitada sacerdotisa do Axé Opô Afonjá, da Bahia. Sentada numa poltrona imponente como um trono, Mãe Senhora indicou-me um assento próximo a ela. Colocou suas mãos sobre minha cabeça e respondeu a minha indagação: "Sim, você tem compromisso com os Orixás; mas sua tarefa não é dentro do terreiro. Sua missão é trabalhar pelos santos lá fora". Conhecer Mãe Senhora significou um reforço da velha amizade que me ligava a seu filho Deoscóredes Maximiliano dos Santos, ou Mestre Didi. Com Mestre Didi, tive o prazer de compartilhar uma experiência inesquecível, embora as palavras de Mãe Senhora me tivessem desestimulado de um aprofundamento maior nos ensinamentos e nos mistérios do candomblé.

Corria o ano de 1969 e eu, recém-chegado aos Estados Unidos, vivia o período inicial de um exílio que deveria prolongar-se por mais de uma década. Em Nova York eu havia retomado uma breve experiência, iniciada no Rio de Janeiro, pintando alguns quadros com motivos afro-brasileiros. Certo dia, recebi na casa em que estava hospedado a visita do Mestre Didi e de sua esposa Juanita. Mostrei a eles minhas tentativas pictóricas. Numa determinada tela, onde se viam Xangô e suas três esposas, na imagem de Oxum, Didi se deteve, apontando-a para Juanita. Trocaram um olhar significativo e eu os interpelei. Queria saber se, na minha superficial formação religiosa, havia cometido alguma barbaridade sacrílega. Porém, ambos acalmaram minha ansiedade, indagando como e por que eu havia colocado, no olho de Oxum, um símbolo de Ifá, o Orixá que vê o passado e o futuro, e conhece o destino dos seres humanos. Respondi-lhes que apenas havia expressado um impulso artístico, sem nenhuma outra intenção. Eles, então, me ensinaram que Oxum era o único Orixá a quem Ifá havia concedido o poder de, igual a ele, ver e conhecer a sorte dos homens e das mulheres. Mas a mim Oxum estava concedendo a graça de conhecer todas as dimensões dos seus poderes, por meio dos seus símbolos e emblemas rituais.

Assim, inspirado por esse encontro com Didi, tratei de ampliar aquele momento tão significativo da espiritualidade afro-brasileira em plena Nova York. Contatei um babalorixá norte-americano formado nos templos ñañigos de Cuba - o sacerdote Oseijema, que atualmente dirige uma comunidade-templo na Carolina do Sul. Oseijema preparou uma recepção à altura do Alapini afro-brasileiro. Localizado no Harlem, o templo de Oseijema anoiteceu iluminado, florido, com o corpo sacerdotal vestindo seus paramentos solenes. Os tambores soaram, enchendo a noite de ritmos quentes. E Didi foi recebido solenemente como um verdadeiro príncipe-sacerdote de sua raça. E ambos, Oseijema e Didi, naquele encontro, mais uma vez testemunharam a importância das religiões africanas como instrumentos de coesão e fortalecimento da cultura de um povo separado e dividido pela violência do colonialismo escravista.

Entretanto as peripécias do exílio me levaram a um périplo de um ano na Nigéria, Universidade de Ifé, na qualidade de professor-visitante. Entre os colegas havia um Babalaô, quero dizer, um sacerdote de Ifá, a quem solicitei que lesse para mim o opelê desse orixá. Foi uma cerimônia longa, demorada, ele falando iorubá, um intérprete traduzindo do iorubá ao inglês e minha esposa, Elisa Larkin do Nascimento, traduzindo o acentuado inglês nigeriano para o português. Em resumo, Ifá me dizia que quem me havia escolhido para filho não fora Xangô, conforme suposição de outros pais-de-santo que desconheciam a difícil iniciação no universo de Ifá. Este me afirmara que eu era um filho de Oxum. Aí então compreendi as palavras de Mãe Senhora e a razão daquela pintura que provocara o comentário de Mestre Didi.

Para ultrapassar as abstrações manipuladas pela produção mistificada da consciência, o negro é obrigado não apenas a se inserir corretamente no sistema social de classes, forçando a sociedade dominante a lhe abrir espaços como indivíduo e como coletividade. Deve também assumir seus outros aspectos reprimidos, em especial os que se relacionam à rica tradição cultural afro-brasileira, onde se encontram os elementos que lhe fornecem uma sólida identidade histórica. Desse ponto de vista, Mestre Didi constitui referência e referencial obrigatórios, exemplo e paradigma da humanidade afro-brasileira em sua luta secular pela afirmação de sua dignidade.

Assim, os 80 anos de Mestre Didi, que agora se completam, são motivo de comemoração e regozijo numa comunidade cujas tradições se fincam profundamente no respeito e reverência aos mais velhos como sustentáculos e transmissores da cultura.

  


 Acervo M. A. Luz

 Para marcar a data, a Editora Pallas, do Rio de Janeiro, acaba de republicar "Por que Oxalá usa Ekodidé", em edição fac-símile da primeira edição, de 1966, com ilustrações de Lenio Braga. É nesse espírito que eu conclamo a todos a se juntarem a mim na emocionada saudação que faço a esse baluarte da cultura afro-brasileira:

 

Axé, Mestre Didi!

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco-PT-SP) - Senador Abdias do Nascimento, permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ABDIAS DO NASCIMENTO (Bloco-PDT-RJ) - Com muito prazer, ouço o nobre Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco-PT-SP) - Quero cumprimentar V. Exª pela extraordinária aula com que hoje premia o Senado Federal, que nos permitiu conhecer, com a profundidade que demonstra V. Exª, a tradição religiosa afro-brasileira. Em seu pronunciamento, V. Exª ressaltou que os colonizadores que foram à África procuraram acabar sobretudo com os valores religiosos do povo para que, com maior eficácia, explorassem e destruíssem muito daquilo que era importante para o desenvolvimento dos povos africanos. Nesta homenagem a Didi, V. Exª traz muito daquilo que nem todos nós brasileiros conhecemos e, assim, brinda-nos com uma síntese de obra tão importante. Senador Abdias do Nascimento, cumprimento V. Exª pelo discurso. Muito Axé!

O SR. ABDIAS NASCIMENTO (Bloco-PDT-RJ) - Agradeço o aparte de V. Exª e o incorporo ao meu pronunciamento.

Gostaria também de lembrar a V. Exª, que é representante do Estado de São Paulo, que Didi acaba de merecer, na última Bienal de São Paulo, uma sala especial para mostrar a importante obra escultórica que está realizando, em profunda conexão e simbologia com os terreiros de candomblé da Bahia.

Muito obrigado pelo seu aparte, que ajudou a reforçar as minhas palavras desta tribuna.

Muito agradecido a V. Exª.

Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/10/1997 - Página 22282

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

JANUÁRIAS E SUAS ESTAÇOES

 



Imagem disponível em https://www.revistaecotour.news/2016/07/as-estacoes-do-ano-no-brasil.html

Por Narcimária C.P. Luz

Uma forma de abraçar as saudosas e infindáveis lembranças de Mainha é revisitar as histórias que contam um pouquinho da sua vida e assim, revisitando essas  convivências, percebi que Januária era uma explosão de translação. 

Cada estação quer, como menina, adolescente jovem e mulher, espraiava uma intensidade de VIDA envolta das vibrações  primavera, verão, outono e inverno.

Sua vida em constante translação nos ofertou as Januárias que se seguem, são muitos episódios rápidos que vieram à memória às vésperas do seu aniversário de 93 anos.

Levei sete anos para escrever algo que tocasse as lembranças desse amor que nutriu minha vida. Perder Januária fisicamente me causou uma grande dor. Hoje percebo que a maturidade do luto me deslocou para o terreno da saudade carregada de alegria e paz. 

Aqui estou com meu coração debruçado nessas recordações que me emocionam e me fazem prosseguir sem ela fisicamente.

 
Paris 1991


PRIMAVERA



Imagem disponível em https://loja.mondiniplantas.com.br/rosa-roseira-rosa-mery

Seu nascimento em 10/11/1932 era lembrado com muita alegria por minha avó Anastácia, que teve o anúncio de sua chegada por meio de um pé de roseira bem rosa, que floresceu na varanda de casa e exalava um perfume extraordinário.

Ela deveria nascer em casa, no bairro de Quintas, na cidade de Palha, hoje Cidade Nova, mas, pelas circunstâncias do parto, foi para a Maternidade Climério de Oliveira, novidade na época, principalmente para a população de descendência africana.

Acredito que a roseira conversou com minha avó, presenteando-a com a sensação de que ela teria uma filha amorosa, doce, gentil, carinhosa, amiga, mas também muito forte, destemida no lidar com os desafios da vida, enfrentando-os com garra, coragem, permitindo o florescer constante de sonhos e esperança ao redor.

E assim foi.

Teve dois irmãos, Jaime e Jair. Amava-os muito e se dedicava a protegê-los.


Jauária aos 8 anos com seu irmão Jaime com seis anos

Ela gostava de falar com alegria de seus aniversários na infância. A decoração do chão da casa com folhas de pitanga e areia dava uma atmosfera muito especial, herança africana. Minha avó Anastácia fazia pastéis deliciosos e banana real, que era a sua preferida.

Tem o lado da Januária, dona de casa, zelosa, com bom gosto nas escolhas da decoração, ineditismo nos eletrodomésticos(risos).

 Sua primeira versão arquitetônica da casa do Abaeté em Itapuã lhe rendeu muitos elogios. 

Sempre deu uma de arquiteta!

Fez coisas mirabolantes para manter o ritmo da casa e não "deixar a peteca cair".

Não posso deixar de mencionar as decorações de São João que a transportavam em lembranças para a casa de seus pais.

 A casa ficava linda!

E as iguarias?

 Muiiiitas!

O sarapatel que fazia era famoso na Cidade Nova. 

De-li-ci-o-so!

As iguarias saborosas da Semana Santa e o tom da organização e sobriedade exigida no período  inesquecível.

As árvores de Natal ela criava com um esmero que me encantava.

Até o final da vida, continuava a confeccionar suas árvores, mantendo acesa a esperança nutrida pelo espírito de Natal.


A SUPER LUA



Imagem disponível em https://depositphotos.com/br/photos/super-lua.html?qview=169614188

Além do ciclo da primavera vívido na trajetória de minha mãe, há um especial que até hoje envolve minha vida e sonhos. Trata-se do perigeu que gera a super lua, fenômeno que ocorre quando a lua se aproxima da Terra.

No imaginário de filha, minha mãe era era e  é a super lua!

Quantas vezes ela aparecia grandiosa, enluarada, com uma força que me abraçava, me retirando de momentos de perigo, medo, inseguranças, situações que me agrediam e me paralisavam. Essa super lua Januária me devolvia a paz, altivez e me dava poderes para prosseguir destemida.

Minha mãe possuía uma beleza e charme comentadíssimos!

Muito graciosa, elegante e sofisticada.

Januária aos 18 anos

Admirava vê-la se maquiando. 

Isso me inspirava!

Dizia: quando crescer, quero ser igual a ela!

Januária início dos anos 1960

Lembro-me dos seus vestidos, sapatos, bolsas, brincos, joias, perfumes, tudo que adornava sua beleza, identidade profunda ligada a Oxum, princípio feminino relacionado à maternidade, fertilidade, fecundação, cuida dos fetos e dos recém-nascidos até adquirirem a fala. 

Tudo conforme anunciou a roseira no seu nascimento.

 

Pintura de Januária  alusão a Oxum
2009

VERÃO

Imagem disponível em https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/solsticio-de-verao-quando-acontece-e-o-que-significa/

Nessa  estação  Januária é ensolarada, brilhante, aquecida pela alegria cheia de humor, atitudes de altivez e muita vontade de ser e viver.

Lembro-me de levá-la a um médico e, ao recebê-la, o médico se referiu a ela fazendo alusão à música de Chico Buarque "Januária na janela".

Como fala a música de Chico Buarque:

Toda gente homenageia

Januária na janela

Até o mar faz maré cheia

Para chegar mais perto dela...

Mesmo o Sol quando desponta

Logo, aponta os lábios dela"(1967).



 Ela parou e olhou para ele, dizendo:

- Estou mais para cama do que para janela!

Rimos muito.

Outro episódio engraçadíssimo foi com Sidney Magal.

Imagem disponível em https://curtamais.com.br/goiania/sidney-magal-goiania-cantor/

 Ela sempre admirou Sidney Magal e eu estava no açougue quando ele entrou. Eu me aproximei e conversei com ele sobre o quanto ela ficaria feliz se falasse com ela. Na época, ela estava passando por uma depressão e esse contato faria muito bem para ela.

Então liguei e disse-lhe:

- Mainha, adivinha quem está aqui do lado e gostaria de lhe falar com você?

- Quem?

- Sidney Magal!

- Ah! Tá.

- Januária? Aqui é Sidney Magal!

Tudo bem?

- Hum!

Sidney Magal me diz:

- Ela não está acreditando que sou eu.

Aí eu falei:

- Cante alguma música.

Ele cantou Sandra Rosa...

Ela continuou a não acreditar.

Lá paras tantas ela disse:

- Cante "eu te amo"

E ele não fez por menos, cantou

-Ah! Eu te amo! Oh! Eu te amo meu amor!"

Isso em pleno açougue com todo mundo olhando.

Risos.

No final ela se emocionou e ficou radiante.

Ele foi no carro pegou uma foto e autografou com os dizeres:

" Januária, te amo"

Fiquei muito feliz com esse gesto de Sidney Magal e o quanto de alegria que ele deu a ela nesse dia.

Paris 1991

Seu aniversário de 80 anos, foi pleno de alegria e muitas reverências a sua trajetória.


Aniversário de 80 anos 


Januária dançando  em seu aniversário em 2012


Januária em seu aniversário ao lado do seu querido e amado  irmão Jaime 



Januária com seu filho Narciso assistindo a homenagem prestada a ela pela sua sobrinha e afilhada professora Jaci Correia.

Ela se divertiu muito!

A expansão da luz do verão fez resplandecer o vigor da VIDA.

Conheci a música Despacito em 2017, através dela que dançava e cantava às vezes sentada ou com a bengalinha, aludindo aos passinhos pequeninos que dava ao andar. Divertíamos muito com a música!

Imagem disponível em https://tomplay.com/pt/guitar-sheet-music/fonsi-luis/despacito-very-easy-level-classical-guitar-with-orchestra-guitar-score

"Mais Bonito não há" interpretada por Tiago Iorc e Milton Nascimento, também a embalava, levando-a até a infância com seu país, momento em que ela dizia ter sido o mais esplendoroso para ela por estar mais protegida e recebendo muito amor e dengo.

 Imagem disponível em https://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2017/09/06/milton-nascimento-e-tiago-iorc-anunciam-turne-intimista-e-musica-inedita.htm


OUTONO

Imagem disponível em https://www.ee.usp.br/proesa/esp/estacoes-do-ano/outono-e-um-bom-exemplo-das-postagens-do-blog

 Januária sabia o momento certo de se transformar, deixando cair as folhas necessárias, renovando e fazendo desabrochar novas, revigorando tudo ao seu redor!

Januária soube semear!

Foi uma pessoa generosa aos extremos.

Sempre se doava ao próximo, sempre.

Sua inquietude criativa desde menina transformava sabugo de milho em bonecas que eram compartilhadas com outras meninas.

Adorava música e muitas tocadas no rádio e interpretadas por cantoras famosas dos anos 1930 e 1940. Ainda menina, ela cantava dramatizando, se sentindo as próprias "cantoras do rádio".

Meu avô Januário só não gostava que ela cantasse Allah-la-ô, marchinha do carnaval de 1941. Januária tinha 9 anos e acompanhava essa música que foi sucesso total no rádio.


Imagem disponível em https://www.facebook.com/photo.php?fbid=523134647696877&id=267295789947432&set=a.482947378382271

Viemos do Egito / e muitas vezes nós tivemos que rezar / Alá, Alá, Alá, meu bom Alá / mande água para Ioiô / mande água para Iaiá / Alá, meu bom Alá”.

Composição de Haroldo Lobo e David Nasser e arranjo musical de Pixinguinha. Sucesso no rádio, mas na Cidade Nova, na casa de Januário, não.

Formou-se em professora primária em 1952.


Formatura professora primária pelo Instituto Isaís Alves-ICEIA

 Na mesma época, foi admitida com louvor num concurso público para professora pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia e foi trabalhar na Escola Princesa Isabel, ao lado da casa de seus pais.

Formou-se pela Universidade Católica de Salvador em 1968, onde também lecionou nos anos 1970. professora e vice-diretora do Colégio Estadual Governador Lomanto Júnior em Itapuã e da Escola Rotary na ladeira do Abaeté.

Ensinou no Colégio Antônio Vieira e no  Instituto Feminino da Bahia nos anos 1960 e 1970.

Como professora, semeou muitos frutos, dentre os quais dois estabelecimentos de ensino: um na década de 1950, a escola Nossa Senhora da Conceição em Quintas na Cidade Nova, com o apoio e entusiasmo de seus pais, e em 1978, a Escola Verde Recanto em Itapuã. 

Amava ser educadora!

A poesia também a tornava um verão florescente, muito iluminado, que aquecia a todos em volta. Nos ofertou belas poesias, hoje é um canal valioso que nos liga às emoções que comunica Januária Outono.

Participou de muitos congressos na área de educação, apresentando comunicações sobre suas vivências exitosas na Escola Verde Recanto.

Contribuiu nas publicações: Identidade Negra e Educação em 1986 pela editora Ianamá; Poesias ilustradas com suas pinturas: "Mil Cores, mil folhas..." pela Universidade do Estado da Bahia em 2009.

 


Descolonização e Educação: diálogos e proposições metodológicas com o artigo em coautoria comigo:"Educando através do repertório lúdico-estético dos provérbios afro-brasileiros". Nesse artigo, ela fala da sua trajetória nesse ciclo de translação. 

Tudo lindo e intenso!

 




INVERNO


Muitas vezes no seu caminhar o frio, nublado e cinza apagava a alegria.

Estudou numa escola primária que deixou marcas de muita tristeza e dor, convivendo com o racismo atroz que dilacerava sonhos e alegrias. Realidade dolorida ainda vivenciada por muitas crianças negras até os dias atuais.

Um dos episódios que ela lembrava e a entristecia foi um dia em que defendeu seu irmão Jaime, ainda pequenino, de uns meninos que estavam maltratando-o. A defesa que ela fez foi poderosa, tanto assim que os meninos não se atreveram mais. Infelizmente, ela foi punida pela diretora que a chamou. Ela, chorando com seus 8 aninhos, tentava explicar a situação sem sucesso.

Ela lembra que encostou a barriga na mesa da diretora, que pegou uma grande régua e empurrou-a dizendo:

Afaste-se!

Chegue para lá, sua negrinha!

Diante dessa situação, muito nervosa, Januária desmaia. A diretora chama uma funcionária para tirá-la de lá e essa pessoa pega uma compressa muito quente e coloca na batata da perna esquerda da criança que desperta aos prantos... Essa marca dessa queimadura ficou para sempre.

Sempre estudiosa, fez vestibular para a Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia e foi aprovada aos 22 aninhos.

Infelizmente, não teve a aprovação dos pais, por considerar o curso inadequado para a época. Essa tendência artística era considerada um caminho "estranho" para uma mulher.

Não achavam que era uma profissão adequada.

A perda inesperada de seu pai em 1960 a fez sofrer muito, principalmente num momento em que eu tinha nascido. Parecia que meu avô sabia que ia partir. Ele a alertava, dizendo.

-Filha, vamos batizar essa menina logo.

Nasci em junho, em agosto meu avô faleceu.

Um choque para minha mãe.

A perda de minha avó Anastácia em 1965 também foi muito difícil para ela.

O falecimento de meu tio Jair, o caçula, a entristeceu muito e, quando meu tio Jaime partiu, que era o irmão com quem ela interagia mais e muito presente na vida dela , isso a abateu por demais.

Amou muito durante toda a vida. 

Ofertou amor demais para quem merecia e quem não merecia.

Muitas vezes, esse amor pleno de doação e entrega absoluta a fez sofrer. Mas o tempo foi aplacando as decepções, fazendo-a calar e seguir em frente.

1959

Adorava ouvir a interpretação genial de Zé Ramalho cantando "Sinônimos". A letra comunicava o sentimento sobre o amor para ela.


Imagem disponível em https://www.instagram.com/p/DFaiKPuOggp/

 

A artrose foi um dos seus desafios mais ferrenhos. Trouxe-lhe tristeza e aos poucos foi tragando a sua alegria de viver.

Hoje, essas Januárias me visitam em sonhos vigorosos. Ela vem  em forma de abraços carinhosos, conselhos, conversamos, damos muitas risadas e também passeamos muito em lugares inusitados. Às vezes, ela vem acompanhada de minha avó Anastácia, com a qual tenho um grande vínculo. Acordo mais serena.

Outras vezes, elas vêm em forma de perfume, de uma música, de um sabor delicioso de comidas que ela fazia. 

Exímia cozinheira!

As Januárias estão presentes na minha vida e na de meus irmãos Narciso, Nailson e José Luís.


Januária e seu filho caçula Josè Luís 

1985

Nossas vidas têm o cintilar da sabedoria, valores e atitudes que ela semeou em nossos corações.

Os netos e netas, através de nós, dentro do possível, recebem esse cintilar que ajuda a lidar com o mundo contemporâneo e seus desafios: Maurício, Marcelo, Ana Carolina, Robert, Gabriela, Sophia, Zoe e Fraser.

 
Januária e seu neto primogênito Maurício


Januária e sua neta primogênita Ana carolina


Januária entre sua neta  Gabriela e neto  Robert


 Nailson entre suas filhas Ana Carolina,Sophia,Zoe e filho  Fraiser

Estou ciente de que não poderei dar conta nesse relato da riqueza e fartura das histórias das amadas Januárias que preencheram minha vida e estarão vivas e pulsando no meu coração para sempre.

Então concluo, apelando para o resplandecer de Januária e suas estações, Aprendi com ela ser necessário caminhar com leveza...

Olhar através da autocompaixão, atenta ao véu das aparências dos espelhos que seduzem e enganam.

Olhar com gratidão a explosão de vida que nos abraça todos os dias.

Escutar com o coração, extraindo as surpresas das palavras que acalmam a alma, nos encorajando a manter a cabeça erguida

Luto é dor!

É preciso, necessário, atravessar essa via confusa e sofrida da perda... É uma travessia solitária! A maneira de sentir a perda, a partida de pessoas tão valiosas na nossa vida, é singular... Não tema a demora desse ciclo do luto!

A saudade vai se achegando, abraçando, acalmando...

As pessoas amadas que partiram, viram estar conosco por meio de sonhos vívidos e acalentadores.

As lembranças vêm em forma de momentos envoltos em músicas, danças, histórias, risadas, sabores, cheiros, lugares... Tudo se regenera dentro de nós. Acredite! Mas saiba que não seremos mais os mesmos. Nossa maneira de ver e estar no mundo muda radicalmente.

Paris 1991


JÁNUÁRIAS, TE AMO!

OBRIGADA POR TUUUUDO!

SALVE 10/11!