quinta-feira, 18 de setembro de 2025
sexta-feira, 5 de setembro de 2025
AQUARELAS SEMÂNTICAS QUE COMUNICAM A SINGULARIDADE A OBRA/EPISÓDIO 4
Por Narcimária Luz
Selo
comemorativo
Criação
Marcelo Luz
A singularidade da obra Agadá Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira reside, sobretudo, na implosão que o autor provoca com os limites positivistas, valorizando, a partir daí, as narrativas míticas da tradição africana como fonte da pujança do contínuo de civilização.
Sobre
isso, Marco Aurélio desenvolve reflexões importantes e decisivas para quem se propõe a fazer uma
imersão no Agadá.
Numa
dessas reflexões ele afirma:
“O
mito para nós, portanto, não somente se constituirá, na presente tese, no
principal discurso capaz de transmitir a especificidade da concepção de mundo
constituinte do processo civilizatório negro-africano, bem como sua forma
própria de comunicação, mas também, terão papel revolucionário de procurar
retirar-nos da ditadura da pretensa eficiência de "racionalidade" do
discurso científico para que se possa acordar e sair do pesadelo daquela
"paisagem de cogumelos atômicos".(1)
Goya
Lopes, "Fundo do mar"
Imagem
disponível em
https://www.premiopipa.com/2024/04/hanayra-negreiros-apresenta-exposicao-com-narrativas-entre-as-artes-visuais-e-a-moda/
“Somente
o mito poderá falar das diversas dimensões do existir característico da cultura
negra, onde o Ser é, e o não Ser também é: o mundo dos vivos, o existir dos
ancestrais, as forças cósmicas que governam o universo. Esse mundo e o além, em
processo de interação permanente. Em suma, o mito é o discurso capaz de
representar a vida e a morte, o tudo e o nada, o pleno e o vazio, o visível e o
invisível, o dito e o inefável, o mistério da existência ...”(2)
Imagem disponível https://blog.jumpinbed.com.br/cachoeiras-do-rio-de-janeiro/
“É o
mito que se constitui no discurso capaz de elaborar e realizar o reconhecimento
da alteridade, dos outros e do Outro, ao contrário da ciência totalitária, que
querendo explicar tudo, muito fala e pouco ou nada diz.”(3)
Awon
xekere kekere pequenas cabacinhas adornadas.
O
Xekere é importante instrumento sagrado na religião nagô.
No
universo simbólico nagô, há uma grande espiral mítica ligada aos feitos de Exu
Yangi, orixá representado por uma pedra (laterita) inaugural, de onde tudo se
desdobra para o infinito e reflete toda a dinâmica que energiza a vida
promovendo a expansão de civilização
envolta a comunicação entre Aiyê(mundo dos vivos) e Orun (o além).
Laterita
https://pt.dreamstime.com/rocha-laterita-sobre-fundo-branco-ou-tijolo-vermelha-%C3%A9-um-tipo-de-solo-causado-por-material-decaimento-chamado-processo-image180001928
Okotó
Foto
Narcimária luz
Esses símbolos espiralados de expansão, movimento, crescimento, dilatação, ampliação e extensão caracterizam a dimensão mítico-cósmica que rege a filosofia nagô e nela, um dos seus itans, que faz referência à origem de Exu Okòtò. Esse itan conta a façanha de Exu Okótó com Orumilá que adquiri, a capacidade de tornar-se múltiplo, amplificado, prolongado, expandindo os elos da espiral no orun, o além.
Estampa
Exu de Goya Lopes
Criação
feita para o afoxé Bandarere de Belo
Horizonte
,que em 2020 homenageou Exu.
Imagem
disponível em https://www.facebook.com/goya.lopes/photos/a.329896253819238/1723352914473558/?_rdr
A imagem dessa grande espiral “(...)desperta no seu interior a pulsação de movimentos dos quais se desdobram redes de alianças comunitárias, comunalidades. Nessa grande espiral, entrelaça-se a origem das cidades, compondo em seu traçado urbano elos de ancestralidade, cosmogonias, hierarquias, instituições, organização territorial, famílias, linhagens, grupos sociais, enfim uma vida social em que circula a dinâmica da existência, o ciclo vital que constitui morte, vida, nascimento, renascimentos, descendência.”(4)
Okotó
Foto Narcimária luz
Para que a espiral se expanda e irradie a dinâmica da complementação harmoniosa dos múltiplos e diferentes aspectos do existir, as células comunitárias instituem ritos de sociabilização que se caracterizam por cerimônias, celebrações, obrigações, ritualizações, condutas comportamentais prescritas por valores e linguagens características do patrimônio civilizatório que alicerça a espiral.
Imagem disponível em https://br.freepik.com/imagem-ia-premium/uma-concha-espiral-com-uma-ponta-pontiaguda-e-padroes-intrincados-fica-em-uma-superficie-de-madeira-rustica_312795932.htm
Através dos ritos de sociabilização, as pessoas passam a pertencer e serem dignas de respeito e admiração de todos os membros da sua célula comunitária, assumindo vínculos sociais que comunicam sua identidade própria e lhes dão acesso à hierarquização de poderes na dinâmica da espiral. São os ritos de sociabilização característicos das comunalidades tradicionais que constituem a dinâmica da formação social brasileira.
Aldeia Demini, Terra Indígena Yanomami,
Amazonas
Preparando a pupunha para festa
Foto: Kristian Bengtson, 2003
Imagem disponível em
https://img.socioambiental.org/d/373345-1/103_0302.jpg
Para a compreensão da dinâmica da espiral, Okòtò, é importante pensar que a fundação de uma cidade tem como ponto de origem o mercado e em torno dele vem o palácio, em torno do palácio se reúne as famílias, linhagens, hierarquias sacerdotais e política e assim vão se criando os elos que dão pulsação a espiral, que vai crescendo e expandindo vínculos de sociabilidade que organizam a vida das cidades.
Ilê
Ifé é um exemplo dessa dinâmica de expansão de civilização que teve
desdobramentos transatlânticos significativos, influenciando os modos de
organização das territorialidades africano-brasileiras.
Linhagens no entorno do afin palácio do Alafin em Oyo.
A família Asipá constitui uma das
sete linhagens fundadoras de Ketu e é originária de Oyo.
Assim,
a espiral Okòtò, desenha a circularidade de um tempo e espaço singular que
funda o traçado urbano das territorialidades, a dramatização da vida enfim,
histórias humanas.
Todo
um complexo de conhecimentos espiralados que permitem que cresçamos, juntos,
através de um forte laço comunal, tornando-nos uma das células dessa espiral.
Parafraseando Maffesoli (2007) [7], a prevalência daquilo que nos liga ao
outro.
Assim propus a metodologia compreensiva durante o ciclo de vivências na graduação e pós-graduação, primeiro por considerar que ela nos indica uma espiral imaginária, cuja estrutura é espontânea; segundo porque ela nos lança ao encontro de outras epistemes vinculadas às alteridades civilizatórias que dão pulsão e sabor às atividades de pesquisa que nos sempre propomos a realizar.
Na
nossa convivência com Muniz Sodré, aprendemos que é preciso pensar radicalmente
o lugar onde você está. Você só muda a partir da sua comunidade. Você só se
universaliza a partir da sua territorialidade.
Caruru (2022), de Goya Lopes.
Serigrafia
em tecido 100% algodão e impressão digital sobre tela.
Imagem
disponível em https://www.sescsp.org.br/editorial/uma-saga-afro-atlantica-exposicao-no-sesc-pinheiros-e-inspirada-no-livro-um-defeito-de-cor/
Ler e estudar Agadá é ousar a fazer o exercício de aproximação da espiral que caracteriza o PENSAMENTO AFRICANO BRASILEIRO.
É
uma obra que floresceu através do pensamento espiralado que cresce e se expande
como uma gestação, que liga a origem e o devir, a origem das comunalidades e as
experiências coletivas que as constituem.
Assim,
o Agadá, dinâmica da civilização africano-brasileira através da metodologia
compreensiva promove um exercício exaustivo de uma arqueologia das ideologias,
revisando criticamente conceitos e descrições identificando os obstáculos
ideológicos, colocando-as numa outra perspectiva que desestruture e/ou
desestabilize o racismo velado das grandes narrativas da abordagem histórica
que detêm o monopólio autocrático da suposta “verdade” que vem sustentando as
metodologias da pesquisa universitária.
Monumento
em homenagem a August Comte criador do positivismo evolucionista na praça da
Sorbonne Paris V.
https://paris1900.lartnouveau.com/paris05/places/place_de_la_sorbonne.htm
Agemo
o camaleão símbolo do conhecimento e sabedoria
Capa
do livro Pensamento Insurgente,2018/Edufba
criação do designer Marcelo Luz
Mas para além do universo mítico-simbólico da civilização africano-brasileira e toda a riqueza que o caracteriza, o livro se propõe também a sublinhar, que o elo mais forte do sistema colonial mercantilista escravista europeu foi o capital financeiro, e nele a atividade mais rentável era o tráfico escravista, que caracterizava a pedra angular do triângulo comercial Europa, África e América.
Tumbeiro
(2022), de Goya Lopes.
Serigrafia
em tecido 100% algodão e impressão digital sobre tela.
Imagem
disponível em https://www.sescsp.org.br/editorial/uma-saga-afro-atlantica-exposicao-no-sesc-pinheiros-e-inspirada-no-livro-um-defeito-de-cor/
Por
outro lado, o livro nos leva a perceber que o elo mais fraco desse sistema era
o próprio tráfico escravista, que proporcionava a incessante vinda dos
africanos para as Américas.
Esse
fato propiciou a expansão constante da insurgência de africanos nas Américas, a
exemplo de fatos históricos como Palmares, independência do Haiti , os grandes
quilombos da Jamaica, Cuba e, principalmente, a luta de afirmação existencial
cotidiana do povo negro, inviabilizando a acumulação mercantil escravista.
As
populações negras são apresentadas no livro como sujeitos coletivos da
história, que interferem diretamente no fim do tráfico e da escravatura, além
de repor, nas Américas, suas comunidades e instituições, baseadas em seus
valores, linguagens e formas de sociabilidade das suas diversas tradições
É
importante destacar a coexistência do contínuo civilizatório africano com as
civilizações fundadoras das Américas, marcando as diversas formas de
enfrentamento dessas populações.
Imagem disponível em https://conexaoplaneta.com.br/blog/o-kuarup-em-uma-aldeia-waura/
Agadá
aprofunda a perspectiva que trata da tensão entre os valores
etnocêntrico-evolucionistas que regem a sociedade oficial as comunalidades
africano-brasileiras e os povos originários, demonstrando, que é no seio dessa
tensão que se dá a dinâmica histórica das formações sociais nas Américas, para
além do paradigma das lutas de classe.
Exú Lonan o Asiwaju o que vai a frente abrindo os caminhos.
Escultura
de Marco Aurélio Luz
Foto:
Otun Elebogi
Essas
tensões se caracterizam pelo colonialismo e seus desdobramentos estratégicos,
como: catequização, políticas genocidas, políticas de embranquecimento,
repressão, recalque; por outro lado, há insurgências negras e dos povos
originários pela afirmação existencial e coletiva dos seus patrimônios
civilizatórios. Assim, essa luta envolve, portanto, formas geralmente desprezadas
pelos cientistas sociais, ou seja, uma dinâmica na microfísica do poder,
rotulada como "cultura", que abarca as tentativas de impor valores e
políticas de abandono para atender os interesses dos Estados transnacionais.
Ekun
meji dois leopardos símbolo de poder e nobreza africana
Escultura
de M.A.Luz
Foto
Hans Olubi
É de
suma importância ressaltar aqui, o repertório semântico que Marco Aurélio
semeou nas Ciências Humanas e Sociais, permitindo as gerações sucessoras o uso
de noções, categorias e conceitos que hoje fluem de forma leve e escorreita,
fortalecendo argumentações teórico-epistemológicas essenciais, a exemplo de:
processo civilizatório africano-brasileiro, continuum civilizatório,
ancestralidade, ideologia do recalque, dimensão lúdico-estética, Odara,
pluralidade cultural, akpalô, alteridade civilizatória, apartheid ideológico,
ancianidade, comunalidade, pedagogia nagô, dialética nagô, estética do sagrado,
dinâmica vivido-concebido, dimensão estética africano-brasileira da educação
episteme africano-brasileira, ética comunitária, genocídio neocolonial,
hierarquias comunais, identidade profunda, obstáculos ou entulhos
teórico-ideológicos, filosofia nagô, política de embranquecimento, pedagogia do
embranquecimento, patrimônio civilizatório, sociabilidade africano-brasileira e
outras tantas noções geradas através do pensamento africano-brasileiro.
Mulheres
e crianças Yanomami colhem folhas para transformar em timbó, substância que
utilizam para a pesca.
Imagem
disponível em https://survivalbrasil.org/povos/yanomami
Também é bom frisar que nem sempre essas noções, categorias e conceitos são aplicados com a devida ética exigida, omitindo o seu teor profundo, negligenciando a referência, a fonte, a qual é o Agadá de Marco Aurélio Luz.
Sobre
essa negligência, mais uma vez recordo do saudoso Professor e amigo Dalmir
Francisco, alertando-nos sobre o uso indevido do rico manancial de noções,
categorias e conceitos contidos no Agadá elaboradas por Marco Aurélio Luz.
“Fico
muito chateado ao ver pessoas usando os conceitos de Marco Aurélio extraídos do
Agadá, sem ter o zelo acadêmico de informar a fonte de onde os retirou.”
Dalmir Francisco(primeiro à esquerda da foto) saúda os tambores Bata do terreiro de Pai Adão no Encontro do INTECAB
Foto M A Luz
Agadá Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira magnifica a episteme africana, abrindo perspectivas de afirmação do princípio de ancestralidade que dinamiza o estar no mundo de muitas comunalidades portadoras de sabedorias milenares.
Sendo
assim, ouso afirmar que o Agadá é um SAMBA!
Desfile
da Acadêmicos do Grande Rio em 2022 com o enredo homenageando Exú.
O
ator e dançarino Demerson D’Álvaro dramatizando Exu
Imagem
disponível em https://portalpopline.com.br/exu-grande-rio-primeiro-titulo-carnaval-carioca/
Samba
enredo e samba de roda!
É
samba, porque nos vincula à identidade profunda da civilização africano
brasileira, gerando um bom enredo que convida a formação de uma grande roda que
se expande como uma espiral.
Os
sambas se tornaram legendas na história do Brasil por várias razões: a primeira
por contar os modos de insurgência das populações negras e sua competência para
fundar territorialidades que recusam o recalque à sua alteridade civilizatória;
a segunda pela poesia que nos emociona e nos leva a dramatizar por meio da
dança e da ginga as situações que carregam a pulsão de sociabilidade
africano-brasileira.
Samba
de Roda
Ganhadeiras
de Itapuã
Imagem
disponível em https://todabahia.com.br/funceb-abre-inscricoes-para-projeto-mapa-musical-da-bahia/ganhadeiras-itapua-samba-roda/
Agadá
Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira é o samba de roda, que traz o
movimento da espiral Okotô, pois tem a síncopa, cadência, ritmo e poesia que
expande a história e complexidade da civilização africana.
É samba, porque nos permite compreender o universo simbólico
mítico africano brasileiro e dele, aprender sobre como as comunalidades
africano-brasileiras repuseram suas tradições, instituições e sociabilidades,
mantendo com dignidade o legado das/os antepassados/as, características
essenciais no exercício do direito à nossa alteridade civilizatória.
Morro
da Mangueira
Voz
das comunidades
Imagem
disponível em https://vozdascomunidades.com.br/favelas/morro-da-mangueira-recebe-primeira-edicao-do-cinema-sobe-o-morro/
Alvorada
lá no morro/ Que beleza/ Ninguém chora/ Não há tristeza/ Ninguém sente
dissabor/ O sol colorindo é tão lindo/ É tão lindo/ E a natureza sorrindo/
Tingindo, tingindo” (Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Belo).
Agadá
nos chama atenção para a necessidade de transcender o discurso geográfico,
mensurável e estático que, esquadrinhando os espaços, diz o que é, e o que deve
ser o “morro”.
O
morro aqui é uma metáfora! Em cena estão todas as territorialidades no Brasil
imantadas pelo patrimônio de valores e linguagens africano-brasileiras.
Cartola
na comissão de Frente da Escola de Samba da Mangueira
Imagem
disponível em https://comissaodefrente.blogspot.com/2012/04/nossa-historia-cartola-mangueira-1978.html
“Podem
me prender/ Podem me bater/ Podem até deixar-me sem comer/ Que eu não mudo de
opinião/ Daqui do morro/ Eu não saio, não” (Zé Kéti).
De
um lado, a geografia e o traçado urbano eminentemente africano-brasileiro com
suas instituições e hierarquias; de outro, o asfalto (parafraseando Marco
Aurélio Luz) com a sua a geografia civilizatória racista e seu traçado urbano
asséptico produtivista, voltado para a acumulação de capital.
Morro
e asfalto, contraste da afirmação secular dos valores africanos-brasileiros
que, em espiral, nos liga à Rainha Nzinga dos reinos de Ndongo e Matamba, e
seus desdobramentos em Canudos no início do século XX.
Imagem
disponível em https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/historia-brasil-favelas-cariocas.phtml
Todos
os sambas que destaquei falam das tensões e conflitos entre a singularidade
africano-brasileira e as políticas genocidas e de abandono que desencadeiam uma
dinâmica da violência que vem ceifando a vida de milhares de homens, mulheres,
crianças e jovens.
“Eu
sou o samba/ A voz do morro sou eu mesmo sim senhor/ Quero mostrar ao mundo que
tenho valor/ Eu sou o rei do terreiro/ Eu sou o samba/ Sou eu quem levo a
alegria/ Para milhões de corações brasileiros/ Salve o samba, queremos samba/
Quem está pedindo é a voz do povo de um país/ Salve o samba, queremos samba/
Essa melodia de um Brasil feliz” (Zé Kéti).
Zé
Kéti compositor do samba A Voz do Morro
Imagem
disponível em
https://www.cartacapital.com.br/cultura/ze-keti-a-voz-do-morro-que-ocupou-o-asfalto-nasceu-ha-100-anos/
Aqui
vale lembrar a preciosa expressão de Nei Lopes no prefácio da 5ª edição do
Agadá ao se referir a Marco Aurélio como um “herói fundador”.
É necessário fazer esse registro!
Awon Agbé e Caxixi
Arte de Narcimária luz
Por fim, insisto aqui em afirmar: a contribuição desse clássico, Agadá, dinâmica da civilização africano-brasileira exalta o pensamento africano, abrindo perspectivas de afirmação do princípio de ancestralidade que dinamiza o estar no mundo de muitas comunalidades na Bahia, portadoras de sabedorias milenares, nos permitindo a compreensão da África e sua expansão transatlântica nas Américas e Caribe a partir do repertório recriado aqui, tornando-o visceral em nossas vidas.
REFERÊNCIAS
[1] OJO, Afolabi. Yoruba Palaces, a Study of
Afins of Yorubaland. Londres:University of London Press 1966, p. 71
[2]LUZ,
Marco Aurélio. Agadá, dinâmica da civilização
africano-brasileira.Salvador:Edufba,1995.
[3]
Idem op cit.
[4] LUZ, Narcimária. Por uma metodologia compreensiva. In:LUZ, Marco Aurélio; Luz Narcimária (Org)Pensamento Insurgente, direito à alteridade, comunicação e educação. Salvador, Edufba,2018.
LUZ, Narcimária. Ritos De Sociabilização Enciclopédia Intercom de Comunicação.
– São Paulo: Sociedade Brasileira De Estudos Interdisciplinares da Comunicação,
2010.
MAFFESOLI. Michel. O Ritmo da Vida: variações sobre o imaginário pós-moderno.
Rio de Janeiro: Record,2007.
terça-feira, 26 de agosto de 2025
sábado, 16 de agosto de 2025
AQUARELAS SEMÂNTICAS QUE COMUNICAM A SINGULARIDADE DA OBRA - EPISÓDIO 1
Por Narcimária Luz
Para
desenvolver esse primeiro episódio, que apresenta outra perspectiva do Agadá,
dinâmica da civilização africano-brasileira, recorremos à metáfora “aquarelas
semânticas” com o intuito de aproximar as leitoras e leitores do repertório de
conceitos, noções e categorias que compõem o livro.
Essas
aquarelas semânticas, além de comunicar a singularidade da obra, nos permitem
adentrar em outro continente teórico e fazer
rupturas conceituais do positivismo e empirismo que satura os espaços
acadêmicos.
Imagem
disponível em https://vocenaneve.com.br/onde-ver-aurora-boreal-ideias-de-lugares/
Horror
na Faixa de Gaza
Imagem
disponível em https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2025/01/7035763-destino-da-faixa-de-gaza-e-incerto-apesar-de-tregua.html#google_vignette
Mulheres tocando cabaça num ambiente ritualístico.
https://terreirodegriots.blogspot.com/2014/10/cabaca.html
Passaremos
a destacar alguns aspectos singulares do livro que são radicais do ponto de
vista da historiografia positivista que sustenta a ideologia do recalque. A
partir daqui, selecionamos trechos de entrevista com Marco Aurélio no Jornal A Tarde em
17/06/1995.
“...Há
uma crise de valores da cultura europeia, por conta daquele paradigma de
progresso, do positivismo, do progresso a qualquer custo, que encantou, vamos
dizer assim, que esse progresso garantisse a felicidade da humanidade, isso
caminhou e... caiu num colapso... “
Imagem
disponível em https://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/entenda-conceitos-ecoterrorismo-violencia-ambiental/
Imagem disponível em https://guiaviajarmelhor.com.br/5-cachoeiras-com-aguas-incrivelmente-azuis-para-voce-conhecer-no-brasil/
Integrantes do Ile Axipá levam oferendas as entidades que regem a natureza
Foto
de Kleyson Otun Elebogi
Imagem
disponível em https://www.itapuacity.com.br/itapua-e-a-pedra-de-ponta/
Foi através do Agadá, dinâmica da civilização africano-brasileira que Marco Aurélio Luz com muita propriedade teórica fez rupturas urgentes e necessárias. Em destaque três delas: a primeira que se refere a independência do Haiti, que até o início dos anos 1980, era tratada de forma equivocada e superficial pela historiografia hegemônica na ambiência acadêmica. Sobre isso Marco Aurélio comentou:
Povo celebrando os 230 anos da Independência do Haiti
Imagem
disponível em https://www.esquerdadiario.com.br/O-imperialismo-e-o-Haiti-230-anos-apos-a-Revolucao
“Cerimônia
vodum de Bois Caiman, 1791. A cerimônia é lembrada como evento catalisador da
Revolução Haitiana, e serviu como um encontro espiritual e político que
organizou revoltas e resistências contra o império europeu”
Imagem
disponível em https://outraspalavras.net/outrasmidias/uma-historia-pouco-conhecida-do-haiti/
Disponível
em https://editorialpaco.com.br/conhece-a-historia-da-revolucao-do-haiti/
“Os espaços do sul estavam ocupados pelos povos originários Xokleng e Kaigang cujo modo de vida respeitava a floresta como ambiente sagrado.”
Imagem disponível em https://www.enfoquems.com.br/arte-e-danca-indigena-na-programacao-infantil-do-sesc-cultura-deste-sabado/
"Os imigrantes constituíram milícias para dizimar os povos originários que ocupavam as terras."
Imagem disponível em https://www.youtube.com/watch?v=iDlt_2WP4hE
O
Agadá desnuda o manto ideológico do racismo, suas metanarrativas e analíticas
da finitude sobre a alteridade civilizatória africana característica
fundamental na constituição da identidade profunda de muitos povos.
Imagem disponível em https://www.veranunesleiloes.com.br/peca.asp?Id=15248700&srsltid=AfmBOoo21KyWJZJcdcM19orACs_qQSrXZRImGIn4ptit4984NR3kzH4h
Conceitos
como sincretismo, mestiçagem, “laboratório racial”, identidade de escravo, o
recorte positivista evolucionista da África pré-colonial e pós-colonial,
cidadania, democracia, República, “ordem e progresso”, nas perspectivas de
análises finitas reeditados, antes do Agadá, saturavam vários espaços
acadêmicos.
Arthur
Ramos entre simpatizantes de seus
estudos na Bahia.
Observem
que há um rapaz negro em pé sendo submetido as análises racistas em voga.
Imagem
disponível em https://www.portalentretextos.com.br/post/tese-de-arhur-ramos-foi-elogiada-por-freud
Arthur
Ramos aliado de Anísio Teixeira ambos divulgaram a ideologia higienista
aplicada na educação.
https://www.traca.com.br/livro/502896/
-Chega
de se referir ao africano como escravo! Nunca os africanos assumiram a
identidade de escravo!
E
discorreu sobre o recalque que alimenta o discurso de “escravo”.
Vista panorâmica do Quilombo dos Palmares
Imagem
disponível em https://www.historiadealagoas.com.br/origem-do-parque-memorial-quilombo-dos-palmares-na-serra-da-barriga.html
Há
uma alteridade civilizatória legítima irrigando nossas territorialidades
essencialmente negras, erguendo vínculos comunais singulares, a exemplo: da
“Roma negra” como bem definiu a Iyá Oba Biyi Mãe Aninha,Iyalorixá fundadora do
Ilê Axé Opô Afonjá personalidade exponencial
nas Américas(1910-1938).
Mãe
Aninha Iyalorixá Oba Biyi fundadora do tradicional Ile Axé Opo Afonja em 1910.
Imagem
disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Eug%C3%AAnia_Ana_dos_Santos
Expoentes
da música João da Baiana, Clementina de Jesus, e Pixinguinha
Imagem
disponível em https://documentosrevelados.com.br/foto-memoria-joao-da-baiana-clementina-pixinguinha-e-dondo-na-passeata-dos-cem-mil/
Tia
Ciata Iya Kekere do ile Axé de João Alaba tornou sua casa o centro de reunião e
difusão da cultura da tradição africana e seus desdobramentos.
Ngola Kiluanji Rainha Ginga referência da expansão civilizatória africano-brasileira
Imagem
disponível em https://www.gov.br/palmares/pt-br/assuntos/noticias/nzinga-mbandi-2013-a-rainha-guerreira
Canudos
Imagem
disponível https://fpabramo.org.br/2021/11/08/canudos-uma-guerra-que-ainda-nao-acabou/
"Descendentes
de africanos no pós-abolição da escravatura, no início da República, fundaram
um arraial às margens do morro da Favela, que era assim chamado, por conta da
abundância da planta que caracterizava o lugar.”
Planta favela
Imagem
disponível em https://michelechristine.wordpress.com/curiosidades/favela-significado/
Morador de Canudos
Imagem
disponível em https://multi.rio/index.php/artigos/11514-a-guerra-de-canudos
“Os
moradores, em sua grande maioria africanos-brasileiros, guardavam o cabedal das
experiências estratégicas de luta acumulada nas referências dos quilombos ao
longo da história, desde o tempo da rainha Ginga do Ndongo. Assim, essas
táticas de guerra derrotaram as investidas de diversos batalhões da força
federal que eram deslocados de Santa Catarina para Canudos. Demorou muito, mas
com a chegada dos canhões da força federal, o arraial de Canudos foi dizimado.”
Canhão Whitworth 32 usado na última expedição militar contra Canudos
Imagem
disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Canudos
Morro
da Favela, pintura de Tarsila do Amaral 1924.
Imagem
disponível em https://sme.goiania.go.gov.br/conexaoescola/eaja/morro-da-favela/
Integrantes da I COMTOC em Ile Ifé
https://blogdoacra.blogspot.com/2019/01/intecab-origens.htm
Integrantes da delegação africana na II Comtoc em Salvador visitam ile axé Iya Omi Axé Iya Mase.
Imagem
disponível em https://blogdoacra.blogspot.com/2019/01/intecab-origens.html
O
OOni Ife Oba Okunade Sijuwade Olubuse recepcionou a I COMTOC em 1981
https://blogdoacra.blogspot.com/2019/01/intecab-origens.html
Mestre Didi Axipa Alapini saúda os presentes na Comtoc
https://blogdoacra.blogspot.com/2019/01/intecab-origens.html
"A participação de lideranças da tradição como o Oni Ifé e do Alapini Deoscoredes Maximiliano dos Santos, Mestre Didi Asipá, marcariam o vigor e a pujança da continuidade dinâmica da tradição civilizatória."
Por
fim, recorro a percepção de Nei Lopes no prefácio da 5ª edição do livro ao se
referir a Marco Aurélio e sua performance
intelectual na escrita do Agadá:
“(...)é
um dos grandes nomes da intelectualidade brasileira, e faz da pena a sua
espada.”
REFERÊNCIAS
MAFFESOLI, Michel.O Tempo Retorna, formas elementares da pós-modernidade. Rio de Janeiro, Forense Universitária.2012
********************
Segue
convite para a live dedicada a comemoração dos 30 anos do Agadá,dinâmica
da civilização africano-brasileira.
HELENA
THEODORO
Possui
graduação de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (1967), graduação em Pedagogia- Faculdade de Educação pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1970), mestrado em Educação pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (1978) e doutorado em Filosofia pela
Universidade Gama Filho (1985). Pós-doutorado no IFCS/UFRJ /PPGHC (Programa de
Pós Graduação em História Comparada) - 2018. Atualmente é Professora visitante
do Programa de Pós-Graduação em Filosofia do IFCS/UFRJ, de 6/10/23 até 5/10/24,
além de responsável pela cátedra Maria Firmina dos Reis por Helena Theodoro
pelo Colégio Brasileiro de Altos Estudos - CBAE/ UFRJ, presidente do Conselho
do FUNDO ELAS e Coordenadora da Liga Universitária de Pesquisadores e artistas
do Carnaval.
JANICE DE SENA NICOLIN
Doutora
em Educação e Contemporaneidade (2016), Universidade do Estado da Bahia, possui
Graduação em Letras Vernáculas com Francês pela Universidade Federal da Bahia
(1989), Graduação em Pedagogia pela Fundação Visconde de Cairu (2013) e
Mestrado em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia
(2007). Professora da educação básica do Estado da Bahia como regente do
componente curricular Língua Portuguesa, Docente da Faculdade Montessoriano de
Salvador, Coordenadora geral dos projetos de educação e cultura da Associação
Artístico-Cultural Odeart. Tem experiência na área da Educação com ênfase nos
seguintes temas: educação pluricultural, práticas pedagógicas, estética
teatral; identidade, territorialidade e ancestralidade africana e
afro-brasileira; formação do educador e memória da educação, experiência com
Projetos de leitura e produção de textos, literatura afro-brasileira; é
diretora de teatro e contadora de história com a recriação cênica
"Contador de história" da tradição africana.
PEDRO
MORAES TRINDADE
Possui Graduação em Letras Vernáculas com Inglês pela Universidade Católica do Salvador (1991), Mestrado em História Social pela Universidade Federal da Bahia (2008) e Doutor do Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia, desenvolvendo pesquisa sobre capoeira, cultura no século XXI. Ministra as disciplinas História de Cultura Indígena e Afro-Brasileira, Relações de Gênero Etnia e Classes Sociais e Metodologia Científica. É Professor Pesquisadora UNEAD ministrando a disciplina Estágio Supervisionado em História II. é mestre de capoeira e Presidente fundador do GCAP - Grupo de Capoeira Angola Pelourinho. Autor de várias produções culturais tendo sido indicado ao 46th Grammy Awards Year 2003 na categoria Best Tradicional World Musica Álbum.
KLEYSON
ROSÁRIO ASSIS
Doutor
em Ensino, Filosofia e História das Ciências (UFBa-UEFS), Mestre em Filosofia
(Ufba) e graduado em Filosofia pela mesma instituição. Possui pós-doutorado em
educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de
Feira de Santana (PPGE-UEFS). Atualmente é professor Associado I de Filosofia
da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Atua como pesquisador nos
grupos de pesquisa Investigações Filosóficas (UFBA) e Rizoma (UEFS), nos quais problematiza
a relação entre epistemologia, cultura, artes visuais, relações étnico-raciais,
ciência e ensino de ciências desde uma perspectiva filosófica. Coordenador do
Curso de Licenciatura em Filosofia, do Programa de Extensão CIA (Coletivo de
Inteligência Afrofuturista) e do Projeto LABII (Laboratório de Inteligência e
Imagem), todos do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia.