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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 20 de maio de 2017

TEMPOS DE “QUERELAS DO BRASIL"


Por Narcimária C. P. Luz[1]



Foto disponível na internet

Favela, planta característica da região de Canudos e que denominou as habitações do morro da Providência no Rio de Janeiro e se espalhou pelo Brasil a fora, As cidades se constituindo na dicotomia entre o "asfalto" e as favelas.

A música “Querelas do Brasil"(1978) de autoria de Maurício Tapajós e Aldir Blanc através da inesquecível interpretação de Elis Regina, é uma das muitas canções que nos convidam a pensar o Brasil em tempos de despudor, dor, medo e incertezas... “Querelas do Brasil" nos permite fazer  alusão ao hiato existente entre o Estado eurocêntrico e a nação, cuja identidade profunda está vinculada as civilizações aborígine e africana.



Foto disponível na internet


Foto disponível na internet

São tantas querelas!
No século passado na década de 1930, a etnóloga norte americana Ruth Landes na sua visita ao Brasil destacou no seu livro “A Cidade das Mulheres” (1947)as desculpas dadas a ela por Osvaldo Aranha, ministro das relações exteriores do Estado Novo:


Ruth Landes 
Foto disponível na internet 


Ruth Landes se surpreendeu com a capacidade e o poder de liderança e de organização das mulheres nas comunidades que garantiram a reposição e continuidade da tradição cultural africano brasileira na Bahia.

“O Brasil precisa ser corretamente conhecido, (...) e já que vai estudar os negros, devo dizer que o nosso atraso político que tornou essa ditadura necessária, se explica perfeitamente pelo nosso sangue negro, infelizmente por isso estamos tentando expurgar esse sangue e construirmos uma nação para todos, limpando a raça brasileira.”


Oswaldo Aranha ministro do Estado Novo, Ditadura Vargas.
Foto disponível na internet


Estamos no século XXI em 2017 e ainda somos golpeados com declarações vindas do poder de Estado com seus princípios republicanos, o atual Ministro da Justiça Serraglio afirmando sem pudor, em entrevista a Folha de S.Paulo no dia 07 de março de 2017 ser possível “identificar um potencial criminoso, ao olhar nos olhos dele”.



Foto disponível na internet

Afirmar que se reconhece um criminoso olhando nos seus olhos, é atualizar a ideologia racista do “criminoso nato” do “homem delinquente” pensamento elaborado pelo psiquiatra italiano Cesare Lombroso.


Criminalista italiano Lombroso, fim do séc. XIX.
Foto disponível na internet

No Brasil do século XIX suas ideias tiveram grande adesão através   de Nina Rodrigues e Arthur Ramos. O argumento de Lombroso e seus seguidores baseava-se numa "estética do mal" identificada através das características físicas do sujeito, cuja matematização das análises indicava a sua "tendência delitiva". Entra nessa matematização estética: formações cranianas, tamanho das orelhas, mandíbulas, lábios, olhos, dentição, nariz, etc. Assim, mesmo antes de acontecer o crime, o sujeito já é considerado suspeito. Assim, o discurso sobre a "estética do mal" vai regar a ideia de cidadania através da ideologia racista do “delinquente nato”, que propõem uma assepsia estabelecendo quem é capaz de “cidadania” ou quem são os “cidadãos”.




Foto disponível na internet
Professor e psiquiatra maranhense Nina Rodrigues. Alimentou a ideologia da inferioridade racial com uma falsa teoria de afirmar que a sagrada manifestação de orixá pelas sacerdotisas era análoga aos sintomas de histeria, "doença" usada para desqualificar as mulheres e qualificá-las como seres inferiores.  Séc. XIX e início do século XX.

À deriva dessa querela, crianças e jovens descendentes de africanos e aborígines, sofrem todos os dias a angústia de viver sob suspeita e a perda do seu direito à existência.
Uma constatação: essas ideologias racistas, garantem aos descendentes de europeus mais oportunidades e privilégios!
No Brasil a cidadania é branca e tem vínculos de interesse como o capital financeiro-industrial. Essa é a dura realidade!


Foto disponível na internet

A hegemonia de descendentes de imigrantes brancos recentes no Brasil no bloco no poder de Estado.

 É irônico, mas no Brasil temos de um lado, o discurso de cidadania e diversidade fomentado pelo Estado e, de outro, a atualização da política de embranquecimento e genocídio que tendem a atingir perversamente a população de descendentes de africanos e aborígines no Brasil.


Foto disponível na internet
Proclamada a República ocorre o genocídio de Canudos

As populações africano-brasileiras e aborígines clamam por políticas públicas que contemplem direitos coletivos capazes de estabelecer espaços institucionais de combate ao racismo e suas engrenagens ideológicas, que tendem a tragar a vida, levando-as a terem que lidar com situações marcadas por muita dor e humilhação.
No filme “Selma, uma luta pela igualdade” (2015) que aborda aspectos da organização e realização da marcha pelos direitos civis na cidade de Selma no Alabama em 1965, 


Foto disponível na internet
A marcha pelos direitos civis liderada por Martim Luther King

Há um diálogo muito interessante entre Coretta King esposa de Martin Luther King e Amélia Baynton, uma liderança feminina importante na história do movimento dos direitos civis nos EUA. No diálogo Amélia acalma Coretta afirmando que nós descendentes de africanos já nascemos preparados: “Somos descendentes de gente poderosa, que deu a civilização para o mundo. Gente que sobreviveu a navios negreiros, através de vastos oceanos. Gente que inovou, criou e amou, apesar das grandes pressões e torturas inimagináveis. Estão no nosso sangue, bombeando nossos corações a cada segundo. Eles lhe prepararam! Você está preparada!”


Foto disponível na internet
Coretta King e Martim Luther King
Não resta dúvida! Já nascemos preparados para enfrentar, superar e erguer com muita altivez e dignidade nosso patrimônio civilizatório africano e aborígine.
 “...O Brazil não conhece o Brasil/ ...O Brazil nunca foi ao Brasil/ ...O Brazil não merece o Brasil/... O Brazil ta matando o Brasil/... Do Brasil, SOS ao Brasil/...”
SOS ao Brasil!
Triste reconhecer que as populações que não assumem a característica de uma cidadania fixada no ideal de “eu” branco europeu, sofrem o flagelo das políticas genocidas e de abandono institucionalizadas pelo Estado.
Lamentável!




[1] Narcimária Luz é Doutora em Educação e pesquisadora no campo da Descolonização e Educação.

Querelas do Brasil por Elis Regina


sexta-feira, 12 de maio de 2017

“Mudar para nada mudar"


Por Maurício Luz


Foto disponível na internet


No Filme ‘’O Leopardo’’ do diretor Luchino Visconti, em um cenário de uma Itália passando por mudanças políticas e sociais, a nobreza e burguesia precisam se adaptar aos novos tempos, fazendo mudanças a favor do povo com o objetivo de se manter com poder e conforto na sociedade italiana da época. Em um dos diálogos um personagem diz que é preciso ‘’mudar para nada mudar’’
Sei que é no mínimo polêmico, mas mudanças devem ser feitas na forma de jogar do hoje melhor jogador do mundo, para se manter no topo Cristiano Ronaldo vai precisar se adaptar.
Apesar de ser um dos grandes exemplos do futebol mundial na forma física e empenho nos treinamentos, a idade chega pra todos, aos 32 anos o craque português não é mais um garoto.
Em um futebol extremamente físico, com pontas cobrindo as subidas dos laterais CR7 nunca foi esse tipo de cara, no entanto sua disposição no ataque sempre foi invejável, dribles e arrancadas geravam uma verdadeira bagunça nas defesas adversárias.


Foto disponível na internet

 Esses dias ficaram para trás, as arrancadas ficaram mais curtas, os dribles quase não aparecem.  No confronto contra o Bayern semana passada o vi refugar em um contra ataque mano a mano com Philipp Lahm pela frente, grande lateral! Mas já se aposenta ao final dessa temporada. Ahh nos tempos de United, duas pedaladas e uma mudança de direção deixariam o capitão Alemão a ver navios...


Foto disponível na internet

Não meus amigos, eu não acho que o melhor jogador do mundo está acabado, eu acho que justamente ele tem potencial de conseguir números que nem ele mesmo imaginou, como? Assumindo a posição de camisa 9. Cristiano é um atacante completo, finaliza bem com as duas pernas, tem porte físico, impulsão de jogador de basquete, uma cabeçada de primeira linha, posicionamento na área, e apesar de não ser mais o monstro do drible e arrancada contra os rápidos laterais de hoje, o Luso ainda é uma verdadeira Ferrari contra os Zagueiros (Hummels, Boateng e Martinez que o digam).
De onde eu tirei isso? Analisando jogos e estatísticas, apesar de ser o melhor do mundo CR7 tem uma das suas piores médias de Gols desde que chegou a Madri. No campeonato Espanhol enquanto Messi tem 33 e Suarez 23, Ronaldo tem apenas 19 gols marcados.
E quando ele fez chover gols recentemente? Contra o Bayern na Champions, e dos 5 gols que fez no confronto 4 foram como centro avante e todos dentro da área. No jogo de Ida Após a Expulsão de Martinez, Marcelo virou um ponta e o Real passou a ter Cristiano e Benzema na área vislumbrando conseguir uma boa vantagem em Munique, resultado 2x1 com dois dele.
No jogo da volta os merengues perdiam por 1x0, quando Bezema foi substituído aos 64 minutos, com entrando Asensio na ponta o camisa 7 merengue foi deslocado para a posição de centro avante, resultado, Hat Trick do Gajo e Real Madrid nas Semifinais em um agregado de 6-3.



Foto disponível na internet


Grandes nomes da História do futebol mudaram e se adaptaram para se manter em alto nível, seja no estilo de jogo como Romário ou Ronaldo Fenômeno, ou na posição como Nilton Santos, Maldini e Zé Roberto. O grande empecilho é o Plantel Madridista, com duas estrelas da posição como Karim Benzema e Álvaro Morata a vida de Zinedine Zidane não seria fácil, o melhor seria usar uma troca ou venda seja com James, Isco e os próprios Benzema e Morata para conseguir um ponta, o mais especulado hoje é Eden Hazard.



quinta-feira, 27 de abril de 2017

PENSAMENTO KRENAK

Aprendendo com os povos inaugurais do Brasil, ontem, hoje sempre


quarta-feira, 5 de abril de 2017

HOMENAGEM DA UNEB A DOUTORA NARCIMÁRIA





No dia 7 de março no Teatro da Universidade do Estado da Bahia- UNEB no Campus I, houve a aula inaugural e sessão de intercâmbio entre diversos Programas de Pós-Graduação do Campus I em Salvador. O coordenador do Programa de Pós Graduação em Educação e Contemporaneidade, Professor Doutor César Leiro dirigiu os trabalhos.
Destacamos o momento de homenagem à Doutora Narcimária Correia do Patrocínio Luz.
O professor César Leiro se referiu primeiramente ao curriculum da homenageada e logo em seguida, solicitou a presença da Doutora Narcimária no palco.



Graduada em Pedagogia, Mestrado em Educação(UFBA), Doutorado em Educação(UFBA), Pós-Doutorado em Comunicação e Cultura/UFRJ. Professora Titular Plena do Departamento de Educação do Campus I da Universidade do Estado da Bahia-UNEB. Desenvolveu pesquisas com incentivo do Instituo Nacional de Estudos e Pesquisas-INEP(1987-1990), Conselho Nacional de desenvolvimento Científico e tecnológico-CNPq(2006-2008), Fundação Biblioteca Nacional-FBN(2008-2009). Coordenadora do PRODESE- Programa Descolonização e Educação que desenvolve estudos e pesquisas na área de Educação inspirado na epistemologia africana, tendo como desdobramento a afirmação dos valores e linguagens das comunalidades africano-brasileiras. Concebeu e coordenou a publicação SEMENTES Caderno de Pesquisa (2000-2005).Idealizadora do projeto Dayó: afirmando a alegria socioexistencial em comunalidades africano-brasileiras indicado como semifinalista na 8ª Edição do Prêmio ITAÚ UNICEF em 2009.O Dayó foi desenvolvido no âmbito da Associação Crianças Raízes do Abaeté no bairro de Itapuã em Salvador Bahia, um dos pontos de cultura do Ministério da Cultura(2005-2012).As publicações da pesquisadora, integram a WorldCat que é um catálogo que reúne as coleções de 72.000 bibliotecas em 170 países e territórios que participam da Online Computer Library Center (OCLC) cooperativo global, considerado o maior do mundo bibliográfico de dados.
Após a apresentação da homenageada, o Professor César comentou sobre as razões pelas quais era conferida duas placas com os seguintes dizeres:
*******************
Agradecemos a Professora Doutora Narcimária Correia do Patrocínio Luz, por fazer a diferença no Departamento de Educação-Campus I, durante todos esses anos. Sua ética, responsabilidade, comprometimento e competência merecem nossos aplausos, reconhecimento e gratidão.
Departamento de Educação, Campus I”
************************

“O Programa de Pós Graduação em Educação e Contemporaneidade – DEDC/UNEB, ao completar 15 anos, expressa seu reconhecimento pelo decisivo trabalho acadêmico desenvolvido na fundação do PPGEduC.
Nossa homenagem e Gratidão.”


Foram entregues as duas placas honoríficas e após os aplausos dos presentes no auditório foi passada a palavra a Doutora Narcimária.


O Professor César Leiro entrega a placa em homenagem a Professora
Foto: Filismina Saraiva
                             Professor Nathanael Reis Bonfim representando o Departamento de Educação do Campus I entrega a placa a homenageada
Foto: Filismina Saraiva 

A Professora Narcimária grata pela importante homenagem no âmbito das gestões dos Professor Doutor César Leiro e do Professor Doutor Valdélio Silva Diretor do Departamento de Educação do Campus I, ressaltou que não considera um reconhecimento a ela pessoalmente ou individualmente. Não foi uma trajetória solitária dentro da Uneb, não. Essa pulsão em promover institucionalmente iniciativas bem sucedidas na área de Educação no campo da Pluralidade Cultural, ao longo de quase 30 anos, envolveu muitas gerações de graduandos/as e pós-graduandos/as. Uma trajetória que representa todo um pensamento intercontinental de revisão de determinados paradigmas da Educação que não aceitam e nem acolhem a alteridade civilizatória africano-brasileira, especialmente no Brasil e mais ainda, na Bahia.
Então, a professora Narcimária dedicou a homenagem a todas os ancestrais...
Ainda nos seus agradecimentos Narcimária destacou que nas nossas comunalidades africano-brasileiras, há uma ética que se baseia no valor da ancestralidade. É um grande equívoco pensar ancestralidade como uma carga genética! Ancestralidade não é apenas uma sucessão genética. Fiquem atentos/as!
A ancestralidade se caracteriza por representar as lideranças comunitárias que se dedicaram em vida ao bem estar da família, linhagem, comunalidade através da manutenção e preservação dos valores e linguagens que sustentam o bem estar e destino individual e coletivo. Ancestral é, portanto aquele ou aquela que em vida deu continuidade e garantiu a expansão da memória da sua comunalidade. Os ancestrais são lembrados e consagrados para depois em outro plano de existência continuar protegendo a existência e promovendo a alegria de sua gente. Enfim, é aquele que dedicou sua vida para garantir a continuidade da tradição.


Participação em evento no Ilê Asipa
Foto: Marco Aurélio Luz

Quando se entra numa comunalidade africano-brasileira logo se aprende que ali não é a trajetória individual do “self made man” (o indivíduo solitário que se faz por si mesmo (parafraseando Marco Aurélio Luz) que vale”. A sua história está entrelaçada com outras gerações, com os ancestrais...Daí ser comum indagar a quem chega: Quem são seus pais? Quem são seus avós? Qual o seu orixá? Esse é o valor que comunica o seu estar no mundo! A sua identidade coletiva! O seu valor para a comunalidade!
Seu trabalho foi o de propor outras formas pedagógicas de transmissão do saber para além do monopólio da escrita. 
Educação e Academia de Capoeira do Contra Mestre Luís Negão  Festival Awon Esó Prodese
Ganhadeiras de Itapuã, Festival Awon Eso, PRODESE, Programa de Educação e Descolonização

A base do seu trabalho é a epistemologia africano-brasileira, elaborada na Mini Comunidade Oba Biyi, primeira experiência de Educação Pluricultural no Brasil(1976-1986) concebida pelo grande educador Deoscoredes Maximiliano dos Santos o Mestre Didi, Alapini Sacerdote Supremo do Culto aos ancestrais da tradição nagô. Lembrou ainda, a Uneb está envolvida nos preparativos do centenário do Mestre Didi.
Chamou atenção para a presença no auditório, do Professor Doutor Marco Aurélio Luz que foi professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Federal Fluminense, e que veio para a Bahia a convite do Mestre Didi para participar da Mini Comunidade Oba Biyi. Marco Aurélio Luz transferiu-se para a Universidade Federal da Bahia onde recriou em nível acadêmico na graduação e pós-graduação da Faculdade de Educação da UFBA, linhas de pesquisa e programas para disciplinas que abriram novos horizontes para uma educação que acolha a riqueza da civilização africano brasileira. Através dessas linhas de pesquisa da UFBA, muitos   professores/as que hoje atuam na UNEB se formaram.

Professor Michel Maffesoli, Doutor Marco Aurélio Luz e Doutora Narcimária Luz em Sorbonne, Paris V.

Os agradecimentos da professora Narcimária Luz foram envoltos a uma solicitação ao atual coordenador do Programa de Pós Graduação em Educação e Contemporaneidade Professor César Leiro: que se acabe o silêncio ou “censura” sobre seu nome no site do Programa. Egressos do Programa de Pós-graduação que foram alunos/as e orientandos/as da Professora visitando o site, identificaram que não há nenhum registro que informe que a mesma teve alguma importância na história institucional dessa Pós-graduação.
O Professor publicamente se comprometeu a corrigir esse grande equívoco no site do Programa de Pós-Graduação.
Breve Histórico
A vida científico-acadêmica da Professora Narcimária na UNEB se alimenta dessa seiva de valores e linguagens africano –brasileiras tão bem cuidada por Mestre Didi e Marco Aurélio Luz, e que se expandiu através das suas valiosas iniciativas institucionais.


Poeta Lande Onawale escritor Dalmir Francisco, poeta José Limeira e escritor Marco Aurélio Luz em evento do PRODESE.

Além das experiências no ensino, pesquisa e extensão Narcimária teve ânimo para a criar e mobilizar colegas de vários campus da Uneb para a criação do Núcleo de Educação Pluricultural Nep(1994-1995); concebeu o Centro de Estudos das Populações Afro - Indígenas nas Américas Cepaia(1996). Do Programa de Descolonização e Educação Prodese(1997) vinculado ao Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq) onde desenvolveu pesquisa e está credenciada como orientadora de Mestrado e Doutorado, se desdobraram criações institucionais importantes a exemplo: Revista SEMENTES, Caderno de Pesquisa (2000 a 2005) reunindo importantes ensaios de intelectuais do Brasil e do exterior; o premiado Projeto Dayó(2005-2012) no âmbito da Associação Crianças Raízes do Abaeté-Acra.





Auto coreográfico "A Canção do Infinito" de Narcimária Luz por integrantes do ACRA, direção musical Sidnei Argolo


Participantes d e organizadores do Festival Afro-brasileiro de Arte da ACRA
 Célia, Paula Grejianin, Rosângela Accioly, Daniela Cidreira, Jackson Costa, Narcimária Luz, Sidney Argolo, Jaqueline Amor Divino, Sara Santos e Janice Nicolin.

 Narcimária é autora, organizadora e co-autora de diversos livros além de ensaios, artigos e verbetes.


Narcimária autora do livro "Itapuã da Ancestralidade Africano Brasileira" compartilhando momento de confraternização ao lado da  professora Gilca Assis e professor Narciso José do Patrocínio


Lançamento do livro Oba Nijo de autoria de Narcimária do Patrocínio Luz com ilustrações de Ronaldo Martins.

 No âmbito do Programa de Pós-graduação em Educação e Contemporaneidade, foi assídua colaboradora desde a sua concepção no que tange a estrutura, forma e conteúdo da Linha Processos Civilizatórios: Memória e Pluralidade Cultural(Procemp)conhecida como Linha 1 na qual foi coordenadora até 2004.


Defesa de tese da professora Janice Nicolin.
 A banca examinadora composta pelas Doutoras Nadir Nóbrega, Ana Célia Silva, Jaci Menezes, Narcimária do Patrocínio Luz, e Inaicyra Falcão dos Santos

Defesa de dissertação da professora Léa Austrelina Ferreira.
Apresentação do auto-coreográfico A Fuga de Tio Ajayi de autoria de Mestre Didi com integrantes do programa Odemode Egbé Asipa.
 Na foto Caio Santos, Jefferson Ferreira e Walney do Amparo.

A doutora Narcimária representou a UNEB em inúmeros Eventos, progamas de TV e rádio

 O Compositor Martinho da Vila e o escritor angolano Manoel RuiP palestrantes  e Narcimária Luz coordenadora da Mesa de abertura do SINBAIANIDADE II.


Participação da professora Narcimária como palestrante na Universidade Federal do Recôncavo
 em Amargosa.

No decorrer de sua atuação universitária a professora Narcimária foi homenageada como patronesse e paraninfa em  várias turmas do curso de  graduação em Pedagogia.
Autoridades da UNEB na composição da Mesa solene da formatura da primeira turma de Pedagogia da Uneb em Lauro de Freitas.
 Reitor José Bittes e o Diretor do Departamento de Educação Doutor Valdélio Silva dentre outras.

A doutora e professora homenageada pela turma de formandos pronuncia suas mensagens.















sexta-feira, 10 de março de 2017

OPÔ BABA N`LAWA e Homenagem ao Mestre Didi

Por Marco Aurélio Luz


Placa comemorativa ofertada pela prefeitura de Salvador ao Ilê Asipá em homenagem ao  centenário de Mestre Didi

Na abertura do carnaval de 2017  a  Prefeitura homenageia o Centenário de Mestre Didi. Na placa comemorativa do centenário do Mestre Didi, a imagem da escultura Opo Baba Nla.
Na véspera do dia de entrega das oferendas da colônia de pescadores do Rio Vermelho `a Yemanjá, num local bem próximo num outeiro sobre o mar , descortinando todo horizonte de luzes e cores que a vista alcança e se perde em direção ao continente africano, foi inaugurado o Opô Baba  N’Lawa.
No momento solene , com a presença das autoridades governamentais, de autoridades da  tradição e do povo em geral , Mestre Didi e o  prefeito de salvador , acompanhados das respectivas senhoras, descerraram a placa comemorativa da inauguração.
O Opô Baba N’Lawa é um cetro em homenagem a nossa ancestralidade africano-brasileira , um marco histórico , a maneira negro-africana como o Opa Oraniyan dos yorubá, ou os famosos obeliscos egípcios.



Opo Baba N`Lawa no Rio Vermelho
Foto: M A. Luz

Embora uma das características estruturantes da tradição africana seja o culto aos ancestrais, cuja origem se perde na noite dos tempos, não deixa de ser significativo que a sociedade oficial , através da prefeitura , outorgue ao Mestre Didi , um sacerdote – artista , Alapini e Assogbá , supremo sacerdote do culto aos ancestrais masculinos , os Baba Egun , e  também sacerdote supremo do orixá do panteão da terra , Obaluaiyê , a responsabilidade da elaboração do cetro que homenageia a ancestralidade africana responsável pelo legado civilizatório que marca profundamente nossa identidade.
No Brasil , o culto aos ancestres africanos  possui diversas matrizes  litúrgicas e rituais adaptadas a nossa terra e que constituem um dos pilares da tradição , que vai das  congadas aos cultos de Baba Egun , passando pela genuinidade dos Caboclos, Preto- Velhos , e dos Inkices , Bakuros , Voduns , etc  constituindo a cultura predominante que alimenta a alma e a espiritualidade brasileira.Os cultos aos ancestres ora se referem a linhagens fundadoras de reinos e cidades e mantenedoras da continuidade dos valores civilizatórios , transmitindo seu precioso legado as novas gerações , baluartes na defesa e manutenção de sua identidade própria , ora se referem as origens da própria humanidade , transcendendo a temporalidade histórica para elaborar o mistério da gênese nos momentos mais profundos da liturgia.Na primeira referência , a temporalidade histórica tem como ponto inicial as origens africanas e sua ancoragem nas Américas e passa pelo período recente de lutas de libertação e resistências à escravidão européia, enfim , contra o sistema colonial mercantil escravista ,para alcançar os diais atuais, em que a tradição preservada , alimenta a comunalidade e a sociabilidade africano-brasileira, que se desdobra , perpassando de forma diversa a totalidade do tecido social componente da identidade nacional.
Localizado de forma a ter como fundo a linha do horizonte infinito do oceano em direção a África , ambas situações estão contempladas na simbologia da historicidade expressa no Opô Baba N’Lawa . É que a nossa ancestralidade é homenageada não só pela riquíssima herança cultural trazida pelos africanos para as Américas, mas também porque a origem da humanidade , do homo sapiens tal qual somos, está na própria África.
Emergindo do solo , a lança projetada em direção a atmosfera , celebra a continuidade da tradição que por sua vez garante a continuidade da humanidade. Sentinela dos valores da tradição garantidora da circulação de axé, da força vital , os ancestres são depositários e guardiões da sabedoria capaz de proporcionar a expansão do existir.Os ancestres portanto , são  a fonte de onde flui a continuidade da tradição. Na tradição nagô são sempre invocados e homenageados em todos os ritos precedendo ou iniciando a liturgia que mobiliza as relações entre o aiyê, esse mundo , e o orun, o além.
Assim como na cosmogonia nagô , os orixá, forças da natureza que governam o universo são classificados por princípios femininos e masculinos, também os ancestres têm ritualmente  essa qualificação.No Opô Baba N’Lawa , os dois princípios e poderes estão contemplados. Além da lança de forma fálica e com  a representação em bronze de sua textura de feixe de taliscas de mariwo caracterizando o poder da ancestralidade masculina, o interior da terra ventre  fecundado, de onde emerge o Opô caracteriza o poder da ancestralidade feminina. Os dois passarinhos em ambos os lados da peça por sua vez representam o poder de progenitura, resultante do movimento e da interação entre os princípios.


Mestre Didi e a escultura Opa Exin
Foto: disponível na internet

Na forma original das recriações de Mestre Didi , a textura de suas esculturas segue os elementos simbólicos dos orixá do panteão da terra especificamente o Xaxará e o Ibiri. Assim, as taliscas de palmeira mariwo, os búzios , couro , contas e cores , fazem parte das obras recriadas. Na presente peça, foi constituída uma réplica em bronze, material capaz de melhor resistir as intempéries da exposição em praça pública. Todavia convém sublinhar que o bronze retorna a arcaica técnica de cêra perdida , característica  do acervo das famosas esculturas do patrimônio cultural de Ilê Ifé , a cidade sagrada dos yorubá.



Opa Exin ati Eiye Meji. Cetro representando a ancestralidade que assegura descendência, expansão e continuidade.Reprodução da escultura de Mestre Didi no Pelourinho 1983.Criação de Óscar Ramos.
foto: M.A. Luz
Em 1974 , participando do Iº Seminário sobre o Nordeste: Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico , realizado em Salvador, Juana Elbein dos Santos realizou a comunicação Conscientização do Patrimônio Negro-Brasileiro , chamando a atenção para o fato de que a ausência de quaisquer políticas de preservação , se constituía num desdobramento do recalcamento de projeções coloniais escravistas. Alertava para  pontos cruciais que pouco a pouco , no decorrer das últimas décadas alguns  , foram devidamente contemplados como:

  1. Inventário de peças museáveis da arte negro-brasileira;
  2. Inventário e as homenagens aos quilombos , do passado e do presente;
  3. Desobstrução da fachada do Ilê Iyá – Nassô , prejudicada pela presença ostensiva de um posto de gasolina;
  4. Exposição em local adequado e/ou devolução de material sacro confiscado pela polícia e exibido de forma deplorável em museus da academia de polícia ou afins.
Enfim , vários outros aspectos significativos de nosso patrimônio cultural foram apontados  ,e que agora, com o Opô Baba N’Lawa, se vai assumindo também uma nova postura do poder público , reconhecendo a diversidade sócio-cultural como característica componente da riqueza de nossa identidade própria.
A escolha da homenagem à ancestralidade não poderia estar melhor representada do que por uma escultura de Mestre Didi. Ele que além de ser considerado um dos mais insignes representantes da arte contemporânea , que recria uma linguagem estética a partir de sua profunda experiência de sacerdote-artista , é descendente de uma das mais tradicionais linhagens componentes do antigo império nagô-yorubá, a família Asipá; referência de ancoragem e continuidade ininterrupta do processo civilizatório negro –africano.
A importância do cetro , obelisco em homenagem a ancestralidade é de um efeito estético análogo ao oriki , poema de louvação à memória da Iyá Oba Tosi , uma das fundadoras da tradição nagô  na Bahia  e as mães ancestrais, invocado em determinadas ações litúrgicas. Diz o poema em um de seus versos:

 A de o!
 Chegamos e estamos aqui!


 Kosi mi fara e awa re!
 Nada há no mundo que possa contra mim, aqui estamos!
 Kosi mi fara e awa re!
 Nada há no mundo que possa contra mim, aqui estamos!
 Awa kasa i fara e la i be si bo.
 Nunca deixaremos de ofertar e rogar em nossos altares por nossa gente.
 Idan toba fara a ng a lo lo dan.
 Podem usar o poder que quiserem.
 Kosi mi fara e awa re!
 Nada há no mundo que nos atinja, aqui estamos!


 Kosi mi fara alejo.
 Nada há que possa contra mim, nem mesmo os estrangeiros.
 Ara wara kosi mi fara!
 Todos unidos num mesmo corpo, nada há no mundo que possa contra mim!


Na pequena enseada do Rio Vermelho barcos e canoas ancoradas compõem o cenário das relações da humanidade com o reino de Olokun e Iemanjá. Uma canoa com pescadores singra o mar em direção a praia , onde no amanhã serão embarcadas as oferendas aos orixá, para que o mundo não se acabe...

Notas:


 1. Cf. SANTOS, Juana E. Conscientização do Patrimônio Negro-Brasileiro, in SÁRÉPEGBÉ. Salvador:  Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil- SECNEB, p.21- 23, 1995 .

2. SANTOS, Deóscoredes M. Homenagem a Asipá Oba Tosi ati Iya Mi Agba. (mimeografado Salvador,1983) in LUZ, Narcimária do Patrocínio. ABEBE a Criação de Novos valores na Educação. Salvador: Edições SECNEB,2000 ps. 137-139.