Por Felix Ayoh'OMIDIRE
Ile-Ifé, Nigéria.
Mãe Senhora, Iyalorixá Oxun Muiwá
Ha! Erin wo! Erin mawo o! Mestre Didi Alapini, omo Mae Senhora lo nile yi igi da!
Ka too r'erin o digbo,
Ka too r'efon o dodan,
Ka too tun reeyan alawo dudu bii ti Mestri Didi laarin awon iran eniyan dudu ni Latin América, o dorun alakeji.
Mestre Didi, boo dele o kile o,
Boo dona o beere ona,
Ma jokun, ma jekolo o, omo Asipa nilee Ketu, ohun tiwon ba nje lajule orun nii koo bawon je...
Os
nossos mais velhos na tradição iorubana ensinam que a morte (iku) não é o fim
da existência, se não uma mudança de estado - mudando de mortal para imortal,
e, no caso de iniciados, de omo orixá para um ancestral que será responsável
doravante para vigiar e velar desde o orum (o além) os passos de seus
descendentes que permanecem neste plano (o aiye).
Eis a nossa
consolação maior diante do falecimento do nosso baba Mestre Didi Alapinni, guia
e guardião da tradição nagô-iorubana na Bahia e sacerdote-mor do culto aos
Egungun.
Mestre Didi Axipá, Alapini
Portanto,
quem saiu vencedor do encontro entre Mestre Didi e iku (a morte) no ultimo dia
6 de outubro foi o grande sacerdote Alapinni, pois a partir dessa data, o filho
de Mae Senhora hoje integra o panteão dos orixás e ancestrais do nosso povo. De
agora em diante, as múltiplas Ile Axe da Bahia e de todo o Brasil já contam com
mais um ancestral de grande peso para defende-las e guiar seus esforços na
promoção e preservação dos valores da tradição nagô-iorubana nos quatro cantos
dessa nação. Além do mais, lembremos, como mais um consolo nosso, que o nome
original da terra africana, de onde saiu os genitores Axipa de Mestre Didi no
reino iorubano de Ketu chama-se "Kosiku", ou seja, não ha morte!
Portanto, para pessoas como Mestre Didi, a morte não existe!
Como
se costuma dizer quando falece um rei entre os povos nagôs da atual Republica
do Benim (antigo Daomé, onde se localiza hoje o reino de Ketu), o rei não morre, ele simplesmente "volta para Ile-Ife" a casa de seus pais, a origem do mundo iorubano.
Escultura Tradicional representando os Reis de Ifé, Oni Ifé
Por isso também que a passagem de grandes personagens
costuma ser ocasião de grande festividade no meio de seus descendentes, pois,
para nos iorubanos, tal morte e' uma festa! O canto que mais se ouve nas ruas
em tais momentos, e que ora cantamos para acompanhar o translado definitivo de
Mestre Didi é:
Ile lo lo tarara,
Ile lo lo tarara,
Baba re'le o,
Ile lo lo tarara!
Mestre Didi re'le o,
Ile lo lo tarara!
Oko Juanita re'le o
Ile lo lo tarara!,
Omo Osunmuyiwa re'le o,
Ile lo lo tarara!
Baba Inaicyra re'le o,
Ile lo lo tarara!
Omo Asipa Borogun re'le o,
Ile lo lo tarara!
Opo Baba N'lawa, replica da escultura de Mestre Didi no Rio Vermelho
Foto: M.A.Luz
Neste
momento em que todos lamentamos profundamente a morte física do Alapinni, temos
que nos lembrar dessa profunda filosofia da nação iorubana: As lágrimas que
derramamos são lagrimas de gratidão para a plenitude da vida levada pelo nosso
querido Baba que hoje terá maiores condições de velar pelo nosso bem-estar
coletivo.
Aproveitamos
o momento para mandar, em nome dos lideres do culto e da tradição aqui na
iorubalandia os nossos sentimentos mais sinceros para todos os entes queridos
que Mestre Didi deixou neste ato de retorno definitivo ao Ile eterno para se
juntar aos orixás e ancestrais. Em nome do Awise Wande Abimbola, em nome do
Embaixador Olabiyi Babalola Yai, em nome do Alaketu (rei de Ketu), em nome do
Ooni Adimula Okunade Sijuade (rei de Ile-Ife), em nome do Alaafin (rei de Oyo),
enfim, em nome de todos nos filhos e filhas, irmãos e correligionários no Axe
que tivemos a maior bem-aventurança de conhecer e conviver com o grande Mestre
Didi, aprendendo de sua grandiosa e generosa fonte de sabedoria iorubana, mando
aos familiares e descendentes no Axé do agora querido ancestral Alapinni Didi,
os nossos pêsames. Ojo a jinna sira o! Axé!.
* Imagens de Internet
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