A Associação Crianças Raízes do Abaeté, acolheu durante a sua existência, perspectivas de linguagens socioeducativas que afirmavam a dinâmica sócio-histórica e cultural do bairro de Itapuã.
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
ESCULTURAS DE UM MUNDO SAGRADO
Por Marco Aurélio Luz
Mestre Didi Asipá Alapini, sacerdote artista
Foto disponível na Internet
Um pouco do
que aprendi dos ensinamentos de Mestre Didi...
Mestre Didi
Assogbá, o consertador de cabaça, o reparador da vida, sacerdote supremo do
templo dos orixá ninu ilé, entidades do interior da terra, Nanan, Obaluaiye e
Oxumare, era responsável pelos paramentos e emblemas desses orixá, portanto
elementos de um mundo sagrado.
Fila de Iko, paramento do orixá Obaluaiye
Foto disponível na internet
Dos
paramentos destacamos a cobertura, ou capuz, fila de iko, palha da costa em
forma de cone em franjas que encobrem o orixá Obaluaiye, simbolizando o
mistério de seus poderes capazes de controlar o fluxo de doenças, vida e morte.
Outro
paramento é o brajá, feito de sequência de búzios, representação de ancestralidade
contínua. Na forma de “escamas de peixe” sucessão de ancestrais é usado a
tiracolo cruzado abrangendo dimensões simbólicas do existir, centro presente, frente porvir,
costas passado, lado direito princípio masculino, lado esquerdo princípio
feminino.
Ibiri, emblema do orixá Nanan Buroko
O ibiri, meu
descendente retornou trazendo de volta, é o emblema de Nanan feito de nervuras
da folha de igi ope, dendezeiro, enfeixados de forma ventral representa os
mortos contidos no ventre ressarcido, que proporcionará novos nascimentos.
Mistério do orixá Iku, Morte e
renascimento. “Nanan Iku re” Nanan é Morte diz a cantiga. Outra cantiga diz “Ibiri o to/Salare Nanan Olu Odo/ Olowo se in
se in; Ibiri é precioso/ Orixa da justiça dona das fontes/ Dona dos búzios
(indicado pelo som se in se in).
Detentora
desse poder e mistério Nanan é orixá do interior da terra que proporciona a
agricultura. Frutos que recolhidos na terra dando sementes que brotarão.
Xaxará emblema do orixá Obaluaiye
Foto e acervo de M. A. Luz
O xaxará,
emblema do orixá Obaluaiye, rei dos espíritos do mundo, é o instrumento que
representa o poder de varrer, de cessar as doenças. Composto de nervuras ou
taliscas das folhas de igi ope desfiadas, mariwo, são enfeixados de forma
cilíndrica e aberto na ponta. Contas, com as cores do orixá, couro que une o
feixe de taliscas e búzios adornam o emblema. Esses elementos estéticos
representam a materialidade do orixá e os ancestrais que realizam a ação dos
poderes do orixá. Obaluaiye é considerado filho de Nanan.
O kumon por
outro lado é o emblema com que mata. Kopanijé, seu ritmo característico ilustra,
“ele mata ele come”. Ele realiza a justiça de Nanan de reparação de matéria que
proporcionará novos nascimentos. “Vai-se para dar vez a outros” diz o ditado.
Ejo Meji
emblema de duas serpentes é o cetro de Oxumare outro filho de Nanan. Ejo Meji
representa o fluxo dos destinos também representado pelo arco íris, saindo da
terra e retornando com sua variedade de cores, diversidade do existir.
A noção de
restituição representado pelo orixá Iku, Morte, e os orixá ninu ilé, está
representado no itan, na história que se refere a constituição dos ara aiye, os
habitantes desse mundo por Oxalá.
Conta-se que
Oxalá pediu aos orixá para que o ajudassem em achar a melhor matéria para
realizar sua missão. Foi então que encontraram a lama, o barro. Quando
retiraram os pedaços, a lama verteu água, pôs-se a chorar. Um orixá porém, Iku,
não teve dó e levou o pedaço a Oxalá, que ficou muito deslumbrado e agradecido
por ser aquela matéria a conveniente. Os demais orixá entretanto, narraram o
episódio do choro da lama. Oxalá então delegou a Iku ir fazendo as restituições
ao longo da existência do aiye. Iku é um orixá que está no aiye cumprindo essa
missão.
É dessa
visão sagrada de mundo que se desdobra a obra de esculturas de Mestre Didi
Assogbá e Alapini, um sacerdote artista.
Xaxará, Ibiri ati Oxumare
Foto e acervo de M. A. Luz
Uma das
recriações estéticas fundamental é “Xaxará, Ibiri ati Oxumare ” que
concentra e combina os emblemas dos orixá do panteão da terra.
Sua
composição harmoniosa dos três emblemas combina com formas geométricas que
utilizam o vazado, que também representa o vazio, o mundo dos invisíveis orun,
o além complementando o aiye visível,
esse mundo.
No mundo
nagô a noção de odara, o bom e o belo, o técnico e o estético são dimensões
indissociáveis do fazer.
Opa Ossãiyn ati Oxumare
Foto disponível na internet
Outra
importante recriação estética é a presença do Opa Ossãyin, cetro do orixá
Ossãiyn, patrono da vegetação que garante a existência, “kosi ewe kosi orixá”
sem folha não há orixá. Os rituais religiosos exigem a participação da
cerimônia de “cantar folhas”, os emblemas dos orixá portanto também são
consagrados. Por outro lado as recriações estéticas apenas derivam do sagrado.
Monumento que reproduz a peça O Cetro de Obaluaiye no Museu de Arte Moderna da Bahia.
Foto disponível na internet
O cetro de
Obaluaiye recria elementos do ojubo como o cuscuzeiro e o opa Ossãiyn.
O Sentinela, ao centro ladeado por outras recriações de Mestre Didi no Museu Afro Brasil São Paulo.
Foto: disponível na internet
Elemento
importante são as lanças, esin, que defendem a continuidade da tradição religiosa que
proporciona e garante a circulação de axé. Obaluaiye é sentinela guardião dos
valores da tradição.
O Opa Esin
ati Eiye o cetro de lança com dois pássaros, homenageando a ancestralidade
masculina e feminina, guardiãs da continuidade da tradição religiosa que
garante a circulação de axé se desdobra em monumento.
Monumento que reproduz a peça Opa Esin ati Eiye Meji no Pelourinho Sa. Ba.
Foto: M. A. Luz
Primeiramente
numa recriação do artista Oscar Ramos, então coordenador do carnaval, decorou
com exuberância o Pelourinho, simbolizando a trajetória histórica do tronco dos
castigos a imponência do Opa Exin.
Monumento Opo Baba Nla, que reproduz definitivamente o Opa Exin ati Eiye Meji.
Foto: M. A. Luz
Depois a Prefeitura criou o monumento Opo Baba
Nla na praia da Paciência no Rio Vermelho em Salvador. Homenagem a ancestralidade africano brasileira que introduziu a civilização africana no Brasil.
Igi Iwin
Foto disponível na Internet
Igi iwin o
espírito das árvores representa a relação dos seres humanos com as árvores.
Contam que a cada ser humano que fazia, Oxalá criava uma árvore. Há uma relação
estreita do culto aos Egungun, ancestrais masculinos com as árvores
especialmente Opa Akoko e Igi Ope dentre outras. As varas de Atori são
elementos fundamentais no sacerdócio do culto aos Baba Egun, manejados pelos
Ojé e Amuixan. Os sacerdotes são chamados de Mariwo nome das frondes
consagradas do igi Ope, dendezeiro.
Importante paramento do orixá Obaluaiye é o lagdiba, eleke colar feito de casca de árvore.
O Igi Iwin
brota do chão para o alto em feixe de taliscas de igi ope representações do
coletivo dos ancestrais até um arco circular que fecha a formatação cilíndrica.
Na metade do lado direito e do lado esquerdo dois ramos de onde pendem nas
pontas franjas de iko, palha da costa símbolo de mistério e poder ancestral.
A
constelação dos orixá expressos na mitologia caracteriza uma visão de mundo que
estabelece suas relações e complementação. A sinergia entre princípios e
aspectos das forças que regem a natureza, o existir, está presente nas
recriações estéticas do sacerdote artista.
Inumeráveis
recriações odara, de harmonia e beleza, de simbologia transcendente constituem
as relações dos orixá Oxalá, Xango, Oxóssi e outros com o panteão da terra.
Exu Amuniwa
Foto: M. A. Luz
Por fim não
podemos esquecer do orixá patrono do movimento que permite a circulação de axé,
trata-se de Exú que permite que esse mundo não se acabe. Mestre Didi compôs sua
representação em barro, proto matéria dos seres.
domingo, 12 de novembro de 2017
CELEBRAÇÃO DO CENTENÁRIO DE MESTRE DIDI NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA BAHIA E COMUNICAÇÃO APRESENTADA POR MARCO AURÉLIO LUZ ,ELEBOGI NO CONTEXTO DA HOMENAGEM NA ALBA
Composição da mesa que realizou as homenagens ao Centenário de Mestre Didi
A
sessão especial realizada nesta segunda-feira, 6, no plenário da Assembleia
Legislativa, sob a responsabilidade da Deputada Fabíola Mansur, ela abriu os trabalhos da série de
homenagens ao centenário de Deoscoredes Maximiliano dos Santos:
" Mais conhecido como Mestre Didi, ele nasceu em 2 de dezembro de 1917 e foi sacerdote, escultor e escritor, com grandes contribuições nas três faces de sua vida religiosa e intelectual.
" Mais conhecido como Mestre Didi, ele nasceu em 2 de dezembro de 1917 e foi sacerdote, escultor e escritor, com grandes contribuições nas três faces de sua vida religiosa e intelectual.
Com exposições no Brasil e no exterior, ganhou diversos prêmios e
foi um dos mais importantes sacerdotes do culto aos egunguns no mundo. Mestre
Didi morreu em 6 de outubro de 2013 e deixou como viúva a antropóloga Juana
Elbein dos Santos que, presente à sessão, foi agraciada com uma placa, assim
como a filha dele, a professora da Unicamp e cantora lírica Inaicyra Falcão dos
Santos, que brindou a plateia com uma belíssima interpretação à capela de uma
música composta para o pai.
Nidia dos Santos Badabarawo e Inaicyra Falcão dos Santos To Kun Bo filhas de Mestre Didi recebem a placa de homenagem das mãos da deputada Fabiola Mansur
Juana Elbein dos Santos Elefunde Egide recebe placa de homenagem entregue pela Deputada Fabíola Mansur
“Novembro
é mês da Cultura, e também o mês da Consciência Negra e por isso resolvemos
antecipar esta homenagem para reverenciar a arte e ética do grande sacerdote e
do extraordinário artista plástico que dedicou a vida e o trabalho à
valorização da ancestralidade africana para a cultura do Brasil”, destacou
Fabíola.
Genaldo Novaes Alagba nile Asipa e Balbino Daniel de Paula Alagba nile Agboula prestam homenagens a Mestre Didi
A
deputada socialista aproveitou a ocasião para apelar à sensibilidade dos
colegas parlamentares a darem celeridade à aprovação de projeto de sua autoria
que cria a Comenda da Liberdade Revolta dos Búzios, dedicada aos defensores da
igualdade e da fraternidade humana, e cujo primeiro agraciado será, segundo ela, o próprio Mestre Didi, in
memoriam.
Fonte: informativo digital de divulgação das
atividades do mandato parlamentar da deputada estadual Fabíola Mansur (PSB).
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MESTRE
DIDI ASIPA ALAPINI
Por
Marco Aurélio Luz
Marco Aurélio Luz Oju Oba e Elebogi realiza comunicação enaltecendo os valores de Mestre Didi
Muitos
líderes se destacaram no panorama mundial por lutarem pela liberdade, pelo fim
do apartheid, pelo fim do racismo, pelos direitos civis, Mestre Didi se destaca
pela reposição da religião africano brasileira fonte de civilização que irriga
a alma brasileira.
O
destino fez de Mestre Didi um Omo Bibi, um bem-nascido, pertencente a linhagem
Asipa originária da nobreza de Oyo capital do antigo império nagô/yoruba e uma
das sete famílias fundadoras da cidade de Ketú.
Sua
ascendência no Brasil inclui as fundadoras da primeira casa de axé de culto aos
orixá, o Ilê Ase Aira Intile, (Casa Branca); Iyaluso Odana Dana, Iya Naso Oyo,
Iyalorixá Oba Tosi Sra. Marcelina da Silva todas da linhagem Asipa.
A
Iyalorixá Oba Tosi foi quem fez a iniciação dentre muitas outras, de Maria
Julia da Conceição Nazaré, fundadora e primeira Iyalorixá do Ile Iya Omi Ase
Iyamase (Gantuá), e de Eugenia Anna dos Santos Iyalorixá Oba Biyi e fundadora
do Ile Ase Opo Afonja .
A
mãe de Mestre Didi, Maria Bibiana do Espírito Santo Oxun Muiwa, foi iyalorixá
do Ile Ase Opo Afonja. Descendente da linhagem Asipa recebeu o título de Iya
Naso Oyo Akala Mabo Olodumare Ase Da Ade Ta, outorgado pelo Alafin Oyo, rei de
Oyo.
Ela
deu grande projeção ao terreiro adotando uma estratégia de procurar inserir a
tradição nagô na sociedade “oficial”. Da porteira para dentro, da porteira para
fora, deu prosseguimento as ações de Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi.
Por
essas e outras que Mestre Didi declarou um dia: “A história da tradição de
culto aos orixá se confunde com a história de minha família”.
Ele
mesmo ampliou a história da reposição da tradição religiosa nagô em nossa
terra.
O
legado de sua ancestralidade trouxe desde cedo os compromissos de um sacerdote
de obter os conhecimentos necessários a manutenção, a circulação e a expansão
de axé.
O
destino o levou a ilha de Itaparica e foi iniciado no culto aos egungun aos 8
anos de idade por Marcos Alapini, que era zelador de Baba Olukotun Olori Egun,
um dos mais antigos ancestrais que viera da África trazido por ele e seu pai
Marcos O Velho, durante o tempo que lá
permaneceu aprofundando seus conhecimentos.
Mestre
Didi participou dessa “corrente” de Baba Egun com o posto de Ojé Korikowe
Olukotun o escriba de Baba Olukotun.
Com
15 anos de idade recebeu de Mãe Aninha o posto de Asogba supremo sacerdote do
templo de Obaluaiye.
É
nessa função que se tornará escultor e responsável pelos paramentos do ritual
dos orixá ninu ile, Nanan, Obaluaiye e Oxumare.
Desde
aí nasce o sacerdote artista quando brota o talento na realização de suas
famosas recriações que o projetam internacionalmente.
Como
escritor revelará a escritura da tradição dos contos, literatura original que
estabelecerá um gênero literário.
Realizou
o encontro histórico com sua família Asipa em Ketu no encontro com o Alaaketu
em 1967.
Responsável
pelo legado da corrente de Olukotun e Alapala recebeu o título de Alapini
Ipekun Oiye e fundou em 1980 o Ile Asipa.
Participou
de inúmeras instituições de promoção da cultura, valores e linguagem
africano-brasileira concorrendo para a legitimação desse contínuo
civilizatório.
Promoveu
as Conferência Mundial da Tradição dos Orixá, e em 1983 no Centro de Convenções
deparou-se com o Elejibo, rei de Ejibo. Depois de ele ser saudado
respeitosamente por quem ia passando com dodobale indagou de Mestre Didi se não
faria o mesmo. O Mestre respondeu dizendo que não se tratava de querer mas que
não podia por ter o título de Alapini sacerdote acima de rei.
sábado, 4 de novembro de 2017
“NA FÉ E NA PAZ!"À Saudosa Lembrança do Otun Alagbá, José Félix dos Santos
Imagem
disponível na Internet
” Kó si ewé, kó
sí Òrìsà”
Sem folhas não
há orixá
Por Narcimária C. P. Luz
Otun Omi L´Ayó
A
Comunidade Ilê Asipá, vive um momento de elaboração de luto profundo...
Dia
15 de setembro, faleceu José Félix dos Santos o Otun Alagbá a segunda liderança na hierarquia da
comunidade terreiro.
José
Félix dos Santos nasceu no dia 19 de julho de 1965 em Salvador.Era filho de
Nídia Maria Santos Iyá Babadarawô, e integrava a linhagem dos Asipá originária
de Oyó, uma das sete famílias fundadoras da cidade de Ketu.
José
Félix Otun Alagbá e Mestre Didi Alapini
Acervo
Marco Aurélio Luz Elebogi
Otun Alagbá era neto primogênito de Deoscoredes Maximiliano dos Santos, o Mestre Didi, Alapini Supremo Sacerdote do Culto Egungun, e bisneto de Maria Bibiana do Espírito Santos, Mãe Senhora, uma expoente Iyalorixá do Ilê Opô Afonjá.
Maria
Bibiana do Espírito Santos, Mãe Senhora
Imagem
disponível na Internet
Teve três filhas suas alegrias e orgulho.
Otun
Alagbá com as filhas Adiles Ade L'Okê ,Madalena Logum Muiwa e Micaela Ogum
Dafu .
Acervo
da Otun Iyá Egbé
Sim!
José Félix era descendente dessas expressivas lideranças da tradição africana
nas Américas, e na sua trajetória como Otun Alagbá, foi responsável por manter
os valores da tradição nagô e promover espaços institucionais valiosos para a
expansão do legado africano-brasileiro. No Ilê Axé Opô Afonjá, José Félix era
Ogã de Yansã, com o título de Ogã Toyadé, que significa “chegou o representante
de Yansã”.
Momentos
de descontração no Ilê Asipá com a apresentação da Troça Carnavalesca Pae Burokô.Na foto, Otun Alagbá é convidado
pelos personagens que conduzem a dramatização do Pae Burokô a entrar na brincadeira.Os atores são
Jeferson ojé Ade Niji e Roni ojé Otun Itunlá.
Foto Marco Aurélio Luz Elebogi
Baba
Alapalá e Baba Alojapiu
O
Ilê Asipá cultua os ancestrais
masculinos Egunguns. Fundada em 1980 por Deoscoredes Maximiliano dos Santos o
Mestre Didi, Alapini, o Ilê Asipá se caracteriza pela preservação e expansão
dos valores africano-brasileiros “com absoluto respeito à liturgia deixada como
legado pelos antepassados da família Asipá, de Marcos Teodoro Pimentel, Arsênio Ferreira dos Santos, Miguel Santana e tantos outros importantes representantes das mais dignas e responsáveis correntes da cultura afro-brasileira concorrendo para a divulgação consequente e responsável dos valores éticos que fizeram da ancestralidade seu patrimônio”(LUZ, Marco Aurélio. Agadá, dinâmica da Civilização Africano-Brasileira.Salvador:Edufba,3ª Edição,2017).
Os
Ojé Maxodi,Jobi, Oloxedê, Alapini Ipekun Ojé, Labi, Otun Alagba,Alagba, e Osi
Alagba durante a cerimônia de entrega do Título de Doutor Honoris Causa pela
Ufba ao Mestre Didi.
Foto
Marco Aurélio Luz Elebogi
Desde muito cedo José Félix aprendeu que, para legitimar e dar continuidade aos valores civilizatórios dos nossos ancestrais, seria necessário exercer a sabedoria de estabelecer uma relação dinâmica entre os valores sócio comunitários da tradição, e os códigos da sociedade eurocêntrica que tende a tragar o direito à alteridade civilizatória africano-brasileira. Vale lembrar que essa estratégia de afirmação, foi muito utilizada pelo seu avô Mestre Didi e sua bisavó Mãe Senhora.
Iyalorixá
Oxun Muiwá Asipá Iyá Nassô e o artista plástico Carybé o Oba Onansokun
Imagem
disponível na Internet
Comprometido
com esse aprendizado, ao qual Mãe Senhora utilizava a legenda “da porteira pra
dentro, da porteira pra fora”, José Félix o nosso querido e saudoso Otun
Alagbá, concebeu iniciativas especiais que celebravam a memória e legado dos
nossos antepassados.
Participou
do grupo de jovens da Mini Comunidade Oba Biyi, experiência pedagógica pioneira
em Educação Pluricultural no Brasil, iniciativa do Mestre Didi(1976-1986).
Em
1983 José Félix foi responsável por retomar a organização da Troça Carnavalesca
Pae Burokô, fundada por Mestre Didi em 1935.Nessa ocasião, o afoxé desfilou no
entorno do Ilê Axé Opô Afonjá e no circuito da avenida do carnaval de Salvador.
Em
2000 teve a iniciativa primorosa de criar atividades culturais em comemoração
do Centenário de Mãe Senhora. Dessa
iniciativa organizou com Cida Nóbrega, o livro “Mãe Senhora, Saudade e Memória”
pela editora Corrupio.
No
livro dedicado a Mãe Senhora, Otun Alagbá comentou:
José
Félix e Mestre Didi na Troça Carnavalesca Pae Buroko em 1983
Foto:
Antonio Jorge Mendes dos Santos Ojé Toinbo
Acervo Marco Aurélio Luz Elebogi
Desfile
no entorno do Ilê Ase Opo Afonjá
Foto
Antônio Jorge Mendes dos Santos Ojé Toinbo
Acervo
Marco Aurélio Luz Elebogi
Livro
dedicado a Mãe Senhora
Imagem
disponível na Internet
Promoveu a gravação do CD Okan Awa, reunindo
cantos para homenagear Mãe Senhora com belíssimas interpretações de Inaycira
Falcão dos Santos, e também um selo comemorativo dos 100 Anos de Mãe Senhora.
Importante
realização do CD de Inaicyra Falcão dos
Santos To Kun Bó
Imagem
disponível na Internet
“Sempre
que' penso nela, a imagem que me vem é de uma mulher negra, cuja fé e coragem,
determinação e dignidade sobrepujaram o preconceito, a discriminação e a
pobreza, construindo uma personalidade marcante na história da comunidade
religiosa afro-brasileira(...) Apesar das resistências religiosas, políticas e
sociais, nas décadas em que viveu, conseguiu manter vivo e fazer crescer o Ilê
Axé Opô Afonjá, de São Gonçalo do Retiro
com a sua força espiritual, inteligência, sensibilidade política e profundo
conhecimento da tradição, tornando-se um exemplo vivo de fé aos Orixás e aos
Ancestrais ,exemplo este seguido por muitos dos seus iniciados, até os dias
atuais(...) Hoje novos tempos, onde até
o ’modismo’ leva as pessoas aos terreiros, tudo fica mais fácil. Nos tempos dela, tempos difíceis,
a abertura era vital. Aproximou-se da
elite intelectual e política da época para fortalecer a sua aceitação e o seu
reconhecimento como mulher, negra e religiosa, mas receava a influência dos
‘novos integrantes’ na comunidade e nunca abriu mão do seu controle, da
disciplina, deixando sempre muito claro que, ‘da porteira pra dentr’, era ela
que reinava e, abaixo de Xangô, era a autoridade maior.” (SANTOS
, José Félix e NÓBREGA, Cida. Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora,
Saudade e Memória.Salvador:Corrupio,2000, p.11)
Sempre
em que era convidado a expor o seu conhecimento, apresentava-o com eloquência
demonstrando ser detentor do repertório dos valores da tradição. Participou de
eventos nacionais e internacionais, palestrante em escolas e Universidades,
escreveu artigos e ensaios preocupados em comunicar e enaltecer aspectos
sócio-históricos da nossa tradição.
Participação
de José Félix dos Santos Otun Alagbá no I Sinbaianidade no âmbito da Universidade do Estado da Bahia no Campus de
Seabra. Mesa sobre Ancestralidade Africano-Brasileira
e Baianidade compartilhada com Narcimária C. P. Luz Omi L`Ayó e Marco Aurélio
Luz Elebogi .
Acervo Marco Aurélio Luz Elebogi
Em
2016, Otun Alagbá idealizou o ano comemorativo dos 100 anos do Mestre Didi. As
comemorações do centenário envolvem várias atividades, dentre elas uma
Conferência "Mestre Didi Alapini, Origens e Originalidades" ,
proferida por Marco Aurélio Luz, Elebogi, abordando a profundidade e legado da
obra de Mestre Didi Asipá como artista, escritor e fundador de importantes
instituições.
Outros
desdobramentos do centenário Mestre Didi: homenagem no carnaval da Prefeitura
de Salvador ; livro organizado por Kleiton Assis, Otun Elebogi , abordando
aspectos sobre as contribuições do Mestre Didi; e homenagem na Assembleia Legislativa
da Bahia.
Foto Narcimária Luz Otun Omi L'Ayó
Em
agosto aconteceu o Festival Anual de Badagry na Nigéria, que homenageou esse
ano seu avô Mestre Didi. O Festival de Badagry
costuma homenagear personalidades que foram lideranças na diáspora
africana pelo mundo, a exemplo de Marcus Garvey, em 2015 Toussaint L´Ouverture,
em 2016 Olaudah Equiano e esse ano, Deoscoredes Maximiliano dos Santos, Mestre
Didi.
O
Otun Alagbá participou do Festival Anual de Badagry, integrando a delegação de
lideranças religiosas do terreiro Ilê Asipá. Além disso, sua presença na
Nigéria esteve envolta ao reencontro com a família Asipá percorrendo os mesmos
lugares históricos e simbólicos que o Mestre Didi fez em 1967 há cinquenta
anos.
Otun Alagbá na terra yorubá acompanhado de sua mãe Iyá Badabarawô e do Alagbá Genaldo Novaes.
Acervo Otun Iyá Egbé
Acompanhando o trajeto do encontro histórico de Mestre Didi Asipá há 50 anos atrás, visita e reencontro à idile a linhagem Asipa em Ketu. Otun Alagbá, Alagbá e Iyá Badabarawô recebidos com muito esmero, honra e emoção pelos primos Asipá.
Outro
momento significativo na vida de Otun Alagbá esse ano de 2017, foi os seus
trinta anos de iniciado como Ojé no Ilê Agboulá na Ilha de Itaparica.
Otun Alagbá na terra yorubá acompanhado de sua mãe Iyá Badabarawô e do Alagbá Genaldo Novaes.
Acervo Otun Iyá Egbé
Acompanhando o trajeto do encontro histórico de Mestre Didi Asipá há 50 anos atrás, visita e reencontro à idile a linhagem Asipa em Ketu. Otun Alagbá, Alagbá e Iyá Badabarawô recebidos com muito esmero, honra e emoção pelos primos Asipá.
Acervo Otun Iyá Egbé
O
Otun Alagbá, tinha no seu destino a natureza de filho de Ossãyn, e por isso
mesmo, recebeu o nome de Ewé Tolú que significa “a folha é senhora do espírito”
permitindo-lhe a aproximação do conhecimento que envolve o mistério,segredos da
floresta e a riquíssima constelação de folhas que a constitui.
Como se diz na tradição nagô:” Kó si ewé, kó sí Òrìsà”, que significa sem folhas não há orixá. As folhas são fundamentais para assegurar a pulsão de vida, a dinâmica cósmica que atravessa o Aiyê e Orum. As folhas carregam o “sangue verde” responsável pela circulação de axé.
Opa
Ossãiyin
Acervo
do Elebogi
A floresta é o espaço sagrado de Ossãiyn!
Imagem
disponível na Internet
Ossãiyn,
detém o repertório dos mistérios das plantas, as quais ele recorre
transformando-as em remédios medicinais que asseguram a saúde e bem estar das
nossas comunalidades.
“Na cultura nagô, há uma relação intrínseca
entre a medicina e a religião(...) As folhas concentram o poder resultante
desta interação de princípios masculinos, caracterizados pela chuva, com os
princípios femininos, caracterizados pelo interior da terra, que gera
nascimento e proporciona alimentos. (...) As folhas têm importante função
ritual, participam de praticamente todos os preceitos que mobilizam e promovem
a circulação de axé.(LUZ, Marco Aurélio.Agadá, dinâmica da Civilização
Africano-Brasileira.Salvador:Edufba,3ª Edição,2017, p.51)
Imagem disponível na Internet
São
esses valores que compuseram a trajetória de vida desse filho de Ossãiyn
.Sempre presente e muito comprometido com as questões e obrigações necessárias
ao ritmo ininterrupto da vida comunitária.
Certa
vez, conversando com Muniz Sodré Oba Aresá nilê
Opô Afonjá, José Félix expressou a responsabilidade que assumiu como
Otun Alagbá :
"Quando recebi a incumbência de me tornar
Otun Alagbá n'ilê Axipá, assumi o compromisso de zelar por este terreiro(...).
Diariamente, renovamos, através do Ilê Axipá, a nossa identidade como
indivíduos e como grupo, levando adiante o nome e a presença de uma das
famílias fundadoras de Ketu(...). A palavra que cantamos em nosso culto é a
mesma palavra que cantam os Axipá de Ketu, lá na África. Ecoa por lá o mesmo
toque dos atabaques que batem por aqui. Continuamos, continuaremos."(SODRÉ,
Muniz. Pensar Nagô.Petrópolis:2017, p.90)
Acervo Marco Aurélio Luz Elebogi
Otun Alagbá manteve após a ida do Mestre Didi para o Orum, a harmonia e serenidade que estabilizavam a conduta do terreiro.
Numa
exposição como palestrante no Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade
Federal da Bahia em 2013, José Félix expressou o valor inestimável da
civilização africana através do culto Egungun:
Otun
Alagbá, Ojé Sarê Toyá, Ojé Omole, Ojé Labi, Osi Alagbá, Alagbá no Ilê Asipá.
Acervo
Marco Aurélio Luz Elebogi
“Como
o culto de Babá Egun é menos conhecido do público em geral do que o culto de
Orixá, cabe responder à pergunta: o que são os Eguns? Bom, em resumo os Eguns
são ilustres ancestrais: fundadores ou líderes comunitários da tradição yorubá,
com vínculos familiares ou afinidades religiosas com as famílias fundadoras ou
pertencentes àquela comunidade-terreiro específica.(...) Os Eguns ou Egungun
são, assim, ancestrais guardiões de costumes, tradições e valores herdados,
respeitados e temidos, que zelam pela comunidade, por sua ética e seu bem estar
neste mundo.(...) É neste contexto que se renovam as alianças comunitárias, os
vínculos de irmandade, os valores rígidos e estruturantes da hierarquia e
respeito, a linguagem e os valores da tradição.”
Agora
José Félix dos Santos nosso querido e saudoso Otun Alagbá, integra a corrente
mítica dos nossos ancestrais.
Imagem disponível na Internet
Na
nossa tradição nagô, se torna ancestral, aquele/a que dedicou a sua vida para
fortalecer a identidade profunda da comunidade, promovendo os vínculos de
sociabilidade necessários à sua legitimação. Essa conduta permeou toda a vida
do Otun Alagbá.
Ao
ser abordado no dia a dia do terreiro pelas pessoas que lhe procuravam para
receber orientações espirituais, ou não, ele costumava dizer:
“NA FÉ E NA PAZ!”
Era o suficiente para acalmar e dar uma certa
leveza as angústias e aflições.
Apenas
duas palavras, que emanavam seu temperamento equilibrado, tranquilo, generoso,
atencioso e solidário...
Sempre
com bons pensamentos!
Um
diplomata!
Daí
essa singela homenagem à sua memória.
Imagem disponível na Internet
Aqui
é pertinente destacar um pensamento da Iyalorixá Mãe Stella de Oxóssi do Ilê
Axé Opô Afonjá :
"O que o destino disser que é, não há
quem tenha força pra dizer que não é."
Seguiremos
lembrando, reverenciando a memória de José Félix dos Santos nosso Otun
Alagbá...
Acervo Marco Aurélio Luz
Seguiremos
sim, vivenciando o ciclo de elaboração de luto, por essa ausência tão valiosa e
harmoniosa do dia a dia da comunidade Ilê Asipá.
Saudades
eternas!
Imagem disponível na Internet
Olorum
Kosi Purê!
Agradecemos
a Aparecida dos Santos a Otun Iyá Egbé, irmã do Otun Alagbá, pelas fotos
gentilmente cedidas.
A seguir vídeo com Maria Bethânia cantando a oração às folhas.
Acervo Marco Aurélio Luz Elebogi
Agradecemos a Cátia dos Santos a Otun Babadarawô,irmã do Otun Alagbá, pela colaboração informando sobre alguns títulos para compor as epígrafes das fotos.A seguir vídeo com Maria Bethânia cantando a oração às folhas.