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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 17 de setembro de 2011

ENCONTRO DE PESQUISADORES DO NORTE E NORDESTE


Por Mille Fernandes



No período de 23 a 26 de agosto de 2011 aconteceu na cidade de Manaus no Amazonas o EPENN-Encontro de pesquisadores do Norte e Nordeste, reunindo pesquisadores do Norte e Nordeste do Brasil, para discutirem e apresentarem temáticas relevantes do cenário educacional brasileiro. O EPENN é um encontro bianual, vinculado à ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação.
A temática central deste ano foi “Educação, Cultura e Diversidade”, uma temática desafiadora para cada um de nós pesquisadores em Educação, pois nos convidou a pensar, discutir e promover um intercâmbio sociocultural de idéias através das pesquisas e ações que saem do lugar comum enfatizado pelo currículo escolar que tende a tratar produções culturais desdobramentos de diferentes dinâmicas sociais, folclorizando-as, reduzindo os valores simbólicos que estruturam a existência de comunalidades.

Mestrandos da área de Educação da UNEB.
Da esquerda para a direita em pé Sérgio Bahialista,Josinélia Moreira, Jurandir Araújo, Mille Fernandes, João Max e ao centro, abaixado, Rogério Vidal.
O EPENN foi organizado com 26 Gt’s (grupos de trabalho), que se propuseram a refletir e debater sobre questões, tais como: de que forma promover cidadanias que afirmem identidades, em um mundo tensionado entre pluralidade e universalidade, entre o local e o global, entre o oral e o escrito? De que maneira converter a pluralidade social existente no microespaço da sala de aula, em estímulo para (re)estruturas curriculares, organizacionais e pedagógicas que abarquem projetos oriundos da diversidade sociocultural? Como suplantar a invisibilidade institucionalizada das diferenças culturais que corrobora com avaliações sobre desempenho escolar de crianças, jovens e adultos, sem levar em conta as suas peculiaridades e pertencimentos socioculturais?
Os poucos Gt’s que pude participar, apresentaram trabalhos riquíssimos, os quais contribuíram não só para disseminar as bases conceituais para um (re)novado conhecimento da sociodiversidade na contemporaneidade, mas também para prover subsídios no fortalecimento de pesquisas no espaço acadêmico, tornando mais desafiador e complexo o conhecimento dos pesquisadores sobre a realidade e sobre as relações que se estabelecem no convívio com as diferenças culturais.
Na ginga em tentar fortalecer as pesquisas que contemplem a diversidade cultural características das comunalidades no espaço acadêmico, eu e Sérgio Bahialista, mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade da UNEB e pesquisadores do PRODESE-Programa Descolonização e Educação, apresentamos nossas pesquisas nos Gt’s 21- Educação e Relações Ético-raciais e 24 - Educação e Arte, respectivamente.


Professora Mille apresentando sua pesquisa  no EPENN

O aspecto que abordei na minha comunicação no GT 21, é desdobramento de um trabalho monográfico, que buscou repensar o papel da Escola Ruy Barbosa em Nilo Peçanha na Bahia, como espaço possível de afirmação das identidades de crianças e jovens, que vivem a sociabilidade do quilombo de Boitaraca, situado em Nilo Peçanha na Bahia. Desse estudo nasceram os subsídios que dão hoje a estrutura, forma e conteúdo para minha pesquisa no mestrado. A comunicação que fiz, recebeu o título de “Labalábá: o papel decisivo da Oralidade, da Memória e dos Valores Ancestrais para a Educação de Crianças e Jovens no Quilombo de Boitaraca”.
Labalábá na língua nagô significa borboleta, é um ser especial. Na rica simbologia afrobrasileira, está relacionada a capacidade de transformação, metamorfose, e o encanto de tornar os lugares mais belos. Assim, enfatizei que este é o papel da professora da comunidade, Arlete Assunção do Rosário, “borboleta”, que metamorfoseia sua sala de aula para inserir a cultura, a memória e a oralidade no ambiente escolar.

Público acompanhando a exposição da professora Mille Fernandes

A comunicação trouxe para discussão a importância da memória, oralidade e a ancestralidade africano-brasileira como ponto central das reflexões acadêmicas em relação a educação em comunidades quilombolas. Através da memória, oralidade e a ancestralidade africano-brasileira muitos/as professores/as quilombolas têm extraído valores e linguagens capazes de constituir uma perspectiva pedagógica que atende a diversidade étnico-cultural, das crianças e jovens quilombolas. Essas perspectivas pedagógicas tendem a abrir possibilidades,para que crianças e jovens quilombolas enfrentem as adversidades impostas no contexto escolar, afirmando seus valores socioexistenciais.
Já Sérgio Bahialista, trouxe para o bojo de sua comunicação aspectos da sua pesquisa de mestrado, intitulado “Cordel – o Verso Espetacular Cavalgando do Sertão para a Educação: (re) elaborações de valores comunais por meio da Literatura de Cordel”.


Professor Sérgio Bahialista apresentando sua pesquisa no EPENN

A comunicação de Sérgio desencadeou a construção de um diálogo a partir dos entrelugares e dos intertextos que fazem parte da nossa existência, e que são negados pelas normatizações etnocêntricas enfatizadas no cotidiano das escolas. A “dinâmica do Pilão”, referência metodológica que caracteriza as iniciativas do PRODESE, foi um dos canais de linguagens utilizados por Sérgio para introduzir a Literatura de Cordel como um corpo complexo de linguagens versadas, educativas que constroem e (re)elaboram os valores comunais. Para Sérgio a palavra é um instrumento de encantamento.


Professor Sérgio Bahialista surpreendendo através da linguagem criativa do cordel

 O pilão é utilizado como uma metáfora que (re)significa os valores afro-brasileiros, pois este elemento nas comunidades africanas tem a função de transformar os grãos que serão consumidos e compartilhados como alimento para todos na comunidade, assim pode ser o Cordel, um entrelaçamento dentro da linguagem popular educativa na comunidade escolar.
Tanto no meu trabalho quanto no trabalho de Sérgio, procuramos explorar a concepção de arkhé, a dinâmica do vivido-concebido tão difundidos pelos autores Marco Aurélio e Narcimária Luz. Concepções que tocaram intensamente na essência de pesquisadores preocupados em entender os contínuos civilizatórios e as diversas formas de se fazer Educação.


Da esquerda para a direitaSérgio Bahialista, Jurandir Araújo, Mille Fernandes e Rogério Vidal marcando presença no EPENN 2011.


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Graduada em Pedagogia com especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Faculdade de Ciências Educacionais – FACE,mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia,professora de História da África no Ensino Fundamental II do município de Nazaré/BA; Professora de Psicologia da Aprendizagem na Faculdade de Ciências Educacionais – FACE; Professora de História e Cultura Afro-brasileira da Plataforma Freire UNEB Campus V; presta serviço a Secretaria de Educação do Estado da Bahia (Coordenação de Educação e Diversidade) juntamente a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – SECAD, desenvolvendo pesquisas e elaborando Diretrizes Curriculares para Educação Quilombola; pesquisadora do PRODESE – Programa Descolonização e Educação CNPQ/UNEB. Atua na área de Educação, desenvolvendo projetos voltados a contemplar a Lei 10.639/03 e pesquisas em educação nas comunidades quilombolas.

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