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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 5 de novembro de 2011

ENTREVISTA DE MARCO AURÉLIO LUZ SOBRE CULTURA NEGRA E IDEOLOGIA DO RECALQUE

 ACRA- O importante livro de sua autoria CULTURA NEGRA E IDEOLOGIA DO RECALQUE vem a ser publicado em sua 3ª edição pela EDUFBA/PALLAS, como foi na primeira edição pela ACHIAMÉ?

MA- A primeira publicação foi em 1983, ano da IIª Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura que foi realizada na Bahia. Durante a minha participação lancei o livro no Centro de Convenções, meio na improvisação mas já teve muito boa aceitação. Depois foi o lançamento no Rio de Janeiro no IPCN, Instituto de Pesquisa da Cultura Negra. Naqueles anos era incipiente a produção de livros que abordassem essa temática mas ao mesmo tempo avolumava-se a organização da luta do movimento negro contra o racismo.



 No lançamento tenho lembrança da presença de muita gente boa, como as exponenciais e inesquecíveis professoras e líderes Lélia Gonzales e Beatriz Nascimento, o pessoal do IPCN, Paulo Roberto, Orlando, Sebastião e muitos outros, o radialista e escritor José Beniste e muito mais.

ACRA-E como foi ?

MA- Por essas fotos tiradas por Arthur Bosisio, você pode ter uma idéia. Primeiro com o auditório decorado por fotos de Arthur Ikissima da Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura que então fiz o relatório do magnífico e histórico acontecimento com todos muito interessados pois houvera uma ampla repercussão. Depois falei sobre o livro e, em seguida as indagações passamos aos autógrafos, comes e bebes enfim a confraternização.


 Público prestigiando o lançamento do livro Cultura Negra e Ideologia do Recalque na sede do Instituto de Pesquisa Culturas Negras-IPCN no Rio de Janeiro em 1983.Entre o público presente destaque para a presença da saudosa  Professora Lélia Gonzalez amiga do autor.

 

Professor Marco Aurélio Luz aproveita o espaço do lançamento do livro para  fazer uma comunicação abordando as questões apresentadas  no livro.
Sede do IPCN no Rio de Janeiro em 1983.


 
Ainda no lançamento do livro professor Marco Aurélio Luz conversando com a amiga e professora saudosa Beatriz Nascimento presente nesse momento histórico do lançamento do clássico Cultura negra e Ideologia do Recalque.

ACRA- Do que trata especificamente o livro?

MA- Resumidamente o valor do livro é que aborda o racismo como uma ideologia que alimenta a Razão de Estado que por sua vez promove a política do embranquecimento, que Abdias do Nascimento classificou no livro O Genocídio do Negro Brasileiro com o subtítulo “Processo de um Racismo Mascarado”.
Essa ideologia, (um conceito familiar aos marxistas althusserianos, com nuances freudianas), por sua vez perpassa também as produções “culturais” e “científicas” dos aparelhos ideológicos de Estado ou Instituições de Estado da Educação da Ciência e da Cultura.
Foi nos umbrais da Universidade que foi elaborada e divulgada a criação das teorias do racismo. No que se refere a Bahia, a produção de Nina Rodrigues no início da República e seus seguidores, têm por estratégia atacar a cultura negra no sue âmago mais profundo, relacionando grosseiramente a crise de histeria com a manifestação consagrada de orixá pelas sacerdotisas da religião para daí concluir que uma mente doente e fraca caracteriza uma inferioridade racial. A partir daí a chuva de preconceitos e estereótipos justificando a discriminação por todo corpo social e todas as ações das políticas de embranquecimento.

ACRA- Sim...

MA- Além disso os pontos de sustentação dessas “antropologias” revelo no livro, é a categoria de evolucionismo social da filosofia do positivismo de August Comte, incorporada pela ideologia oficial dominante do Estado brasileiro republicano, conjugada com o europocentrismo característica do neocolonialismo.
São essas ideologias que vão formar os estereótipos das “superioridades raciais e culturais” que atravessam nosso cotidiano.
Então o livro denuncia essa ideologia do recalque e abre caminho para outras possibilidades de percepção e elaboração valorizando nosso riquíssimo patrimônio cultural africano brasileiro.


ACRA- E quais são essas outras possibilidades presentes no livro?

MA- A partir da atitude de valorização e legitimação da cultura africano-brasileira nós descortinamos o horizonte de um vasto continente de riquíssima civilização. Então ao mesmo tempo que revelo o recalque, eu aponto e promovo a emersão da presença da estética da tradição , seja no cinema, seja nas artes plásticas, na literatura, nas artes sacras da dança, seja nas esculturas com suas ricas e complexas simbologias que compõem o patrimônio do povo afro- brasileiro ou brasileiro enfim. Nessa nova edição, essas abordagens que constituem capítulos são acompanhados de algumas análises de fatos cotidianos que ilustram a dinâmica de luta de afirmação cultural-existencial contra o recalque.

ACRA- Essa edição está com uma nova capa, por sinal muito linda. Fale sobre ela.

MA- Já há muitos anos venho me dedicando a fazer esculturas no âmbito da estética da tradição de arte sacra africano – brasileira. Já publiquei inclusive um catálogo, TUN ONA RI , Retomando o Caminho, pela EDUNEB.


Agora escrevi um capítulo sobre a estética e a simbologia das esculturas especialmente sobre a IYA IBEJI cuja foto está presente na capa dessa terceira edição de CULTURA NEGRA E IDEOLOGIA DO RECALQUE.

ACRA- E quanto ao pré- lançamento no campus da UNEB em Seabra?

MA- Aconteceu  em meio ao Simpósio Internacional sobre Baianidade, que foi uma realização muito bonita e importante, contando com muita gente de projeção no mundo cultural e acadêmico e muitos estudantes de várias cidades da Bahia. O lançamento de livros foi mais uma atividade entre muitas. Foi muito bom para divulgar nossas publicações.


Pré- lançamento no SIMbaianidade na UNEB Seabra/outubro 2011

 Pré- lançamento no SIMbaianidade na UNEB Seabra/outubro 2011

Durante o lançamento a professora da Universidade do Estado da Paraíba Zuleide Duarte parabeniza o Professor Marco Aurélio Luz

5 comentários:

  1. Parabenizo o professor Marco Aurélio Luz pelo clássico livro que nutriu de conhecimento gerações de afrodescendentes que precisavam compreender as mazelas dos discursos ideológicos do recalque.
    Estarei no lançamento já que essa nova edição apresenta outor temas inquietantes.
    Selma Freire

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  2. Oi Marco!
    Parabéns!
    Eu que acompanhei o lançamento pela editora Achiamé...
    Fico feliz com essa nova edição.

    Cristiano

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  3. REFLEXÕES ACERCA DE
    CULTURA NEGRA E IDEOLOGIA DO RECALQUE
    Por Márcio Nery
    Tinha 20 anos quando tive contato com a obra pela primeira vez. Era setembro de 1998 e cursava o 2º semestre do Curso de Pedagogia no Campus I da Universidade do Estado da Bahia, UNEB, quando tive a oportunidade de conhecer mais de perto o trabalho de Narcimaria e de Marco Aurelio.
    Nasci e morava (como ainda moro) na periferia. Meus pais eram pequenos comerciantes assalariados e eu, particularmente, não havia vivido em nenhum momento da vida algum episodio de preconceito, nem por morar na periferia nem por ser afrodescendente. Ia aos shoppings, perguntava os preços de produtos caros (que eu não podia adquirir), freqüentava eventos, era convidado pra festas na casa de famílias de poder aquisitivo maior que o meu sem nenhum constrangimento de nenhuma das partes.
    Confesso que logo de inicio não estava muito de acordo com a idéia de que existia preconceito racial no Brasil. Transitava no “lugar comum” de que vivíamos numa democracia racial e considerava que não havia sentido a afirmativa de que era “preconceito de cor” quando policias negros batiam em homens negros. “Ora, se houver algum tipo de preconceito no Brasil, não é preconceito de raça, e sim de classe social”, pensava eu, “e se existe preconceito contra o negro, não é por conta da elite branca, e sim do negro que tem preconceito de si mesmo”, afirmava.
    Ao estudar a obra Cultura Negra e Ideologia do Recalque, de Marco Aurélio Luz, meus olhos foram desvendados para uma outra realidade subjacente: das engrenagens de um sistema que, de forma “velada”, prolonga os referencias de uma cultura denegando toda a diversidade. Daí compreendi que quando policiais negros batem em homens negros não é porque tem preconceito da própria raça, e sim porque estão investidos de uma autoridade “branca” e que, mesmo eu não tendo vivido episódios de preconceito racial, isso não garantia que eu, enquanto pessoa, havia passado ileso por esse preconceito, haja vista que, se esse recalque não me atingia diretamente enquanto individuo, me atingia enquanto coletividade.
    Foi a partir de então que passei a ter uma postura cada dia mais consciente com relação a mim mesmo e a importância de meu trabalho como educador, alfabetizador e vice-Diretor de escolas municipais da comunalidade Sussuarana, a que pertenço. E que pra minimizar os efeitos desse preconceito que as nossas comunalidades vivem, aprendi que antes de ser um representante das instituições dentro da comunidade, eu sou um representante da comunalidade a que pertenço dentro desses espaços institucionais.
    Por isso considero Cultura Negra e Ideologia do Recalque uma obra que pode influenciar, modificar vidas, destinos, na medida que traz luz, à consciência, do que esta por trás das sementes da desigualdade na nossa sociedade.

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  4. Bom Dia, como faço para entrar em contato com o Professor Marco Aurélio Luz .... Minha mãe o conheceu quando pequeno e gostaria de fazer-lhe uma surpresa ...
    Grata

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  5. Prezada Raquel,

    Por gentileza encaminhe seu e-mail para que possamos lhe responder.

    Equipe ACRA

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