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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

II SINBAIANIDADE e II CIALLAA-Participação do PRODESE


No dia 9 de outubro no auditório do Teatro UNEB teve início o II Simpósio Internacional de Baianidade-SINBAIANIDADE e o II Congresso Internacional de Línguas e Literaturas Africanas e Afro-Brasilidades-CIALLA.



 Mesa de autoridades 
Foto Maurício Luz 
                                                                                         

A solenidade de abertura constou de uma mesa composta pelas autoridades presentes dentre as quais a Iyalorixá do Ilê Axé Opo Afonjá, Iyá Ode Kaiyode Mãe Stela, Doutora Honoris Causa da Universidade do Estado da Bahia, o reitor da UNEB Professor José Bites de Carvalho, o vereador e ex-governador Valdir Pires, a vice-prefeita de Salvador Sra. Célia Sacramento, representantes das embaixadas de Angola e Nigéria e o Professor Gildeci de Oliveira Leite idealizador e organizador dos eventos SINBAIANIDADE  e CIALLA e responsável pela Assessoria de Projetos Interinstitucionais para Difusão da Cultura da UNEB.
Após o hino nacional foi composta a mesa e seguiram-se as saudações e os pronunciamentos.




    Pronunciamento do professor Gildeci Leite idealizador e Presidente do Comitê Organizador e Científico do evento
  Foto disponível na internet

Encerrada a abertura, foram convidados os componentes da próxima Mesa que teve a mediação da Professora Doutora Narcimária Correia do Patrocínio Luz e as participações do poeta e escritor angolano Manuel Rui e o cantor e compositor Martinho da Vila.
Sobre os integrantes da mesa de abertura:
Manuel Rui
É considerado hoje um dos maiores autores da literatura angolana. É poeta, contista, romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico literário. É licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra. Após a Revolução regressou a Angola, tornando-se Ministro da Informação do MPLA no governo de transição. Representou Angola na Organização da Unidade Africana e nas Nações Unidas. Foi membro fundador da União dos Artistas e Compositores Angolanos, da União dos Escritores Angolanos e da Sociedade de Autores Angolanos. É o autor do Hino Nacional Angolano

Martinho da Vila
Cantor, compositor e interprete de sambas que se tornaram clássicos na música popular brasileira.
Foi responsável pelo projeto O Canto Livre de Angola que, em 1982 trouxe os primeiro artistas africanos ao Brasil. Liderou também o Grupo Kizomba, promoveu encontros internacionais de arte negra. Recebeu o título honorário de Embaixador Cultural de Angola e Embaixador da Boa Vontade da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), por ser um incentivador das relações linguísticas do português e divulgador da lusofonia. Em 2006 recebeu no plenário da Assembleia Legislativa da Bahia o título de Cidadão Baiano.



    Martinho da Vila e Manuel Rui
   Foto disponível na internet

 Narcimária Correia do Patrocínio Luz
Professora Titular Plena da Universidade do Estado da Bahia tem Mestrado e Doutorado em Educação ambos pela Universidade Federal da Bahia; Pós-doutorado em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio de Janeiro. É coordenadora do PRODESE- Programa de Descolonização e Educação, idealizadora fundadora e ex-diretora do CEPAIA-Centro de Estudos das Populações Afro-Ameríndias. Integrou a equipe de professores/pesquisadores que concebeu e fundou o Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade da UNEB. Editora das Revistas SEMENTES Caderno de Pesquisa, detentora da comenda Oxum Muiwá recebida por ocasião do I SINBAIANIDADE realizado no Campus de Seabra, autora de diversos livros, artigos e ensaios, dentre os quais OBA NIJO O Rei que Dança pela Liberdade(PALLAS) e ITAPUÃ da Ancestralidade Africano-Brasileira(EDUFBA).




       Narcimária na coordenação da mesa
                  Foto Maurício Luz

 Narcimária abriu a Mesa saudando os ancestrais e o patrono do dia de sexta feira Oxalá, orixá princípio que representa o ar , responsável pela criação dos seres humanos, e para cada ser humano criou uma árvore. Iniciou a mediação da Mesa destacando três legendas de suma importância na História da Bahia. “A primeira é o legado da Iyá Oba Biyi Mãe Aninha fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá que disse:” A Bahia é uma Roma Negra” no contexto de afirmação do patrimônio africano brasileiro face à imposição da romanização católica na primeira República, que tentou de todas as formas censurar a dinâmica da civilização africana pujante na Bahia e no Brasil. Interpretamos que a Bahia, Salvador é uma cidade sagrada onde está concentrada os cultos aos ancestrais, aos orixá, inkice, e voduns com sua ordem de valores, linguagens e vínculos institucionais, constituindo a transcendência que escoa pela cidade, seiva que alimenta a essência da baianidade.

A outra legenda vem da poesia de Caymmi: "Bahia tá viva ainda lá!”.



          Narcimária pronuncia suas reflexões
                Foto Mauricio Luz

Composição do nosso saudoso Dorival Caymmi, o Oba Onikoyi (título que ele teve em vida no Ilê Opô Afonjá) que cantou e encantou com sua baianidade "Adalgisa mandou dizer que a Bahia tá viva ainda lá” (1964). Narcimária ressaltou   " “ainda lá”, como o lugar de origem que torna a Bahia singular, onde há a recusa ao processo urbano-industrial onde a Bahia foi colocada no centro do capitalismo transnacional e suas derivações tecnoeconômicas. O recado de Adalgisa é um aviso importante, atravessando o tempo animando-nos a acreditar ainda, numa Bahia que insiste em se manter viva. Viva, face à teia dos valores que tendem a transformá-la numa metrópole, extensão geopolítica e expansionista de alguns Estados Nacionais com suas supremacias étnicas e territoriais.
Como diria Caymmi: "pobre de quem acredita na glória e no dinheiro para ser feliz.”.

Feito esses destaques, Narcimária passou a palavra para Martinho da Vila sublinhando o elo transatlântico que se expressava naquela mesa: África e América... Brasil e Angola...Angola, Bahia e Rio de Janeiro...
Nesse elo destacado por Narcimária, a palavra KIZOMBA da língua kibundo referência ancestral de Angola seria o fio condutor para Martinho da Vila abordar a sua contribuição nos anos 1980 aproximando Angola do Brasil.
 Assim Martinho iniciou sua participação contando que em Angola ele fez muitos amigos ilustres, dentre esses, o escritor Manuel Rui. Ele trouxe de lá e divulgou pelo Brasil afora o conceito kimbundo de kizomba que significa celebração. Foi com através do kizomba que ele elaborou o enredo "KIZOMBA a Festa da Raça" para a Escola de Samba Unidos de Vila Isabel campeã em 1988.
A comunicação de Martinho foi em torno de justificar sua identificação com a Bahia, lembrando que quando jovem no Rio de Janeiro, era chamado de baiano mesmo sendo natural do interior do Estado do Rio, da região de Cordeiro, Macuco, Nova Friburgo. Depois relatou suas diversas viagens a Salvador suas amizades citando Mãe Celina que era da Casa Branca e tinha o restaurante Aguidar na Boca do Rio. Falou da amizade com o povo de Maria de São Pedro e com Camafeu de Oxóssi.
Lembrou que frequentava o antigo Mercado onde Camafeu tinha uma loja de artesanato e especiarias do culto afro. O mercado sofreu um incêndio, e mais tarde Camafeu recebeu um restaurante no novo Mercado Modelo. Nas suas andanças pela Bahia, costumava pescar com Camafeu na Baía de Todos os Santos.
Contou uma aventura de uma pescaria com Camafeu em que não encontraram um peixe sequer, apesar de ter muita gente à espera dos peixes que eles pretendiam trazer.
Por fim declarou que recebeu da Assembleia Legislativa da Bahia o título de Cidadão Baiano que para muitos é uma formalidade, mas para ele, tem um valor especial.

Logo a seguir a Doutora Narcimária passou a palavra para o escritor Manuel Rui.
Lendo um texto poético de sua autoria, ele procurou dizer que a presença de uma cultura é contextual como demonstra o sentimento por entidades do candomblé da Bahia nas obras literárias de autores angolanos, como ele mesmo.
Afirmou que há uma fenda abissal entre os valores do hemisfério norte e o hemisfério sul, aprofundado, sobretudo pelo preconceito e rejeição. Todavia, nós do hemisfério sul, devemos valorizar nossa epistemologia, o que alguém nomeou de uma "ecologia de saberes" e nesse sentido é muito significativa essa aproximação Angola, Bahia, que já existe através da história e da reposição dos valores culturais.



           O auditório na abertura do evento.
 Foto Maurício Luz

 A Doutora Narcimária pediu a Martinho para cantar o samba enredo Kizomba para encerrar essa celebração.


Martinho então cantou

 " Valeu Zumbi"!


KIZOMBA, A FESTA DA RAÇA
(Rodolpho / Jonas / Luiz Carlos da Vila)
Valeu, Zumbi
O grito forte dos Palmares
Que correu terra, céus e mares
Influenciando a abolição
Zumbi, valeu
Hoje a Vila é Kizomba
É batuque, canto e dança
Jongo e Maracatu
Vem, menininha
Pra dançar o Caxambu
Ô,ô, Ô,ô
Nega mina
Anastácia não se deixou escravizar
Ô,ô
Ô,ô,ô,ô
Clementina, o pagode é o partido popular
Sacerdote ergue a taça
Convocando toda a massa
Neste evento que congraça
Gente de todas as raças
Numa mesma emoção
Esta Kizomba é nossa constituição
Esta Kizomba é nossa constituição
Que magia
Reza, AG1 e Orixá
Tem a força da cultura
Tem a arte e a bravura
E o bom jogo de cintura
Faz valer seus ideais
E a beleza pura dos seus rituais
Vem a Lua de Luanda
Para iluminar a rua
Nossa sede e nossa sede
De que o apartheid se destrua
Gravação Original: Samba Enredo da Vila Isabel 1988
Gravado por Emílio Santiago, Martinho da Vila


O vídeo a seguir apresenta Kizomba interpretada por Martinho da Vila










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