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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sexta-feira, 27 de setembro de 2019

PROGRAMA DESCOLONIZAÇÃO E EDUCAÇÃO- PRODESE


Logo do Programa Descolonização e Educação
 Criação/concepção de Marco Aurélio Luz
                                       Por Narcimária Luz  

Em 1998, concebemos no Departamento de Educação do Campus I o Programa Descolonização e Educação-Prodese,cujo logo foi criado pelo escultor Marco Aurélio Luz.O logo vem estampado nas capas do ciclo das publicações SEMENTES Caderno de Pesquisa, canal editorial próprio do  Programa institucionalizado em 2000 na UNEB. 
Sobre o logo,é importante destacar sua simbologia.Observem os triângulos. Eles formam o machado duplo, símbolo de sociabilidade 2+1=3,o casal mais um, continuidade ininterrupta da existência, princípio do orixá Xangô, complementado pelos pequenos círculos que contém as três cores básicas da existência: branco, preto e vermelho, existência abstrata, mistério, sangue circulante. Duas flechas, simbologia da origem da humanidade, emblemas de Odé o caçador. Dois arcos complementar o ofá, arco e flecha, e também alusão ao berimbau, instrumento básico da capoeira, ícone da liberdade. Coluna de triângulos, losângulos, simbologia dos machados duplos sustentando a sucessão contínua do existir.
No Prodese, reunimos ao longo dos anos pesquisadores/as mobilizados/as para produzir ideias e iniciativas que removam os entulhos ideológicos característicos de determinadas geografias conceituais, a exemplo do recrudescer de análises reducionistas sobre alteridade e diversidade cultural, que recuperam perspectivas do final do século XIX e início do século XX. 



Seminário  Ètica da Coexistência,dinâmicas Territoriais e Comunalidades/2001
Mesa Mémória e Continuidade 
Da direita para esquerda Pedro Garcia,Marcos Terena.
Sincretismo, mestiçagem, “laboratório racial” no dizer de Gilberto Freire agora reeditado, saturam vários espaços acadêmicos, inclusive aqueles dedicados à formação de educadores. Apesar das nossas críticas a essas ideologias, ainda encontramos classificações etnocêntrico-evolucionistas sobre as projeções educacionais das comunalidades africano-brasileiras tratando-as como essencialistas, holísticas,exóticas,românticas,híbridas,mutantes,classificadas como pensamento “não científico”, deformando, apequenando e encobrindo os valores do nosso patrimônio cultural.

Mesa de abertura do Seminário  Ètica da Coexistência,dinâmicas Territoriais e Comunalidades/2001Da direita para a esquerda Gilca Assis,Manoelito Damasceno,Maria José Palmeira e Narcimária Luz

Esses repertórios conceituais em voga, geralmente reprodução de contextos radicalmente distintos da nossa realidade, se estabelecem como um “manto de ferro”, censurando de modo perverso a nossa alteridade civilizatória.
Nesse contexto teórico-ideológico, a rejeição possui inúmeros aspectos, é o terreno onde se constrói o apartheid ideológico[1], onde derivam os preconceitos e os estereótipos.

Painel Ética da Coexistência,dinâmicas Territoriais e Comunalidades/2001A esquerda Juana Elbein dos Santos e à direita Joel Rufino dos Santos

No sistema oficial de ensino, a onipotência do conhecimento e a pura abstração que envolve a ciência,se vale da crítica,condenação e o combate incessante aos discursos míticos e filosóficos. Acrescente-se ainda que por sua vez o discurso científico cada vez mais visa atender as demandas da tecnologia e essa, por sua vez as demandas do produtivismo industrial, de estimulação militarista, fator de acumulação incessante do capital financeiro, uma ordem de valores bem distinta das elaborações sobre o mistério do existir constituinte dos demais discursos, especificamente em outros contextos culturais.5
Conferencistas e pós-graduandos/as do Programa de pós Graduação em Educação e Contemporaneide que participaram do evento em 2001.

O mais decepcionante dessa constatação é a sujeição voluntária de muitos educadores aos discursos que denegam a possibilidade de afirmação do princípio de ancestralidade que dinamiza o estar no mundo de muitas comunalidades de base africana e aborígine nas Américas. Este tem sido o nosso maior desafio: penetrar nesses espaços institucionais oficiais e tentar (des) recalcá-los e (re) aproximá-los do nosso solo de origem.
Professores Marco Aurélio Luz e Samuel Vida colaborando com a disciplina Epistemologia Africano-brasileira e Educação(2003)
Numa entrevista o Professor Márcio Nery de Almeida pesquisador do PRODESE, indagou-me: “Como e porque surgiu o PRODESE-Programa Descolonização e Luz, Marco Aurélio. Entrevista concedida a coordenadora do PRODESE em outubro de 2007 Educação?”
Respondi:
Como forma de ação para expandir novos valores e linguagens emergentes da civilização africano-brasileira na educação. O Prodese não foi uma escolha. Foi uma precisão, um caminho necessário para exatamente transitar, caminhar por territórios outros, “casa alheia” sem ter de perder a identidade, sufocada por uma educação neocolonial. Identifico-me com o campo semântico prenhe dos princípios que caracterizam a ancestralidade africano-brasileira. Então quando apelo para o princípio de ancestralidade estou me referindo aos princípios inaugurais da existência que irão constituir a fundação de territorialidades, famílias, instituições, comunalidades, modos de sociabilidades, inclusive modos de produção, enriquecidas por valores éticos e estéticos que asseguram a continuidade de civilização africana. A ancestralidade carrega os princípios masculinos e femininos da existência e se perde na noite dos tempos. (Luz, N. 2007, p.35-46)


Atividades do Prodese no auditório do Departamento de Educação I Uneb

Pois bem, a equipe Prodese dedica-se a apurar essas abordagens e apontar um outro continente teórico-epistemológico que transcenda as fronteiras do recalque e legitime nossas origens



Atividade do Prodese no auditório o Departamento de Educação I Uneb
Ao centro Nilma Lino Gomes e Raphael Vieira Filho coloborador e parceiro nessa atividade em 2012

O PRODESE integrou até 2015 o Diretório de Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq, e ao longo desses anos fomos compondo parcerias importantes que nos abriram vários canais para divulgarmos nossas produções, a exemplo: Ministério da Cultura Fundação Biblioteca Nacional-(Rio de Janeiro-Brasil)onde tivemos oportunidade de participar do Programa de Bolsas para Autores em Obra em Fase de Conclusão com a obra “Itapuã;portal da nossa ancestralidade afro-brasileira” desdobramentos da nossa pesquisa no âmbito do Pós-Doutorado na Escola de Comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Evento de comemoração dos 70 anos de Muniz Sodré  na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro/2012.
Da esquerda para a direita Raquel Paiva,Muniz Sodré,Márcio Tavares do Amaral e Narcimária Luz

Destacamos também a nossa relação com o Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro(Brasil) junto à equipe do Drº Muniz Sodré Conselheiro da Revista Sementes,desenvolvendo iniciativas comuns no campo da Comunicação e Cultura especificamente das comunalidades africano-brasileiras;outra importante parceria é a Alliance pour um Monde Responsable, Pluriel et Solidaire (França) juntamente com a Rede Mundial de Artistas em Aliança espaços em participamos como animadores culturais desde 2001, e na Bahia o projeto de Extensão Dayó nos representa junto à essas Redes e Alianças; Université Renée Descartes Paris V Sorbonne através do Centre d'Études sur l'Actuel et le Quotidien(França) sob a coordenação do professor Michel Maffesoli, Conselheiro da Revista Sementes, publicação do PRODESE. 

Pesquisadoras do Prodese Austrelina dos S. Ferreira e Rosemeire Rufina dos Santos num  encontro com Michel Maffesoli em Salvador em 2005 entregando exemplares do Sementes.

O professor Michel Maffesoli tem acolhido as solicitações de nossos/as pesquisadores/as para realização de curso de Doutorado e Estágio Pós-Doutoral; ACRA - Associação Cultural Crianças Raízes do Abaeté (Ponto de cultura do MINC em Salvador-Bahia-Brasil) e o 


Grupo Capoeira Abolição em Oxford-Inglaterra e também na África do Sul sob a responsabilidade do Mestre Luís Negão,são organizações que intercambiaram com as iniciativas do nosso projeto de extensão DAYÓ.



[1] Conceito de Marco Aurélio Luz nas suas obras dedicadas a dinâmica da civilização africano-brasileira




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