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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


domingo, 12 de outubro de 2025

30 ANOS DE AGADÁ, UMA OBRA DE AXÉ

 

Por Gildeci de Oliveira Leite


"Busto de Nefertiti," bronze originário do Reino do Benim, restituída à Nigéria após décadas em que foi saqueada por soldados britânicos em 1897. Sobre a expansão colonialista e a dinâmica do tráfico escravista na África, o livro Agadá, dinâmica da civilização africano brasileira, aborda com veemência as agressões desencadeadas no continente africano.

Imagem disponível em https://expresso.pt/cultura/2021-04-03-Ha-mudancas-no-mundo-da-arte-em-Berlim.-Os-bronzes-do-Benim-vao-ser-restituidos-ao-pais-b28b9643

 


Minha primeira leitura do livro “Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira” foi durante a construção da dissertação de mestrado, concluída em 2003. O livro do Oju Obá — olhos do Rei Xangô — Marco Aurélio Luz já estava na segunda edição, vi nele caminhos para comprovação de tese, que havia arriscado ainda durante a graduação em exercícios da disciplina “Metodologia Científica” com a professora Hilda Ferreira e depois aperfeiçoada com as orientações do Professor Doutor Cid Seixas na pós-graduação.

Como obra basilar, “Agadá” proporciona compreender mais a respeito de orixás e da ancestralidade afro-brasileira, por isso tenho indicado como leitura obrigatória a alunos e orientandos da graduação e da pós-graduação.

 


 O Agadá aborda as COMTOCs Conferências Mundiais da Tradição dos Orixá e Cultura, desdobramentos da culminância do processo de aproximação e intercâmbio dos integrantes do contínuo civilizatório do culto das entidades de origem africana. A primeira foi realizada em Ile Ifé.

Acervo de M.A. Luz


Cartazes de divulgação das Comtocs que registram o fenômeno da importância das COMTOC.

 Acervo de M.A. Luz


Acervo de M.A. Luz

São trinta anos desde a primeira edição do livro, que continua atual e conforme disse Muniz Sodré em live comemorativa no dia 16 de setembro, um manancial de novas teses, que são propostas em suas linhas às leitoras e aos leitores atentos.

 






Muniz Sodré se refere ao Agadá, como uma fonte expressiva de prototeses  reunindo a riqueza de relatos transitivos e vivências.

 A obra faz jus ao seu título, age como um agadá, abre caminhos para novas pesquisas e por isso é citada em diversos trabalhos acadêmicos. Para que o leitor entenda melhor, agadá é a espada sagrada, emblema de Ogum, orixá guerreiro, desbravador, inventor, aquele que faz “coisas impossíveis”, conforme nos ensina o pesquisador nigeriano Félix Ayoh Omidire.

 

 Espada de Ogum

Foto Pierre Verger

Imagem disponível em https://atarde.com.br/cultura/culturaexposicao/mostra-e-livro-mantem-vivas-memoria-e-obra-de-pierre-verger-976932

 

 A obra é desbravadora e, nas palavras do professor Ricardo Oliveira Freitas (UNEB), é uma das manifestações pioneiras a considerar o legado africano como centralidade para a compreensão da cultura brasileira. Afinal, a escrita de Marco Aurélio Luz tratou de descolonização do pensamento no período em que tal abordagem não era tão pautada em pesquisas universitárias brasileiras.

 


O autor de AGADA ao lado de Mestre Didi e Everaldo Duarte numa mesa no âmbito da III ª Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura em Nova York em 1986.

 Com linguagem acessível, o que facilita o entendimento e amplia a possibilidade de construção de novos saberes por diversos leitores e leitoras de diferentes áreas, Agadá é um também uma palavra crítica de axé, feita por quem habita o lado de dentro da porteira.

Conforme pode ser visto na live “30 Anos Agadá: a Civilização Africana e seu legado transatlântico”, à disposição no canal da EDUFBA, sob a curadoria da doutora Narcimária Correia do Patrocínio Luz, o escritor é um homem de axé, portanto, como dito, habita o lado de dentro da porteira.

 


Mestre Didi e Marco Aurélio Luz na atmosfera do barracão no Ilê Asipá

 Foto do acervo de Marco Aurélio Luz

 Desta forma, trata-se de uma inscrição de quem foi autorizado a ler e a gravar no papel saberes ancestrais, respeitando os limites impostos pela tradição e certamente por isso, compreendendo melhor as leituras em suas diversas modalidades, proporcionando ao leitor fruições mais acertadas.

Parabéns ao nosso autor de axé pela energia que alimenta nossas investidas através de sua criação Agadá!

Gildeci de Oliveira Leite com Marco Aurélio Luz no âmbito do  I Simpósio Internacional de Baianidade -SINBAIANIDADE em Seabra em 2011.

 Afinal, com o agadá vários caminhos foram, são e serão abertos!

  


Imagem disponível em https://depositphotos.com/br/photo/ecuador-rainforest-green-nature-hiking-trail-path-tropical-jungle-mindo-566971590.html

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Gildeci de Oliveira Leite  é escritor, sócio do IGHB, PPGEL/UNEB. Autor do livro A casa do Mistério ou a Casa do Renascimento publicado pela Editora 2º Selo.

Instagram: @gildeci.leite

 

 

 

 

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