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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 8 de maio de 2010

“DIA DO PRETO VELHO”

Foto de Narcimária C. P. Luz

REFLEXÕES A PROPÓSITO DO 13 DE MAIO

Marco Aurélio Luz
Tudo começa quando o reino do Ndongo, Angola, da famosa rainha Ginga (1583-1663) e o Quilombo dos Palmares (1600-1695) dos líderes Ganga Zumba e depois Zumbi, lutando pela soberania e liberdade, quebram o eixo do tráfico escravista Angola-Pernambuco explorado pela Coroa Portuguesa, então a maior fonte de lucros da Companhia das Índias Ocidentais.
Mais tarde, a política colonial inglesa se projetou com intensidade no Brasil; iniciada quando trouxera D. João VI, rei de Portugal escapando da investida de Napoleão sobre Lisboa. Essa política se caracterizava por tentar estabelecer uma nova estratégia colonial; mudar para nada mudar.
Essa estratégia se estabelece quando o líder quilombola Dessalines derrota as tropas de Napoleão e garante a independência do Haiti (1804). A Jamaica colônia vizinha obriga os ingleses negociarem áreas libertadas com o capitão Cudgoe (1737e1796). Eles então resolveram estabelecer essa nova estratégia que constava do fim da vinda de africanos para as Américas e do incentivo da vinda de imigrantes europeus, a política de embranquecimento, da abolição da escravatura, da criação do mercado de trabalho para os novos habitantes e independência política associada à absoluta dependência econômica e militar. Em lugar das colônias de exploração, agora neocoloniais de exploração e povoamento.
O Tratado de Methuen (1703) já deixara Portugal na condição de comprador de todas as manufaturas inglesas, de um prego a um navio. Em troca os ingleses compram os vinhos. O incessante déficit da balança comercial da Coroa Portuguesa era coberto por empréstimos do capital financeiro dos bancos da própria Inglaterra. Com a independência o Brasil fica com essa herança.
Quando os navios de guerra ingleses abatem os navios tumbeiros que insistiam em burlar as leis do fim do tráfico escravista (1830), diante da reação de setores escravocratas, assim se manifesta José Bonifácio, em carta à Chamberlain, cônsul da Inglaterra: “Gostaria que os ingleses capturassem todo navio negreiro... não quero vê-los nunca mais: são a gangrena de nossa prosperidade. A população que queremos é branca...” Com o fim do tráfico escravista, a abolição da escravatura eram favas contadas.
Apesar de ter sido o último país a abolir a escravidão, a chamada “Guerra do Paraguai” (1864-1870) foi um passo importante na aceleração do processo nessa direção.
Com ela os ingleses conseguiram realizar vários intentos. Acabar com o “mau exemplo” do Paraguai, a nação Guarani, em tentar contornar e superar a dependência político-econômica, enfim romper o laço do imperialismo; diminuir drasticamente as populações não brancas na América do Sul, diminuir o número de escravos, e sobretudo, “the last but not the least,” aumentar consideravelmente a dívida externa financiando a venda de suas próprias armas para os litigantes especialmente o Brasil.
Os chamados “voluntários da pátria” eram os “senhores de escravos” que cediam dez ou mais escravizados para constituírem as tropas do Brasil. Nessa situação fica na memória a cantiga da Umbanda:
“Beira-Mar auê Beira-Mar
Ogun já jurou bandeira
Nas portas de Humaitá
Ogun já venceu demanda
Vamos todos saravá”.
Em meio a tudo isso a população negra por outro lado procurou “caçar jeito de viver”, aproveitando das liberdades alcançadas para ir repondo as instituições de sua civilização recriando uma nova cultura e territorialização mantendo a essência das tradições em suas redes comunitárias, comunalidades como até hoje...
Muitos voltaram libertos, superando o sofrimento e concorrendo para a contínua corrente de libertação, e em memória aos que de várias formas honraram nosso passado, nessa data se faz homenagem ao DIA DO PRETO VELHO. Em memória a D. Maria Batuque encerramos com a letra da cantiga preferida de despedida de sua entidade, Vovó Maria Conga.

“O sol nasceu já vai baiana
O sol nasceu nas ondas do mar, o,o,o
As ondas no mar batiam
Lá se vai Maria Conga
Feticêra da Bahia”

Um comentário:

  1. Uma aula de história da luta nas Américas. Esse texto tem que ser levado para a sala de aula! Luz trouxe uma visão bem ampla, mas que merece ser destrinchada ainda mais. Pois, acredito, que muitos desconheçam esses fatos. Ou simplesmente, os conhecem de maneira capenga. Que confesso esses último item ser o meu caso. Keliane

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