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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


quarta-feira, 2 de julho de 2014

El NIÑO LUISITO



                                                                                            Por José Guedes 

“A vida só pode ser compreendida,
 olhando-se para trás; mas só pode
ser vivida, olhando-se para frente”
(Kierkegaard)


A agressividade é inerente à condição humana, desde os primórdios da existência. São agressivos os movimentos instintivos de braços e pernas, ainda dentro do útero materno, que se caracterizam em chutes, por exemplo.

Imagem disponível em http://amadobebezinho.blogspot.com.br/2013_05_01_archive.html

Logo ao nascer, o bebê investe agressivamente, com voracidade, contra o seio materno, para suprir suas necessidades fisiológicas de alimento. Um misto de apetite e voracidade que está na base do amor primitivo. Um amor marcado pela excitação e alívio, com a satisfação que o alimento possibilita. O seio (mãe) que é atacado, é o mesmo que alimenta. A mãe suficientemente boa acolhe seu bebê, sobrevive aos ataques, promovendo um sentimento de confiança, possibilitando que o bebê se sinta amado para seguir em frente.

Imagem disponível em http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2013_08_01_archive.html

Com o passar do tempo, essa experiência vai se expandindo para o ambiente como um todo, incluindo aí, a figura do pai. Variando de indivíduo para indivíduo, a agressividade latente está presente durante toda a infância e adolescência, podendo aparecer na fase adulta, manifestando-se sempre como formas variadas de ataque ao ambiente. Há sempre um conteúdo menor ou maior de violência, com intenção de testar a resposta do ambiente, reeditando assim o que se passou nos primórdios do desenvolvimento emocional de suas vidas.
Claro que esses indivíduos clamam por limites. Limites que não reprimam, humilhando, segregando. Limites que acolham, restituindo a esperança de seguir vivendo. Endurecer, porém sem perder a ternura. Punho de aço com luva de pelica. “Não é o perfeito que precisa de amor, e sim o imperfeito”. (Oscar Wilde)
Comportamentos como esse, até certo ponto saudáveis, são a princípio antissociais , com um apelo de SOS. Caso essa compreensão não ocorra, corremos o risco desses comportamentos tornarem-se cada vez mais violentos com características de destrutividade, podendo levar à delinquência. “Qualquer amor, já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura” (Grande Sertão Veredas – Guimarães Rosa).

Imagem disponível em http://sertaodesencantado.blogspot.com.br/2013/08/frase-de-guimaraes-rosa.html

As sanções impostas pela FIFA ao Luis Suárez, pela mordida no ombro do Giorgio Chiellini da Itália, foram altamente preocupantes, pela truculência da punição, repressora em excesso, e segregadora, sem levar em conta a constituição da subjetividade do atleta. Um comportamento antissocial de Luisito, tratado como delinquência. Uma demonstração inequívoca de uma total falta de sensibilidade para com um ser humano, tratado como se fora um marginal. Praticamente deportado do Brasil, e impedido de trabalhar em seu ofício por um longo período, e impedido de frequentar qualquer evento futebolístico. Em suma: uma espécie de “prisão” domiciliar.




Imagem disponível na Internet

No jogo anterior, contra a Inglaterra, Luisito demonstrou como precisa ser considerado. Ao marcar o segundo gol, que classificou o Uruguai, correu para abraçar e beijar carinhosamente seu fisioterapeuta, apontando-o, para que o mundo inteiro o visse como o responsável pela sua recuperação. Independente da competência profissional do fisioterapeuta, sem dúvida foi o aconchego e o acolhimento dado ao Luisito, que contribuíram para que ele se recuperasse em um curto espaço de tempo (um mês), de uma importante cirurgia no joelho, a qual foi submetido. Carinho se retribui com carinho.
Sabedor da punição imposta pela FIFA, o próprio jogador atingido pela mordida, teve a dignidade de perdoar, reconhecendo que não houve intenção violenta e destrutiva, no gesto impulsivo do companheiro de profissão Luis Suárez.
O futebol não é uma abstração, nem um objeto. É praticado por seres humanos (sujeitos).
Como fica uma instituição responsável pela prática do futebol no mundo, quando age com profunda desumanidade?
O que pensar dessa instituição, quando exclui a condição de sujeito de seus participantes?

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José Carlos Guedes é psicanalista.

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