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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 27 de maio de 2017

DALMIR, PENSADOR QUILOMBOLA DAS “MINAS GERAIS”



Foto disponível na Internet
Professor Doutor Dalmir Francisco
Um singela e necessária homenagem a um amigo inesquecível: Dalmir Francisco Costa professor do Departamento de Comunicação Social da UFMG que faleceu no dia 16 de abril, em Belo Horizonte de insuficiência cardíaca, aos 66 anos.

Grande parceiro e colaborador do Programa Descolonização e Educação-Prodese(grupo de pesquisa que integra do Diretório do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-Cnpq/1998) em iniciativas institucionais importantes, a saber: coautor do livro Pluralidade Cultural e Educação, participação em várias publicações do Sementes Caderno de Pesquisa, onde  também integrava o Conselho Editorial e palestrante em muitos eventos nacionais e internacionais.




 
Encontro  Internacional Diversidade Humana Desafio Planetário(1994) organizado pela Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil.
Evento comemorativo dos 10 anos do Prodese Awon Esó 
Da esquerda para a direita o Landê Awanalê,Dalmir Francisco,José Carlos Limeira e Marco Aurélio Luz

No nosso blog, tivemos a oportunidade de divulgar seu livro “Comunicação, Música Popular e Sociabilidade” (Belo Horizonte: Fino Traço Editora, 2014), que sempre estará entre as nossas principais recomendações de leitura.

Dalmir comentou na época do lançamento do livro:

“Estamos falando de produções poético-musicais que compõem uma rica e valiosa memória sonora e afetiva de dramas, amores, desamores: errâncias de homens e de mulheres comuns, afrodescendentes e eurodescendentes, que, cantando, registraram e registram ainda hoje a sua humanidade em um Brasil marcado pela diversidade étnica, cultural e social”.
Dalmir era graduado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1978), Mestrado em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (1992) e Doutorado em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000).Pós-Doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ.Era professor Associado da Universidade Federal de Minas Gerais com experiência na área de Comunicação e Cultura, com ênfase em Jornalismo, atuando principalmente nos seguintes temas: Jornalismo, Comunicação, história, Política, negritude e comunicação e cultura. Era Membro Titular do Conselho Estadual dos Direitos Humanos - CONEDH / Minas Gerais e do  Conselho Municipal para a Promoção da Igualdade Racial - COMPIR / Belo Horizonte.

Aqui procuramos homenageá-lo através de suas muitas formas de expressar seu pensamento e compreensão sobre o estar no mundo. Dalmir na sua trajetória científico-acadêmica ergueu com altivez, orgulho e muita alegria, espaços de legitimidade do continuum africano no Brasil.
Imagem disponível na Internet
Sucessão de triângulos representam a continuidade civilizatória africana


Nascido em Minas Gerais, Dalmir herdou valores que o tornou um pensador importante sobre as questões que constituem a história das populações africano-brasileiras e, tornou-se ao longo dos anos, um defensor  dos direitos coletivos dessas populações, demonstrando nas suas atuações institucionais a necessidade de encontrarmos canais de diálogo e compreensão dos valores civilizatórios dos povos.
Imagem Disponível na Internet

No pensamento de Dalmir, encontramos uma das suas maiores referências: o vínculo indissolúvel entre a diversidade cultural e os direitos coletivos, principalmente aqueles reivindicados pelas instituições africano-brasileiras. Sobre isso, ilustrações não faltam: destruição, esgotamento e usurpação de forma cruel das territorialidades sagradas das comunidades tradicionais africano-brasileira.
Imagem disponível na Internet
O pensamento de Dalmir traduzido em suas obras, apresenta de modo valioso aspectos sócio históricos do Brasil negligenciados pela Razão de Estado e suas instituições .
Imagem disponível na Internet
Capoeira referência da expansão civilizatória dos africanos no Brasil

Lembramos da atenção ao ouvir a voz bem empostada e forte de Dalmir, apresentando suas ideias... Eram momentos  muito especiais e de uma riqueza impressionante. Fazia-se silêncio, pois eram  momentos de aprendizagem a partir do sentimento e olhar  de alguém que falava de outras singularidades do Brasil. Um Brasil e a dinâmica das redes quilombolas! Sim! Quilombos contemporâneos que intercambiam ininterruptamente. A maneira de Dalmir abordar um tema ou aspecto numa conferência ou debate, era muito interessante. Tinha um tom e conduta de uma boa aula de história.

Foto disponível na Internet



Uma observação: não era um pensamento sisudo, arrogante como muitos que circulam nas Universidades, ou mesmo imerso em lamentações ou tristezas, não. E mesmo que tivesse lamentações, ele abria outras perspectivas de análises de enfrentamento e superação. Seu pensamento era, e ainda é, criativo, altivo e guerreiro animando-nos a prosseguir zelando e afirmando a história dos nossos ancestrais referências fundamentais que  asseguram a nossa dignidade .
Foto disponível na Internet
Dalmir realizando palestra na Universidade Federal do Rio de Janeiro no evento na Escola de Comunicação em comemoração ao aniversário de Muniz Sodré

O Professor Marco Aurélio Luz recordando sua amizade com  Dalmir comenta:

"Dalmir Francisco foi um companheiro e irmão.
Tenho uma só palavra para resumir o que admirava nele: INTENSIDADE.
Foto disponível na Internet
Transformação do ferro,mineral que está associado ao universo simbólico do orixá Ogum
Depois da política estudantil e como professor universitário, Dalmir se reencontrou na religião africano-brasileira. Participou ativamente como representante do Conselho Consultivo do Instituto da Tradição Afro-brasileira de Minas Gerais. Se destacou também na participação de inúmeros eventos e publicações visando a afirmação dos valores da tradição africano-brasileira.
Olorum Kosi pu re!"
Foto disponível na Internet
Carlos Alberto de Carvalho, colega de Departamento d UFMG diz sobre Dalmir: “Profundo conhecedor das questões da cultura brasileira e da herança cultural africana” e atuava em campo de estudo que fazia aproximações entre comunicação, cultura, política e, mais recentemente, educação. Foi um dos organizadores da obra Mídia, docência e cidadania, lançada em 2016”.
Foto disponível na Internet

Aqui um trecho de uma homenagem em forma de crônica “Adeus, Dalmir Francisco, o abridor de caminhos...”  de Miguel Arcanjo Prado  jornalista formado pela UFMG e seu ex-aluno.
Foto disponível na Internet

"Dalmir Francisco, o abridor de caminhos...” 


“...Tive o prazer de ser seu aluno na disciplina Comunicação e Política, obrigatória e que ele dava à sua maneira, gerando paixão e também revolta em alguns alunos, que não o compreendiam.

Dalmir, em sua aula, apresentava a criação do mundo a partir da cosmogonia africana, explicando a origem de cada orixá, o que lhe dava enorme prazer. Alguns alunos, não acostumados a uma forma de ensino que não fosse a eurocêntrica não entendiam, reclamavam do professor nos corredores. Como assim falar de orixá em aula de comunicação e política? Alguns até o enfrentavam em aula, dizendo que não concordavam com sua ementa.
Ilustração de Narcimária Luz no seu livro "Itapuã quem te viu e quem te vê"(2009)
Agemó,personagem que integra a criação do mundo conforme a cosmogonia nagô
Ilustração de Narcimária Luz

 E Dalmir, livre docente, seguia firme e forte. Não temia o confronto. Hoje, percebo que foi o meio que encontrou de resistir com sua negritude dentro da academia, do alto de seu título de doutor. Neste domingo de Páscoa, recebo na internet a notícia da morte de Dalmir Francisco, aos 66 anos. Uma tristeza enorme me invade. Porque Dalmir significou muito para mim. Ter ele ali, negro, jornalista, naquele posto de professor da UFMG, sempre me deu um orgulho enorme. Dalmir Francisco foi pioneiro. Abridor de caminhos. Já faz uma baita falta. Que descanse em paz.”

Para conhecer todo o conteúdo da crônica de Miguel Arcanjo Prado  , acesse https://blogdoarcanjo.blogosfera.uol.com.br/2017/04/16/cronica-do-arcanjo-adeus-dalmir-francisco-o-abridor-de-caminhos/

 


 Saudades querido amigo!

Que Olorum lhe abençoe Dalmir, pensador  quilombola  das “minas gerais” !


A seguir entrevista de Dalmir sobre seu  livro Comunicação,Música Popular e Sociabilidade (1ª. ed. Belo Horizonte: Fino Traço Editora, 2014) que aborda aspectos sobre “o amor do homem comum, presente na poética musical, dita popular e comunicada, socializada pela mídia. O homem comum é aquele que não aspira a ser herói, que não deseja ser o invencível guerreiro, o grande governante, o alto legislador e que não quer ser mais que pode a sua humanidade…”Palavras do autor.

Muito interessante!

Vale a pena assistir!

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