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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


terça-feira, 7 de maio de 2013

DIREITO À ALTERIDADE CIVILIZATÓRIA AFRICANO BRASILEIRA





Achamos por bem republicarmos trechos de uma entrevista, a propósito das iniciativas de um vereador em Salvador, que tenta se promover através de campanha e anteprojeto que  ataca  as tradições religiosas de matriz africana,através de intervenção à liturgia das oferendas. Vale ressaltar, que essa entrevista foi publicada neste blog em 31/10/2010,alcançando mais de 2.000 visualizações demonstrando a relevância do tema.
Entrevista concedida pelo Professor Marco Aurélio Luz (M.A.) a Márcio Nery de Almeida (M.N.).



MN- Eu agora vou tocar num ponto que considero delicado. Delicado porque já vi muitos posicionamentos contra e a favor, não sei se de correntes mais “progressistas” ou das que mantêm genuinamente a tradição africana, que é o sacrifício de animais. Qual é a opinião do senhor a respeito disso?
MA-Na tradição para o animal ser sacrificado, tem que ter condições muito específicas dentro da liturgia. Ele se apresenta como uma compreensão, uma elaboração de circulação de axé, no que se refere à restituição. Uma pessoa, ou uma comunidade está atravessando determinado problema e precisa reforçar o seu orixá. Há na natureza substâncias que, utilizadas liturgicamente, resultam em acionar axé, promover força de existência.
Quando se oferece um animal a um orixá, a um ancestral quer-se reforçar o axé desse orixá ou desse ancestral. Refere-se ao orixá de uma pessoa, ou um orixá ligado a uma comunidade que uma vez reforçado, vai também reforçar a comunidade. Por isso as entidades compartilham essa integração de axé das oferendas com as pessoas. As pessoas comem determinadas partes. Então, há uma comunhão entre as forças da natureza e aquelas pessoas. Agora, para isso, não é preciso ser uma quantidade enorme de animal, mesmo porque não são só animais que compõem as oferendas, são folhas, vegetais e outros elementos, substâncias que entram, que vão ser transformados em alimento pela culinária litúrgica, é uma culinária de símbolos, que expressa a visão de mundo, vai ser repartida entre os fiéis, convidados, sacerdotisas e sacerdotes, é uma confraternização.

 AKUKO
Escultura que adorna coluna do Ilê Igbalé no Ilê Axipá



ABO 
Escultura que adorna coluna no Igbalé no Ilê Axipá


MN- Não é só matar por matar o animal...
MA- Não, não, muito longe disso!...Não...muito pelo contrário! Vai ser uma elaboração muito grande em relação à vida, porque ali você está elaborando o viver e o morrer, uma elaboração muito delicada, muito sutil, muito vivenciada. Ali você não tem o frango do super mercado de que você come um pedaço de perna e come como se nem tivesse um frango ou uma galinha ali. A idéia de galinha está muito longe encoberta pela coxinha... Muito diferente da tradição religiosa, você tem o animal inteiro, com quem você entra em contato... . Você vai viver a dramaticidade natural da situação do viver e do morrer e, por isso são poucos animais. É uma certa hipocrisia a crítica a esse ato porque nessa sociedade industrial é que o animal é reduzido simplesmente a um animal seriado para morrer e que vai ser engordado de acordo com a necessidade do mercado econômico que exige produção em massa. Vão ser dados a eles alhos e bugalhos para ele alcançar rapidamente determinado peso.


Até coisas que comprometem a saúde humana de quem consome, são dadas a esses animais, e os deformam. Eles têm uma vida completamente voltada para isso. São presos ou confinados, vivem uma vida como carne. Eles não vivem uma vida de animal. Eles não têm uma identificação de animal. A eles é projetada uma identificação de carne, um produto de uma cadeia de produção. Não se cria o animal como animal, aquilo é criado como a produção de um bem unicamente para dar lucro, que vai favorecer uma atividade econômica. Então é uma hipocrisia se colocar a favor dessa sociedade que faz isso e lança no mercado diariamente uma enorme quantidade, porque são mortos industrialmente e chegam para o consumidor sem nenhum aspecto daquele bicho que foi e você nem se lembra do que ele é ou que deixa de ser.


Então, todas as referências de uma vida social que esteja ligada a isso estão esmaecidas ou apagadas, é simplesmente uma atividade de ir ao super mercado e consumir, assim como você compra uma pêra você compra um animal e tudo mais que é oferecido é tudo produto. Assim como se consome chiclete se consome um animal. Está tudo ali reduzido a condição de produto para o consumo. Não há nada ali que faça pensar na condição da vida animal. Ao contrário da situação da oferenda em que a pessoa que está oferecendo se identifica com aquele animal, fala com ele dá recados e elabora a restituição que integra a dinâmica do ciclo vital, a circulação de axé. Na comunidade terreiro inclusive não é permitido maltratar ou matar qualquer animal. Embora como vimos no início da entrevista a função do caçador do predador acompanha a natureza humana, algo característico da espécie, há diferentes contextos...Agora o que não podemos é aceitar a hipocrisia das críticas vindas do preconceito...

Ejo
 Escultura de Marco Aurélio Luz

Para conhecer a entrevista na íntegra consultem postagens antigas do blog e o SEMENTES Caderno de Pesquisa,Vol. 3,nº5/6 de 2002 pela Editora da UNEB.

  
Constituição da Bahia
CAPÍTULO XV
Da Cultura

Art. 275 -É dever do Estado preservar e garantir a integridade, a respeitabilidade e a permanência dos valores da religião afro-brasileira e especialmente:
I - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e outros bens de valor artístico e cultural, os  monumentos, mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados à religião afro-brasileira, cuja identificação caberá aos terreiros e à Federação do Culto Afro-Brasileiro;
II - proibir aos órgãos encarregados da promoção turística, vinculados ao Estado, a exposição, exploração comercial, veiculação, titulação ou procedimento prejudicial aos símbolos, expressões, músicas, danças, instrumentos, adereços, vestuário e culinária, estritamente vinculados à religião afro-brasileira;  
III- assegurar a participação proporcional de representantes da religião afro-brasileira, ao lado da representação das demais religiões, em  comissões, conselhos e órgãos que venham a ser  criados, bem como em eventos e promoções de caráter religioso; 
IV - promover a adequação dos programas de ensino das disciplinas de geografia, história, comunicação e expressão, estudos sociais e educação artística à realidade histórica afro-brasileira, nos estabelecimentos estaduais de 1º, 2º e 3º graus.


domingo, 5 de maio de 2013

Abaixo-assinado Moção de Repúdio ao Vereador Marcell Moraes


Para a Câmara Municipal dos Vereadores do município de Salvador/BA
 MOÇÃO DE REPÚDIO Nº 01/2013
 
Excelentíssimo Presidente da Câmara de Vereadores do município de Salvador/BA, o Senhor Paulo Câmara.

O Instituto da Tradição e Cultura Afro-Brasileira – INTECAB e os Religiosos de Matriz Africana, que abaixo subscrevem, solicitam que envie esta Moção de Repúdio ao Excelentíssimo Vereador Marcell Carvalho Moraes, Partido Verde – PV, que em razão da proposta do Projeto de Lei que proíbe o sacrifício e mutilação de animais em Salvador/BA, pelos motivos a seguir expostos:

Considerando o que INTECAB tem por finalidade a preservação dos valores espirituais, culturais e científicos emanados da Religião Tradicional Africana no Brasil, na África e nas Américas;
Considerando o que está estabelecido na Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 5º nos seguintes incisos:
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
Considerando o que está estabelecido na Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 215º.
O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
Considerando o que está estabelecido na Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 216º.
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Considerando que a Religião de Matriz Africana é de tradição milenar, em que os ensinamentos e práticas são transmitidos por meio da oralidade;
Considerando que a essência da Religião de Matriz Africana está estabelecida nos quatro elementos da natureza (terra, fogo, água e ar), o respeito, a proteção, a preservação e o manejo sustentável da fauna e flora são os preceitos para a continuidade desta Religião;
Considerando que os animais são sagrados para a Religião de Matriz Africana, pois o seu Asé (força) será transmitido no momento de entrega aos orixás, N´kisi, voduns, caboclos, encantados, as forças que emanam da natureza, e posteriormente servirá de alimento principalmente ao público que participa das festividades e os moradores do entorno, promovendo a segurança alimentar.
Considerando que essa proposta de Projeto de Lei promove a intolerância religiosa aos praticantes da Religião de Matriz Africana.
            Por isso apresentamos a presente Moção de Repúdio ao Vereador Marcell Carvalho Moraes, Partido Verde – PV, que foi eleito de forma participativa e democrática e que no momento, contradiz diretamente o princípio constitucional de liberdade de consciência, crença e o livre exercício do culto religioso.
            Salvador/BA, 05 de maio de 2013.
Raidalva Santos
Iyalorixá do Ilê Axé Oyá Tolá
Presidente de Honra da Associação dos Amigos do Ilê Axé Oyá Tolá
Representante do INTECAB na Comissão Estadual para a Sustentabilidade dos Povos e Comunidades Tradicionais- CESPCT-BA
 Representante da Comissão de Inter-Comunidades do INTECAB/BA
Para assinar essa moção de repúdio entre na página
http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2013N40143
Participe dessa iniciativa!

ENQUANTO ISSO NO RECÔNCAVO DA BAHIA...

Cerca de 22 mil frangos morreram por conta da falta de energia na Granja Carolina, no distrito de Belém, que fica no município de Cachoeira, no Recôncavo baiano. O proprietário do estabelecimento, Raimundo Pompilio, prestou queixa na delegacia da cidade contra a Coelba. De acordo com ele, o galpão ficou sem energia entre 10h30 e 21h desta quarta-feira, 1º.
'Ligamos para a Coelba, mas os funcionários só foram aparecer na granja às 21 horas, mas o desastre já tinha acontecido', reclama. De acordo com ele, a falta de energia prejudicou a ventilação do galpão onde as aves estavam, o que levou a morte dos animais por calor excessivo.
Pompilio disse que as galinhas tinham 49 dias de vida e estavam prontas para venda. As mortes causaram prejuízo de cerca de R$ 200 mil, de acordo com o empresário..."
Para saber mais visite a página de onde extraímos essa notícia: http://www.bahiaja.com.br/economia/noticia/2013/05/03/22-mil-frangos-morrem-em-cachoeira-por-falta-de-energia-da-coelba,59737,0.html#.UYbFHFa5djo


Imagem disponível em http://g1.globo.com/bahia/noticia/2013/05/adab-confirma-morte-de-mais-de-20-mil-frangos-por-estresse-calorico.html

Imagem disponível em 

UM DESABAFO:RECALQUE AO LEGADO DO POVO AFRICANO-BRASILEIRO.


 
Por Sérgio Bahialista

Minha busca enquanto educador sempre foi fomentar a Descolonização da Educação e, acima de tudo, enaltecer a beleza ser/estar do humano nesse nosso mundo. O principal problema é que temos uma maré do racismo contra nossa caminhada. E o pior deles é o racismo institucional.
Fui feliz da vida comprar o livro “Educação nos Terreiros e como a escola se relaciona com crianças de candomblé”, da renomada autora Prof. Drª Stela Guedes Caputo (essa chamo de Doutora com orgulhooo!), para dar de presente de aniversário para a minha malunga querida Mille Caroline.
Ao chegar numa grande livraria de um shopping em Salvador,comecei a procurar na seção de Educação, já que se trata de um livro científico, de caráter educativo e com muitas riquezas de resultado de uma pesquisa de Doutorado da autora. Por “morrer” de procurar e não achar o livro nessa seção, pedi ajuda a uma das assistentes e a mesma foi no sistema e viu que o livro estava na seção de Esoterismo. PASMEM!
Minha cara de espanto e de revolta foi nítida. Argumentei na “bucha” com ela:
 – Mas esse livro é um livro sobre EDUCAÇÃO. O que ele faz na seção de esoterismo? Só porque trata de crianças do candomblé? Que absurdo! Chame sua Gerente, por favor!” . Pois é, armei logo o barraco!
Ela me disse que não podia fazer nada porque os livros eram catalogados pela central da livraria,que fica em São Paulo.
Até quando vamos aguentar esse racismo institucional? Aí vc pode me dizer que foi apenas um engano e que não tem nada de racismo nisso. E eu te digo: É RACISMO , SIM! A partir do momento que se destitui o cunho cientifico e educativo de um livro dessa magnitude e o resume a conteúdo “esotérico”, é racismo. Sei que muito do esoterismo também tem grande relevância e merece profundo respeito, mas aqui a questão é outra, pois “o buraco é bem mais embaixo”, meu irmão. 
O “simples” fato de relegar as religiões de matriz africana a “esoterismo” já é uma forma de recalque, de minimizar o grande valor que elas têm, para o povo africano-brasileiro. E isso é um reflexo da educação colonizada que fomenta no espaço educativo institucionalizado que insistimos em chamar de ESCOLA (o que já deixou de ser há muuuito tempo! Para quê essa escola?) a prática da discriminação do legado cultural, ancestral que nossas crianças de terreiro carregam.
 Quando será que nossas ações afirmativas, nossas frentes de trabalho nas Universidades da vida, nos grupos de pesquisa, nas pesquisas de Mestrado e Doutorado, no movimento Hip Hop, nas mobilizações comunitárias, centros Pastorais Afro, na Coisa Forte Produções, no Sarau Bem Black e Sarau da Onça, vão impactar as instituições, seus dirigentes, para que esse erro histórico seja dizimado?
Às vezes fico “desesperançoso” ao ver coisas desse tipo, mas ao mesmo tempo, olho para tantos exemplos de afirmação desses valores ancestrais, nos nossos espaços educativos, nas nossas comunidades e vejo que podemos SIM combater tudo isso.
Fica aqui minha nota de repúdio à livraria que estabeleceu essa infeliz classificação racista para as obras dedicadas a afirmação dos valores da civilização africano-brasileira, e a todo sistema organizado que insiste em arquitetar formas de recalcar o respeito à diversidade e pluralidade cultural dos povos milenares, que formam nossa identidade.
E como diria Raulzito: e fim de papo!
P.S: Antes de argumentar contra o que digo, por favor, leia esse livro e depois me diga se é isso mesmo.