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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 30 de julho de 2011

“O POVO DE OMO”(Tribus de L' OMO)

Fotografias  e  texto de HANS SILVESTER
Tradução Narcimária Luz

No coração da Etiópia em séculos de "modernidade", Hans Silvester fotografou durante seis anos povos onde homens, mulheres, crianças e idosos  gênios de uma arte ancestral. A seus pés, o rio de Omo à cavaleiro sobre um triângulo Etiópia, Sudão e Quênia no grande vale do Rifit que se separa lentamente da África, uma região vulcânica que fornece uma imensa paleta de pigmentos ocre, vermelho, caulin branco, verde cobre, amarelo luminoso ou cinza de cinzas.
Eles têm o gênio da pintura e seus corpos de dois metros de altura é uma imensa tela. A força de sua arte está em três palavras: os dedos, vitalidade,criatividade e a liberdade.
Eles desenham com as mãos abertas e com  as extremidades das unhas às vezes com uma ponta de madeira ou um caule amassado. Os gestos vivos, rápidos,criativos e espontâneos, o movimento essencial que procuram os grandes mestres contemporâneos quando eles têm muito a aprender tentando de tudo esquecer.Somente o desejo de se decorar,de seduzir,de estar belo,um jogo e um prazer permanente.
Basta-lhes mergulhar os dedos no barro e em dois minutos sobre o peito, os seios, o púbis, as pernas, nasce nada menos que um Miró, um Picasso, um Pollock, um Tàpies, um Klee...

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Vamos ser justos:não dá para comparar.
São valores  civilizatórios completamente diferentes...O que vale a pena pensar e extrair  dessas imagens, são as linguagens que constituem as elaborações de mundo e os vínculos de sociabilidade com/através da natureza e os mistérios que ela carrega, dando-lhes infinitos repertórios de comunicação  necessários à vida e os laços de comunalidade que ela promove. 


TOCANDO PARA MUDAR !!!

Imagens disponíveis no acervo da Fundação Playing For Change

UM MOMENTO PARA ESCUTAR,SE EMOCIONAR E APRENDER ..."PROBLEMAS,NÃO MAIS"(War/No More Trouble)

Temos o prazer de apresentar a composição No More Trouble de Bob Marley,numa bela e emocionante versão de músicos e cineastas de vários países mobilizados pela Fundação Playing For Change.
No vídeo a força das imagens,vozes,danças,performances e a adesão das  comunidades que participam das gravações são por demais preciosas.
A seguir  a letra traduzida para o português,mas reparem que a versão acrescenta outros elementos importantes que marcam a mensagem do saudos Bob Marley. 
Para saber mais sobre a Fundação Playing For Change. visite o site:
http://playingforchange.com/introduction_portugese_brazilian.php


Escutem com o coração!

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(Nós Não precisamos) Não, não precisamos (de mais problemas) De mais problemas !


(Nós Não precisamos de mais problemas.).


(Nós Não precisamos) Não precisamos não(não mais) problemas !


Nós Não precisamos de problemas.


(Não precisamos de mais problemas)


Faça amor e não guerra ! Pois não precisamos de problemas


O que precisamos é de amor (amor)


Para guiar e proteger nós mesmos (mesmos)


Se você se considera "melhor" que o resto (amor)


Ajude os fracos se você é forte agora (forte)


Nós não precisamos de problemas, (precisamos não.. problemas)


O que precisamos é de amor (O que precisamos é e amor, suave amor) Oh, não !


Nós não precisamos, nós não precisamos, de mais problemas !


Deus sabe, nós não precisamos de problemas !


(Nós não precisamos) Nós não precisamos problemas (não mais problemas),


Não mais problemas, não mais problemas !


Fale felicidade ! (Triste o suficiente sem suas aflições)


Vamos lá, todos, e falem sobre amor. (Tristes o suficiente sem seus inimigos.)


Nós não precisamos de problemas(Nós não precisamos dos seus problemas)


O que precisamos é amor, agora (O que precisamos é amor)


(Nós não precisamos) Oh, nós não precisamos de mais problemas


Nós não precisamos, não, nós não precisamos não de problemas !


Nós não (precisamos), não, irmãos e irmãs (não mais problemas)


Eles dizem que nós não precisamos de outra pequena boca faminta para alimentar


Mas o que quero dizer em dobro, é que realmente não precisamos de mais problemas !



Vamos todos ficar livres de problemas !


Sem mais problemas para me preocupar !


O que precisamos é de amor. (amor)


Para guiar e proteger nós mesmos (mesmos)


Olhe para baixo se você está "por cima" (por cima)


Ajude os fracos se você é forte agora (forte)


Fale felicidade ! (Triste o suficiente sem suas aflições)


Eu mendigo pra você falar de amor (Triste o suficiente sem seus inimigos.)


Nós não precisamos de problemas, nós não precisamos de problemas.


Nós não precisamos de problemas


O que precisamos é de amor !


Nós não precisamos, não mais de problemas, nós não precisamos não mais de problemas !


Problemas não precisamos(nós não precisamos), Deus sabe !


Nós não precisamos de mais guerra (não mais problemas).


Não mais problemas, nós não precisamos não mais, mais problemas.



COMPONDO LINGUAGENS E VALORES PARA A EDUCAÇÃO ATRAVÉS DOS CONTOS INDÍGENAS E AFRICANO-BRASILEIROS -PARTE II

Por Daniela Cidreira

A importância da introdução da História da África no currículo nacional reside no fato principal da relevante presença das raízes africanas na formação da nossa nação e da valorização da ascendência de mais da metade do povo brasileiro. A narrativa histórica sobre a África pré-colonial vai resultar na informação sobre um povo que teve sua história negada, permitindo a jovens e crianças desenvolverem uma capacidade crítica e reflexiva quanto à sua própria condição de descendente de africano.

Imagem disponível em

A Lei 10.639/03 e a 11.465/08 são resultado de uma luta histórica. Várias gerações de povos indígenas e afrobrasileiros vêm combatendo o recalque à alteridade própria de seus povos, bem como outros segmentos da sociedade que combatem a discriminação em vários âmbitos, reconhecem que tais práticas são frutos, muitas vezes, do desconhecimento.



Imagem disponível em http://educarencantando.blogspot.com/2010/07/escolas-indigenas-precariedades.html

Por isso é imprescindível tornar possível por meio de ações e políticas educacionais, o conhecimento da história e da compreensão de sua cultura.
Ao se propor uma mudança curricular dessa dimensão, a meta, que envolve a história e a valorização de um povo, é justamente integrar este povo que vive à margem das políticas educacionais e dos currículos práticos ou vive das marcas de um passado ainda não revelado e valorizado para os seus descendentes. Por isso, essas proposições jurídicas se impõem como um grande desafio para o educador contemporâneo, que assume a responsabilidade também de transformar a realidade da pedagogia racista e do recalque, pensando em estratégias mais profícuas que integrem essas histórias e perspectivas de mundo nos currículos escolares.

Imagem disponível em


O projeto Dayó: compartilhando a alegria socioexistencial em comunalidades africano-brasileiras nos aproximou da Associação Crianças Raízes do Abaeté – ACRA localizada no bairro de Itapuã em Salvador.
Aproximarmo-nos de Itapuã por conta da monitoria de pesquisa, bem como toda pulsão das comunalidades que ali existem, tornou ainda maior o desejo de conhecer e registrar alguns aspectos sobre Educação a partir do conhecimento acumulado nessa territorialidade de base aborígine e africana.
Nosso desafio: destacar através do universo dos contos indígenas e africanos aspectos que promovem os laços de sociabilidade nessa territorialidade, resgatando assim a história do lugar como forma de fortalecer as identidades socioculturais das crianças dessas comunalidades presentes em Itapuã.




IIº Festival Afrobrasileiro de Arte e Educação da ACRA em dezembro de 2010

A opção de trabalhar a partir da linguagem do universo simbólico dos contos originários desses povos surge da inquietação em perceber que essa e tantas outras formas de expressão aborígine e africana são excluídas da prática pedagógica da maioria de nossas escolas e, por conseqüência disso, nossas crianças ficam sem uma referência que as remetam à sua ancestralidade e com uma grande lacuna no que se refere à construção de sua identidade.
Toda a conjuntura ideológica de recalque à alteridade civilizatória aborígine e africana que vem sendo praticada ao longo de séculos atinge de forma profunda e cruel a consciência identitária de várias gerações no Brasil, sobretudo as crianças. A riqueza cultural e formas de expressão próprias dessas civilizações milenares se constituem estratégias possíveis e viáveis para serem trabalhadas com as crianças de forma a promover situações de resgate e afirmação de sua identidade civilizatória.
A Associação Crianças Raízes do Abaeté – ACRA- Associação Crianças raízes do Abaeté é uma instituição não-governamental que atende crianças e jovens da territorialidade de Itapuã. Surge como iniciativa de personalidades importantes e expressivas do local, no intuito de intervir nos aspectos social, econômico e cultural da comunidade, que vivencia em seu cotidiano situações bastante adversa, dentre elas a violência e a desvalorização e deterioração do patrimônio cultural e natural que caracteriza Itapuã.


Daniela Cidreira realizando uma oficina de contos afrobrasileiros no Departamento de Educação do Campus I UNEB
A partir desse contexto sócio-cultural constatado na territorialidade de Itapuã, surge a inquietação e necessidade de estudar de que forma os contos indígenas e africano-brasileiros, enquanto linguagem didático-pedagógica podem abrir perspectivas de resgate e valorização do legado histórico-cultural das civilizações que caracterizam Itapuã.
A territorialidade na qual as crianças do ACRA estão inseridas é marcada pela ancestralidade indígena tupinambá, africana e africano-brasileira a qual permeia todo o viver cotidiano da comunalidade de Itapuã. Porém o conjunto de valores urbano-industriais tem adentrado nesse contexto e ameaçado os vínculos de sociabilidade de seus integrantes. Surge daí a necessidade de se resgatar e fortalecer os valores identitários, herança milenar desses povos inaugurais, sobretudo com as crianças, gerações herdeiras e sucessoras dessa territorialidade.
O recurso lúdico-estético dos contos se constitui em excelente e prazeroso meio para se trabalhar com crianças questões ligadas a valores identitários e culturais em comunalidades africano-brasileiras e indígenas. Os contos assumem um lugar especial no âmbito educacional da cultura de origem desses povos, que traduzida na tradição oral é uma importante estratégia didático-pedagógica para comunicar e transmitir valores.

Daniela Cidreira confraternizando-se com Narcimária Luz ao final da oficina de contos afrobrasileiros

A análise do trabalho a partir dos contos originários dos povos constituidores dessa territorialidade com crianças da ACRA é de grande relevância no que tange à afirmação e valorização do continuum civilizatório africano e ameríndio nessas comunalidades.
Por isso este trabalho tem por objetivo principal constituir linguagens pedagógicas alicerçadas nos contos indígenas e africano-brasileiros, afirmando os valores dessas civilizações que caracterizam a identidade das comunalidades de Itapuã. Para isso torna-se necessário conhecer seus aspectos históricos, sociais e culturais, analisando e explorando a diversidade de linguagens que as compõem. Para isso selecionamos do acervo de contos dos povos indígenas e africano-brasileiros temas que aproximem as crianças das suas comunalidades, além da composição de uma abordagem teórico-metodológica que recomende a sua utilização nos diversos espaços de Educação em Salvador.
A pesquisa foi desenvolvida na ACRA- Associação Crianças Raízes do Abaeté, situada no Parque Metropolitano do Abaeté e se constitui como um espaço socioeducativo que desde 2005 atende cerca de 120 crianças e jovens com idade entre 6 e 17 anos, moradores de Itapuã e que cursam o Ensino Fundamental e o Ensino Médio em escolas públicas da localidade.
Partimos de uma descrição e análise das atividades que foram desenvolvidas ao longo do período da monitoria na ACRA e que se inserem na perspectiva de constituição de linguagens a partir dos contos nas mais diversas iniciativas socioeducativas desenvolvidas na Associação.
A Associação Crianças Raízes do Abaeté- ACRA acolhe perspectivas de linguagens lúdico-estéticas que afirmam a dinâmica sócio-histórica e cultural do bairro de Itapuã, buscando prover crianças e adolescentes de uma ambiência socioeducativa que fortaleça suas identidades culturais e permita-lhes exercer sua cidadania. Para isso oferece cursos e busca resgatar com ações constantes os aspectos culturais e a herança africana e aborígine.
Aliado às metas e perspectivas da ACRA, o Dayó enquanto projeto teórico-metodológico se propõe a acolher iniciativas e ações que visem realçar a percepção socioexistencial das civilizações africanas e aborígines, bem como suas comunalidades, modos de sociabilidade, elaboração de mundo, formas de resistência e continuidade de seu patrimônio civilizatório. Para isso parte das elaborações do rico repertório lúdico-estético dessa comunalidade.
A perspectiva metodológica adotada é etnográfica de natureza qualitativa, visto que lida com a subjetividade das inter-relações culturais levando em consideração o contexto em que são geradas. A opção metodológica atendeu às necessidades da pesquisa por meio de uma observação participante que permitiu a inserção e contato com a vida da comunidade e da cultura, possibilitando ricas vivências e revelando valores, significados, vínculos de sociabilidade e perspectivas de mundo. Foram utilizados métodos etnográficos como pesquisa de campo, pesquisa documental, pesquisa iconográfica, entrevistas semi-estruturadas e pesquisa bibliográfica ancorada nas perspectivas de autores como: Narcimária Correia do Patrocínio Luz, Marco Aurélio Luz, Daniel Munduruku, Mestre Didi e Hampâté Bâ.
A monografia está organizada em quatro capítulos que intercambiam e consolidam nossas reflexões. O primeiro capítulo trata das perspectivas e espaços para a construção de uma educação pluricultural. Nele nos dedicamos a apresentar ao leitor as iniciativas, perspectivas e espaços que impulsionaram e deram forma à pesquisa, destacando o PRODESE e o projeto Dayó como iniciativas âncoras em Educação para se compreender e restituir a compreensão e dignidade da alteridade civilizatória aos descendentes das populações aborígines e africanas.
Esse capítulo busca também explorar a arkhé de Itapuã, visando aproximar o leitor da dinâmica sócio-existencial das comunalidades presentes no bairro, além de caracterizar a ACRA como importante pólo constituidor de perspectivas e linguagens das culturas de raiz e revelar emocionantes histórias de vida de personalidades destacadas em Itapuã.
O segundo capítulo aborda os aspectos metodológicos da pesquisa, descrevendo o contexto em que esta foi gerada, seu tempo de duração, desenvolvimento, as perspectivas metodológicas adotadas, bem como os instrumentos utilizados, dentre eles entrevistas, fotos e outros. Além de caracterizar a população envolvida e destacar os critérios utilizados na seleção dos contos e o que buscamos explorar através deles.
O terceiro capítulo mostra o universo simbólico dos contos indígenas e africano-brasileiros, revelando a visão de mundo dessas civilizações e a importância da tradição oral na cultura desses povos. A ideologia da escrita e o recalque à alteridade própria são questões que também foram abordadas no capítulo, bem como as diferenciadas formas de comunicação nessas culturas, reveladas e destacadas na dimensão ético-estética dos contos.
O quarto e último capítulo dedica-se a relatar as construções e vivências dos contos e de seus desdobramentos metodológicos com as crianças na ACRA. Contemplando, assim, as linguagens, territorialidades, estética, elementos éticos, filosofia e as impressões das crianças ao longo dessa experiência. Por fim, a conclusão que trouxe aspectos que evidenciaram as nossas impressões diante das inúmeras e enriquecedoras possibilidades pedagógicas a partir da perspectiva dos contos, que valorizam e resgatam linguagens e heranças civilizatórias milenares dos povos aborígines e africanos.
O tema desenvolvido nesta pesquisa assume grande relevância, sobretudo devido à urgência de se afirmar os valores identitários civilizatórios dessas comunalidades que se constituem um pólo irradiador de novas e transformadoras perspectivas às gerações futuras locais e outras além de seus limites territoriais. Esta análise tem a intenção e responsabilidade de intervir de forma significativa e reflexiva, nos campos de debate a cerca das possibilidades estratégicas lúdico-estéticas a serem desenvolvidas em âmbitos educacionais, de forma a contemplar a diversidade cultural de nossa nação.


Equipe PRODESE no encerramento da oficina DAYÓ:Pluralidade Cultural e Educação na Bahia.Da esquerda para direita:Daniela Cidreira,Jackeline Pinto do A. Divino,Narcimária Luz,Sara Soares e Magno Santos.

 Pretendemos, portanto, a partir do que foi anunciado da trajetória de “Compondo linguagens e valores para a educação através dos contos indígenas e africano-brasileiros”, proporcionar ao leitor(a) a percepção da riqueza civilizatória herança desses povos, aproximando o educador contemporâneo de perspectivas  metodológicas e práticas didático-pedagógicas que contemplem e valorizem as linguagens constituídas a partir do universo simbólico aborígine e africano-brasileiro. Além de aprofundar a arkhé da territorialidade de Itapuã, promovendo assim o fortalecimento da auto-estima e identidade das nossas crianças, geração sucessora e herdeira desse imenso patrimônio cultural.

sábado, 16 de julho de 2011

COMPONDO LINGUAGENS E VALORES PARA A EDUCAÇÃO ATRAVÉS DOS CONTOS INDÍGENAS E AFRICANO-BRASILEIROS-PARTE I

Por Daniela Santana Cidreira Dos Santos


Professora Daniela Cidreira no âmbito do Iº Festival Afrobrasileiro de Arte e Educação da ACRA dezembro/2009

O interesse pela temática indígena e africano-brasileira em educação surgiu de forma bastante tímida no contato com disciplinas como: Formação da Sociedade Brasileira, Antropologia, Etnologia do Brasil e Identidade, Relações Interétnicas e Indigenismo vivenciadas no curso de Ciências Sociais na Universidade Federal da Bahia- UFBA, no período entre 2000 e 2006.
Posteriormente, na ocasião do curso de Pedagogia na Universidade do Estado da Bahia- UNEB o desejo tímido e adormecido foi despertado, sobretudo no contato com a disciplina Processo Civilizatório e Pluralidade Cultural e com a referência inicial de grandes personalidades que já desenvolvem trabalhos nessa perspectiva da diversidade e pluralidade cultural, através da saber professora Narcimária Luz e a colega de curso e Pedagoga Rosângela Accioly.
O primeiro contato prático e mais específico com a temática da diversidade e pluralidade cultural se deu com a minha participação enquanto monitora na Mostra Africano-brasileira de Perspectivas Didáticas, realizada em 2008 no departamento de Educação do Campus I da Universidade Estadual da Bahia- UNEB.


Hall do Departamento de Educação do Campus I da UNEB na  Mostra Africano-brasileira de Perspectivas Didáticas 

A Mostra no âmbito da disciplina Processo Civilizatório e Pluralidade Cultural mobilizou graduandos/as de Pedagogia sob a orientação da Professora Doutora Narcimária Luz.
A disciplina Processo Civilizatório e Pluralidade Cultural se caracteriza como um processo longo de questionamentos teórico-empíricos, que se voltam para a formulação de perspectivas educacionais que enfatizem os valores e linguagens dos processos civilizatórios africano e ameríndio nas Américas de modo especial Brasil-Bahia.
A Mostra Africano-brasileira de Perspectivas Didáticas envolveu exposições artísticas dos alunos da disciplina e teve por objetivo principal mostrar as inúmeras e ricas possibilidades de se explorar o repertório lúdico-estético da cultura africano-brasileira e indígena, enquanto recurso didático para salas de aula de Educação Infantil e Ensino Fundamental. O tema da presente monografia começa a assumir forma a partir dessas experiências e surge, de forma mais substancial, no âmbito das realizações das atividades desenvolvidas como pesquisadora no Programa de Descolonização e Educação- PRODESE, que se propõe a constituir em Educação conhecimentos que contemplem as alteridades civilizatórias aborígine,africana e sua coexistência com os valores da civilização européia que tende a ter supremacia nas políticas de Educação.Assim,através das vivências no projeto de extensão Dayó: compartilhando a alegria socioexistencial em comunalidades africano-brasileiras uma das vertentes do PRODESE, pude participar de atividades de extensão na Associação Crianças Raízes do Abaeté – ACRA.



Um dos stands da equipe responsável por músicas afrobrasileiras


Equipe PRODESE/DAYÓ no âmbito de uma oficina de contos afrobrasileiros no departamento de Educação do campus I na UNEB.
Da direita para esquerda as professoras Sara Soares,Daniela Cidreira e Rosângela Accioly.


Como pesquisadora do PRODESE- Programa Descolonização e Educação
da Universidade do Estado da Bahia-UNEB que integra o Diretório de Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico- CNPq sob a coordenação da Profª. Drª. Narcimária Correia do Patrocínio Luz, participei do evento CONFELE-IV CONFERENCE INTERNATIONAL ON EDUCATION, LABOR AND EMANCIPATION que se realizou entre os dias 16 a 19 de junho de 2009 no Hotel Tropical, Salvador- Bahia, apresentando o painel Dayó: compartilhando a alegria socioexistencial em comunalidades africano-brasileiras. O objetivo da CONFELE é divulgar as iniciativas na área de Educação que valorizam e afirmam a diversidade cultural como canal importante para a “equidade, potencialização das ações sociais”.
Ainda enquanto monitora de extensão e pesquisadora do PRODESE participei da II Semana de monitoria de ensino e de extensão- UNEB, realizada nos dias 1 e 2 de outubro de 2009 no Hotel Vilamar, Salvador-Ba. Compondo a mesa na apresentação das perspectivas e vivências a partir do projeto Dayó: compartilhando a alegria socioexistencial em comunalidades africano-brasileiras e seu desenvolvimento na ACRA- Associação Crianças Raízes do Abaeté.
No âmbito da monitoria de extensão foi criado o blog da Acra (http://blogdoacra.blogspot.com), com o objetivo de divulgar as atividades realizadas na ACRA, afirmar a diversidade cultural que caracteriza a territorialidade de Itapuã e os conhecimentos que dela se desdobram, estabelecendo vínculos de sociabilidade importantes para promover o direito à alteridade das nossas crianças, jovens e suas famílias, além de possibilitar a socialização e troca de experiências. No blog são publicadas as atividades realizadas na ACRA, fotos, entrevistas, premiações, indicações de bibliografias, matérias e sites que compartilham da mesma proposta teórico-metodológica.
Constituída de uma rica e interessante estrutura no que se refere aos conteúdos abordados e ao seu grau de repercussão, o blog da ACRA alcança o segundo lugar no concurso da destacada Revista África e Africanidades/Edição 2009, Blog Nota 10 – África e Africanidades, que selecionou os melhores blogs tendo como critérios: conteúdo, criatividade, apresentação, quantidade de postagens e de comentários.
A Revista África e Africanidades é um periódico online com publicação trimestral desde maio de 2008, com acesso totalmente gratuito. Surge da iniciativa de um grupo de professores, pesquisadores, estudantes, técnicos e especialistas, de modo que não é vinculada a uma instituição de ensino, pesquisa ou empresa da iniciativa privada. Dessa forma vem preenchendo destacado espaço na vida cultural e acadêmica brasileira, pois é um dos poucos periódicos nacionais inteiramente dedicados a temas africanos, africano-brasileiros e africano-latinos que agrega conteúdos acadêmicos, de informação, entretenimento e subsídios para a prática pedagógica e pesquisas escolares da educação básica.
 Participei como coordenadora do I Festival de Arte Educação Africano-brasileira da ACRA, realizado no dia 11 de dezembro de 2009, na quadra da instituição que fica localizada no Parque Metropolitano do Abaeté, em Itapuã. O Festival envolveu as diversas linguagens africano-brasileiras que são exploradas enquanto recursos didático-pedagógicos na instituição. Linguagens essas que expressam o modo de viver, de ser e de estar no mundo que emanam das comunalidades de Itapuã.
O evento teve como principal objetivo destacar as linguagens que se desdobram das formas de comunicação das comunalidades presentes nessa territorialidade, repercutindo esse repertório lúdico-estético das culturas de raiz como recurso didático para salas de aula.


Crianças da ACRA no I Festival Afrobrasileiro  de Arte Educação da ACRA

O Festival trouxe a apresentação do auto-coreográfico a partir do poema “Itapuã, a canção do infinito”, de autoria de Narcimária Luz, que envolveu dança e dramatização ao som da orquestra de ritmos e sons da ACRA, exposição de artes plásticas, esculturas, arte do grafite, criações e recriações gráficas das crianças nas vivências a partir dos contos  de origem aborígine e africana.

“Itapuã, a canção do infinito”, de autoria de Narcimária Luz sob a direção cênica de daniela Cidreira ,Rosângela Accioly e Sdney Argolo

Além de mostra culinária, apresentações de capoeira e maculelê, contando com participações valiosas de artistas e autores como Januária do Patrocínio,  Marco Aurélio Luz e outras importantes personalidades de Itapuã.
Todas essas experiências somadas despertaram o forte interesse sobre a pesquisa de questões e conhecimentos tão cruciais e indispensáveis à construção da nossa identidade nacional e pessoal, reconhecendo e resgatando aspectos tão importantes que nos remetem à nossa ancestralidade indígena e africana e aos patrimônios culturais que são heranças dessas civilizações.
Sobre a importância desse resgate cultural e ancestral para a compreensão da diversidade cultural brasileira, afirma Luz:


"Para compreendermos o Brasil e a riqueza dos distintos patrimônios culturais que o caracterizam, é necessário enfocar o papel das distintas presenças civilizatórias como fontes de identidade das matrizes, sociabilidade, modos e estratégias de ocupação de espaços e territórios, afirmação existencial e emergência de condutas face a um outro diverso"

 E no que se  refere de forma mais específica à tradição cultural africana no âmbito do estado baiano e à sua pujança, Narcimária complementa que:
"(...) a Bahia abriga uma rica tradição cultural africana, uma das mais expressivas do mundo, e portanto, tem potencialidade para contribuir na estrutura de políticas, concepções e linguagens educacionais, a partir dos valores existenciais da sua população. Salvador, principalmente, é uma cidade que está a exigir, há muito tempo, uma educação democrática que se abra para a pluralidade, reforçando a identidade própria e os valores culturais que pulsam no seu cotidiano".

Por acreditar na coexistência entre distintas alteridades civilizatórias como via para a construção de uma educação mais igualitária e consistente, enquanto pretensão mais ampla buscamos por meio deste trabalho possibilitar a percepção de perspectivas pluriculturais didático-pedagógicas na educação, propostas na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 10.639/03 e 11.465/08 de 27 de março de 2008, que inclui no currículo oficial das escolas brasileiras o estudo da História da África, Cultura Africana e Cultura dos Povos Indígenas.
Conforme disposto no art. 26, da Lei n. 11.465/08:
Art.26 Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da áfrica e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.
A importância da introdução da História da África no currículo nacional reside no fato principal da relevante presença das raízes africanas na formação da nossa nação e da valorização da ascendência de mais da metade do povo brasileiro. A narrativa histórica sobre a África pré-colonial vai resultar na informação sobre um povo que teve sua história negada, permitindo a jovens e crianças desenvolverem uma capacidade crítica e reflexiva quanto à sua própria condição de descendente de africano.
As Leis 10.639/03 e  a 11.465/08 são resultado de uma luta histórica dos  movimentos sociais   que combatem o recalque à alteridade própria de seus povos, bem como outros segmentos da sociedade que combatem a discriminação em vários âmbitos, reconhecem que tais práticas são frutos, muitas vezes, do desconhecimento. Por isso é imprescindível tornar possível por meio de ações e políticas educacionais, o conhecimento da história e da compreensão de sua cultura.
Ao se propor uma mudança curricular dessa dimensão, a meta, que envolve a história e a valorização de um povo, é justamente integrar este povo que vive à margem das políticas educacionais e dos currículos práticos ou vive das marcas de um passado ainda não revelado e valorizado para os seus descendentes. Por isso, essas proposições jurídicas se impõem como um grande desafio para o educador contemporâneo, que assume a responsabilidade também de transformar a realidade da pedagogia racista e do recalque, pensando em estratégias mais profícuas que integrem essas histórias e perspectivas de mundo nos currículos escolares.

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Daniela Cidreira é formada em Ciências Sociais pela UFBA e Pedagogia pela UNEB.Integra a equipe de pesquisa do PRODESE/DAYÓ.

O artigo continuará  acompanhem a IIª parte.

O EDUCADOR DA ACRA SIDNEY ARGOLO CANTA O BAIRRO DA PAZ UMA DAS FRONTEIRAS COM ITAPUÃ

ACOMPANHEM O SUSTO DA MAMÃE PANDA.DIVERTIDO!!!

domingo, 10 de julho de 2011

ODARA PUPO:ESCULTURAS DE MARCO AURÉLIO LUZ

Mostra de esculturas de Marco Aurélio Luz no âmbito do Festival Awon Eso, evento promovido pela equipe PRODESE no Departamento de Educação do Campus I na Universidade do Estado da Bahia-UNEB em 2005.
Acompanhem o vídeo a seguir que apresenta algumas das esculturas de Marco Aurélio Luz, abordando as narrativas do complexo universo simbólico afrobrasileiro.
Elaborar e difundir a noção de arte sacra referente a estética da tradição religiosa afro brasileira procurando afirmar  e legitimar esse aspecto da cultura negra é um dos objetivos do PRODESE-Programa Descolonização e Educação.Assim,aproveitamos esse valioso espaço da “blogosfera” para divulgar através das obras escultóricas de Marco Aurélio Luz,Elebogi ati Oju Oba,aspectos da estética do sagrado que constituem  os vínculos de sociabilidade  da tradição afrobrasileira.

MONTEIRO LOBATO E O RACISMO,O PRINCÍPIO DO AVESTRUZ

Por Muniz Sodré

Muniz Sodré
Imagem disponível em http://www.blogdogusmao.com.br/v1/tag/muniz-sodre/
É velha conhecida dos linguistas a regra da quarta proporcional. Assim: se a criança sabe que o futuro do verbo comer é "comerei", ao conjugar o futuro de trazer, ela pode dizer "trazerei". Esta é a quarta proporcional, um fato lógico, enquanto "trarei" é um fato de língua, que se adquire com a experiência progressiva do idioma.
A regra pode ser aplicada a situações sociais mais complexas: Se alguém ofende judeus e é socialmente classificado como racista ou antissemita, parece lógico que ofensas dirigidas aos negros tipifiquem o racismo. Aliás, o antissemitismo, como bem mostra o antropólogo Louis Dumont em Homo Aequalis, é a forma princeps do racismo no Ocidente.
Trata-se de um tipo simples de raciocínio que pode servir para dirimir certas dúvidas quanto às ambigüidades da discriminação. Não comparece aqui nenhum vezo acadêmico, mas um exercício de observação de imprensa, considerando-se as repercussões do episódio "Monteiro Lobato/bloco carnavalesco "Que merda é essa?" sob o pano de fundo do incidente em Paris com John Galliano, estilista da Casa Dior (ver meus artigos “Monteiro Lobato vai para o trono?" e "Monteiro Lobato não precisa de buzinadas").



Imagem disponível em http://www.catherinebeltrao.com.br/inside.php?area=conteudo&titulo=decadas&subtitu

EUGENIA REDIVIVA

Todo mundo está a par, mas vale um pequeno resumo. De cara cheia do que não se sabe, o estilista que veste (agora, vestia...) celebridades insultou judeus em pleno Marais (bairro parisiense com uma presença numerosa de comércio e moradores judeus), além de proclamar o seu amor por Hitler. As conseqüências foram imediatas: Galliano não só foi demitido da Dior como as roupas que ele assinara para as atrizes da festa do Oscar deixaram de ser usadas. "Ele me enoja" foi a frase-síntese da atriz Natalie Portman para o episódio.
Agora apliquemos a regra da quarta proporcional a um caso fictício em que um estilista da língua, um bom escritor se refira ao povo de Israel nos mesmos termos em que Monteiro Lobato se referia aos negros, por exemplo, nos textos transcritos pelo jornalista Arnaldo Bloch na página "Logo" de O Globo (2/3/2011). Pergunte-se: o que aconteceria? Haveria escritor, editor ou colunista atestando que não havia racismo nenhum, que os tempos eram outros, que é ridículo buscar cabelo em ovo, que a consciência infantil jamais seria afetada pelas imagens de rebaixamento e que, no fundo, imaginação literária não é imagem em ação?


Temos certeza de que não haveria. Por quê? Pelo simples fato de que a comunidade judaica aprendeu a repelir a infâmia do racismo. Primeiro, ela sempre soube, por sua milenar tradição intelectual, da importância de se ter autoridade semântica sobre si mesmo; segundo, por meio do sofrimento infligido à consciência pela disseminação, realmente virótica, dos estereótipos negativos. O humor judaico conhece a diferença entre as auto-ironias e o discurso da infâmia.
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Ora, dirão, os tempos eram outros, até mesmo da pena esclarecida de um Sérgio Buarque de Hollanda partiu em certo momento (1920) um juízo negativo sobre a mestiçagem. Muito antes disso, entretanto, intelectuais brasileiros como Joaquim Nabuco e Rui Barbosa entenderam perfeitamente o papel desempenhado pelos africanos e seus descendentes na formação do povo nacional. Aliás, todos os próceres abolicionistas, claros ou escuros – Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, José do Patrocínio, Luiz Gama e outros – eram atravessados por uma espécie de "espírito" educacional, que não podia comportar juízos "lobatianos" sobre a condição negra.


Ilustração em livro de Lobato de Tia Nastácia Imagem disponível em http://humbertoadami.blogspot.com/2010/11/figura-do-negro-em-monteiro-lobato.html

O abolicionismo era em si mesmo um movimento educacional no sentido amplo da palavra, porque se tratava de preparar as elites dirigentes para o ingresso da nação brasileira no século 20 sob o signo de uma modernidade (de inspiração liberal e européia) incompatível com a escravatura e já muito atrasada frente à conjuntura internacional. Os intelectuais abolicionistas eram educadores coletivos, porque representavam aquilo que Nietzsche chamaria de "autoridade imperiosa em matéria de cultura" (a exemplo de Goethe, Hegel ou Schopenhauer na Alemanha). Por isso, podiam ser implicitamente reconhecidos como "instrutores públicos" ou indicadores da necessidade histórica de se mudar toda uma estrutura anacrônica.
Por outro lado, havia a eugenia, nome da pseudociência surgida em fins do século 19, com o fim de "melhorar" geneticamente a espécie humana, assim como se pode experimentar com animais. Era um anacronismo que arrefeceu nos EUA por volta dos anos 1930, transferindo-se para a Alemanha nazista, onde fez carreira. Além de anacrônico, era um pensamento violento, porque não disfarçava o desejo de morte do Outro considerado geneticamente inaceitável e, por derivação, culturalmente rebaixado pela consciência investida do pior do universalismo europeu. Mesmo deixando de lado o nome próprio, às vezes falando em nome da genética, a eugenia persistiu ao longo do século em escritos de antropólogos, sociólogos, ficcionistas, jornalistas e, pior de tudo, nas falas de professores que os recitavam para platéias em formação.

RECADO ENTENDIDO

Monteiro Lobato está agora em foco precisamente porque era um militante do movimento eugenista, com coragem para dizer o que pensava e sentia. "A escrita é um processo indireto de fazer eugenia", repetia ele, como que deixando aberto o convite, para além do que explicitava em suas cartas, a que se pesquisasse o conteúdo subliminar eugenista em seus textos. Era, reiteramos, racista confesso, sem meias falas. Ignorância é o encobrimento desse dado histórico
Por que se encobre? Podem ser muitas as respostas, mas simplifiquemos um pouco com a hipótese da existência nas elites brasileiras de um "princípio do avestruz", essa ave que, segundo a mitologia popular, enterra a cabeça na areia para não ver aquilo que teme. Na prática, o struthio camelus é bicho de visão e audição aguçadas, capaz de formidáveis patadas, se ameaçado. Mas o mito lhe atribui esse estranho comportamento, que costuma repercutir na vida real. A mídia, por exemplo, que é intelectual coletivo das classes dirigentes, caixa de ressonância dos fantasmas elitistas, sabe bem a hora de meter a cara no buraco.
Não é um princípio que se aplique a todas as situações espinhosas. Se um economista apresenta a realidade da discriminação em números e com a terminologia de praxe, as pessoas são capazes de assentir com a cabeça, a imprensa escrita é capaz de publicar com destaque a apresentação.

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A coisa toda pode até incomodar um pouco, mas o economês é discurso de poder, logo, tem vias de trânsito, ainda que levante contradições.
O problema aparece de fato quando o discurso antidiscriminatório tem conotações políticas com rebatimento sobre o plano das relações interpessoais. Aí o bicho pega e comparece o princípio do avestruz: ver o real é assustador. Como "ver" que aquele escritor com que nos embalaram desde a infância e cuja obra resultou naquela série de televisão tão afetuosa e tão vendida no exterior era pior do que o estilista John Galliano, já que não precisava sequer encher a cara ou o nariz para dizer o que pensava? Sobre a mídia ou sobre o cotidiano de cada cidadão, paira o princípio do avestruz como uma espécie de garantia para que não se veja a ignorância própria ou não se veja o tamanho da própria coragem existencial, certamente ínfimo diante da coragem de Lobato que, como frisamos, assinava embaixo da infâmia.
Não se trata, portanto, de censura nem de aplicação do "politicamente correto". Trata-se, sim, de dar nome aos bois, de encarar o real e aprender coletivamente a lidar com os paradoxos, as contradições e as ambigüidades de que também é feito o nosso meio vital, esse "mundo da vida" de que tanto fala o ilustre alemão Jürgen Habermas. Monteiro Lobato e sua literatura fazem parte do mundo da vida nacional.
Mas o Estado-Nação brasileiro ainda não está concluso: deve-se, mais do que nunca, continuar a ler Lobato, apenas, quem sabe, com o cotejo de predecessores como Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, José do Patrocínio ou de autores contemporâneos com uma visão mais generosa da espécie humana. Enfim, é preciso recuperar um pouco do espírito de instrução pública que bafejou o Brasil nas lides abolicionistas e republicanas. A mídia – será apenas a televisão? – tem-nos feito esquecer a brasilidade oitocentista, que presidiu ao nascimento da Nação independente, soterrando-nos com lixo cultural reciclado.


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Não procede a afirmação de que esse tipo de revisão é coisa de acadêmico. Academicamente, já fui orientador de tese de doutoramento sobre a literatura de Lobato, sem que se levantasse o tópico do racismo. Não eram majoritariamente acadêmicos aqueles que se incomodaram com a camiseta do bloco carnavalesco em que Lobato sambava com uma negra. Pareceu-me gente que entendia do recado: ele poderia dançar fox-trot, jamais sambar, Mais embaixo
Aqueles que se manifestaram na rua eram membros dessa corte crescente de cidadãos cada vez mais inspirados pelas lições anti-racistas da comunidade judaica. A "pretalhada" (termo lobatiano) é mesmo "inextinguível" (termo lobatiano) e está em luta pela representação social. Para quem quiser ampliar até a substância a metáfora do avestruz, vale tomar nota de que a carne dessa ave já não é rara em supermercado: enterrou a cabeça, dançou. Ao jornalista-avestruz, congelado na restituição "afetuosa" do passado, vale a advertência cantada por Zeca Pagodinho: "Camarão que dorme a onda leva".
Por isso tudo foi muito interessante a página "Logo" de O Globo.


Imagem disponívelem http://sustentanews.wordpress.com/2010/10/29/monteiro-lobato-e-o-racismo/

Transcrevendo trechos inequívocos de textos de Lobato em caixa alta, o jornalista Arnaldo Bloch, jovem e esclarecido membro da comunidade judaica do Rio de Janeiro, deu um recado implícito aos profissionais da leviandade: o buraco é mais embaixo. É assim mesmo que se deve entender o tom do recado. Arnaldo, se bem me lembro, foi da turma do saudoso Bussunda na ECO (UFRJ), na época em que dirigi a escola. Saudoso, sim, pois Bussunda, membro daquela mesma comunidade do Arnaldo, era um iconoclasta que contornava saudavelmente a hipocrisia do "politicamente correto".
Saudavelmente? Sim, na contracorrente do princípio do avestruz e longe, muito longe, da infâmia raivosa.

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Artigo publicado no http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view Sobre os artigos “Monteiro Lobato vai para o trono?" e "Monteiro Lobato não precisa de buzinadas" também consultar o mesmo link.

EM BUSCA DE UM BRASIL SEM ENERGIA NUCLEAR, ENTREVISTA COM WASHINGTON NOVAES

Por Anelise Zanoni





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Na visão do jornalista Washington Novaes, especialista em meio ambiente, o país poderia economizar 10% do que gasta com energia se investisse em programas de melhoramento de linhas de transmissão.
Questões financeiras e econômicas também permeiam o debate que envolve as consequências do acidente nas usinas nucleares do Japão. O momento, indicado pelo jornalista Washington Novaes, é de unir esforços para uma reflexão, em que é preciso reavaliar decisões.
Em entrevista concedida por telefone à IHU- On-Line (Instituto Humanitas Unisinos , da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS), o especialista em jornalismo ambiental afirma que “não precisamos desse tipo de energia, porque temos outros vários formatos, como a eólica (…), a energia solar, das marés e as biomassas (etanol e outras).” Além da posição dos governantes, ele critica também a imprensa quando diz que “os jornais estão fazendo uma cobertura muito ampla do caso” e afirma que o problema é “quando a fase passa e os jornalistas não discutem como resolver questões importantes.”


Atuando mais de 50 anos no jornalismo, Washington Novaes é especialista em temas de meio ambiente e povos indígenas. Atualmente, é colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Popular, consultor de jornalismo da TV Cultura, documentarista e produtor independente de televisão.
Confira a entrevista.


IHU On-Line – Como o senhor classifica a situação que o Japão vive hoje, após o terremoto e o tsunami?

Washington Novaes – A União Europeia já considera a situação apocalíptica. O nível mais grave de alerta já está soando, mas ainda não sabemos qual será o desfecho real, não sabemos o que pode ser feito. Para piorar a situação extremamente grave, a questão da energia nuclear corresponde para o Japão até 30 % da energia total do país. Essas usinas que estão em perigo foram desligadas por precaução e ninguém sabe prever os prejuízos ou o futuro de todo o problema. O governo já colocou milhões de dólares para reparar problemas imediatos, mas ainda é cedo para ter ideia. De qualquer forma, os prejuízos serão grandes.

Imagem disponível em http://www.cheapway-energy.com/language/pt/energia-solar/wind-energy-and-solar-power-are-cheaper-and-safer-than-nuclear-energy/

IHU On-Line – Qual o impacto dessas mudanças ambientais para o resto do mundo?


Washington Novaes – Há muito tempo, os críticos em energia nuclear assinalam que ela é problemática, por várias razões. Qualquer incidente pode trazer danos altos, como ocorreu em Chernobyl. Em vários lugares onde são feitas auditorias foram encontradas falhas, inclusive no Japão. E primeiro lugar, é uma fonte de energia cara e muito perigosa. Depois, é raro encontrar um ambiente apropriado para guardar os resíduos radioativos. O Brasil, por exemplo, mantém esse lixo dentro das usinas de Angra I e II. No licenciamento de Angra III foi estabelecido como condição encontrar uma solução definitiva para esta questão. Isso não foi encontrado até agora. Até mesmo nos Estados Unidos não há solução para o problema. Eles têm 104 usinas em operação, mas várias ainda estão em construção. O governo americano inclusive começou a implantar um depósito final para estes resíduos, na região da Sierra Nevada. O espaço destinado é embaixo da montanha, a 300 metros de profundidade. Fui ao local, acompanhado por um diretor de energia e gravei um comentário. Especialistas em sismologia, geólogos e hidrólogos têm feito objeções sobre o projeto. Eles acreditam que tais depósitos não deveriam estar em regiões com possíveis abalos, como é o caso da Califórnia. Também não há comprovação sobre o que pode ocorrer com os recursos hídricos. Entretanto, o especialista disse que está tudo sendo analisado, inclusive que teriam feito uma simulação em caso de terremoto. Perguntei sobre um possível abalo mais forte. Ele deu como garantia Deus… Mesmo que esse depósito dê certo, como os Estados Unidos conseguirão transportar resíduos perigosos de 104 usinas?


IHU On-Line – É possível pensar no desenvolvimento de um país sem a energia nuclear?


Washington Novaes – O pesquisador James Lovelock , por exemplo, acredita que não dá tempo para encontrar outras soluções para o planeta, já que as mudanças climáticas são constantes. É preciso diminuir a emissão de poluentes que transformam o clima. Entretanto, ele fala que a energia nuclear poderia resolver rapidamente o problema. Então, um grande crítico como ele também passou a ser defensor da energia nuclear. No caso brasileiro, poderíamos perguntar se o país realmente precisa dessa energia. Na verdade, não precisamos, porque temos outros vários formatos, como a eólica, que está se impondo bastante, a energia solar, das marés e as biomassas (etanol e outras). O país não precisaria recorrer à energia nuclear. Além disso, um estudo da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, de 2006, sobre a matriz energética brasileira, afirmou que o país poderia viver tranquilamente com a metade da energia que vive hoje. Poderíamos economizar 30% em consumo, sem prejuízos. Além disso, o país poderia ganhar 10% com programas de melhoramento em linhas de transmissão e outros 10% com repotenciação de geradores antigos. Poderia fazer isso a custos bem menores do que é investido na construção de usinas. Entretanto, as autoridades brasileiras não comentam isso; preferem construir termelétricas altamente poluidoras.


IHU On-Line – O senhor acredita que, após o acidente com o Japão, o mundo vai passar a ver com outros olhos a instalação de usinas nucleares?


Washington Novaes –Neste momento há uma postura de muita cautela na área da Europa. A Alemanha mandou desativar algumas usinas e decidiu reexaminar alguns casos. A Áustria pediu à União Européia nova avaliação de reatores e a Inglaterra também pensa em revisões de programas. Mas há países europeus com medidas alternativas de energia, como Portugal e Espanha, que usam bastante energia solar. Nos Estados Unidos há uma reação forte em relação aos planos do presidente de implantar dezenas de usinas. Suponho que o mundo inteiro faça uma reavaliação, mas é difícil prever o que ocorrerá, porque há forças econômicas muito importantes envolvidas, assim como grandes empresas produtoras de energia.



IHU On-Line – O tsunami no Japão e as possibilidades de um grande acidente nuclear podem ser considerados os acidentes ambientais mais graves dos últimos tempos?

Washington Novaes – Certamente são. O nível de radiação das usinas está chegando a patamares elevados. Ainda não há a informação se será possível reverter de alguma forma a situação. É possível que o número de pessoas atingidas seja menor que em Chernobyl, porque houve a evacuação rápida, o que pode ter reduzido o número de vítimas. Este é um bom momento para pensar a respeito do uso da energia verde. É preciso considerar que a equação é complicada, pois há muitas questões financeiras e econômicas envolvidas. Quem decidir não usar mais a energia nuclear precisa pensar em qual utilizará. Por quanto tempo? Quanto custará? São questões que precisam ser analisadas antes de qualquer decisão, e só o tempo ajudará a respondê-las.

IHU On-Line – Como o senhor avalia a cobertura jornalística atual em relação à catástrofe do Japão?

Washington Novaes – Os jornais estão fazendo uma cobertura muito ampla e isso faz parte do panorama da comunicação quando há atenção a momentos de catástrofes e crises. O problema é que, quando a fase passa, os jornalistas não discutem como resolver questões importantes. De modo geral, há certa confusão em relação às informações sobre o que aconteceu nos reatores. Há mais de uma versão, o que confunde. Em alguns jornais foi publicado que os reatores resistiram bem ao terremoto, mas o tsunami desligou os sistemas de reação. Em outros casos, dizem que houve problema no próprio sistema de refrigeração, que independeu do tsunami. São pontos que ainda não estão completamente claros. O Japão tem a preocupação de fazer anúncios oficiais que trazem explicações sobre o fato, o que ajuda um pouco no esclarecimento.


IHU On-Line – No Brasil, o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear considerou precipitadas as decisões dos países que decidiram frear os programas de energia nuclear. O senhor tem o mesmo posicionamento?

Washington Novaes – O ministério de Minas e Energia tem posição excessivamente suficiente e quase arrogante, achando que o país não tem problemas relacionados à energia nuclear. Na verdade, o Brasil precisa repensar, principalmente porque as usinas estão à beira mar. O governo parece não fazer questão de tomar conhecimento sobre as questões. Já li em jornais que essas usinas do Japão têm defesas 10 vezes mais fortes que as de Angra. Então, essa é outra razão que deveria levar o governo a tomar atitudes de mais prudência. Outra questão que não deve deixar de ser debatida é: o Brasil não precisa de energia nuclear e, mesmo assim, ainda tem planos de fazer 40 usinas? É uma atitude autossuficiente demais e, eu diria, até arrogante.

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Entrevista realizada por Anelise Zanoni em 06/04/2011 e publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.http://www.ecodebate.com.br

Jornalista Washington Novaes
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sábado, 2 de julho de 2011

OLANADE, O ESCULTOR CHEGOU

Por Marco Aurélio Luz




As esculturas que compõem e adornam as varandas dos palácios reais yoruba tem um valor estético e histórico. Elas também expressam variados aspectos da visão de mundo característica do reino através da arte escultórica tradicional.Foto Marco Aurélio Luz


Tive a honra e a alegria de conhecer o escultor  Fakeye durante a IIª  Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura em 1983 realizada em Salvador.
A Iª Conferência foi realizada em Ifé cidade sagrada da tradição yoruba com a presidência do professor Wande Abimbola reitor da Universidade. Com a representação ilustre de Mestre Didi Alapini da tradicional família Axipá, o Brasil foi indicado e qualificado para realizar a próxima Conferência em Salvador.
Nessa ocasião a delegação africana, a mais representativa composta de mais de trinta líderes sacerdotais promoveu um reencontro histórico que deveras engrandeceu ainda mais a Conferência enchendo de orgulho a comunalidade religiosa africana, afro- brasileira e afro-americana.

Fakeye integra a delegação dos africanos ensejando o reencontro histórico visitando o terreiro do Gantuá ou Gantois ou ilê Iya Omi Axé Iyamasse sendo recebidos com muita alegria nos corações pelos integrantes da comunidade religiosa durante a IIª Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura. Foto A. Ikissima.

Além das atividades no Centro de Convenções de Salvador, os reencontros se sucediam em visitas as casas de culto, ilê axé de Salvador e recôncavo, alegrando e enchendo de felicidade os corações de nossa gente. Em outra passagem de Fakeye pela Bahia encontrei-me com ele a partir de uma exposição de suas peças no ACBEU, Associação Cultural Brasil-Estados Unidos.
Convém lembrar que desde 1962 quando era artista em residência na Western Michigan University, Fakeye inicia inúmeros intercâmbios com Universidades, museus e galerias dos EUA até 1999 quando é nomeado Artista Visitante Kellog para Michigan: Smithsonian exposição retrospectiva.



Catálogo da Exposição de Fakeye no ACBEU (Salvador Bahia)

 Quando estive com Fakeye era grande a minha admiração especialmente porque iniciava meus trabalhos de escultor no âmbito da arte sacra tradicional nagô.
Então fui me aproximando muito a vagar até que fui convidado a visitá-lo na moradia que o estava abrigando em Salvador. Era num conjunto de apartamentos debruçado na Av. Vasco da Gama. Foi nessa ocasião que tive a felicidade de adquirir uma magnífica peça de um oxê Xangô.


Coluna
Escultura de Fakeye

Foto disponível em Smithsonian Natural History web: African Voices.


Oxê Xangô
Escultura de Fakeye
Foto disponível em Smithsonian Natural History web: African Voices.
A partir de então em outra ocasião tive a coragem e a ousadia de lhe apresentar também um oxê Xangô, de minha autoria. Ele observou com cuidado e admiração e depois de alguns segundos, que pra mim pareciam horas, ele perguntou-me qual era aquela madeira...?


Oxê Xangô escultura de Marco Aurélio Luz
Foto M.A.Luz

Ora aquela madeira era um retalho de Pau Paraíba sobra da fábrica de tamancos de Seu Mário Oba Telá lá na roça do Ilê Axé Opô Afonjá onde, com as influências de Mestre Didi Alapini meu pai e de meu irmão Nézinho Alabê iniciei minhas andanças pelo mundo das esculturas.
Tão entusiasmado eu estava, e sabendo que Fakeye desde 1978 era docente da Universidade de Ifé, ou Obafemi Awolowo University, que me interessei em procurar me aprimorar num aprendizado indo para lá; mas aí ele me tranqüilizou dizendo:

-“Vá fazendo as esculturas, quando estiver com umas vinte já vai estar bem”...

Desde então tenho seguido seus conselhos, e também estudando e observando a estética da tradição, vivenciando os valores da visão de mundo milenar que se expressa através de complexa simbologia.
Lamidi Fakeye Olonade nasceu em 1928 em Orangun, Nigéria. Foi-lhe dado o nome de Olonade que significa, o escultor chegou. Ele constitui a sexta geração de escultores da arte tradicional yorubá.
O nome Fakeye como é mundialmente conhecido, é um nome de família originado de um título recebido por seu bisavô que foi escultor e babalawo. Esse título refere-se ao sacerdócio de Ifá dedicado ao oráculo, e foi concedido pelo rei o direito das gerações seguintes usá-lo como nome de família.


 Lamidi Fakeye Olonade
 Foto disponível em Smithsonian Natural History web: African Voices.


As obras de Fakeye estão espalhadas pelo mundo desde África. Suas esculturas têm um tratamento complexo e bastante detalhado com sutis e cuidadosas terminações com muita figuração geométrica. Elas possuem o mais das vezes dimensões imanentes e transcendentes que envolvem a simbologia que atravessa o cotidiano da gente yorubá.
Seu estilo único é muito complexo, as peças são muito trabalhadas e adornadas, leves sutis e elegantes.
Fakeye nos deixou em 2009, mas nos legou uma obra magnífica que está sendo herdada e continuada por seus parentes descendentes, Akin Fakeye, Akeen Fakeye, e Lukman Fakeye.
Aproveito então para saldar o mestre Lamidi Fakeye Olonade:

 Olorun ko si pu re.