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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sexta-feira, 30 de outubro de 2009

DIVERSIDADE CULTURAL


OBA BIYI O REI NASCE AQUI”

Mais uma contribuição da ACRA que tende a aproximar nossos/as leitores/as do tema Diversidade Cultural e Educação. Nesse aspecto é que trazemos mais uma vez na pauta do blog ACRA, a análise de um livro muito interessante sobre a primeira experiência de Educação Pluricultural no Brasil. Trata-se do livro Oba Biyi O Rei Nasce Aqui” de autoria de Mestre Didi Asipá e Marco Aurélio Luz ,já apresentado aos nossos/as leitores/as no mês de setembro através de uma entrevista com um dos seus autores. Agora vamos conhecer a apreciação da obra feita pelo Professor Pedro Garcia, educador que tem muita importância na história das composições teórico-metodológicas dos trabalhos desenvolvidos pela equipe do PRODESE - Programa Descolonização e Educação UNEB/CNPq. O DAYÓ como um dos desdobramentos do PRODESE, que vem se dedicando a estabelecer linguagens pluriculturais na área de Educação.


Pedro Garcia é Filosófo, Mestre em Educação, Doutor em Antropologia Social e professor adjunto da Universidade Católica de Petrópolis. Pesquisador do CNPq, investiga, desde 1991, a formação do leitor, tendo publicado inúmeros artigos acerca desta temática. Trabalha, em favelas do Rio de Janeiro, com programas de Educação Popular (alfabetização, formação de professores, cursos profissionalizantes, arte) e iniciou em Petrópolis, no segundo semestre de 2006, uma experiência de rodas de leitura com surdos denominada "sinalizando histórias".


Boa leitura!


MINI COMUNIDADE OBA BIYI

UMA EXPERIÊNCIA ORIGINAL


Por Pedro Garcia


Original, de origem, de raiz, daquilo que funda, este o sentido desta experiência de educação pluricultural Mini Comunidade Oba Biyi, agora documentada e comentada no livro, “OBA BIYI, O REI NASCE AQUI: a educação pluricultural africano-brasileira”, de Deoscoredes M. dos Santos Mestre Didi e Marco Aurélio Luz.


Em um texto, denominado “A ciência como vocação”, Max Weber decretava o desencantamento do mundo. Mundo desencantado pela razão prática que tudo equacionava sem deixar margem para o mítico, para o mistério da existência, quebrando a relação entre a objetividade do cotidiano e as finalidades subjetivas do ser humano. Em síntese, o domínio da verdade científica, com sua questionável ordem e o seu progresso rumo – quem sabe?! – à destruição do planeta. Enfim, perdeu-se o significado e o mistério da existência. O corpo desligou-se da mente para tornar-se mercadoria a serviço de finalidades econômicas, sexuais e hedônicas a curto prazo.


Mas este mundo desencantado não é homogêneo nem unanimidade. Se o conhecimento contemporâneo (da ciência e da tecnologia) se separou do conhecimento do sujeito cognoscente trata-se de perguntar se é possível religá-los.


A experiência da Mini Comunidade Oba Biyi, que significa o rei nasce aqui, uma homenagem a Iyalorixá Oba Biyi, Mãe Aninha, propõe a unidade, o sujeito íntegro, inteiro. Trata-se, conforme dizem os autores deste livro, de “manter um diálogo com a sociedade envolvente, sem, todavia, perder o seu poder de resistência”, ou seja, sua própria identidade. Identidade ligada à tradição que, como nos diz Amadou Hampâté Bâ, “deve ser considerada uma árvore. Há o tronco, mas há também os galhos. E uma árvore sem galhos não dá sombra. É por isso que as tradições devem podar elas mesmas os galhos que morrem. Sou contra a conservação cega e total das tradições como sou contra a negação total das tradições porque isso seria uma negação, uma negação da personalidade africana”.


Na Mini Comunidade Oba Biyi as relações com a tradição religiosa e cultural africana se inter-relacionaram – sem perder suas características básicas – com a sociedade em torno. Aliás, a experiência surge em função da discriminação sofrida pelas crianças do terreiro nas escolas que freqüentavam. Segundo uma delas: “Não gostam da gente lá”. O desafio da proposta que vingou foi realizar um projeto educativo que contemplasse a tradição sem ignorar o contexto onde ela se realiza. Ou, como sintetizava Mãe Senhora: “Da porteira para dentro, da porteira para fora”; para dentro: a comunidade sagrada, para fora: a sociedade de valores laicos e suas instituições.


A inovação do projeto educativo Mini Comunidade Oba Biyi consistiu em ampliar o significado do conhecimento além da relação olho-cérebro, usando a totalidade dos sentidos; um conhecimento mais próximo de quem não precisa do livro para se pronunciar: a sabedoria.


Na tradição afro-brasileira a percepção do ciclo vital está sempre viva na sua visão de mundo e é transmitida através de histórias. Como é o caso do significado da morte, assim narrada no conto “O Doutor Cura Quem está Para Morrer” de Mestre Didi, integrante do curriculum pluricultural, presente no livro, O REI NASCE AQUI, OBA BIYI.



Um pai de muitos filhos já não tendo mais ninguém para convidar para padrinho do próximo que estava para chegar, apelou para a Morte, que se apresentando aceitou e lhe revelou o segredo de um preceito que lhe permitiria salvar a quem estivesse para morrer. Dessa forma ele se tornou muito abastado e famoso com a proteção de seu compadre. Um dia Morte mandou que não atendesse o próximo chamado de ajuda. Porém como se tratava do filho do rei, não resistindo às vantagens oferecidas pelo palácio acabou por desobedecer Morte, que lhe disse:

-Compadre, o senhor não me obedeceu, quis ser mais do que eu. Porém, de agora em diante, toda sua riqueza vai ficar com a comadre e os meninos, por que eu vou levar o senhor no lugar do príncipe, para dar conta da minha missão e o senhor ficar sabendo que quem quer tudo, tudo perde.


Um poema da tradição nagô fecha o livro. Em seu último verso roga aos Orixás que a alegria se expanda no mundo”. Que mais se pode desejar?






domingo, 25 de outubro de 2009

EQUIPE ACRA PARTICIPA DA III CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE CULTURA

Nos dias 21 e 22 de outubro a equipe da ACRA participou da IIIª Conferência Municipal de Cultura da cidade de Salvador organizada pela Fundação Gregório de Matos. O Diretor Presidente da ACRA Professor Narciso José do Patrocínio, participou como debatedor da Mesa “Cultura e Desenvolvimento Sustentável” que teve como expositor Jesse Souza Professor da Universidade Federal de Juiz de Fora.


Segundo o Professor Narciso o evento proporcionou espaços de debates e proposições interessantes para o delineamento de políticas culturais para a cidade de Salvador. Uma das proposições de políticas delineadas e que teve unanimidade foi a criação da Secretaria Municipal de Cultura.


Estiveram presentes na Conferência representando a equipe DAYÓ ACRA as professoras Paula Grejianin, Jackeline Pinto do Amor Divino, Daniela Cidreira e Sara.




Na foto o Sr. Antônio Lins, Presidente da Fundação Gregório de Matos e o Diretor Presidente da ACRA, Professor Narciso José do Patrocínio, no hall do Hotel da Bahia, local da realização da IIIª Conferência Municipal de Cultura da cidade de Salvador.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Projeto Dayó é semifinalista do Prêmio Itaú-Unicef 2009










São Paulo, 18 de agosto de 2009

Prezado Coordenador

Parabéns!

Seu projeto foi escolhido como semifinalista do Prêmio Itaú-Unicef.


“Parabéns! Com grande satisfação, informamos que o Projeto Dayó Compartilhando a Alegria Socioexistencial em Comunaliidades Africano-brasileiras dessa organização foi indicado como semifinalista, entre os 1.917 inscritos no Prêmio Itaú-Unicef 2009. Iniciativas como essa reforçam a nossa crença quanto à possibilidade de construir um Brasil mais justo e digno para as crianças e adolescentes.

Os projetos inscritos nesta oitava edição do Prêmio passaram por uma análise preliminar para verificar sua adequação ao regulamento. Na segunda etapa, processou-se ao agrupamento das organizações, de acordo com o seu porte de recursos financeiros: micro, pequeno, médio e grande, para possibilitar a análise e seleção entre pares.

Na terceira etapa de seleção, contamos com 320 avaliadores, distribuídos nas oito regionais do Prêmio Itaú-Unicef; os projetos foram analisados por dois avaliadores, discutidos conforme porte de recursos financeiros da organização e em plenária foram indicados até 20 semifinalistas, sendo cinco projetos de cada porte.


Atenciosamente,


Coordenação

Prêmio Itaú-Unicef 2009”




Foi através dessa carta que chegou a notícia que encheu de alegria e orgulho a ACRA- Associação Crianças Raízes do Abaeté e a equipe PRODESE/DAYÓ/UNEB!


O nosso projeto DAYÓ/ACRA foi indicado e reconhecido no conjunto de 1917 projetos inscritos em todo o Brasil para a 8ª Edição do Prêmio Itaú-Unicef 2009, como semifinalistas selecionados entre os 100 (cem) na primeira etapa.



Na etapa que culminou na sexta feira dia 16/10/2009 em Recife, do conjunto dos cem semifinalistas ficamos entre os vinte.Na oportunidade o Professor Narciso José do Patrocínio Diretor Presidente da ACRA recebeu das mãos da representante da UNICEF no Brasil a Srª Marie Poirier o certificado reconhecendo a excelência e impactos do DAYÓ legitimando institucionalmente as iniciativas que vimos imprimindo em Itapuã.



Para o professor Narciso José do Patrocínio esse evento Prêmio Itaú-Unicef em Recife tem um significado especial:


“Como educador que atuei nos anos 60, 70, 80 em várias instituições, tenho tido o prazer de conviver com uma geração de jovens educadoras lideradas pelo Contra-Mestre Luís Negão, idealizador da ACRA, Professora Doutora Narcimária Luz, coordenadora do PRODESE-Programa Descolonização e Educação do departamento de Educação do campus I da UNEB que trouxe para a ACRA uma equipe técnica formada por educadoras e educadores competentes, criativos, cheios de sonhos e entusiasmos para atuar junto as nossas crianças,jovens e suas famílias.A equipe responsável por muitas das nossas conquistas é formada por educadores/as especiais na nossa trajetória e é importante que todos saibam da presença deles/as na ACRA: Jackeline Pinto do Amor Divino, Rosângela Accioly Correia Lins, Paula Grejianin, Daniela Cidreira, Sidney Argolo, Tárcio Vasconcellos, Eliana dos Santos e Abílio de Mendonça e Célia”


Ainda sobre a importância desse evento a professora Narcimária comenta:


“Quando comunicamos as crianças e suas famílias do nosso desempenho no âmbito da 8ª Edição do Prêmio Itaú-Unicef 2009 numa reunião antes do resultado final houve muita vibração!Todos/as ficaram na torcida para o sucesso do DAYÓ ACRA em Recife. E para mim ficou evidente nos sorrisos e brilho nos olhos de mães,pais e filhos e educadores/as o orgulho de ser e pertencer a ACRA. Acredito que o DAYÓ se destacou por legitimar os valores de sociabilidade que caracterizam Itapuã e que estruturam as identidades das crianças e suas famílias descendentes diretos de pescadores,lavadeiras, ganhadeiras... As linguagens que dão força ao DAYÓ se alimentam da África viva que pulsa ininterruptamente aqui.Nos destacamos porque assumimos o que somos as nossas origens e isso nos torna singular.Voltamos de Recife como semifinalista apenas com um certificado. Mas no contexto do que realizamos todos esses anos significa um reconhecimento nacional pelo nosso trabalho na área de Educação.Isso é importante,sim!”


A ACRA além do certificado receberá um selo Itaú-Unicef 2009 ratificando a excelência e competência técnica do projeto Dayó: Compartilhando a Alegria Socioexistencial em Comunalidades Africano-brasileiras.


É isso amigos do blog ACRA!


Para comemorar conosco convidamos vocês para dançar e cantar com crianças de várias partes do mundo através do vídeo clipe TOGETHER!(JUNTOS!) interpretada por BOB SINCLAIR.


Não esqueçam que a equipe ACRA intercambia com vários continentes e achamos que é uma ocasião muito especial para lembrar que temos que estar SEMPRE JUNTOS compartilhando a alegria de viver, valor inestimável para as muitas gerações do planeta, estimulando as crianças e jovens a acreditar nesse valor na tentativa de expandir a vida.


Com vocês TOGETHER!(JUNTOS!).


Divirtam-se!!!




clique na imagem ou acesse o link: http://www.youtube.com/watch?v=NGtS2-a4CBI&feature=fvst

Obrigada e continuem nos acompanhando.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Blog do Acra Entrevista: Narcimária Correia do Patrocínio Luz

ITAPUÃ ÁFRICA VIVA!


Em entrevista exclusiva a Associação Crianças Raízes do Abaeté, a professora Narcimária Correia do Patrocínio Luz comenta aspectos da sua pesquisa que realizou sobre o bairro de Itapuã e a importância de conhecermos e valorizarmos a história do lugar onde vivemos. Narcimária é Professora Titular Plena do Departamento de Educação Campus I da Universidade do Estado da Bahia-UNEB; Doutora em Educação; pesquisadora no campo da Educação, Comunicação e Comunalidade Africano-Brasileira; coordenadora no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq do PRODESE- Programa Descolonização e Educação, grupo de pesquisa que vem se destacando pelas iniciativas junto às comunidades tradicionais da Bahia.


ACRA: Como surgiu a idéia de realizar a pesquisa sobre Itapuã?


DRA. NARCIMÁRIA: Itapuã tornou-se referência fundamental para meus estudos, porque encontrei nessa territorialidade um repertório de vínculos de sociabilidade que me permitiu a aproximação com aspectos que ao longo de vinte anos vinha me dedicando a estudar, a saber: a força da civilização africana na constituição da identidade profunda de muitas territorialidades na Bahia. Daí a nossa opção em estabelecer nosso estudo na territorialidade de Itapuã, Salvador Bahia. Tenho uma relação visceral com Itapuã porque toda a minha infância e juventude esteve envolvida com os valores e linguagens desse magnífico lugar. Recebemos também um convite especial da Associação Crianças Raízes do Abaeté para compor uma equipe que se dedicasse a desenvolver iniciativas sócio-educacionais visando a implantação de condições infra-estruturais que legitimassem os valores comunais do bairro de Itapuã, e através dessas iniciativas, promovesse o desenvolvimento físico-emocional da população infanto-juvenil, base das projeções de futuro dessa territorialidade. É assim que nasce a nossa arqueologia sócio-histórica e cultural sobre Itapuã, que apresenta para as crianças e jovens a riqueza do patrimônio civilizatório dos povos tupinambás e africanos base da identidade cultural do lugar.


ACRA: O que constitui esse patrimônio civilizatório em Itapuã?


DRA. NARCIMÁRIA: Um olhar panorâmico vai nos ajudar a começar a aproximação com a abordagem da pesquisa, se não vejamos: Somália, Nigéria, Mali, Sirilanka, Egito, Costado Marfim, Tailândia, Líbano, Haiti, Cuba, Jamaica, Guianas, Austrália, Colômbia, Peru, Venezuela, Caribe, África do Sul, Bolívia, Brasil, México, Angola, Romênia, Yuguslávia, Camarões, Paraguai, Panamá, Índia, Congo, Peru, Chile, Argentina, Tailândia, Líbano, Zimbabwe...

Mas o que aproxima esses povos da iniciativa da pesquisa sobre Itapuã? Uma observação fundamental: muitas iniciativas similares a nossa iniciativa vêm sendo fomentadas no seio de muitos povos através de movimentos sociais vigorosos, voltados para erguer espaços institucionais que promovam políticas de educação, saúde, alternativas de modos de produção que favoreçam a qualidade de vida enfim, ações que abram perspectivas de futuro e continuidade do patrimônio civilizatório característicos dessas nações. Vamos pousar nossa atenção sobre um dos graves problemas que vêm afligindo todos os povos do planeta: as relações de prolongação neocolonial capitalista que impõem valores existenciais que tendem a recalcar as expressões civilizatórias de muitas comunalidades tradicionais.

A conseqüência tem sido o acirramento de tensões e conflitos que geram violências de toda ordem, guerras, fome, perdas territoriais, destruição da natureza, pobreza crônica, mortalidade infantil, institucionalização de políticas genocidas, muita desigualdade social mapeia o planeta. Contemporaneamente distintas comunalidades tradicionais de vários países, têm tomado para si a iniciativa de aplacar as angústias que têm comprometido o direito à existência das suas crianças e jovens, gerações que representam o futuro dos povos. Essas organizações sociais, muitas delas em intercâmbio com a nossa pesquisa que enfatiza os valores da territorialidade Itapuã, têm procurado abrir horizontes de questionamentos, interrogações e proposições seminais para uma educação que realmente contemple os distintos contextos culturais que caracterizam as suas populações.


ACRA: Como você desenvolveu essa arqueologia sócio-histórica de Itapuã?


DRA. NARCIMÁRIA: Visitamos a exposição comemorativa dos 90 anos de Abdias Nascimento e identificamos um ideograma cuja força semântica nos emocionou muito. O ideograma que abria a exposição é o sankofa e nele está contida a seguinte perspectiva: ”Nunca é tarde para voltar e apanhar o que ficou para trás... Aprender com o passado para construir o futuro.”

Foi esse exercício de elaboração profundo que fizemos. Procuramos escutar com o coração o que há de mais precioso e milenar em Itapuã. Sabe o que é? A pedra que ronca. A arqueologia sócio-histórica que realizamos nos remete ao mito fundador de Itapuã, que é a pedra que ronca, realçando de modo valioso a presença inaugural da comunalidade tupinambá e sua continuidade e relação mítica com os povos africanos. Os princípios inaugurais de Itapuã estão completamente envoltos pela temporalidade dos povos indígenas e dos povos africanos, que se presentificam organizando e estruturando comunalidades que se aprumam na infinitude do universo simbólico que constitui os mistérios do mar. Itapuã na língua tupi-guarani: ita significa pedra e puã significa choro, gemido. Há também outra interpretação que diz ser Itapuã em tupi, um rochedo que se ergue, a pedra que ergue a cabeça redonda acima das águas na margem do oceano. Vimos então que a abordagem do estudo para se consolidar deveria acolher as perspectivas de elaborações que enfatizam o princípio inaugural que é a “pedra que ronca”, referência apresentada e legítima também para muitos moradores antigos. Os filhos e filhas de Itapuã como são conhecidos os moradores antigos que nasceram e cresceram ali, sabem e sentem que fazem parte dessa extensão de valores contidos nesse princípio mítico, que é Itapuã a pedra, aliás, toda a comunalidade se identifica com esse imaginário milenar que carrega um significado simbólico profundo que alimenta e dá pulsão a comunalidade africano-brasileira. Itapuã a “pedra que ronca” e “gemi” atravessando os tempos, se insurgindo insistindo no direito a existência. O ronco e/ou gemido de Itapuã são metáforas que carregam o as projeções socioexistenciais dos povos que foram agredidos pelas relações coloniais e de expansão do capitalismo industrial.


ACRA: Você afirma nos seus estudos que Itapuã é uma África viva. Por quê?


DRA. NARCIMÁRIA: Com certeza. Itapuã abriga uma rica tradição cultural africana, podemos afirmar que é uma das mais expressivas do mundo, de onde se desdobram linguagens e formas de comunicação própria da comunalidade africano-brasileira, de suma importância na estruturação e legitimação dos valores sócio-existenciais da sua população. Assim, tivemos que lidar com a radicalidade das questões que floresciam na arqueologia sócio-histórica impregnada pelo universo simbólico afro-brasileiro, dando forma às narrativas de mitos, provérbios, música polirrítmica de base percussiva, danças, dramatizações, repertório culinário, conhecimento milenar sobre a complexidade de vida que atravessa as dunas, o mar, a lagoa, as instituições e suas hierarquias comunitárias, organização territorial, repertório de cantigas e histórias dos pescadores, ganhadeiras, lavadeiras que acumulam narrativas valiosas sobre os princípios fundadores da territorialidade, classificação dos peixes no mar de Itapuã; tecnologia da confecção de redes, o uso de canoas, saveiros e jangadas, a arquitetura e estética urbana africano-brasileira; a culinária tradicional africana, a celebração referente à visão sagrada de mundo expressa na entrega de oferendas à Yemanjá no mar e outros espaços míticos como a Lagoa do Abaeté, enfim o mistério do viver e as estratégias de continuidade da tradição herança dos antepassados.


ACRA: De todo o universo explorado sobre Itapuã o que mais lhe emociona?


DRA. NARCIMÁRIA: A infinitude da existência que o mar carrega. O mar é um espaço sagrado, imponente, pleno de mistérios, do imponderável. É preciso respeitá-lo e a relação com ele se faz através de linguagens míticas que ritualizadas apelam para as forças cósmicas que o constitui. Os princípios de ancestralidade que inauguraram a territorialidade de Itapuã, a exemplo da “pedra que ronca” e “gemi”, caracteriza o repertório mítico dos tupinambás que habitaram Itapuã e os africanos que herdam o mesmo princípio inaugural da pedra atualizando-o até os nossos dias. Nesse universo simbólico entram as oferendas para Yemanjá e Oxum princípios das águas, de suma importância para prover o êxito dos ciclos da pesca que sustentam o a expansão comunal. As oferendas para Yemanjá e Oxum princípios fundamentais à dinâmica comunal que envolve a pesca protagoniza o mapeamento. O Mar e seu entrelaçamento com a correnteza dos rios repercutem na organização societal de Itapuã, e nessa dinâmica mítica envolvendo as forças cósmicas, a lagoa do Abaeté torna-se uma referência-chave no viver cotidiano dos descendentes de africanos. É nesse cenário sagrado de Itapuã para os africano-brasileiros que são reverenciadas as Mães-d’água quer no mar ou em Abaeté.


ACRA: Fale-nos do impacto dos valores urbano-industriais contemporâneos em Itapuã.


DRA. NARCIMÁRIA: O impacto contemporâneo dos valores urbano-industriais que atravessam o universo sócio-existencial característico de Itapuã, também constituiu um dos desafios da pesquisa, a exemplo da pretensa “americanização urbanística” refletida na construção, da Estrada Velha do Aeroporto, Avenida Otávio Mangabeira, a rede de avenidas que se abrem a partir delas, e outras iniciativas da Razão de Estado que impuseram valores que interferiram de modo perverso no viver cotidiano dessa população africano-brasileira. As estratégias de resistência estabelecidas pela população, visando manter e legitimar seus valores socioexistenciais, e as perspectivas de futuro para as gerações sucessoras herdeiras desse patrimônio africano-brasileiro, denominado Itapuã, são também foco da nossa análise.


ACRA: Que aspectos das políticas de educação adotadas no Brasil e a repercussão em Itapuã você aborda.


DRA. NARCIMÁRIA: Abordamos aspectos sobre Educação, destacando referências do século XIX através da Escola Normal e seus desdobramentos; a Casa de Mestre, que chega a Itapuã no início do século XX; a implantação em Itapuã do ensino público de massa a partir dos anos cinqüenta e o impacto dessas políticas de Educação ensejadas para o Brasil e sua repercussão em Itapuã. Nesse caminhar desenvolvemos reflexões que identificam no contexto das políticas de Educação adotadas no Brasil e na Bahia, os projetos que marcam as alianças feitas pela elite dirigente da ditadura militar com os Estados Unidos, a exemplo do acordo MEC-USAID.


ACRA: Que tipo de contribuição a sua pesquisa tem dado ao ACRA?


DRA. NARCIMÁRIA: Nossa presença na ACRA tem sido realizar esforços para prover crianças e jovens de uma ambiência socioeducativa que fortaleça suas identidades culturais, permita-lhes o acesso a serviços de saúde, educação extensiva às famílias, estabelecendo um pólo irradiador de ações na área de Educação que tendem a aplacar, a anomia que historicamente atravessa o viver cotidiano da população.

As principais metas da nossa participação no CRA, além de legitimar aspectos fundamentais à compreensão de Itapuã, também se dedica a lidar com: o espaço-tempo que inauguraram o bairro através da presença indígena e africana; os vínculos de sociabilidade através da pesca referência original do modo de produção coletiva; a dimensão ético-estética da capoeira desdobramento da tradição africana e sua importância na estruturação das identidades de crianças e jovens; o impacto contemporâneo dos valores urbano-industriais que atravessam o viver cotidiano de Itapuã, bem como as perspectivas de futuro para as gerações sucessoras herdeiras desse patrimônio territorial denominado Itapuã.


terça-feira, 6 de outubro de 2009

Seminário de Monitoria de Extensão da UNEB

No dia 01.10.09 as pesquisadoras do PRODESE-Programa Descolonização e Educação representaram o Departamento de Educação do Campus I no Seminário de Monitoria de Ensino e Extensão da UNEB no Hotel Vilamar, no bairro de Amaralina, em Salvador. Na ocasião a equipe PRODESE, composta pelas professoras Narcimária C. P. Luz, Paula Grejianin, Rosângela Accioly e Daniela Cidreira, apresentou aspectos das linguagens lúdico-estéticas desenvolvidas com crianças e jovens da ACRA em Itapuã e o impacto qualitativo dessas atuações. Ao final da apresentação as pesquisadoras presentearam com um xequerê (instrumento de percussão afro-brasileiro) a equipe da Pró-Reitora de Extensão da UNEB.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

PARABÉNS DAYÓ ACRA!


PARABÉNS DAYÓ ACRA!

SOMOS SEMIFINALISTAS NA 8ª EDIÇÃO DO PRÊMIO ITAÚ UNICEF

A Equipe da ACRA compartilha com você uma novidade boa que nos enche de orgulho! A ACRA através do projeto Dayó: compartilhando a alegria socioexistencial em comunialidades africano-brasileiras de autoria e coordenação da professora Doutora Narcimária C. P. Luz e também constituído pelas professoras Daniela Cidreira, Jackeline Divino, Paula Grejianin e Rosângela Accioly, com o apoio do Departamento de Educação do Campus I da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, participou da 8ª Edição do Prêmio ITAÚ UNICEF e nesse processo de avaliação fomos indicados como semifinalistas.

O Dayó está presente em várias localidades da Região Metropolitana de Salvador, mas para a 8ª Edição do Prêmio ITAU UNICEF a territorialidade de Itaúã constitui as proposições que a equipe DAYÓ selecionou para participar do prêmio, em destaque as iniciativas socioeducativas que realiza junto às crianças e jovens em Itapuã em parceira com o ACRA.