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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sexta-feira, 30 de outubro de 2009

DIVERSIDADE CULTURAL


OBA BIYI O REI NASCE AQUI”

Mais uma contribuição da ACRA que tende a aproximar nossos/as leitores/as do tema Diversidade Cultural e Educação. Nesse aspecto é que trazemos mais uma vez na pauta do blog ACRA, a análise de um livro muito interessante sobre a primeira experiência de Educação Pluricultural no Brasil. Trata-se do livro Oba Biyi O Rei Nasce Aqui” de autoria de Mestre Didi Asipá e Marco Aurélio Luz ,já apresentado aos nossos/as leitores/as no mês de setembro através de uma entrevista com um dos seus autores. Agora vamos conhecer a apreciação da obra feita pelo Professor Pedro Garcia, educador que tem muita importância na história das composições teórico-metodológicas dos trabalhos desenvolvidos pela equipe do PRODESE - Programa Descolonização e Educação UNEB/CNPq. O DAYÓ como um dos desdobramentos do PRODESE, que vem se dedicando a estabelecer linguagens pluriculturais na área de Educação.


Pedro Garcia é Filosófo, Mestre em Educação, Doutor em Antropologia Social e professor adjunto da Universidade Católica de Petrópolis. Pesquisador do CNPq, investiga, desde 1991, a formação do leitor, tendo publicado inúmeros artigos acerca desta temática. Trabalha, em favelas do Rio de Janeiro, com programas de Educação Popular (alfabetização, formação de professores, cursos profissionalizantes, arte) e iniciou em Petrópolis, no segundo semestre de 2006, uma experiência de rodas de leitura com surdos denominada "sinalizando histórias".


Boa leitura!


MINI COMUNIDADE OBA BIYI

UMA EXPERIÊNCIA ORIGINAL


Por Pedro Garcia


Original, de origem, de raiz, daquilo que funda, este o sentido desta experiência de educação pluricultural Mini Comunidade Oba Biyi, agora documentada e comentada no livro, “OBA BIYI, O REI NASCE AQUI: a educação pluricultural africano-brasileira”, de Deoscoredes M. dos Santos Mestre Didi e Marco Aurélio Luz.


Em um texto, denominado “A ciência como vocação”, Max Weber decretava o desencantamento do mundo. Mundo desencantado pela razão prática que tudo equacionava sem deixar margem para o mítico, para o mistério da existência, quebrando a relação entre a objetividade do cotidiano e as finalidades subjetivas do ser humano. Em síntese, o domínio da verdade científica, com sua questionável ordem e o seu progresso rumo – quem sabe?! – à destruição do planeta. Enfim, perdeu-se o significado e o mistério da existência. O corpo desligou-se da mente para tornar-se mercadoria a serviço de finalidades econômicas, sexuais e hedônicas a curto prazo.


Mas este mundo desencantado não é homogêneo nem unanimidade. Se o conhecimento contemporâneo (da ciência e da tecnologia) se separou do conhecimento do sujeito cognoscente trata-se de perguntar se é possível religá-los.


A experiência da Mini Comunidade Oba Biyi, que significa o rei nasce aqui, uma homenagem a Iyalorixá Oba Biyi, Mãe Aninha, propõe a unidade, o sujeito íntegro, inteiro. Trata-se, conforme dizem os autores deste livro, de “manter um diálogo com a sociedade envolvente, sem, todavia, perder o seu poder de resistência”, ou seja, sua própria identidade. Identidade ligada à tradição que, como nos diz Amadou Hampâté Bâ, “deve ser considerada uma árvore. Há o tronco, mas há também os galhos. E uma árvore sem galhos não dá sombra. É por isso que as tradições devem podar elas mesmas os galhos que morrem. Sou contra a conservação cega e total das tradições como sou contra a negação total das tradições porque isso seria uma negação, uma negação da personalidade africana”.


Na Mini Comunidade Oba Biyi as relações com a tradição religiosa e cultural africana se inter-relacionaram – sem perder suas características básicas – com a sociedade em torno. Aliás, a experiência surge em função da discriminação sofrida pelas crianças do terreiro nas escolas que freqüentavam. Segundo uma delas: “Não gostam da gente lá”. O desafio da proposta que vingou foi realizar um projeto educativo que contemplasse a tradição sem ignorar o contexto onde ela se realiza. Ou, como sintetizava Mãe Senhora: “Da porteira para dentro, da porteira para fora”; para dentro: a comunidade sagrada, para fora: a sociedade de valores laicos e suas instituições.


A inovação do projeto educativo Mini Comunidade Oba Biyi consistiu em ampliar o significado do conhecimento além da relação olho-cérebro, usando a totalidade dos sentidos; um conhecimento mais próximo de quem não precisa do livro para se pronunciar: a sabedoria.


Na tradição afro-brasileira a percepção do ciclo vital está sempre viva na sua visão de mundo e é transmitida através de histórias. Como é o caso do significado da morte, assim narrada no conto “O Doutor Cura Quem está Para Morrer” de Mestre Didi, integrante do curriculum pluricultural, presente no livro, O REI NASCE AQUI, OBA BIYI.



Um pai de muitos filhos já não tendo mais ninguém para convidar para padrinho do próximo que estava para chegar, apelou para a Morte, que se apresentando aceitou e lhe revelou o segredo de um preceito que lhe permitiria salvar a quem estivesse para morrer. Dessa forma ele se tornou muito abastado e famoso com a proteção de seu compadre. Um dia Morte mandou que não atendesse o próximo chamado de ajuda. Porém como se tratava do filho do rei, não resistindo às vantagens oferecidas pelo palácio acabou por desobedecer Morte, que lhe disse:

-Compadre, o senhor não me obedeceu, quis ser mais do que eu. Porém, de agora em diante, toda sua riqueza vai ficar com a comadre e os meninos, por que eu vou levar o senhor no lugar do príncipe, para dar conta da minha missão e o senhor ficar sabendo que quem quer tudo, tudo perde.


Um poema da tradição nagô fecha o livro. Em seu último verso roga aos Orixás que a alegria se expanda no mundo”. Que mais se pode desejar?






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