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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 27 de fevereiro de 2016

LIVRO DA EKEDE SINHA DA CASA BRANCA







No dia internacional da mulher - 08 de março - será lançado às 19h, no Terreiro da Casa Branca, em Salvador,
Equede - A Mãe de Todos, o livro testemunho de Gersonice Azevedo Brandão, conhecida como Equede Sinha. A publicação é da editora Barabô e mostra a importância, o respeito e o reconhecimento que o cargo de equede tem dentro do candomblé.
 Além registrar um testemunho – visto a raridade de se encontrar publicações com figuras de destaques da comunidade negra sendo porta vozes de sua própria história, sem intermediários – o livro é também uma publicação histórica, já que a vida de Sinha, nascida dentro do terreiro da Casa Branca, se funde com a história do mais famoso terreiro de candomblé nagô do Brasil.
Com 172 páginas, o livro conta com mais de 200 fotos do acervo pessoal da autora, da Casa Branca e dos fotógrafos Dadá Jaques, Flávio Damm, da Fundação Pierre Verger, além de ilustrações exclusivas do artista Carlos
 Rezende. Organizado por Alexandre Lyrio e Dadá Jaques, traz ainda histórias inéditas, nunca registradas, como a invasão do Posto Esso imposta contra o terreiro na década de 70.
“A dedicação é a marca de equede (...) Para exercê-lo devidamente, como mostra Sinha com sua obra e exemplo, o amor é indispensável”, garante o antropólogo e ogâ de Iansã da Casa Branca, Ordep Serra, ao escrever a apresentação
 do livro, logo nas primeiras páginas. O livro Equede - A Mãe de Todos é uma declaração de amor da Equede Sinha ao povo de axé e especialmente à família da Casa Branca, a sua mãe biológica, vovó Conceição e as entidades de luz, os Orixás. Uma leitura
 que ensina um pouco da cultura afro-brasileira e muito da nossa história. E como diz a própria autora. Equede é mãe. De Exu a Oxalá.
Quando: 08 de março, às 19h.
Local: Praça de Oxum do Ilê Axé Iyá Nassô Oká – Terreiro Casa Branca, Avenida Vasco da Gama, 463.
Editora Barabô
Valor do livro: R$ 100 (promocional de lançamento
Assessoria de imprensa: Mel Adún (71) 98802-4314 | Kaliane Barbos (71) 99987-9013.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A GEMA CARIOCA É AFRO BAIANA


Por Marco Aurélio Luz

Rio de Janeiro, região portuária e Pedra do Sal, localidades da imigração baiana 

O amigo Roberto Moura foi quem abriu caminho com seu livro sobre Tia Ciata para compreendermos a importância da história da imigração baiana no Rio de Janeiro nos fins do século XIX e início do século XX. O destaque é a cultura africana da Bahia se desdobrando no Rio de Janeiro.
 Efemérides da religião nagô de então lá estiveram deixando sua marca na história para sempre, dentre elas destacamos Mãe Aninha, Iyalorixá Oba Biyi, fundadora do Ilê Axé Opo Afonjá, que juntamente com Mãe Agripina a Iyalorixá Oba Deyi fundaram o Ilê Axé Opo Afonjá do Rio de Janeiro; também Maria Ogala da sociedade Gelede,  Rodolpho Martins de Andrade, Bamboxê Obitiko, e Joaquim Vieira, Obá Sanya dentre outros e que ainda podemos  destacar Arsênio dos Santos, Paizinho Alaba personalidade proeminente do culto aos Egungun.


Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi

Não vou me estender nessa presença que incluiria além das casas de culto o afoxé Filhos de Gandhi e tanto mais. Vou me deter nas escolas de samba, a propósito do desfile vitorioso da Mangueira neste ano.
Hilária Batista de Almeida, Omo Oxum, Tia Ciata, Iyá Kekere do Ilê Axé de João Alabá, nascida em Santo Amaro conseguiu através da medicina da cultura africana curar a perna do presidente Wenceslau Bras de uma ferida incurável. Obteve então a liberdade de seu território. Oásis da repressão da época sua casa tornou-se centro de encontro de religiosos e gente de toda arte das tradições afro baiana.




Tia Ciata Iya Kekere

Os ranchos desfilavam com seus estandartes, suas músicas sua agregação da gente baiana pelas regiões limítrofes da zona portuária. O rancho da gente de tia Ciata era o Rosa Branca. Participavam também no rancho organizado por membros da Resistência dos Trabalhadores em Trapiches de Café.
Hilário Jovino Ferreira, Lalu de Ouro, Ogã, da casa de João Alaba, fundada por Bamboxe, transferiu a data de saída de seu rancho, o Rei de Ouro de 6 de janeiro para os dias de carnaval. Fez transformações e adaptações para o tempo e espaço do carnaval.  Em depoimento a Roberto Moura, Jovino comenta:
"Nunca se tinha visto aquilo aqui no Rio de Janeiro: Porta-bandeira, porta-machado, batedores etc. Perfeitamente organizado, saímos licenciado pela polícia..."




Hilario Jovino e filhos

A formação dos ranchos, além disso, tinha comissão de frente, mestre de harmonia, canto e coreografia.
Célebres músicos e compositores se encontravam como Donga, João da Baiana, Sinhô, Pixinguinha e outros em meio ao samba de roda do Recôncavo.


Personalidades da música, João da Baiana, Clementina de Jesus, Pixinguinha,e Donga.


O primeiro samba registrado e gravado foi Pelo Telefone de Donga.



Imagem disponível em



 A culinária baiana alimentava o povo pelos dias desses encontros. Tia Ciata teve tabuleiro da baiana no centro da cidade sempre muito concorrido e apreciado.
Germano, genro de Tia Ciata criou um bloco de carnaval o famoso "O Macaco é Outro".
As escolas de samba derivam da efervescência da Pequena África que ia da zona portuária a Cidade Nova sendo a Praça Onze a culminância das apresentações e desfiles de carnaval.As escolas de samba surgiram com a mudança da música. A percussão e o samba se distinguiram das marchas e os instrumentos de sopro dos ranchos.Ismael Silva foi fundador da Deixa Falar e Bide criador da bateria de percussão.Daí foi-se desdobrando, a Mangueira de Cartola, a Portela de Paulo da Portela e muito mais.
É importante dizer que tudo isso se apoiava na estética africana desdobrada e recriada congregando o povo num momento de afirmação cultural e existencial.  
Pela década de 30 começa a presença de ``brancos no samba´´. O jornalista Mário Filho através do Jornal do Brasil promove o concurso de Escolas de Samba. Surge a figura do carnavalesco.Um dos primeiros foi Toniquinho, funcionário do Teatro Municipal que consegue faróis da Marinha para em frente a sede do Jornal do Brasil iluminar o enredo Aída derivado da Ópera de mesmo nome. As escolas passam cada vez mais a depender dos carnavalescos vão se transformando no que Cartola definiu como  "teatro ambulante".
A entrada da TV nos desfiles vai alterar bastante, dando valor as imagens, dimensões visuais espetaculares em detrimento da estética original. Além disso, impondo essa estética adaptada a linguagem do espetáculo cria especialistas que irão referendá-la nos concursos.
É neste caudal que se afirmam os carnavalescos mais próximos de escolas de samba de menos tradição. É tempo de Beija Flor, Unidos da Tijuca, Vila Isabel dentre outras. Fantásticos carros alegóricos e personagens do mundo do espetáculo ganham espaço e poder nos desfiles. Transformam a comissão de frente originalmente formada pelos dignitários da escola, criação da Portela, e a ala das baianas, homenagem à tradição.


Cartola e a Comissão de Frente da Mangueira


O samba no pé dá vez às coreografias de passo marcado das alas. Enfim, surge "o maior espetáculo da Terra". Tempo e espaço são adaptados, altera-se o ritmo da bateria. Toda essa linguagem transfere para o carnavalesco o poder de organização e até mesmo na ala de compositores ele terá ingerência na composição do samba. As escolas de samba adquirem feição empresarial exigindo corpus administrativo.
Uma luta ideológica se estabelece entre líderes da tradição e os que navegam pela indústria do espetáculo.
Neste ano o novo se apresenta através dos ventos de Oya.A tradição da Mangueira se renova. Um desfile magnifico através da recriação dos valores e linguagem da estética africano brasileira.

Imagem disponível em http://s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/02/09/mangueira_fabio_tito-g1_img_0323.jpg

Da crina da cauda do bufalo, parte poente do animal, são confeccionados os irukere, emblema instrumento de Iyansã, com que limpa os males comandando os ancestrais.

Nesse carro é homenageado um dos dignatários da Escola, Nelson Sargento.






Imagem disponível em http://s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/02/09/mangueira_fabio_tito-g1_img_0323.jpg

A iyawô, caracteriza a continuidade ininterrupta da tradição religiosa. Ela inspira a roupagem da porta bandeira de forma magnifica.

O jovem carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira se referiu: "Queria fazer um enredo que dialogasse com a cultura brasileira e acho que a Bethânia representa muito bem esse diálogo".


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O ELO MAIS FORTE,O VALOR DOS CONTOS NAGÔ


Por Marco Aurélio Luz


É com muita alegria no coração que leio "Peregun e Outras Fabulações da Minha Terra" do amigo e irmão Félix Ayoh’ Omidire, que aproveita nossos laços identitários alicerçados numa civilização milenar.




Pela força da história,...os iorubanos passaram a ter uma ativa atuação intercontinental, uma parte significativa da população...forçada para o outro lado do Atlântico, em condição de extremos constrangimentos, nunca deixou de lutar para não permitir morrer o que há de mais livre em cada ser humano, a sua cultura que constitui a sua única e verdadeira identidade.’’
Há pouco tivemos o (re)lançamento das obras de Mestre Didi, que fundou entre nós uma escritura que adapta a narrativa da comunicação direta do acervo de contos emergentes da comunalidade africano- brasileira.




Esses relançamentos enriquecem sobremaneira não só as relações da comunalidade negra ampliando os raios de comunicação de suas riquezas culturais, mas também a própria sociedade brasileira, acrescentando um gênero literário que sobressai no cenário de nossa pujante herança africana.
Os contos que originalmente, em nossa terra por um lado, fazem parte do acervo das comunidades-terreiro, também eram parte da narrativa dos contadores de histórias, os apalo que percorriam cidades e fazendas de nosso interior, se apresentando com música e danças dramáticas, ensinando lições de vida e de existência baseado nos valores éticos e estéticos e visão de mundo nagô. Nessas narrativas, personagens de animais, especialmente o jabuti, ocupam a cena principal.
Agora, com o livro de Ayoh’ Omidire de Ilê Ifé revela-se o fluxo do continuum cultural nagô-yorubá no terreno da literatura escrita das adaptações do acervo das narrativas tradicionais dos Apálo; Onde também a presença de animais, especialmente Ijàpá, o cágado que ocupa um lugar especial.
Em diversas ocasiões nos referimos a essa literatura no Brasil. ‘’ Vemos um estilo que se aproxima muito mais da chamada narrativa oral do que da narrativa escrita. A plasticidade das imagens, as analogias, as alegorias, os diálogos dramatizáveis, a maneira negra de falar, o português dos antigos africanos, procuram adaptar e ilustrar no plano do texto, o complexo contexto simbólico nagô. ’’
Da mesma forma, PEREGUN... reúne os contos adaptando-os à escrita e além disso à necessidade de realizar a continuidade da tradição cultural negro-africana reforçando os elos dos valores estéticos de nossa comunalidade transatlântica.
Os contos yorubá enfatizam a dimensão transcendente do existir, através das narrativas que englobam o fantástico, o mundo contíguo e atuante entrecruzando-se entre as fronteiras do cotidiano consciente e o bizarro latente, o indescritível, o inefável, o surpreendente.
Nele as categorias de aiyê, este mundo e orun, o além,  constituem uma relação de diferença contígua e dinâmica. A função restituidora das oferendas, o fluxo do axé, os ebós, e o conhecimento profundo dos babalawô (pais dos mistérios, conhecedores do oráculo de ifá) pode minimizar o caos oriundo do desconhecido.
Nessa medida a ética dos contos é principalmente a de procurar demonstrar essa característica do existir, isto é, o conflito entre tendência da anomia caótica de um lado, e da tentativa de controle do outro, baseado nas liturgias da religião tradicional. Em ambos aspectos o mistério, o segredo, incluso o não saber, o desconhecido se pronunciam.
Nesse ponto mais do que nunca o fluxo da existência contido no processo civilizatório negro africano, espalhado pelo ‘’novo mundo’’ nos incluem num compromisso, num comprometimento com as ‘’obrigações’’ para que os destinos se desenvolvam e esse mundo não se acabe.
Com certeza, o livro de Ayoh’ Omidire é um reforço para a manutenção do elo mais forte de nossos vínculos com a África, berço da humanidade e da civilização.
Lauro de Freitas, 16 de agosto de 2004

Marco Aurélio Luz

(Oju Oba ati Elebogui do Ilê Asipá)


Nota: Esse texto é o prefácio do livro PÉRÉGÚN E OUTRAS FABULAÇÕES DA MINHA TERRA.Contos cantados iorubá-africanos de Félix Ayoh`OMIDIRE(EDUFBA,2004) .



PRESENÇA DOS CONTOS NO PROCESSO EDUCATIVO



Os contos da tradição nagô foram recriados na experiência pioneira de educação pluricultural MINI COMUNIDADE OBA BIYI. Adaptados por Mestre Didi ele constituíram a base do currículo. 



Mini Comunidade Oba Biyi
foto M.A.Luz



"A CHUVA DOS PODERES" conto  de Mestre Didi encenada na Mini Comunidade Oba  Biyi 1985
Foto M.A.LUZ


Outras experiências se desdobraram através da divulgação  dessa experiência original através dos trabalhos de Marco Aurélio Luz dentre os quais o livro em co-autoria com Mestre Didi "Oba Biyi o Rei Nasce Aqui"(Fala Nagô,2007).
A Doutora Narcimária do PatrocÍnio Luz escreveu "A Canção do Infinito"(2009)e os integrantes da equipe pedagógica da Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra) orientaram as crianças e jovens para a encenação.
Demais encenações e narrativas dos contos se espalham enriquecendo processos educacionais.



Sidney Argolo prepara a performance musical  ACRA 2009
Foto acêrvo Narcimária P. Luz






Participantes da Associação Crianças Raízes do Abaeté desenvolvem a encenação de A Canção do Infinito de Narcimária C. P. Luz





Encenação de trechos do livro Oba Nijo(Pallas Editora,2015) pelo grupo Teatral ODEART coordenado pela Doutora Janice Nicolin durante o lançamento do livro da Doutora Narcimária Luz  Livraria Cultura.





Grupo ODEART em  "Oba Nijô o Rei que Dança Pela Liberdade"
Acervo Narcimária C. P. Luz




Encenação do conto  "A FUGA DE TIO AJAIY" de Mestre Didi, na defesa de dissertação de Mestrado de Léa Austrelina F. Dos Santos do Prodese/CNPq contando com a participação dos jovens do Ilê Asipá.


Babalawo e Akpalo a fonte dos contos nagô





Entrevista de Marco Aurélio Luz concedida a doutoranda Janice Nicolin  do PRODESE em 2015.