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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


domingo, 30 de maio de 2010

GINGA, O FUTEBOL ARTE

Por Marco Aurélio Luz

O famoso jornalista Mário Filho, autor do livro O negro e o futebol brasileiro, em certo trecho observa a reação dos jornais ingleses referindo-se a seleção brasileira em excursão na Europa em 1956 as vésperas da conquista da copa do mundo de 1958: "o futebol brasileiro tinha tudo de um circo: o comedor de fogo, o engolidor de faca, os acrobatas, os trapezistas, até os palhaços. Só não tinha essa coisa elementar que era um time."
Para muitos o futebol arte brasileiro é incompreensível. Isso porque a fonte de sua inspiração nasce da civilização africana que sofre forte recalcamento pelos sistemas neocoloniais europocêntricos. Essa recriação do futebol começa com a participação do negro. Faz com que a linguagem do futebol seja envolvida por novos valores procedentes de culturas milenares.
O jogo que era uma elaboração das formas técnicas industriais de produção, a divisão de funções do trabalho ,a serem cumpridas da melhor maneira visando unicamente o goal, que significa objetivo, produtividade, tem agora uma nova pedra angular ,isto é a noção de odara que em língua yorubá significa bom e bonito simultaneamente.
Nessa bacia semântica de formas e movimentos o técnico não se separa do estético é uma e mesma coisa. Então a ocupação do tempo e do espaço do jogo sofrerão mudanças radicais. A mesma indagação sobre a capoeira para os de fora da roda, se é dança, se é luta, se é religião se é jogo, acontece com o que viemos a chamar de futebol arte. Assim como a capoeira a base do jogo é a ginga.
A ginga é o movimento que incorpora a síncopa, o vazio que constrói a esquiva que torna o jogador invisível para o adversário. Esse movimento se faz ao sabor do ritmo do balanço,que os afro-americanos chamam de suingue. O nome ginga creio eu, deriva como homenagem a Rainha Ginga Ngola Bandi Kiluanji. Ela que enfrentou os colonialistas escravistas de Portugal e é considerada a rainha invisível por suas táticas de deslocamentos conseguindo manter o reino do Ndongo (Angola) independente, é lembrada nos autos de coroação dos reis de Congo nas congadas do Brasil.
Outra referência importante, se desdobra da noção do espaço sagrado. Nas tradições cristãs o espaço celeste é o lugar do sagrado. Toda uma estética se constitui dessa noção, desde as narrativas celestiais as pinturas das igrejas e sua arquitetura se projetando para o alto. Assim como a dança "clássica" o ballet com seus saltos para o alto, o futebol inglês não foge desse valor bola para cima e a cabeçada faz da cabeça o lugar onde o espírito se separa ou controla a matéria ou pecado de onde deve sair o goal.
Muito diferente é a noção do espaço sagrado nas culturas afro brasileiras. Aqui é o interior da terra que guarda e contém o mistério da criação, de onde se celebram a ancestralidade. Então toda uma estética está voltada para baixo, em termos de rituais, complexas danças com gestos simbólicos, onde todo o corpo e os pés em contato com o solo sacralizado realizam a comunicação entre esse mundo e o além.
Assim como a capoeira original se faz ao rés do chão o futebol arte evolui rente ao gramado.
Por fim, the last but not the least(por último e não menos importante), a concepção do corpo ascético, do corpo inerte educado para obter conhecimento apenas através da leitura ou captação de imagens, exacerbando a relação olho cérebro, faz com que se desdobre na formação de jogadores de futebol o que chamamos de cintura dura. Por outro lado, nas culturas afrobrasileiras o acesso ao saber faz um apelo a todos os sentidos promovendo a sinergia entre eles ao mesmo tempo exigindo uma comunicação direta intergrupal onde se dá e se realiza o desejo de estar junto, em interação se fortalecendo podendo se divertir e manifestar a alegria.
Daqui se desdobra também essa característica lúdica do nosso futebol arte, e através dela somos o país com mais conquistas da copa do mundo.


Após essas reflexões vale a pena acompanhar o vídeo a seguir,que ressalta a ginga como é linguagem primordial do futebol.





INTERCÂMBIO ACRA PARTE II



A ACRA no contexto do intercâmbio com a África do Sul tem início com a iniciativa do Grupo Capoeira Abolição Oxford sob a responsabilidade do Contra Mestre Luís Negão.
Em 2003 Tom Georgio e Johnny Hyams, ambos estudantes de Abolição Oxford, visitaram o vilarejo de Hamburg na África do Sul com a intenção de colaborar com a organização não governamental o Keiskamma Trust (Fundo Keiskamma). Hamburgo é um vilarejo na região costeira do sudeste da África ao longo do Rio Keiskamma.
Tom e Johnny aproximaram jovens de Hamburg da linguagem da capoeira africano-brasileira e ficam entusiasmados com o impacto das atividades desenvolvidas com os jovens.É assim que Tom Georgio e Johnny Hyams mobilizam o Contra Mestre Luís Negão e as colegas capoeiristas Naila Fayers-Kerr que se deslocam para Hamburg onde passam a incrementar as atividades de capoeira incentivando os jovens a reconhecerem os valores do lugar onde moram,a valorizarem-se,descobrirem suas habilidades,terem orgulho do que são e identificarem a força de cada um e como essas forças reunidas podem fortalecer a comunalidade de Hamburg.Assim é a ética da capoeira onde o mais velho é valorizado por deter a sabedoria capaz de estruturar os vínculos da comunidade. O grupo percebeu como a capoeira tornou-se uma das atividades mais populares na cidade, com dezenas de pessoas, de crianças, e jovens sem formação, contudo querendo vivenciar esta experiência.
A presença da capoeira do Contra Mestre Luís Negão em Hamburg África do Sul assume uma importância significativa na vida dos jovens,isto porque,há um desafio que comove profundamente a todos que se propõem a atuar nessas comunidades: a AIDS.
Dados da Keiskamma Trust revelam que em 2007 a AIDS arrasou com a vida de aproximadamente 1.000 sul africanos.Outra estatística desoladora é que dos 5. 7 milhões de sul-africanos infectados com o HIV,280 000 são crianças.Triste realidade que constitui o cenário que deixa órfãos aproximadamente 1,4 milhões de crianças.[1]
O desafio que se apresenta em Hamburg vem mobilizando membros do grupo Abolição Trust em Hamburg sob a liderança do Contra Mestre Luís Negão que se empenham em erguer espaços de sociabilidade significativos na roda de capoeira que reúne crianças e jovens que precisam encontrar acolhimento e perspectivas que os façam caminhar com dignidade e adquiram a coragem necessária para lidar com essas adversidades.




[1] Cf.http://www.keiskamma.org/

quinta-feira, 27 de maio de 2010

PARTICIPE DA 2ª EDIÇÃO DO BAZAR DA ACRA


No próximo dia 29 de maio sábado, a ACRA estará realizando 2ª Edição do seu BAZAR.A equipe de educadores/as da ACRA, criou um espaço onde serão expostos variedades de produtos interessantes:roupas,sapatos,brinquedos,accessórios femininos,e muitas outras novidades.
A primeira edição do bazar foi importante ,não apenas por socializar as atividades da ACRA,mas por ter conseguido mobilizar as famílias e os moradores de Itapuã que colaboraram adquirindo os produtos do bazar,dando apoio para fortalecer as iniciativas socioeducativas da instituição.
O bazar visa promover encontros entre todos/as aqueles/as que estão sensibilizados em consolidar as iniciativas que desenvolvemos através das oficinas de Capoeira,Grafite,Ritmos e sons,Artes Cênicas,História e Cultura Afro-brasileira,Dança,Espanhol e Inglês,enfim as condições básicas de funcionamento desses espaços lúdico-estéticos para as crianças.
Os produtos serão vendidos a partir de R$1,00(um real), a depender das características do produto exibido.
Aproveite para contribuir adquirindo algum produto,conhecer a equipe ACRA,o nosso espaço e passear na Lagoa do Abaeté.
Contamos com a presença de todos/as!
ANOTE:
Dia 29/05(sábado)
Horário:a partir das 14 hs às 18 hs.
Local:Parque Metropolitano do Abaeté(em frente a Lagoa do Abaeté)
Até lá!

domingo, 23 de maio de 2010

COPA DO MUNDO

É ano de copa do mundo, e de quatro em quatro anos durante um mês, o Brasil para pra acompanhar esse fantástico encontro de nações. Mas não, esse fenômeno do êxtase não acontece apenas no Brasil caro leitor. Todo esse entusiasmo com a chegada da copa é ainda maior no continente africano, já que é a primeira copa do mundo disputada por lá. Por todo o continente é possível ver o orgulho e a alegria com que os africanos vão receber essa copa do mundo, claro que num continente de tantos problemas um evento de tal grandeza vem para alegrar, mas deveria vir também para alertar e exibir ao mundo que o continente e principalmente a África do Sul não vive só de batuques e Vuvuzelas. Os que sentem na pele e usam a proximidade do evento para conseguir condições melhores, os que trabalham nas construções dos estádios são criticados quando fazem greve pois estão fora do clima da copa, clima onde nada mais importa.
O clima de tudo é festa é tão grande que a música tema da copa do mundo Wavin Flag que foi bancada pela Coca Cola, era um rap do rapper marfinense K’naan que falava dos problemas do continente e da esperança na recuperação da África. Mas claro que não ia ficar legal uma música falando de problemas já que a copa do mundo é o que? Só alegria! Então a Coca Cola pediu para o K’naan adaptar a musica modificando trechos dando um clima de copa do mundo a música e deixando mais uma vez os problemas de lado.

Abaixo vão traduzidos os trechos modificados da música Wavin Flag junto ao vídeo oficial da Coca Cola para a copa do mundo


Wavin Flag Versão Original


Nascido de um trono, mais forte do que Roma
A tendência violenta, zonas pobres
Mas é a minha casa, tudo o que tenho conhecido
Sempre que eu tenho crescido, ruas que teríamos passeado

Fora da escuridão, eu vim do mais distante
Entre os mais difíceis de sobrevivência
Aprenda com essas ruas, ela pode ser sombria
Não aceite a derrota, a renúncia, o recuo

Assim, lutando, lutando para comer
E nós queremos saber quando seremos livres
Assim, espera pacientemente por esse dia fatídico
Não é muito longe, mas por agora nós dizemos

Quando eu ficar mais velho, eu serei mais forte
Eles vão me chamar de liberdade assim como uma bandeira tremulante
E então ele vai voltar, e então ele vai voltar
E então ele vai voltar, oh

Assim, muitas guerras, os escores da resolução
Trazendo-nos promessas, deixando-nos pobres
Ouvi-os dizer: "o amor é o caminho"
"O amor é a resposta," que é o que dizem

Mas veja como eles nos tratam, fazem-nos crentes
Lutamos suas batalhas, então eles nos enganam
Tente controlar-nos, eles não poderiam nos segurar
Porque nós apenas temos que seguir em frente como Buffalo Soldiers* (* Buffalo Soldiers eram soldados negros do exército dos Estados Unidos da América do Norte)





Wavin Flag Versão da Coca Cola

Me dê liberdade, me dê fogo,
Me dê razão, me leve mais alto
Olhe os campeões conquistarem o campo agora,
Você nos define, nos faz sentir orgulhosos

Nas ruas estão, exaltados,
Enquanto nós perdemos nossa inibição
A celebração está em torno de nós,
todas as nações, em torno de nós

Cantando "Forever Young",
cantando músicas sob o sol
Vamos nos alegrar no lindo jogo
E juntos no fim do dia

Nós todos dizemos

Quando eu ficar mais velho, ficarei mais forte
Eles me chamarão de liberdade
como uma bandeira ao vento
E então isso voltará (4x)



Video Oficial da Coca Cola para a copa

sábado, 22 de maio de 2010

INQUIETAÇÕES SOBRE A LEI 10.639/03


Por Narcimária C. P. Luz

A efervescência do debate sobre a Lei n. 10.639/03, que entrou em vigor em 09 de janeiro de 2003 e que inclui, no currículo da Educação Básica, o estudo da História da África e Cultura Afro-Brasileira, e sua implementação no currículo oficial das escolas brasileiras são o foco da nossa análise, principalmente depois de constatarmos muita ansiedade entre os professores(as), sob a pressão de ter que contribuir no processo de implantação do ensino de História da África e História e Cultura Afro-Brasileira nas suas escolas.Levando em consideração as questões muitas vezes dispersas e equivocadas que vêm afligindo professores(as), e aquelas que habitam o imaginário de crianças, adolescentes e jovens que deverão vivenciar a Lei, aqui é importante esclarecer que o processo de sua implantação não está ocorrendo em águas tranqüilas. A Lei n. 10.639/03 é o resultado do esforço envolvendo as comunalidades africano-brasileiras que, durante muito tempo instituíram iniciativas em Educação que afirmassem e legitimassem seu patrimônio civilizatório: a África e sua (re) criação nas Américas.Apesar de reconhecermos a conquista obtida pelas comunalidades africano-brasileiras em estabelecer canais de legitimação institucionais para que o Estado assumisse a diversidade civilizatória dos povos nas políticas de educação, vimos que há equívocos na abordagem sobre a África e sua influência em nossas vidas. Isso, muitas vezes, vem ocorrendo principalmente pela adoção de perspectivas teórico-metodológicas ainda derivadas das projeções da História e da Geografia civilizatórias greco-romanas, anglo-saxônicas e ibéricas. São perspectivas que insistem em representar a África compacta, homogênea, submetida ao discurso universal que a congela no tempo e no espaço da lógica do projeto histórico da “ordem e progresso” capitalista, destituindo-a completamente dos povos que detêm milenarmente um complexo sistema de pensamento, de onde transbordam cosmogonias, universos simbólicos, um complexo sistema de comunicação cujas linguagens e valores organizam comunalidades, instituições e suas hierarquias, tecnologias, modos de produção, uma magnífica erudição estética...Nossa contribuição se apruma justamente nesse esforço, de compor a África a partir do repertório das comunalidades que a (re)criaram aqui, tornando-a visceral em nossas vidas. A África que aparece no currículo escolar soa como um lugar distante, tudo é estranho, fora das nossas entranhas. Essa África que ganha o status jurídico, no âmbito das políticas de Educação, perde a dinâmica de civilização transatlântica que há muito atravessa o nosso viver cotidiano no Brasil. Ora, se estamos dentro da dinâmica entre tradição e contemporaneidade, é preciso que se diga: a África também está aqui! Está aqui o tempo todo envolvendo nossas crianças e jovens, animando-os a estruturar suas identidades e erguer a cabeça para lidar com os espaços institucionais impregnados do recalque ao que somos, enquanto povos descendentes de africanos...

Para saber mais consulte o artigo "África Viva e Transcendente!" da Professora Narcimária Luz no Boletim nº 20 de outubro de 2006 do Programa Salto para o Futuro da TVE Brasil www.tvebrasil.com.br/SALTO

INTERCÂMBIO CULTURAL ACRA- PARTE I

Na foto da esquerda para a direita jovens da ACRA visitando Londres
Nos dedicaremos a apresentar semanalmente aspectos do intercâmbio cultural que a ACRA vem desenvolvendo desde 2005, com jovens da Inglaterra e África do Sul.Esse intercâmbio está sob a responsabilidade do Contra Mestre Luís Negão,e através dessa iniciativa temos tido oportunidade de promover espaços de sociabilidades significativos para as crianças e jovens do Brasil(Itapuã),África do Sul(Hamburg) e Inglaterra(Oxford).Acompanhem a primeira parte dessa iniciativa socioeducativa da ACRA.

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A história do intercâmbio cultural da ACRA tem na capoeira a força da sociabilidade envolvendo crianças e jovens do Brasil, Salvador ,Bahia do bairro de Itapuã, crianças e jovens do vilarejo de Hamburg na África do Sul, e jovens da cidade de Oxford na Inglaterra.O intercâmbio nasceu com a fundação da ACRA-Associação Crianças Raízes do Abaeté, em 2005 numa iniciativa do Sr. José Luis Correia do Patrocínio conhecido nas rodas de capoeira como Contra Mestre Luís Negão. O Contra Mestre Luís Negão fundador da instituição ACRA teve sua infância e adolescência vinculada ao bairro de Itapuã nos arredores da Lagoa do Abaeté, onde aprendeu a arte tradicional da capoeira e todas as linguagens ético-estéticas africano-brasileira que ela carrega. O Grupo Capoeira Abolição Oxford fundado na Inglaterra por Luís Negão,foi se consolidando e havia um interesse muito grande dos jovens capoeiristas (que não é formado apenas por ingleses mas reúne outras nacionalidades já que Oxford é uma cidade cosmopolita) de conhecer a Bahia terra que deu origem a capoeira desenvolvida pelo Contra Mestre Luís Negão.
Sobre isso o Contra Mestre Luís Negão comenta:
“...Quando falei com meus alunos de Oxford sobre a possibilidade de realizar esse intercâmbio com o Brasil e Bahia,chamei atenção para a possibilidade de cada um contribuir com o conhecimento adquirido na Universidade de apoiar as iniciativas de Educação que vinham sendo desenvolvidas na ACRA.Como sabia que uns estudavam Arquitetura,Comunicação,Medicina,Direito,Engenharia,etc,vislumbrei que as crianças e suas famílias da Bahia em Itapuã poderiam ser beneficiadas com a ida deles.Então a capoeira dos velhos africanos...E isso é o que mais me emociona!A capoeira se transformou para mim não só meu espaço de trabalho como Contra Mestre mas como um espaço de solidariedade de amizade, de perspectiva de futuro para as gerações de crianças na Bahia e no Brasil que infelizmente estão se perdendo por causa das drogas como o crack.Isso é muito triste e o intercâmbio Grupo Capoeira Abolição Oxford com a ACRA-Associação Crianças Raízes do Abaeté tem essa força de tentar superar esse caos.”
Foi assim que em 2005 ano de fundação da ACRA-Associação Crianças Raízes do Abaeté ocorreu o primeiro intercâmbio entre os jovens de Oxford.
Geralmente o intercâmbio ocorre com realização de Festival de Capoeira, palestras,exibição de filmes,documentários,oficinas de música percussiva,Encontros com Mestres de capoeira respeitados nas rodas tradicionais da Bahia ,assistência e orientação as crianças e suas famílias,reforço das aulas de inglês,etc.
Nesse intercâmbio com o Grupo Capoeira Abolição Oxford são selecionadas crianças e jovens para irem a Inglaterra compartilhar da sabedoria da capoeira com crianças e jovens de Oxford.Vale ressaltar que a Acra disponibiliza além das atividades da capoeira aulas de inglês instrumental para tornar possível o intercâmbio com a Inglaterra e África do Sul, orquestra de ritmos e sons onde as crianças aprendem a história dos instrumentos percussivos e a confeccção dos mesmos,a arte do grafite e dança afro-brasileira.

Semana que vem continuaremos a contar essa história.

sábado, 15 de maio de 2010

Itapuã quem te viu e quem te vê!


Nosso blog apresenta uma entrevista especial com a professora Narcimária C. P. Luz autora do livro para crianças e jovens “ITAPUÃ QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ”.A professora Narcimária vem acumulando ao longo da sua carreira várias iniciativas na área de Educação,visando divulgar e afirmar a diversidade cultural característica da formação social brasileira.Aqui ela nos fala da sua obra mais recente,publicada pela Editora da Universidade do Estado da Bahia-EDUNEB .O livro está à venda na livraria da EDUNEB no Cabula e em breve estará nas livrarias da cidade.

ACRA-Como surgiu esse título” ITAPUÃ QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ”?
Narcimária-
Sempre que falo de Itapuã com meus filhos ou jovens que nasceram no final dos anos 1980 e anos 1990,parece que estou me referindo a um lugar que não existe mais.Isso me impressionou muito,porque realmente a Itapuã a qual me refiro, está no meu coração,no que aprendi a sentir e identificar desde menina.Eu sei onde está a pedra ancestral-Itapuã.Mas se perguntar para alguma criança ou jovem que moram no bairro hoje,eles identificam o farol de Itapuã,sabe até onde está a Plakafor,mas não sabe onde está a pedra que ronca,e nem o valor simbólico milenar que ela carrega . Conversando sobre isso com meus pais que são educadores que vivem em Itapuã desde os anos 1960, nos demos conta de que realmente quem conheceu aquela Itapuã adornada pelas dunas,lagoas,matas,o mar e o Mercado de Peixe,não a reconhece no contexto frenético urbano-industrial que restringiu a vida desse lugar tão especial.Daí “Itapuã:quem te viu e quem te vê”.

ACRA-Sua geração não conheceu a história de Itapuã?
Narcimária-
Não.Infelizmente minha geração recebe a referência de valores do pós-guerra que vão se consolidando e nos anos 1960 tornam-se hegemônicos.Então, a sociabilidade em Itapuã que era regada a mitos,cantigas,contos tudo que estivesse relacionado ao patrimônio dos povos “indígenas” e africanos,como a “pedra que ronca”,vão sendo classificadas como folclore.Eu queria que a minha geração tivesse tido a oportunidade de conhecer profundamente o patrimônio milenar que Itapuã carrega,herança desses povos que constituem a formação social das Américas.

ACRA-Conte-nos sobre a experiência de escrever esse livro.
Narcimária-
Acho que quando escrevi essa peça que tem a estrutura e forma de um auto-coreográfico para crianças e jovens, foi como uma forma de comunicar aspectos da história de Itapuã que elas desconhecem.Lembrei muito de mim que conheço Itapuã desde os seis anos de idade,e que gostaria de ter tido oportunidade de saber do legado de valores dos nossos ancestrais africanos e dos tupinambás aqui em Itapuã.Daí foi saboroso escrever (re)visitando lembranças e lugares da minha infância e juventude.Não posso deixar de registrar que também tive que pesquisar muito em arquivos,registros iconográficos,entrevistas com personalidades antigas e lideranças expressivas daqui.

ACRA-Essa história se fixa numa cronologia com um tempo histórico determinado ou é atemporal?
Narcimária-
Não, ela é atemporal.A História que fui compondo atravessa os tempos.Não tem uma data exata matematicamente calculada,não.O texto entrelaça música,poesia,coreografias,brincadeiras,humor,vocabulário próprio dessa geração “século XXI”.

ACRA-Vocês vão estrear quando e em que Teatro?
Narcimária-
Quando não sabemos.Por enquanto estamos identificando a equipe que irá sustentar poeticamente(risos) e tecnicamente o auto-coreográfico.A idéia é não encenar num palco,estilo teatro italiano.A equipe ACRA já conhece a linguagem que costumo realizar na área de Educação, e é cuidadosa no trato da linguagem para comunicar a história.A encenação que envolve,música,dança,brincadeiras,cantigas,etc será num espaço em forma de uma grande roda,com as crianças sentadas em esteiras próximas e interagindo profundamente com as personagens.

ACRA-Como são as personagens?
Narcimária-
É engraçado como fui compondo... Dei vida a pedra Itapuã que assumiu o sentimento e emoção de uma menina que tem uma irmã pré-adolescente que é Piraboca.O Farol também assume o sentimento e emoção de um jovem que vem de Portugal trabalhar fazendo sinalização para as embarcações,e finalmente Plakafor,uma famosa atriz de cinema americano que chega em Itapuã e tenta imprimir os valores americanos por aqui.A trama se desenrola com essas personagens.

ACRA-Você já tem alguma avaliação,crítica sobre o livro?
Narcimária-
Sim.Através da leitura crítica de algumas crianças ,jovens e educadores/as que conheceram a história,fiquei sabendo do prazer e satisfação que tiveram em ler o texto.Disseram que o enredo é muito divertido e tem uma base socioeducativa importante.

ACRA-Fale-nos da importância de “ITAPUà QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ”para o campo da Diversidade Cultural e Educação.
Narcimária-
Espero que essa história circule entre muitas gerações e que as escolas,principalmente as escolas públicas utilizem como material didático,que lida com vários campos do conhecimento:Matemática,Música,Literatura,Biologia,Botânica,Geologia,Geografia,História,Dança,Artes Plásticas,Língua Tupi,Língua Yorubá,etc.

ACRA-Então estamos diante de um livro valioso para os educadores/as utilizarem?
Narcimária-
Sem nenhuma modéstia. Reconheço que é uma material muito rico para os educadores/as ,inclusive para aqueles/as que desejam explorar as diretrizes da Lei 10.639/03 e 11.465/08.Agora,não basta copiar ou “seguir a risca” o que está no livro,mas sim, transcendê-lo,aproximando–se da Itapuã que viceja em cada uma das crianças que ouvem a história.Cada criança e jovem sente a história de uma forma, e é através da riqueza de perspectivas dos lugares que compõem Itapuã(Nova Brasília,Abaeté,Baixa da Soronha,Palame,Alto do Cajueiro,Cacimba,etc) que o educador deverá atuar.

ACRA-Já temos atores e atrizes para o auto-coreográfico?
Narcimária-
Sim.Quando fui desenhando as personagens já me vinha a cabeça quem seriam os atores e atrizes que poderiam interpretá-los.

ACRA-Qual ou quais as personagens que você mais gosta?
Narcimária-
Gosto de todas as personagens.São muito vivos e divertidos!O forte são os diálogos entre Itapuã e Piraboca face a ameaça que o Farol e a Plakafor trazem para o lugar .É nessa tensão e conflito que a história se desenvolve.

ACRA-Gostaria de registrar uma mensagem sua para nossos/as visitantes que em sua maioria são educadores/as.
Narcimária-
A mensagem que compartilho com a ACRA está na apresentação do livro:”
“Itapuã quem te viu e quem te vê”,magnifica as presenças das comunalidades tupinambá e africana, abrindo perspectivas de afirmação do princípio de ancestralidade que dinamiza o estar no mundo de muitas comunalidades na Bahia, portadoras de sabedorias milenares,como temos vivenciado em Itapuã. Depois de nos aproximarmos de tantos aspectos singulares de Itapuã,ficamos muito eufóricos e com uma enorme satisfação de poder identificar perspectivas de linguagens importantes para a área de Educação,isto porque,elas são capazes de acolher o que há de mais precioso para qualquer ser humano:o direito de ser! Ser aceito,ser amado,receber carinho, receber atenção,ser escutado,ser respeitado pelo que é principalmente pelos vínculos comunais que seus ancestrais estabeleceram,ser respeitado por fazer parte da dinâmica da civilização africano-brasileiro,enfim,ter orgulho de ser.
Nossas crianças e jovens precisam e a todo tempo reivindicam o direito a existência.
Itapuã é uma territorialidade que faz transbordar esse orgulho de ser,e ainda há tempo para que nós educadores identifiquemos essa força de sociabilidade africano-brasileira que atravessa Itapuã

ITAPUÃ MINHA ARKHÉ

Performance TRANSFORMAÇÃO
Agnaldo Fonsceca

Nosso entrevistado essa semana é Agnaldo Fonsêca, nascido e criado em Itapuã na antiga rua Joana Angélica, em Nova Brasília. Agnaldo nos conta uma bela história,comunicando sua força, seu olhar e sentimento sobre o mundo,de modo especial a territorialidade africano-brasileira que é ITAPUÃ. A foto em destaque é uma criação performática de Agnaldo,apresentada no âmbito da disciplina História e Cultura Afrobrasileira do curso de graduação em Pedagogia na UNEB Campus I, sob a responsabilidade das Professoras Narcimária Luz, Jackeline Pinto do Amor Divino e Magno Santos. Sobre a performance TRANSFORMAÇÃO Agnaldo comenta sua criação:”Representa os vários momentos de nossa vida em que há mudanças. Simboliza o nosso trabalho para a sobrevivência. A ancestralidade presente no nosso ser e fazer. As vestes que nos representa. O despir-se do que não serve e a busca da nossa essência humana. A relação com a terra que nos alimenta e sinaliza o nosso destino. A complexidade humana que carregamos na cabeça. As sementes que colocamos no mundo: os filhos e a sabedoria dos mais velhos, além do orgulho de sentir-se e pertencer a uma identidade étnica".

ACRA - Que lembranças você tem da sua infância em Itapuã?

AGNALDO- Quando criança seguia com minha mãe, sempre aos finais de semana que ia lavar roupas na Lagoa do Abaeté e esse período se torna inesquecível em minha memória, além de lembrar que no final da rua, hoje atual água suja, havia uma fonte de água para o consumo doméstico, construída pelo meu pai e que toda a comunidade utilizava e o transporte era feito em lata na cabeça para encher os vasilhames e toneis. Nessa minha infância não existia ainda água canalizada.

ACRA - Onde você estudou?

AGNALDO-No início de minha formação escolar estudei o primário na Escola Dona Jenny Gomes, na Vila dos Ex-combatentes e no Ginásio no Colégio Estadual Governador Lomanto Júnior, na Estrada do Farol.

ACRA - Como você se aproximou da linguagem da dança?

AGNALDO- Foi no Colégio Estadual Governador Lomanto Júnior. Foi nesse período que me vi tomado e seduzido pela dança. Espontaneamente participava das atividades de artes da disciplina Educação Artística, elaborando e produzindo com um pequeno grupo coreografias de dança. A partir daí, passei a fazer parte do grupo folclórico do Colégio, coordenado por Sandoval Nascimento (Abaeté) e Jorjão Bafafé.

ACRA-E depois como foi que você expandiu esse dom e talento na área da dança?
AGNALDO-
Depois com várias experiências com grupos folclóricos passei a integrar o Balé Folclórico da Bahia, chegando a conhecer as cidades de Berlim e Lisboa na Europa. Depois de quatro anos saio do Cia e vou trabalhar com Bandas de Axé.Com a Banda Mel passo a conhecer vários estados do Brasil, ficando apenas seis meses. Passo a participar de vários cursos de extensão na UFBA e nas Escolas de Dança da cidade de Salvador.
ACRA-Conte-nos um pouco da sua trajetória no exterior explorando espaços em que a dança comunicava suas referências da Bahia e de Itapuã.
AGNALDO-
Na Escola de Dança culminou em uma audição para trabalhar em uma fundação em New York: A Capoeira Fundation, do Diretor e Mestre Jelon Vieiras. Trabalhando em constantes viagens para os Estados Unidos durante um ano, inclusive administrando aulas de danças folclóricas nas escolas de lá, em New York e no Texas.
ACRA - Como aconteceu a sua inserção no Balé do Teatro Castro Alves na Bahia?
AGNALDO-
Depois dessa fase no exterior, faço o concurso do BTCA em 1994 e sou aprovado, participando lá de quase todos os repertórios criados pela Companhia de Teatro.
ACRA-Fale-nos da sua participação no Bloco Afro Malê Debalê que fica em Itapuã no Abaeté.
AGNALDO-
O Bloco Cultural Malê Debalê passa a fazer parte de minha iniciativa em colaborar com bairro de Itapuã. Em 1989, onde, não só fui coordenador da ala de dança, como também coordenador do Departamento de Arte e Cultura e do Festival da Escolha do Negro e da Negra Malê de 2005 que contou com a participação do cantor Emílio Santiago.
ACRA-Como filho de Itapuã, que utiliza a dança e sua formação em Pedagogia como um canal valioso para comunicar valores necessários à composição de uma ética do futuro para as gerações sucessoras, que mensagem você gostaria de compartilhar com nossos/as visitantes do blog ACRA.
AGNALDO-
Perceber a diversidade cultural que Itapuã comporta, e o seu legado histórico, traduzidos nos mitos que permeiam a comunidade, é o que mais me encanta e me faz sentir e pertencer a uma raiz civilizatória original. Pois, mesmo tendo uma mãe que veio de Ilha de Maré, trazida por minha avó que não conheci, e entregue na casa de pessoas com recursos para trabalhar que não teve oportunidade de conhecer o pai, e sendo eu filho de um pai presente, que assume seus deveres de pai e trabalhador valente para sustentar uma família de oito filhos... Isso me faz me sentir guerreiro e descendente ativo de uma identidade original e sábia que é a dos povos que comungam com seu meio natural, cósmico,humano e divino - a cultura africana e indígena.Ser de Itapuã me referencia e me autentica como ser ativo de um legado transcendental. E a dança é um meio para me perceber nesse universo. Luz!

sábado, 8 de maio de 2010

“DIA DO PRETO VELHO”

Foto de Narcimária C. P. Luz

REFLEXÕES A PROPÓSITO DO 13 DE MAIO

Marco Aurélio Luz
Tudo começa quando o reino do Ndongo, Angola, da famosa rainha Ginga (1583-1663) e o Quilombo dos Palmares (1600-1695) dos líderes Ganga Zumba e depois Zumbi, lutando pela soberania e liberdade, quebram o eixo do tráfico escravista Angola-Pernambuco explorado pela Coroa Portuguesa, então a maior fonte de lucros da Companhia das Índias Ocidentais.
Mais tarde, a política colonial inglesa se projetou com intensidade no Brasil; iniciada quando trouxera D. João VI, rei de Portugal escapando da investida de Napoleão sobre Lisboa. Essa política se caracterizava por tentar estabelecer uma nova estratégia colonial; mudar para nada mudar.
Essa estratégia se estabelece quando o líder quilombola Dessalines derrota as tropas de Napoleão e garante a independência do Haiti (1804). A Jamaica colônia vizinha obriga os ingleses negociarem áreas libertadas com o capitão Cudgoe (1737e1796). Eles então resolveram estabelecer essa nova estratégia que constava do fim da vinda de africanos para as Américas e do incentivo da vinda de imigrantes europeus, a política de embranquecimento, da abolição da escravatura, da criação do mercado de trabalho para os novos habitantes e independência política associada à absoluta dependência econômica e militar. Em lugar das colônias de exploração, agora neocoloniais de exploração e povoamento.
O Tratado de Methuen (1703) já deixara Portugal na condição de comprador de todas as manufaturas inglesas, de um prego a um navio. Em troca os ingleses compram os vinhos. O incessante déficit da balança comercial da Coroa Portuguesa era coberto por empréstimos do capital financeiro dos bancos da própria Inglaterra. Com a independência o Brasil fica com essa herança.
Quando os navios de guerra ingleses abatem os navios tumbeiros que insistiam em burlar as leis do fim do tráfico escravista (1830), diante da reação de setores escravocratas, assim se manifesta José Bonifácio, em carta à Chamberlain, cônsul da Inglaterra: “Gostaria que os ingleses capturassem todo navio negreiro... não quero vê-los nunca mais: são a gangrena de nossa prosperidade. A população que queremos é branca...” Com o fim do tráfico escravista, a abolição da escravatura eram favas contadas.
Apesar de ter sido o último país a abolir a escravidão, a chamada “Guerra do Paraguai” (1864-1870) foi um passo importante na aceleração do processo nessa direção.
Com ela os ingleses conseguiram realizar vários intentos. Acabar com o “mau exemplo” do Paraguai, a nação Guarani, em tentar contornar e superar a dependência político-econômica, enfim romper o laço do imperialismo; diminuir drasticamente as populações não brancas na América do Sul, diminuir o número de escravos, e sobretudo, “the last but not the least,” aumentar consideravelmente a dívida externa financiando a venda de suas próprias armas para os litigantes especialmente o Brasil.
Os chamados “voluntários da pátria” eram os “senhores de escravos” que cediam dez ou mais escravizados para constituírem as tropas do Brasil. Nessa situação fica na memória a cantiga da Umbanda:
“Beira-Mar auê Beira-Mar
Ogun já jurou bandeira
Nas portas de Humaitá
Ogun já venceu demanda
Vamos todos saravá”.
Em meio a tudo isso a população negra por outro lado procurou “caçar jeito de viver”, aproveitando das liberdades alcançadas para ir repondo as instituições de sua civilização recriando uma nova cultura e territorialização mantendo a essência das tradições em suas redes comunitárias, comunalidades como até hoje...
Muitos voltaram libertos, superando o sofrimento e concorrendo para a contínua corrente de libertação, e em memória aos que de várias formas honraram nosso passado, nessa data se faz homenagem ao DIA DO PRETO VELHO. Em memória a D. Maria Batuque encerramos com a letra da cantiga preferida de despedida de sua entidade, Vovó Maria Conga.

“O sol nasceu já vai baiana
O sol nasceu nas ondas do mar, o,o,o
As ondas no mar batiam
Lá se vai Maria Conga
Feticêra da Bahia”

HOMENAGEM AS MÃES


MÃE

Januária Avelina Correia do Patrocínio


Tradução de ternura e altivez
Eterna e benfazeja mulher
Carinho e sensatez
Amando a toda vez

Mãe
Você é mulher a todo instante
Amiga fiel e constante
Enfrenta a dor e o sofrimento
Sem temer nada em nenhum momento

Mãe
Seus filhos a querem presente
Viva ou morta
Sã ou doente
Sua força eterna e latente
Enfrenta o homem prepotente

Você é mulher
Que luta, briga e lida
Mulher que conhece e sabe o que quer
Mulher com seu carinho e guarida
Mulher mãe, sempre querida
Mulher você é força
Você é vida

Seu ventre transformou-se
Sua aura adornou-se com rosas
Natureza és
Mãe
Eterna e gloriosa
Lutadora, fonte de vida

CONTRA MESTRE LUÍS NEGÃO, IDEALIZADOR DA ACRA

Contra Mestre Luís Negão numa performance para documentário sobre a capoeira na Inglaterra



Contra Mestre Luís Negão com jovens da África do Sul no âmbito do Festival Internacional de Capoeira na ACRA em 2008
Nossa Bahia é linda por vezes até calorosa, mas na realidade nem sempre consegue acolher os seus filhos/as. A Bahia tende a ser acolhedora dos que vem “além mar”,infelizmente.Ela só abraça seus filhos/as quando eles/elas retornam cheios de medalhas e louros.Está é mais uma história de um dos seus filhos,soteropolitanos e morador de Itapuã,lugar cantado em verso e prosa,que pelas contingências do destino ,vai morar na Inglaterra.
José Luís Correia do patrocínio, conhecido na Inglaterra como “our teacher” (nosso professor) Professor Luís Negão! “Negão is his capoeira nick name and means big Black” (Negão é o seu nome de alcunha de capoeira e significa Negro Grande, Negão).
Capa de várias revistas, e jornais ingleses pelo seu mérito do seu trabalho em saber aglutinar gerações de jovens de várias partes do mundo através da capoeira, para aprender a sabedoria dos velhos africanos.
Ele tem se dedicado há mais de dez anos, a iniciativas socioeducativas no Brasil, Inglaterra e África do Sul, realizando intercâmbio importantes visando à superação das situações adversas que vêm sucumbindo à vida de muitos jovens.
A história desses intercâmbios tem na capoeira de Luís Negão a força da sociabilidade envolvendo crianças e jovens do Brasil, Salvador Bahia do bairro de Itapuã, também crianças e jovens do vilarejo de Hamburg na África do Sul, e jovens da cidade de Oxford na Inglaterra.A ACRA - Associação Crianças Raízes do Abaeté, NASCEU em 2005 numa iniciativa do Sr. José Luis Correia do Patrocínio conhecido nas rodas de capoeira como Contra Mestre Luís Negão.
O Contra Mestre Luís Negão teve sua infância e adolescência vinculada ao bairro de Itapuã, nos arredores da Lagoa do Abaeté, onde aprendeu a arte tradicional da capoeira e todas as linguagens ético-estéticas africano-brasileira.
Em 2001 pelas contingências do destino, Luís Negão foi morar em Oxford na Inglaterra onde criou o Grupo Capoeira Abolição Oxford formado por jovens estudantes da tradicionalíssima Universidade de Oxford. O Grupo Capoeira Abolição Oxford, foi se consolidando e havia um interesse muito grande dos jovens capoeiristas (que não é formado apenas por ingleses mas reúne outras nacionalidades já que Oxford é uma cidade cosmopolita) de conhecer a Bahia terra que deu origem a capoeira.
Sobre isso o Contra Mestre Luís Negão comenta:
“... Quando falei com meus alunos de Oxford sobre a possibilidade de realizar esse intercâmbio com o Brasil e Bahia, chamei atenção para a possibilidade de cada um contribuir com o conhecimento adquirido na Universidade de apoiar as iniciativas de Educação que vinham sendo desenvolvidas na ACRA. Como sabia que uns estudavam Arquitetura, Comunicação, Medicina, Direito, Engenharia, etc, vislumbrei que as crianças e suas famílias da Bahia em Itapuã poderiam ser beneficiadas com a ida deles. Então a capoeira dos velhos africanos... E isso é o que mais me emociona! A capoeira se transformou para mim não só meu espaço de trabalho como Contra Mestre, mas como um espaço de solidariedade de amizade, de perspectiva de futuro para as gerações de crianças na Bahia e no Brasil que infelizmente estão se perdendo por causa das drogas como o crack. Isso é muito triste e o intercâmbio Grupo Capoeira Abolição Oxford com a ACRA - Associação Crianças Raízes do Abaeté tem essa força de tentar superar esse caos.”
Foi assim que em 2005 ano de fundação da ACRA - Associação Crianças Raízes do Abaeté ocorreu o primeiro intercâmbio entre os jovens de Oxford. A presença da capoeira do Contra Mestre Luís Negão em Hamburg África do Sul, assume uma importância significativa na vida dos jovens, isto porque, há um desafio que comove profundamente a todos que se propõem a atuar nessas comunidades: a AIDS. Dados da Keiskamma Trust revelam que em 2007 a AIDS arrasou a vida de aproximadamente 1.000 sul africanos. Outra estatística desoladora é que dos 5. 7 milhões de sul-africanos infectados com o HIV, 280 000 são crianças. Triste realidade que constitui o cenário que deixa órfãos aproximadamente 1,4 milhões de crianças










RECOMENDAÇÃO DE LEITURA

Professora Rosângela A. L. Correia pesquisadora do PRODESE no âmbito do Festival de Arte Afro-brasileira da ACRA

Recomendamos a leitura dos artigos publicados na Revista África e Africanidades,em especial dois textos de autoria das professoras Rosãngela A. L. correia e Hildete Costa,que tratam de aspectos relacionados ao patrimônio africano no Brasil,e de modo especial na Bahia.
Um dos artigos de autoria da professora Rosângela Accioly Correia,pesquisadora do PRODESE intitulado " AWON OMODÉ :AS LINGUAGENS AFRICANO-BRASILEIRAS NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO INFANTIL" ,aborda as linguagens africano-brasileiras que são desenvolvidas no Centro de Educação Infantil Vovô Zezinho, no bairro de Arenoso em Salvador na Bahia com crianças na idade de três anos.
O outro artigo é de autoria da professora Hildete Santos Costa,"Os gestores da informação,a educação plural e os acervos culturais afro-brasileiros", tratando da importância dos acervos afro-brasileiros enfatizando a importância dos gestores da informação no processo de resgate, organização, preservação e disseminarão dos acervos culturais afro-brasileiros"
Vale a pena conferir!
http://www.africaeafricanidades.com.br/

sábado, 1 de maio de 2010

DIA DO TRABALHO


Foto de Narcimária C. P. Luz

Colaboração Marco Aurélio Luz

Mais que uma data de feriado e política sindicato-eleitoral o "dia do trabalho" nos leva também a algumas reflexões. No "mundo dos valores brancos" da acumulação incessante de capital, primeiramente vamos nos referir à contribuição de Marx elaborando a lei econômica da mais valia em que demonstra que a riqueza no capitalismo se origina do valor da força de trabalho não pago ao trabalhador e apropriado pelo proprietário dos meios de produção. O trabalhador livre, "livre de tudo" que é obrigado para sobreviver a se oferecer no mercado de trabalho ao sabor da luta de classe. Hoje em dia ele é mais seduzido à sujeição voluntária por diversos aparelhos ideológicos do Estado que coagido. Se bem que entre nós continue em vigor a Lei da Vadiagem que garante a obrigatoriedade pela força pública em caso de precisão.
No tempo da escravidão, que não está muito longe, em 1771, frei Antonil relatou:
"(...)no Brasil costumavam dizer que para o escravo são necessários três p, a saber: Pau, Pão e Pano. E posto que comecem mal, principalmente pelo castigo que é o pau, contudo provera Deus que tão abundante fosse o comer e o vestir como muitas vezes é o castigo, dado por qualquer cousa pouco provada e levantada, e com instrumentos muitas vezes de muito rigor... de que não se usa nem com os brutos animais castigar com ímpeto, ânimo vingativo, por mão própria e com instrumentos terríveis..."
Enfim não precisamos continuar, é o trabalho no cativeiro; forçado sob tortura...
Muito diferente é o trabalho no "mundo dos valores negros" nos inspirando no Festival Epa em Ekiti. Aqui primeiramente ele é compreendido pela tradição como o princípio do caçador do ferreiro e do organizador. Nos primórdios da saga da humanidade é o princípio caçador que garante as provisões necessárias a manutenção e expansão de sua gente. O princípio do ferreiro, da criação de instrumentos que proporciona os avanços tecnológicos para a proteção e projeção da sociedade. O princípio do organizador que estabelece as regras do convívio social, a ordem das divisões do trabalho, o equilíbrio hierárquico.
A “alquimia” da culinária que estabelece entre o alimento cru e o cozido os limites entre a natureza e a civilização está na órbita dos princípios e poderes femininos. São elas as que também alimentam os nascituros e assim garantem a continuidade da espécie.
O trabalho aqui tem sempre um caráter cooperativo visando à auto-proteção e expansão dos grupos, das famílias, das linhagens, das cidades, da civilização, da ancestralidade.
Fonte das elaborações desse viver é a tradição religiosa que garante o bem estar nesse mundo através da circulação das forças espirituais que circulam entre esse mundo e o além.
Por fim devemos realçar que nesse contexto o trabalho está envolvido por uma relação indissolúvel entre o técnico e o estético, odara, que faz dele uma atividade lúdica, o prazer de estar junto em colaboração, associada ao prazer de sedução da beleza que é finalizada com a prazerosa obtenção do resultado.
Tive a oportunidade de presenciar a pesca do Xaréu, o canto das lavadeiras, e participo das ações no âmbito de diversas instituições da tradição sócio cultural afro- brasileira que podem ilustrar essa forma de trabalho. Nesse mutirão não pode faltar a alegria.

CANTANDO,DANÇANDO E INSURGINDO
Para além do valor do trabalho baseado no individualismo,competição,acumulação de bens,riqueza e a vida em solidão,trazemos uma ilustração divertida sobre a recusa às relações de trabalho que regem o espaço e tempo neocolonial.
Aqui vai o suingue e vozeirão de Tim Maia cantando "Sossego".
Divirtam-se!