Nosso entrevistado essa semana é Agnaldo Fonsêca, nascido e criado em Itapuã na antiga rua Joana Angélica, em Nova Brasília. Agnaldo nos conta uma bela história,comunicando sua força, seu olhar e sentimento sobre o mundo,de modo especial a territorialidade africano-brasileira que é ITAPUÃ. A foto em destaque é uma criação performática de Agnaldo,apresentada no âmbito da disciplina História e Cultura Afrobrasileira do curso de graduação em Pedagogia na UNEB Campus I, sob a responsabilidade das Professoras Narcimária Luz, Jackeline Pinto do Amor Divino e Magno Santos. Sobre a performance TRANSFORMAÇÃO Agnaldo comenta sua criação:”Representa os vários momentos de nossa vida em que há mudanças. Simboliza o nosso trabalho para a sobrevivência. A ancestralidade presente no nosso ser e fazer. As vestes que nos representa. O despir-se do que não serve e a busca da nossa essência humana. A relação com a terra que nos alimenta e sinaliza o nosso destino. A complexidade humana que carregamos na cabeça. As sementes que colocamos no mundo: os filhos e a sabedoria dos mais velhos, além do orgulho de sentir-se e pertencer a uma identidade étnica".
ACRA - Que lembranças você tem da sua infância em Itapuã?
AGNALDO- Quando criança seguia com minha mãe, sempre aos finais de semana que ia lavar roupas na Lagoa do Abaeté e esse período se torna inesquecível em minha memória, além de lembrar que no final da rua, hoje atual água suja, havia uma fonte de água para o consumo doméstico, construída pelo meu pai e que toda a comunidade utilizava e o transporte era feito em lata na cabeça para encher os vasilhames e toneis. Nessa minha infância não existia ainda água canalizada.
ACRA - Onde você estudou?
AGNALDO-No início de minha formação escolar estudei o primário na Escola Dona Jenny Gomes, na Vila dos Ex-combatentes e no Ginásio no Colégio Estadual Governador Lomanto Júnior, na Estrada do Farol.
ACRA - Como você se aproximou da linguagem da dança?
AGNALDO- Foi no Colégio Estadual Governador Lomanto Júnior. Foi nesse período que me vi tomado e seduzido pela dança. Espontaneamente participava das atividades de artes da disciplina Educação Artística, elaborando e produzindo com um pequeno grupo coreografias de dança. A partir daí, passei a fazer parte do grupo folclórico do Colégio, coordenado por Sandoval Nascimento (Abaeté) e Jorjão Bafafé.
ACRA-E depois como foi que você expandiu esse dom e talento na área da dança?
AGNALDO- Depois com várias experiências com grupos folclóricos passei a integrar o Balé Folclórico da Bahia, chegando a conhecer as cidades de Berlim e Lisboa na Europa. Depois de quatro anos saio do Cia e vou trabalhar com Bandas de Axé.Com a Banda Mel passo a conhecer vários estados do Brasil, ficando apenas seis meses. Passo a participar de vários cursos de extensão na UFBA e nas Escolas de Dança da cidade de Salvador.
ACRA-Conte-nos um pouco da sua trajetória no exterior explorando espaços em que a dança comunicava suas referências da Bahia e de Itapuã.
AGNALDO- Na Escola de Dança culminou em uma audição para trabalhar em uma fundação em New York: A Capoeira Fundation, do Diretor e Mestre Jelon Vieiras. Trabalhando em constantes viagens para os Estados Unidos durante um ano, inclusive administrando aulas de danças folclóricas nas escolas de lá, em New York e no Texas.
ACRA - Como aconteceu a sua inserção no Balé do Teatro Castro Alves na Bahia?
AGNALDO- Depois dessa fase no exterior, faço o concurso do BTCA em 1994 e sou aprovado, participando lá de quase todos os repertórios criados pela Companhia de Teatro.
ACRA-Fale-nos da sua participação no Bloco Afro Malê Debalê que fica em Itapuã no Abaeté.
AGNALDO- O Bloco Cultural Malê Debalê passa a fazer parte de minha iniciativa em colaborar com bairro de Itapuã. Em 1989, onde, não só fui coordenador da ala de dança, como também coordenador do Departamento de Arte e Cultura e do Festival da Escolha do Negro e da Negra Malê de 2005 que contou com a participação do cantor Emílio Santiago.
ACRA-Como filho de Itapuã, que utiliza a dança e sua formação em Pedagogia como um canal valioso para comunicar valores necessários à composição de uma ética do futuro para as gerações sucessoras, que mensagem você gostaria de compartilhar com nossos/as visitantes do blog ACRA.
AGNALDO- Perceber a diversidade cultural que Itapuã comporta, e o seu legado histórico, traduzidos nos mitos que permeiam a comunidade, é o que mais me encanta e me faz sentir e pertencer a uma raiz civilizatória original. Pois, mesmo tendo uma mãe que veio de Ilha de Maré, trazida por minha avó que não conheci, e entregue na casa de pessoas com recursos para trabalhar que não teve oportunidade de conhecer o pai, e sendo eu filho de um pai presente, que assume seus deveres de pai e trabalhador valente para sustentar uma família de oito filhos... Isso me faz me sentir guerreiro e descendente ativo de uma identidade original e sábia que é a dos povos que comungam com seu meio natural, cósmico,humano e divino - a cultura africana e indígena.Ser de Itapuã me referencia e me autentica como ser ativo de um legado transcendental. E a dança é um meio para me perceber nesse universo. Luz!
Fico feliz em ver a divulgação do trabalho do meu colega Agnaldo no blog do ACRA. É bastante gratificante ver uma pessoa com uma trajetória de vida tão difícil como a minha de muitos colegas, ter lugar de destaque em uma instituição de reconhecimento, como o espaço artístico.
ResponderExcluirParabéns Agnaldo!
atenciosamente, Ludimila Miranda