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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 2 de julho de 2011

OLANADE, O ESCULTOR CHEGOU

Por Marco Aurélio Luz




As esculturas que compõem e adornam as varandas dos palácios reais yoruba tem um valor estético e histórico. Elas também expressam variados aspectos da visão de mundo característica do reino através da arte escultórica tradicional.Foto Marco Aurélio Luz


Tive a honra e a alegria de conhecer o escultor  Fakeye durante a IIª  Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura em 1983 realizada em Salvador.
A Iª Conferência foi realizada em Ifé cidade sagrada da tradição yoruba com a presidência do professor Wande Abimbola reitor da Universidade. Com a representação ilustre de Mestre Didi Alapini da tradicional família Axipá, o Brasil foi indicado e qualificado para realizar a próxima Conferência em Salvador.
Nessa ocasião a delegação africana, a mais representativa composta de mais de trinta líderes sacerdotais promoveu um reencontro histórico que deveras engrandeceu ainda mais a Conferência enchendo de orgulho a comunalidade religiosa africana, afro- brasileira e afro-americana.

Fakeye integra a delegação dos africanos ensejando o reencontro histórico visitando o terreiro do Gantuá ou Gantois ou ilê Iya Omi Axé Iyamasse sendo recebidos com muita alegria nos corações pelos integrantes da comunidade religiosa durante a IIª Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura. Foto A. Ikissima.

Além das atividades no Centro de Convenções de Salvador, os reencontros se sucediam em visitas as casas de culto, ilê axé de Salvador e recôncavo, alegrando e enchendo de felicidade os corações de nossa gente. Em outra passagem de Fakeye pela Bahia encontrei-me com ele a partir de uma exposição de suas peças no ACBEU, Associação Cultural Brasil-Estados Unidos.
Convém lembrar que desde 1962 quando era artista em residência na Western Michigan University, Fakeye inicia inúmeros intercâmbios com Universidades, museus e galerias dos EUA até 1999 quando é nomeado Artista Visitante Kellog para Michigan: Smithsonian exposição retrospectiva.



Catálogo da Exposição de Fakeye no ACBEU (Salvador Bahia)

 Quando estive com Fakeye era grande a minha admiração especialmente porque iniciava meus trabalhos de escultor no âmbito da arte sacra tradicional nagô.
Então fui me aproximando muito a vagar até que fui convidado a visitá-lo na moradia que o estava abrigando em Salvador. Era num conjunto de apartamentos debruçado na Av. Vasco da Gama. Foi nessa ocasião que tive a felicidade de adquirir uma magnífica peça de um oxê Xangô.


Coluna
Escultura de Fakeye

Foto disponível em Smithsonian Natural History web: African Voices.


Oxê Xangô
Escultura de Fakeye
Foto disponível em Smithsonian Natural History web: African Voices.
A partir de então em outra ocasião tive a coragem e a ousadia de lhe apresentar também um oxê Xangô, de minha autoria. Ele observou com cuidado e admiração e depois de alguns segundos, que pra mim pareciam horas, ele perguntou-me qual era aquela madeira...?


Oxê Xangô escultura de Marco Aurélio Luz
Foto M.A.Luz

Ora aquela madeira era um retalho de Pau Paraíba sobra da fábrica de tamancos de Seu Mário Oba Telá lá na roça do Ilê Axé Opô Afonjá onde, com as influências de Mestre Didi Alapini meu pai e de meu irmão Nézinho Alabê iniciei minhas andanças pelo mundo das esculturas.
Tão entusiasmado eu estava, e sabendo que Fakeye desde 1978 era docente da Universidade de Ifé, ou Obafemi Awolowo University, que me interessei em procurar me aprimorar num aprendizado indo para lá; mas aí ele me tranqüilizou dizendo:

-“Vá fazendo as esculturas, quando estiver com umas vinte já vai estar bem”...

Desde então tenho seguido seus conselhos, e também estudando e observando a estética da tradição, vivenciando os valores da visão de mundo milenar que se expressa através de complexa simbologia.
Lamidi Fakeye Olonade nasceu em 1928 em Orangun, Nigéria. Foi-lhe dado o nome de Olonade que significa, o escultor chegou. Ele constitui a sexta geração de escultores da arte tradicional yorubá.
O nome Fakeye como é mundialmente conhecido, é um nome de família originado de um título recebido por seu bisavô que foi escultor e babalawo. Esse título refere-se ao sacerdócio de Ifá dedicado ao oráculo, e foi concedido pelo rei o direito das gerações seguintes usá-lo como nome de família.


 Lamidi Fakeye Olonade
 Foto disponível em Smithsonian Natural History web: African Voices.


As obras de Fakeye estão espalhadas pelo mundo desde África. Suas esculturas têm um tratamento complexo e bastante detalhado com sutis e cuidadosas terminações com muita figuração geométrica. Elas possuem o mais das vezes dimensões imanentes e transcendentes que envolvem a simbologia que atravessa o cotidiano da gente yorubá.
Seu estilo único é muito complexo, as peças são muito trabalhadas e adornadas, leves sutis e elegantes.
Fakeye nos deixou em 2009, mas nos legou uma obra magnífica que está sendo herdada e continuada por seus parentes descendentes, Akin Fakeye, Akeen Fakeye, e Lukman Fakeye.
Aproveito então para saldar o mestre Lamidi Fakeye Olonade:

 Olorun ko si pu re.

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