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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


domingo, 5 de maio de 2013

Abaixo-assinado Moção de Repúdio ao Vereador Marcell Moraes


Para a Câmara Municipal dos Vereadores do município de Salvador/BA
 MOÇÃO DE REPÚDIO Nº 01/2013
 
Excelentíssimo Presidente da Câmara de Vereadores do município de Salvador/BA, o Senhor Paulo Câmara.

O Instituto da Tradição e Cultura Afro-Brasileira – INTECAB e os Religiosos de Matriz Africana, que abaixo subscrevem, solicitam que envie esta Moção de Repúdio ao Excelentíssimo Vereador Marcell Carvalho Moraes, Partido Verde – PV, que em razão da proposta do Projeto de Lei que proíbe o sacrifício e mutilação de animais em Salvador/BA, pelos motivos a seguir expostos:

Considerando o que INTECAB tem por finalidade a preservação dos valores espirituais, culturais e científicos emanados da Religião Tradicional Africana no Brasil, na África e nas Américas;
Considerando o que está estabelecido na Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 5º nos seguintes incisos:
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
Considerando o que está estabelecido na Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 215º.
O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
Considerando o que está estabelecido na Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 216º.
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Considerando que a Religião de Matriz Africana é de tradição milenar, em que os ensinamentos e práticas são transmitidos por meio da oralidade;
Considerando que a essência da Religião de Matriz Africana está estabelecida nos quatro elementos da natureza (terra, fogo, água e ar), o respeito, a proteção, a preservação e o manejo sustentável da fauna e flora são os preceitos para a continuidade desta Religião;
Considerando que os animais são sagrados para a Religião de Matriz Africana, pois o seu Asé (força) será transmitido no momento de entrega aos orixás, N´kisi, voduns, caboclos, encantados, as forças que emanam da natureza, e posteriormente servirá de alimento principalmente ao público que participa das festividades e os moradores do entorno, promovendo a segurança alimentar.
Considerando que essa proposta de Projeto de Lei promove a intolerância religiosa aos praticantes da Religião de Matriz Africana.
            Por isso apresentamos a presente Moção de Repúdio ao Vereador Marcell Carvalho Moraes, Partido Verde – PV, que foi eleito de forma participativa e democrática e que no momento, contradiz diretamente o princípio constitucional de liberdade de consciência, crença e o livre exercício do culto religioso.
            Salvador/BA, 05 de maio de 2013.
Raidalva Santos
Iyalorixá do Ilê Axé Oyá Tolá
Presidente de Honra da Associação dos Amigos do Ilê Axé Oyá Tolá
Representante do INTECAB na Comissão Estadual para a Sustentabilidade dos Povos e Comunidades Tradicionais- CESPCT-BA
 Representante da Comissão de Inter-Comunidades do INTECAB/BA
Para assinar essa moção de repúdio entre na página
http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2013N40143
Participe dessa iniciativa!

ENQUANTO ISSO NO RECÔNCAVO DA BAHIA...

Cerca de 22 mil frangos morreram por conta da falta de energia na Granja Carolina, no distrito de Belém, que fica no município de Cachoeira, no Recôncavo baiano. O proprietário do estabelecimento, Raimundo Pompilio, prestou queixa na delegacia da cidade contra a Coelba. De acordo com ele, o galpão ficou sem energia entre 10h30 e 21h desta quarta-feira, 1º.
'Ligamos para a Coelba, mas os funcionários só foram aparecer na granja às 21 horas, mas o desastre já tinha acontecido', reclama. De acordo com ele, a falta de energia prejudicou a ventilação do galpão onde as aves estavam, o que levou a morte dos animais por calor excessivo.
Pompilio disse que as galinhas tinham 49 dias de vida e estavam prontas para venda. As mortes causaram prejuízo de cerca de R$ 200 mil, de acordo com o empresário..."
Para saber mais visite a página de onde extraímos essa notícia: http://www.bahiaja.com.br/economia/noticia/2013/05/03/22-mil-frangos-morrem-em-cachoeira-por-falta-de-energia-da-coelba,59737,0.html#.UYbFHFa5djo


Imagem disponível em http://g1.globo.com/bahia/noticia/2013/05/adab-confirma-morte-de-mais-de-20-mil-frangos-por-estresse-calorico.html

Imagem disponível em 

UM DESABAFO:RECALQUE AO LEGADO DO POVO AFRICANO-BRASILEIRO.


 
Por Sérgio Bahialista

Minha busca enquanto educador sempre foi fomentar a Descolonização da Educação e, acima de tudo, enaltecer a beleza ser/estar do humano nesse nosso mundo. O principal problema é que temos uma maré do racismo contra nossa caminhada. E o pior deles é o racismo institucional.
Fui feliz da vida comprar o livro “Educação nos Terreiros e como a escola se relaciona com crianças de candomblé”, da renomada autora Prof. Drª Stela Guedes Caputo (essa chamo de Doutora com orgulhooo!), para dar de presente de aniversário para a minha malunga querida Mille Caroline.
Ao chegar numa grande livraria de um shopping em Salvador,comecei a procurar na seção de Educação, já que se trata de um livro científico, de caráter educativo e com muitas riquezas de resultado de uma pesquisa de Doutorado da autora. Por “morrer” de procurar e não achar o livro nessa seção, pedi ajuda a uma das assistentes e a mesma foi no sistema e viu que o livro estava na seção de Esoterismo. PASMEM!
Minha cara de espanto e de revolta foi nítida. Argumentei na “bucha” com ela:
 – Mas esse livro é um livro sobre EDUCAÇÃO. O que ele faz na seção de esoterismo? Só porque trata de crianças do candomblé? Que absurdo! Chame sua Gerente, por favor!” . Pois é, armei logo o barraco!
Ela me disse que não podia fazer nada porque os livros eram catalogados pela central da livraria,que fica em São Paulo.
Até quando vamos aguentar esse racismo institucional? Aí vc pode me dizer que foi apenas um engano e que não tem nada de racismo nisso. E eu te digo: É RACISMO , SIM! A partir do momento que se destitui o cunho cientifico e educativo de um livro dessa magnitude e o resume a conteúdo “esotérico”, é racismo. Sei que muito do esoterismo também tem grande relevância e merece profundo respeito, mas aqui a questão é outra, pois “o buraco é bem mais embaixo”, meu irmão. 
O “simples” fato de relegar as religiões de matriz africana a “esoterismo” já é uma forma de recalque, de minimizar o grande valor que elas têm, para o povo africano-brasileiro. E isso é um reflexo da educação colonizada que fomenta no espaço educativo institucionalizado que insistimos em chamar de ESCOLA (o que já deixou de ser há muuuito tempo! Para quê essa escola?) a prática da discriminação do legado cultural, ancestral que nossas crianças de terreiro carregam.
 Quando será que nossas ações afirmativas, nossas frentes de trabalho nas Universidades da vida, nos grupos de pesquisa, nas pesquisas de Mestrado e Doutorado, no movimento Hip Hop, nas mobilizações comunitárias, centros Pastorais Afro, na Coisa Forte Produções, no Sarau Bem Black e Sarau da Onça, vão impactar as instituições, seus dirigentes, para que esse erro histórico seja dizimado?
Às vezes fico “desesperançoso” ao ver coisas desse tipo, mas ao mesmo tempo, olho para tantos exemplos de afirmação desses valores ancestrais, nos nossos espaços educativos, nas nossas comunidades e vejo que podemos SIM combater tudo isso.
Fica aqui minha nota de repúdio à livraria que estabeleceu essa infeliz classificação racista para as obras dedicadas a afirmação dos valores da civilização africano-brasileira, e a todo sistema organizado que insiste em arquitetar formas de recalcar o respeito à diversidade e pluralidade cultural dos povos milenares, que formam nossa identidade.
E como diria Raulzito: e fim de papo!
P.S: Antes de argumentar contra o que digo, por favor, leia esse livro e depois me diga se é isso mesmo.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

domingo, 28 de abril de 2013

PARA SEMPRE ELLA

 Dia 25 de abril foi o aniversário de Ella Fitzgerald,uma das maiores intérpretes da música negra dos últimos tempos. Aproveitamos o espaço do blog para aproximar as novas gerações dessa maravilhosa intérprete do jazz.
Aqui selecionamos um vídeo de 1986 com Ella interpretando "The Man I Love"
Para conhecer mais o legado de Ella visite o site oficial da cantora: http://www.ellafitzgerald.com/

segunda-feira, 22 de abril de 2013

AFRODESCENDÊNCIA,ESPAÇO URBANO E EDUCAÇÃO


CONVITE
O Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia/Campus I, através do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade e o PRODESE – PROGRAMA DESCOLONIZAÇÃO E EDUCAÇÃO, convidam para a Mesa “AFRODESCENDÊNCIA, ESPAÇO URBANO E EDUCAÇÃO, que terá como expositores os  Professores Doutores RAFAEL SANZIO DOS ANJOS da Universidade de Brasília – UNB e HENRIQUE CUNHA JÚNIOR da Universidade Federal do Ceará – UFC.
 
Dia: 30 de abril de 2013(terça-feira)

Horário:09 horas

Local: Auditório do CPDR (CENTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL)

Rua  Silveira Martins, 2555 Cabula, Salvador, BA

PRÉ-INSCRIÇÕES até dia 27 de abril  de 2013 através do endereço: http://www.ppgeduc.uneb.br

CONVITES

segunda-feira, 15 de abril de 2013

LEMBRANÇAS


             Por Marco Aurélio Luz

Convivi com Bira principalmente quando nos encontramos em Paris, ele fazendo o doutorado em Historia com a importante historiadora Kátia Mattoso e eu fazendo um pós doutorado no CEAQ instituto dirigido pelo filósofo Michel Maffesoli, ambos na Paris V Sorbonne, isso ano de 1991.


  Bira na Sorbonne em 1991
Foto de Narcimária Luz

Além da Sorbonne onde nos encontrávamos a miúde, nos visitávamos, e me lembro bem da ocasião  dele comemorando o aniversário da filha Barbara com Glorinha sua esposa e seu filho Felipe. Era servido um inesquecível caruru com a presença de amigos o mais baianos. Pra tanto pesquisava pelos mercados principalmente de produtos africanos .
Lembro-me também quando foi com Glorinha, Bárbara e Felipe nos visitar por ocasião do nascimento  de Maurício, para nossa alegria de  Narcimária, eu e Maurício.


Grupo de amigos, Lurdinha, Narcimária, Marco, Bira e Salgueiro.Sorbonne 1991
Foto do acervo do autor

De volta a Bahia,a seu convite lancei em seu curso na UFBA o livro AGADA com palestra em 1995.
Compartilhamos inúmeras palestras e debates no mundo acadêmico, na TV e no movimento negro em geral.
Nos inserimos em problemáticas teóricas distintas. Ele como historiador , e como discípulo de Katia Mattoso apegado a problemática das trajetórias de luta dos escravos. Eu inserido na comunalidade da tradição religiosa africano brasileira apegado as diversidades de civilizações e a reposição dos valores,linguagens e instituições constituintes da nossa cultura negra.
Tanto ele como eu tínhamos a admiração e a amizade que nos permitiu intercambiarmos nossas perspectivas. Sua compreensão e generosidade para nosso encontro se concretizam quando foi presidente da Fundação Palmares e publica com destaque no primeiro número da Revista Palmares o artigo de minha autoria “O Onibus e o Atabaque” em 2005.
Por ocasião do lançamento da revista em Salvador apresentando os autores se referiu a mim como o pai de Maurício...
Guardo para sempre a lembrança de um intelectual guerreiro, sua ternura e sua generosidade.
Olorun ko si pu re   

CONEXÃO ATLÂNTICA:HISTÓRIA MEMÓRIA E IDENTIDADE


Por Ubiratan Castro de Araújo


Imagem disponível em www.biragordo.blogspot.com
RESUMO
Para compreender o processo permanente de elaboração da identidade negra neste país africano da Bahia, é necessário, sobretudo, não esquecer o cordão umbilical pelo qual os baianos acreditam estar ligados à África. Ao longo da história, depois do tempo da escravidão, este mito fundador dos negros da Bahia se adapta, se transforma, muda suas máscaras e seus hábitos para desempenhar o papel mágico de uma espantalho que afasta a tentação, aliás sempre proposta pelas elites brancas, de aceitar a idéia segundo a qual os negros brasileiros seriam um simples produto da sociedade escravista luso-tropical. Para esses negros da Bahia, é necessário estabelecer suas raízes antes e fora da escravidão. Assim, o tempo e o lugar da liberdade original não podem estar dentro do Brasil. Utopia, anacronismo, pouco importa, esse refugio da herança cultural da escravidão é o núcleo duro da identidade negra baiana. Esta utopia identitária fundamenta-se em uma constante evocação e reelaboração da das matrizes culturais africanas, o que só é possível graças às comunidades religiosas do Candomblé, verdadeiros arquivos da memória africana na Bahia.

Palavras-chave: Identidade negra – Cidadania negra – Memória e História Afro-Brasileira

A UTOPIA AFRICANA

Para compreender o processo permanente de elaboração da identidade negra neste país africano da Bahia, é necessário, sobretudo, não esquecer o cordão umbilical pelo qual os baianos acreditam estar ligados à África. Ao longo da história, depois do tempo da escravidão, este mito fundador dos negros da Bahia se adapta, se transforma, muda suas máscaras e seus hábitos para desempenhar o papel mágico de um espantalho que afasta a tentação, aliás sempre proposta pelas elites brancas, de aceitar a idéia segundo a qual os negros brasileiros seriam um simples produto da sociedade escravista luso-tropical. Para esses negros da Bahia, é necessário estabelecer suas raízes antes e fora da escravidão. Assim, o tempo e o lugar da liberdade original não podem estar dentro do Brasil. Utopia, anacronismo, pouco importa, esse refúgio da herança cultural da escravidão é o núcleo duro da identidade negra baiana. 1
 Essas tentações são especialmente apresentadas durante as conjunturas de mudança acelerada dos termos de integração do Brasil em uma economia mundial, durante as quais foram registradas algumas medidas importantes para a modernização da sociedade brasileira e, por conseqüência, das relações raciais no país. Entretanto, o fracasso de todas as sinceras tentativas de desenvolvimento das novas identidades negras nessas conjunturas de modernização explica o retorno dos movimentos de afirmação do negro à tradição africana, tal como ela é preservada dentro das comunidades religiosas.

Os Nagôs e os Sabinos: a formação do Estado Nacional Brasileiro

Por volta do fim do século XVIII, no início do século XIX, o Ocidente foi sacudido pela primeira vaga de revoluções liberais, desencadeadas pela independência dos Estados Unidos da América, pela Revolução Francesa, pela Revolução dos Negros do Haiti, e pelas Revoluções produzidas pela expansão napoleônica na Europa, e pelo desmoronamento do Império de Portugal. Dentro desse novo momento da mudialização, fundado sobre o ?livre comércio? e sobre a universalização dos direitos do homem, dois desafios se apresentaram para a sociedade escravista brasileira: o fim do pacto colonial com a metrópole portuguesa e o fim do tráfico de escravos africanos.
No que diz respeito ao primeiro desafio, foi necessário às elites coloniais formarem um estado independente, com novas instituições, com uma ideologia nacional e com novos critérios de enquadramento dos povos habitantes do território do novo estado americano. Dentro dessa nova nação, quem seriam os brasileiros? As minorias de ?brancos portugueses e de brancos da terra? ao lado da maioria de escravos africanos, escravos crioulos, de pretos e pardos libertos e livres? Um novo regime político, ainda que exaltando um liberalismo semeado por todos os lugares, seria capaz de aceitar a universalização dos direitos de cidadania em benefício das pessoas de cor? A Revolução Francesa, ela mesma, não foi capaz de aceitar as reivindicações de Vicent Ogé para o alargamento dos direitos de cidadania para os negros de São Domingos – esta é a origem da Revolução Negra Haitiana. Da mesma maneira no Brasil, os independentes tiveram necessidade de pessoas de cor para carregar os fuzis, mas não os incorporaram como negros cidadãos.
Neste quadro muito estreito de escolha, as populações negras da Bahia se dividiram em dois movimentos. Os negros nascidos no Brasil, chamados na época de crioulos – libertos, escravos e negros livres – escolheram o caminho da participação no processo de formação do estado nacional, reclamando para eles uma nova identidade nacional, assim como na América Espanhola, sob o impulso do movimento bolivariano. Segundo o barão de Aramaré, um general baiano, estes negros eram pessoas sem pátria, que desejavam fazer um a seu modo, contra aquela dos descendentes dos portugueses, verdadeiros brasileiros. Esta massa crioula constituiu a base armada das revoltas e dos levantes populares, desde a Revolução dos Búzios, em 1798, até 1838, por ocasião do aniquilamento da revolução federalista chamada Sabinada. O saldo dessa participação política foi muito negativo: a manutenção da escravidão negra, a exclusão política pela adoção do voto censitário e o reforço da discriminação contra os negros segundo o critério da cor da pele. Em lugar de uma república liberal, eles viram se afirmar um Império Brasileiro escravista. Abatidos, humilhados, esses negros brasileiros fracassaram nos seus propósitos de afirmação de uma identidade brasileira plena, a seu modo.
 Os negros nascidos na África, escravos e libertos, rechaçados por todos, brancos e negros brasileiros, foram estimulados a empreender várias revoluções escravas. De 1811 até 1835, por ocasião do levante dos africanos islamizados chamados de Malês, suas esperanças foram renovadas. Para esses revolucionários, não estava em questão a criação de um novo Estado Americano mas, simplesmente, a superação do estatuto da escravidão e a colocação, em seu lugar, de um estado negro fundado sobre as tradições africanas. Derrotados como os outros, eles guardaram ao menos a honra do bom combatente. A propósito desses combatentes, foi formado o mito da resistência africana, com um forte apelo identitário.

A Abolição e a República

No final do século XIX, tempo do cientificismo e do imperialismo, as elites brasileiras propuseram, mais uma vez, a modernização da sociedade brasileira. O Brasil era o último país escravista do Ocidente e a única monarquia na América. Era necessário então abolir a escravidão e proclamar a república. E os negros brasileiros, que pensavam eles? Abolição, sim, mas com o direito a terra e ao trabalho. República sim, mas com a ampliação dos direitos de cidadania para todos os brasileiros. Para miséria deles, foram considerados pelos republicanos positivistas como pouco civilizados para o trabalho qualificado e para a liberdade. Assim, o novo regime republicano brasileiro decidiu pela substituição da mão-de-obra escrava pela mão de obra livre pela via da imigração européia. No que diz respeito aos direitos de cidadania, a Constituição de 1891 decidiu pela incapacidade política da maioria negra, recentemente saída da escravidão, excluindo-os do direito ao voto sobre o pretexto do analfabetismo. Era ainda uma questão de cultura! Existiam no Brasil pessoas civilizadas e outras bárbaras. Esta república constituiu então uma espécie de colonialismo interno pelo qual os verdadeiros brasileiros seriam aqueles que guardariam, dentro da sua cultura, os traços construtivos da civilização européia.
 Era o tempo de civilizar os bárbaros a tiros de fuzis. Essa nova ordem foi finalmente imposta em 1897, quando o Exército brasileiro, sob o comando da esquerda republicana, exterminou o arraial baiano de Canudos, e decapitou milhares de camponeses negros e mestiços, considerados culpados de barbarismo, resistência à modernidade, monarquismo, etc… Ainda no território do massacre, o coronel Dantas Barreto escreveu à família dizendo que ele estava impaciente para retornar à civilização – Rio de Janeiro – porque ele estava, por muito tempo, entre os Tuaregs, no deserto, de fato naquele fim de mundo que era o interior da Bahia? Depois dessa derrota, todos os movimentos negros de integração política fracassaram: os negros republicanos, a guarda negra monárquica e mesmo o Partido Operário Democrático da Bahia, dirigido por antigos negros abolicionistas.
 Na experimentação de um papel colonizador, as elites brasileiras e sua republica adotaram as idéias racistas, desenvolvidas na Europa, sob o rotulo da modernidade cientifica. Produziram um sistema de representações que se dizia cientifico, no qual os negros da Bahia e suas tradições africanas foram enquadrados em uma classificação inferior enquanto raça negra africana, portadora de uma cultura selvagem, um perigo potencial à civilização. Era necessário então, segundo esses cientistas do racismo, compreender as diferenças culturais das etnias africanas representadas na Bahia, entender todos os perigos ocultos que eles poderiam aportar contra a civilização e contra a civilização e contra a ordem republicana. Esse barbarismo era muito mais perigoso porque estava disfarçado em práticas religiosas, ou em manifestações folclóricas. A Faculdade de Medicina da Bahia foi um dos centros mais prestigiados no Brasil, nos domínios da Medicina Legal, da criminologia, da Antropologia Criminal. Nessa instituição foram produzidos os critérios da racialização do povo baiano. Era o tempo da Antropologia de Nina Rodrigues.
 Da teoria a pratica, o novo regime passara então a considerar toda manifestação publica da cultura negra de origem africana como uma vergonha para o Brasil civilizado. A capoeira foi então declarada como contravenção criminal, assim como a religião africana – o Candomblé. Os grupos de carnaval formados por negros, que desfilavam na rua com motivos africanos – a coroação do rei Ménelik da Ethiopia, por exemplo – foram proibidos pela policia. Não estavam em questão fazer a Bahia parecer com a África.
É assim que os negros da Bahia, para salvar suas identidades, se refugiaram na africanidade originária. Apesar das expedições punitivas da policia, os candomblés resistiram. Apesar das dificuldades, os intelectuais negros, tal como o Prof. Martiniano Bonfim, estabeleceram contato direto com os Agoudas da Costa Ocidental Africana. A pureza africana constitui então o núcleo duro da resistência negra contra o colonialismo interno. Manoel Querino, um antigo abolicionista, desenvolve as proposições sobre o papel do ?colono negro? na formação do Brasil. Segundo ele, a honra dos negros brasileiros seria a sua africanidade, porque o colono negro tinha trazido para o Brasil todas as virtudes do trabalho, da disciplina, da sociabilidade, da espiritualidade, da força civilizatória. Os portugueses, ao contrário, aportaram para o país o resto de suas civilizações, os condenados pela justiça, a violência da conquista, a preguiça dos senhores de escravos.

A democracia Racial.

Depois dos anos 30 do século XX, em seguida a revolução que propôs a modernização do velho Brasil republicano, mais uma vez a questão racial estava no centro da questão nacional brasileira. Os imperativos da industrialização e o surgimento de uma nova classe operaria exigiam um novo enquadramento das classes populares no Brasil. Quem são os brasileiro? É sempre a mesma questão! Um novo paradigma, aquele da democracia racial brasileira, substitui o racismo cientifico de outrora.
 Este novo choque de modernidade impôs as elites brasileiras um grande desafio: como integrar as massas dentro de um processo de desenvolvimento, sem os riscos da revolução social e fracionamento do tecido social, levando em conta a diversidade racial da população? Os dois grandes modelos propostos ao mundo, justamente após a segunda Guerra Mundial, eram, de um lado a revolução e o comunismo soviético e, do outro lado, a democracia americana, marcada pela segregação e conflitos raciais permanentes. Como então enquadrar as massas sem perder o controle? Contra o perigo revolucionário, é colocada em ação uma dinâmica social centrada sobre a mensagem de união nacional à procura do desenvolvimento econômico, sob controle do estado populista, interposto entre os burgueses e os operários para amortecer a luta de classes.
 No que respeita a população negra, viu-se o estabelecimento sólido de uma ideologia nacional, em que um dos elementos constitutivos era a negação da questão racial. Este novo conceito se apoiara sob a convergência de duas fortes correntes teóricas, da direita e da esquerda. Inicialmente, o desenvolvimento do marxismo como instrumento de analise e ação política, a partir da obra de Caio Prado Jr., recolocara a questão racial no domínio da historia da escravidão colonial, nos termos da expansão do capitalismo centrado na Europa e depois nos Estados Unidos. De fato, a questão racial seria amplamente secundária, pois os descendentes dos antigos escravos são hoje os explorados sob o capitalismo contemporâneo. Do antigo sistema de exploração, restam alguns traços secundários, no domínio da cultura de fato um epifenômeno da superestrutura social. O verdadeiro problema do povo seria sua consciência de classe, o instrumento necessário para o inicio da revolução social e não as identidades fundadas sobre algumas permanências culturais. Esta tradição está enraizada no pensamento de esquerda no Brasil. É a convicção de que a questão racial e as identidades que ai decorrem são questões externas ao Brasil, uma espécie de exportação malvada ou desastrosa de um problema que não interessa senão aos Estados Unidos, e cuja evocação no Brasil somente pode acarretar o fracionamento do proletariado brasileiro.
 Do lado da direita, a obra de Gilberto Freyre lança as bases da negação da questão racial no Brasil pela afirmação da democracia racial contemporânea, resultado histórico da adaptação da sociedade patriarcal portuguesa aos trópicos. A apologia da mestiçagem das três raças, do branco, do índio e do negro foi tomada como ideologia de estado para demonstrar e desenvolvimento harmônico do povo brasileiro, um ?povo novo? dentro da versão contemporânea apresentada por Darci Ribeiro. Segundo Gilberto Freyre, estava se estabelecendo no Brasil um tipo ?meta racial? denominado ?moreno?. Uma vez que não havia uma prática de segregação de raças como nos Estados Unidos, a questão racial não aparecia na classificação dos problemas brasileiros. O racismo seria então uma questão americana, e os brasileiros, em seu subdesenvolvimento, deveriam ser muito orgulhosos de terem superado um problema que sempre constrange os ricos americanos.
 Para os movimentos negros brasileiros, o grande obstáculo à formação das identidades negras, autônomas e anti-racistas, foi a deportação da questão racial do imaginário brasileiro. Racismo era coisa de estrangeiro, de americano. Diz-se hoje que o pior do racismo brasileiro é crer e fazer crer que não existe racismo no Brasil. Em um cenário contemporâneo de mundialização da cultura e da informação, em que se tornam possíveis as trocas entre vários movimentos negros no mundo, este obstáculo não chega a ser superado. Apesar do surgimento e da estabilização de novas identidades e de práticas sociais formadas dentro destes contatos, do panafricanismo, do black power, do reggae, do hip hop, tudo termina sendo reduzido a uma escala de efêmeros acontecimentos da moda internacional, igualmente estrangeiros em relação ao Brasil.
 O único refúgio dos movimentos negros na Bahia para a afirmação de sua identidade, para além da sua herança da sociedade escravista da Bahia, é a tradição africana, guardada com cuidado pelas comunidades religiosas do candomblé. Ninguém ousa dizer que o candomblé, cada um cultivando suas raízes africanas específicas ? suas nações, seja estrangeiro na Bahia. Isto explica o fato de que, desde a experiência política e cultural de Edison Carneiro sob a ditadura do Estado Novo em 1937, até os movimentos de esquerda negra contemporânea, inspirados por ?aggiornamientos? à la Gramsci e Thompson, todos esses marxistas negros procuram dentro do candomblé o relicário de sua identidades ancestrais. Esta co-habitação necessária entre o materialismo e o camdomblé produziu a deliciosa excentricidade cultura que Jorge Amado chamava ?materialismo? mágico.

Os suportes materiais da Utopia

Assim, ao longo da historia do Brasil independente, as comunidades formadas por homens e mulheres muito pobres, colocados em regiões negras nos subúrbios da cidade, todos submetidos ao peso do racismo, foram capazes de constituir um lugar da memória africana. Como isto foi possível? Os que crêem respondem logo em seguida: é o poder dos Orixás!. Os menos crentes estão sempre em condição de afirmar que as características das religiões africanas. Fundadas sobre os cultos dos ancestrais, têm necessidade guardar na memória coletiva toda a ambiência cultural originaria, sem a qual os orixás não teriam sentido. Isto explica o empenho dessas comunidades na preservação das tradições africanas, da língua Yorubá e da recusa à nacionalização do candomblé, tal como ocorreu com a Umbanda.
 As razões religiosas, somente, não explicam totalmente o fenômeno da preservação da memória africana. O Candomblé, como aliás as outras tradições, foi atacado por todos os choques da modernidade, e também obrigado a toda sorte de adaptação para assegurar a solidariedade interna nas comunidades. Teve igualmente que estabelecer as negociações e as trocas com ?os outros?, os clientes, os que procuram no Candomblé socorros e cuidados materiais e espirituais. Como fazer para impedir que as adaptações sucessivas não resultem em um tipo de deformação da tradição originária e, por conseqüência, o enfraquecimento desses lugares de memória, sés e bastiões de nossa identidade negra baiana?

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Ao longo dos anos, as pessoas do camdomblé desenvolveram estratégias para assegurar a sobrevivência das comunidades e, ao mesmo tempo, para a consolidação desse corpus de memória. Antes de mais nada, era necessário manter o contato permanente com a ?fonte?, com o fundamento, com a África. Durante a escravidão, assim como a aranha, o tráfico transatlântico de escravos teceu sua teia de conexões entre as duas bordas do Atlântico, um verdadeiro e complexos territórios de terras e de águas pelo qual circularam homens e mulheres, com seus bens, seus poderes e seus saberes. Este foi o fluxo e refluxo da Bahia para o Golfo de Benin, de que nos falou Pierre Verger, que ocorreu por meio do transporte de pessoas. Isso tornou possível um sistema de circulação de mercadorias, compreendendo os produtos utilizados nos rituais, como também a circulação de religiosos? Yialorixás, babalorixás e babalôs.
 Este vai-e-vem sobre o Atlântico nutriu a tradição religiosa e, por conseqüência, assegurou o fluxo de informações políticas e culturais entre a África e a Bahia. As revoltas africanas do início do século XIX determinaram a chegada, na Bahia, das informações sobre os movimentos sociais na África. Depois do fim do tráfico de escravos, de 1850 até 1889 a navegação na direção da costa da África quase cessou. Apesar da interdição, a antiga teia ancorou seus laços na memória efetiva dos povos sobreviventes, os afro-descendentes baianos na borda oeste e os Agudas espalhados ao longo da borda leste do Atlântico. Persistiu ainda a correspondência entre familiares e conhecidos.
 No final do século XIX, a chegada da republica ao Brasil e a ocupação colonial na África impuseram o distanciamento das duas bordas do Atlântico. Alguns religiosos, como o Babalaô Martiniano Bonfim e a Yalorixá Aninha, ainda conseguiram várias vezes realizar a travessia para a Costa da África, durante a primeira metade do século XX. Apesar desses esforços heróicos, aquele foi o tempo mais difícil para a preservação da memória africana no Brasil.
 Em 1959, ano da criação do Centro de Estudos Afro-Orientais na Universidade Federal da Bahia, assistiu-se ao restabelecimento das relações bilaterais entre Bahia e África, por força da ação desse encontro universitário, em quadro da diplomacia brasileira para a África. Durante uma dezena de anos, pesquisadores e professores partiram em missão nas duas bordas do Atlântico. Foi assim que os religiosos do Candomblé fizeram a descoberta de que seu modo de falar dos Yorubá, mesmo arcaico em relação àquele falado contemporaneamente na Nigéria, ainda era entendido e louvado nos cursos dados por professores da língua Yorubá no CEAO, vindos da Universidade de Ilê Ifé. Depois de 1970, mais algumas personalidades negras da Bahia tiveram sucesso na Bahia tiveram sucesso na travessia do Atlântico, graças ao apoio da UNESCO e de outros organismos internacionais.
 Hoje, constatamos que as possibilidades de contatos entre as comunidades africanas e as afro-baianas, por sus próprios meios, são praticamente impossíveis diante dos custos da viagem. De outra parte, as instituições públicas, tal como a universidade, não tem êxito na constituição dos suportes materiais para assegurar a circulação de pessoas e de idéias entre os dois lados do Atlântico, de forma a realimentar a memória africana das comunidades religiosas da Bahia. Diante do perigo da desafricanização, da dissolução da memória afro referente, em uma conjuntura cultural marcada pela pressão interna para a navegação das identidades negras e da pressão externa da geléia geral globalizante, é imperioso redobrar os esforços para o restabelecimento desta conexão atlântica, condição indispensável para o fortalecimento da identidade negra baiana. É importante reconhecer também que esta conjuntura é marcada por um novo choque de modernidade, com a realização da III Conferência Mundial contra o Racismo, na África do Sul, em 2001, e pela posse de um novo governo de esquerda no Brasil. Esta será, com fé nos Orixás, uma outra história.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Ubiratan Castro de. 1846: um ano na rota Bahia-Lagos: negócios, negociantes outros parceiros. Afro-Ásia, Salvador, nº 21-22, p.83-110, 1998-1999.

______. A política dos homens de cor no tempo da Independência. Recife:CLIO/UFPE,2001.

______. Sans glorie: le soldat noir sous le drapeau brésilien, 1798-1838.In:CROUZET, François (Org.). Pour l´histoire du Brésil. Paris: Harmattan, 2000. p.527-540.

AMOS, Alcione M. Afro-brasileiros no Togo: a história da família Olympio, 1882-1945. Afro-Ásia, Salvador, nº23, p.175-197,1999.

BACELAR, Jéferson. A Frente Negra Brasileira na Bahia. Afro-Ásia, Salvador, nº17, p.73-85, 1996.

CENTRO de Estudos Afro-Orientais da UFBA (CEAO. Encontro de Nações do Candomblé. Salvador: Ianamá/CEAO-UFBA, 1984.

MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo, SP: Brasiliense, 1982.

MESTRE DIDI (Deoscóredes Maximiliano dos Santos). História de um Terreiro Nagô: crônica histórica. São Paulo, SP: Carthago e Forte, 1994.

OLIVEIRA, Maria Inês Côrtes de. Quem eram os negros da Guiné? A origem dos africanos na Bahia. Afro-Ásia, Salvador, nº 19-20, p.37-73, 1997.

QUERINO, Manoel. O colono preto como fator da civilização brasileira. Afro-Ásia, Salvador, nº13, p.143-158, 1980.

REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos Malês (1835). São Paulo, SP: Brasiliense, 1986.
RODRIGUES, João Jorge (org.). A música do Olodum: a revelação da emoção. Salvador: Olodum, 2002.

SOUMONNI, Elisée. Daomé e o mundo atlântico. Amsterdam: Brasil: SEPHIS:CEAA, Universidade Cândido Mendes, 2001.

VERGER, Pierre. Fluxo e relfuxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos, dos séculos XVII a XIX. São Paulo, SP: Corrupio, 1987.

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Artigo extraído do blog www.biragordo.blogspot.com

NOTA DE PESAR - MEU BIRA GORDO VOA PARA OUTROS CAMPOS


Por Sérgio Ricardo Santo da Silva - Sérgio Bahialista
 
O Facebook me pergunta: - "Como vai, Sérgio Bahialista?"
Depois de passar o dia 03/01/2013 pensando e lamentando a perda de mais um Mestre, digo: “Vou mal. Muito mal!".
Parte para o Orum o meu Dignissimo Prof. Drº Ubiratan Castro, nosso Bira Gordo, meu grandioso Mestre. Este poço de sabedoria, inteligência e, acima de tudo, força e sensibilidade para estudar e projetar a cultura da Bahia nos deixa um legado imensurável, inigualável, que serve para nos entender enquanto seres históricos, como poucos já deixaram.
Seus ensinamentos durante sua passagem pelo CEAO, pelo Conselho para o Desenvolvimento das Comunidades Negras de Salvador, pela Fundação Palmares; suas aulas durante o projeto "Liberdade da Bahia", junto com o CRIA – Centro de Referência Integral do Adolescente, Ilê Aiyê, a grande educadora Arani Santana e Secretaria de Educação do Municipio de Salvador, nos ensinando sobre a Estrada das Boiadas (hoje Rua Lima e Silva, Liberdade), sobre a participação do povo baiano, com luta e resistência nos diversos levantes que culminaram na Independência da Bahia e consequentemente na Indepéndência do Brasil; tudo isso transborda muito forte na minha caminhada como arte educador, como ser humano, como corpo pulsante desta Baianidade Nagô.
Hoje a Bahia está de luto. O Brasil está de luto. Não o Brasil que se vê na Globo e na VEJA, os quais nem sequer sabem do real valor deste homem, mas o Brasil das entidades negras, indígenas, remanescentes de quilombos, movimentos sociais, Universidades, Movimento Hip Hop, Blocos Afros, Igreja Rosário dos Pretos, enfim, o povo que FAZ HistóriaS.
Sendo assim, hoje decreto LUTO. Serão três dias que vocês não me verão pelas ruas, em festas, no Facebook.
Muito triste mesmo, me recolho ao meu cantinho, aos livros e belas lembranças deste ser humano impar que deixa o Aiyê sem mais uma estrela e o que é pior, cada vez mais essas pessoas se vão e deixam lacunas impreenchíveis, pois cada vez mais não formamos gente que possa repor esta sede de conhecimento e de comproimisso com seu povo, sua história, sua arkhé, sua vida.
 Léo Rabello, Tatiane Sacramento, Eugênio Lima, Dan Araujo, Tailyng, Cristiane Santos, Maíra Castanheiro, Rose Silva e todos que junto comigo rodaram conversas nas Rodas do Aprender com Bira Gordo, meus sentimentos.