quarta-feira, 14 de novembro de 2018
quarta-feira, 7 de novembro de 2018
quinta-feira, 1 de novembro de 2018
segunda-feira, 15 de outubro de 2018
quinta-feira, 11 de outubro de 2018
domingo, 30 de setembro de 2018
RESPEITO
Por Narcimária Luz
Imagem disponível na Internet
Nzinga Ngola Bandi
Kiluanji a rainha do Ndongo independente. Conhecida como rainha Ginga, é
homenageada no Brasil nas Congadas e é o nome do movimento inicial e básico da
capoeira a Ginga.
Uma composição de Otis Redding de 1965
"Respect"(Respeito), recriada em 1967 por Aretha Franklin através de
uma interpretação com uma força expressiva inigualável, imprimiu a esse
clássico da música soul afro-americana, uma versão radical inspirada na efervescência
dos movimentos dos direitos civis e feminista da época.
Aretha Franklin
Imagem disponível na Internet
"Respeito” atravessa os tempos, atualiza inquietações e questões urgentes
referentes a existência feminina em sociedades que se alimentam das relações
machistas, sexistas e preconceituosas que
incentivam atitudes desrespeitosas e de ódio contra as mulheres.
Sabemos que essas agressões que tendem a gerar
feminicídios, infelizmente acompanham a história da humanidade. Mas é
inconcebível nos acomodarmos ou mesmo aceitar de forma passiva as aberrações e
atrocidades que insistem em se manterem como imutáveis. Somos da geração de
mulheres que cresceram ouvindo canções como "Respect" e outras
canções que inspiraram insurgências femininas dramáticas,
capazes de afirmar agendas políticas contemporâneas fundamentais no mundo e no
Brasil.
No
âmbito dessas agendas políticas contemporâneas, há os mapas que abordam
aspectos da violência contra as mulheres e estatísticas que tentam compreender
as engrenagens perversas que vêm devastando a vida de tantas gerações. Uma
constatação: o conjunto dessas referências ficam frágeis se insistirem em
ignorar os direitos coletivos das mulheres.
Sim, direitos coletivos! A noção de
direitos da mulher numa perspectiva individual, não consegue dar conta das
tensões e conflitos que caracterizam os valores civilizatórios,
territorialidades e comunalidades que organizam o viver cotidiano feminino
considerando a diversidade
dos povos.
" Xavante" foto Roberto Castro
Imagem disponível na internet
Homenagem as orixá das águas
Foto Hans Olubi
Na
realidade brasileira o ideal de identidade nacional feminina para a elite que
está no poder, tende a se resumir a mulheres brancas, que vivem no centro sul, de
descendência europeia e de classe média ou alta. Mas o Brasil para desespero dessa
elite dirigente, é formado em sua maioria por uma população feminina
descendente de povos africanos e de povos indígenas também.
Essa descendência feminina africana e indígena possuem valores civilizatórios que estabelecem elaborações de mundo muito particulares, e que por isso mesmo, são negligenciadas nos discursos saturados que orientam as políticas das instituições do Estado. Nossas antepassadas africanas na Bahia do século XIX no contexto da escravidão, identificavam as falácias desses discursos e costumavam se referir a eles como: “conversa de branco” ou “para inglês ver”. Já percebiam o quão distantes e totalmente opostos eles eram, em se tratando das distintas realidades das mulheres das comunalidades africano-brasileiras.
Escultura símbolo da sociedade secreta Ogboni. Casal unido por sucessão de elos representando continuidade e descendência.
Imagem disponível na internet.
Essa descendência feminina africana e indígena possuem valores civilizatórios que estabelecem elaborações de mundo muito particulares, e que por isso mesmo, são negligenciadas nos discursos saturados que orientam as políticas das instituições do Estado. Nossas antepassadas africanas na Bahia do século XIX no contexto da escravidão, identificavam as falácias desses discursos e costumavam se referir a eles como: “conversa de branco” ou “para inglês ver”. Já percebiam o quão distantes e totalmente opostos eles eram, em se tratando das distintas realidades das mulheres das comunalidades africano-brasileiras.
É
comum os relatos de mulheres negras submetidas a laqueaduras sem serem consultadas,
violentando um direito ancestral: gerar filhos é PODER! Poder
que assegura a descendência e continuidade da existência civilizatória através
dos filhos. Num país que institucionaliza políticas genocidas e de abandono, as
mães negras têm esse direito negado. Outro problema ignorado pelo Estado:
lideranças religiosas que zelam pelo patrimônio da tradição africana terem seus
espaços sagrados violentados e sofrerem agressões e ameaças; mães em luto e
arrasadas pela violência institucionalizada pelos aparelhos do Estado que
ceifam a vida de seus filhos; ausência de políticas públicas de
saneamento básico visando a prevenção de
doenças que acometem a maioria das mulheres negras e suas famílias,
considerando também o comportamento racista no âmbito dos serviços públicos de saúde que pela displicência, tem condenado muitas mulheres a morte. Não podemos
esquecer também o direito ao território necessário que estrutura os vínculos de
sociabilidades das mulheres indígenas e quilombolas, direito que tem sido usurpado
por decretos arbitrários no Brasil. Outro aspecto importante é a
noção de “empoderamento feminino”, que precisa também acolher a perspectiva dos
direitos coletivos como falamos anteriormente e transcender a órbita
urbano-industrial eurocêntrica. Para além da desigualdade nas relações entre
homens e mulheres no que se refere ao poder, acesso a igualdade
de
salários no mercado de trabalho, ascensão em cargos eletivos no poder de
Estado, temos que considerar a trajetória de empoderamento feminino das nossas
antepassadas, que nos deixaram um legado de vanguarda.
Sempre
insisto em apresentar uma legenda que ilustra a força inesgotável do
empoderamento feminino das mulheres negras, protagonizando a expansão e
continuidade dos valores civilizatórios dos povos africanos no Brasil no âmbito
do contexto escravista e neocolonial.
Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi
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Mãe
Aninha a Iyá Oba Biyi fundadora da comunidade-terreiro Ilê Axé Opô
Afonjá referência importante nas Américas anunciava com altivez no
início do século XX “A Bahia é uma Roma Negra”.
Ruth Landes ,antropóloga americana que na década de trinta esteve no Brasil no seu livro A Cidade das Mulheres, destacou que na Bahia:”... as mulheres negras encontraram mais reconhecimento, do seu próprio povo... Uma distinta sacerdotisa chamou a sua cidade de Roma Negra, dada a sua autoridade cultural; foi aqui que as mulheres negras atingiram o auge de eminência e poder, tanto sob a escravidão como após a emancipação. Controlando os mercados públicos, as sociedades religiosas e também suas famílias”. (LANDES,1961:112)
Ruth Landes
Imagem disponível na Internet
Ruth Landes ,antropóloga americana que na década de trinta esteve no Brasil no seu livro A Cidade das Mulheres, destacou que na Bahia:”... as mulheres negras encontraram mais reconhecimento, do seu próprio povo... Uma distinta sacerdotisa chamou a sua cidade de Roma Negra, dada a sua autoridade cultural; foi aqui que as mulheres negras atingiram o auge de eminência e poder, tanto sob a escravidão como após a emancipação. Controlando os mercados públicos, as sociedades religiosas e também suas famílias”. (LANDES,1961:112)
Outra
legenda no contexto do empoderamento feminino na perspectiva africano-brasileira,
em do aprendizado que tivemos com o Mestre Didi. Na sua
convivência com Mãe Aninha, Mestre Didi, a ouviu dizer: “Quero ver nossas
crianças de hoje, no dia de amanhã de anel no dedo e aos pés de Xangô.” Naquela
época, Mãe Aninha já tinha percebido a importância de fomentar estratégias de
legitimação dos princípios e valores civilizatórios africano-brasileiros, no
âmbito das instituições do Estado, exigindo e assegurando
nesta relação o direito à alteridade civilizatória.
Esse
pensamento da Iyá Oba Biyi, é um manancial de altivez que mantermo-nos firmes
face ao desafio de tornar possível para as gerações sucessoras o acesso a
direitos coletivos que possam dar dignidade ao que somos como descendentes de
africanas e africanos. O “anel no dedo”, significa as possibilidades
de mobilidade social da população infanto-juvenil de descendência africana na
sociedade oficial -, e de outro, Xangô, orixá do fogo que assegura a vida no Aiyê,
a expansão de linhagens, da existência concreta ininterrupta, filhos,
descendência, ancestralidade, continuidade da comunalidade africano-brasileira,
presença transatlântica dos valores culturais.
Mãe
Aninha é um exemplo ímpar de empoderamento feminino, hoje ela integra a
corrente mítica das nossas mães ancestrais fontes de inspiração no que se
refere a atualização e revitalização dos valores que caracterizam
a sociabilidade que vêm dinamizando as lutas de afirmação do patrimônio
africano no Brasil.
Não esqueçamos nossas ancestrais investiram toda a sua vida, sua existência na continuidade do processo civilizatório africano. Não foram heroínas dentro do enquadramento da historiografia neocolonial; não exerceram lideranças sindicais se nos determos ao recorte limitado das lutas de classe; mas, podemos afirmar que no âmbito de um contexto hostil colonial, investiram sua vida com sabedoria e dedicação de forma visceral e comprometida com a expansão da pujança do continuo africano-brasileiro.
Tia Ciata Iyá Kekere
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Não esqueçamos nossas ancestrais investiram toda a sua vida, sua existência na continuidade do processo civilizatório africano. Não foram heroínas dentro do enquadramento da historiografia neocolonial; não exerceram lideranças sindicais se nos determos ao recorte limitado das lutas de classe; mas, podemos afirmar que no âmbito de um contexto hostil colonial, investiram sua vida com sabedoria e dedicação de forma visceral e comprometida com a expansão da pujança do continuo africano-brasileiro.
Mãe Hilda Iyalorixá Igi Tolu
Imagem disponível na Internet
Festa da Beleza Negra do Ilê Aiyê
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Então empoderamento feminino é sobretudo a afirmação do direito às formas de elaboração de mundo, valores e singularidades histórico-políticas que caracterizam a vida das mulheres brasileiras que se alimentam do poder feminino ancestral. É preciso fomentar leis que sejam instrumentos que rompam com os discursos saturados que invocam uma humanidade exógena ao que somos como nação.
Salgueiro Porta bandeira e Mestre Sala.
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É preciso reconhecer que só através do reconhecimento e legitimação de direitos coletivos que carregam também a história das nossas antepassadas, fundadoras de comunalidades, instituições, hierarquias, linguagens e valores ao longo dos séculos submetidas a tantas adversidades, teremos a plenitude do empoderamento feminino.
Salgueiro Ala das Baianas.
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”Não basta tolerância, queremos respeito!”
R-E-S-P-E-I-T-O
é o que pedimos!
segunda-feira, 17 de setembro de 2018
domingo, 2 de setembro de 2018
sexta-feira, 31 de agosto de 2018
Lançamento do livro Pensamento Insurgente
Imagem disponível na Internet
Agemó e o
Pensamento Insurgente
por Marco Aurélio Luz
O livro reúne autores celebrados por sua
história intelectual cujos caminhos, resultaram na construção de uma mesma
bacia semântica de afirmação de valores que visam a legitimar o contínuo
civilizatório africano-brasileiro, rompendo com as ideologias do positivismo
cientificista e tecnicista.
O
novo território teórico, está aberto a
interdisciplinaridade e a sabedoria incluindo a adoção do mito como discurso
capaz de estabelecer preciosos conhecimentos e ensinamentos.
A
ilustração da capa traz o camaleão, uma criação de Marcelo Luz. Agemó o
camaleão, participa de diversos itans,
contos da tradição e representa a sabedoria de conseguir se adaptar às
diferentes situações. Ele é um animal que acompanha Orunmila Baba Ifá que detém
a sabedoria oracular, fonte dos desígnios dos rituais, da mobilização de axé.

A literatura de Mestre Didi reúne os itans que configuram a riqueza de sabedoria da tradição nagô. Num deles "A Chuva dos Poderes", observamos a presença de Agemó no âmago da visão de mundo que caracteriza o culto aos orixá.

A literatura de Mestre Didi reúne os itans que configuram a riqueza de sabedoria da tradição nagô. Num deles "A Chuva dos Poderes", observamos a presença de Agemó no âmago da visão de mundo que caracteriza o culto aos orixá.
No
princípio do mundo, os orixá reunidos se queixaram
à Orunmila por ele concentrar todos
os poderes e eles serem meros mediadores das mensagens dos seres humanos. Os
orixá desejavam também terem poderes para facilitar o fluxo dos pedidos e
desafogar a faina de Orunmila.
Ouvindo
essas justas reinvindicações, Orunmila adentrou na floresta para pensar como poderia
distribuir seus poderes com equidade e justiça sem magoar ninguém.
Então
ele ouviu um chamado do alto de uma árvore,era Agemó que logo lhe perguntou sobre
os motivos de tanta preocupação. Depois
de Orunmila relatar o acontecido, Agemó disse que tinha uma solução. Muito
atento, Orunmila ouviu o que Agemó tinha a dizer. Ele sugeriu que num dia e
hora marcada reunisse os orixá no sopé do morro e lá de cima, lançasse uma
chuva de poderes. Cada qual se esforçaria para pegar o seu poder escolhido e
assim todos ficariam satisfeitos com o que tinham conquistado.
Exu o mais ligeiro,
pegou os poderes do movimento e da comunicação. Ogum a transformação do minério em metal o poder de abrir os caminhos. Ossãiyn o segredo da vegetação e das folhas, Oxóssi o poder da caça e de prover as aldeias. Yansã a movimentação dos ventos, Oxum o poder da gestação feminina e o desenvolvimento dos
nascituros. Xangô a organização social e a justiça, e assim por diante.
E
assim no âmago da religião, os poderes dos orixá se estabeleceram com a
participação de Agemó.
SER BAMBU E CUPIM, METAMORFOSES NECESSÁRIAS PARA O BEM VIVER
Por Narcimária Luz
Há duas legendas africano-brasileiras
referências de sabedorias que inspiram gerações a afirmação de um pensamento
insurgente,abrindo novos horizontes de legitimação existencial. A Iyá Oba Biyi
,Mãe Aninha fundadora do Ilê Opô Afonjá, ensinou que no caminhar da vida, face
as adversidades deveríamos fazer como o bambu: “envergar para não quebrar”.
Imagem disponível em https://pxhere.com/da/photo/1394650
O outro ensinamento é do Mestre Didi,
Alapini, Supremo Sacerdote do Culto Egungun, que nos alertava sobre a
necessidade de “trabalhar feito cupim”.
Imagem disponível na Internet
São saberes milenares, herança dos
nossos/as antepassados/as que tiveram que criar formas e estratégias para a
elaboração de valores e linguagens que assegurassem espaços de
afirmação,legitimação e expansão do nosso patrimônio civilizatório. Ser
"bambu" ou "cupim" no contexto de sociedades estruturadas
pela institucionalização de políticas de genocídio e de abandono,é estabelecer modos de enfrentamento e de luta
fundamentais à promoção de insurgências
necessárias à manutenção da altivez e dignidade tão preciosa às nossas
comunalidades.
“Pensamento Insurgente, Direito à
Alteridade, Educação e Comunicação” carrega essa força ancestral! Os/as
autores/as compartilham outros
modos/formas de comunicação e educação, transcendendo o deja vú dos discursos saturados que alimentam o flagelo
institucionalizado que violentam e dizimam gerações.
Assim, o livro conta com as
contribuições valiosas de Michel Maffesoli, Marco Aurélio Luz José Félix Dos
Santos, Joel Rufino dos Santos,Dalmir Francisco, Pedro Benjamim Garcia, Narcimária C. P. Luz,Elisa Larkin Nascimento, Muniz Sodré,
J Raquel Paiva, Félix Ayoh’omidire, , Lúcia Fernandes Lobato, Léa Austrelina
Ferreira Santos e Gildeci de Oliveira Leite.
Aqui uma homenagem a José Félix dos
Santos, Dalmir Francisco e Joel Rufino dos Santos, in memoriam. Amigos que
acreditaram na importância de semear pensamentos insurgentes capazes de
promover o direito à alteridade civilizatória, valor inestimável para todos os
povos.
Iyá Oba Terê do Ilê Ase Opo Afonjá e Iyá Dagã nilê Asipá e o Oju Obá autografando o livro
Iyá Badabarawô nilê Asipá e a autora Narcimária Luz Otun Omi L`Aiyo autografando o livro
Ojé Oloxedê,Iyá Omo IYó IYó e o Elebogi
Otun Iya Badabarawo nile Asipa
Comunicação dos organizadores e autores Marco Aurélio Luz, Narcimária Luz, Lúcia Lobato e a diretora da EDUFBA a professora Flávia Goulart Mota Garcia Rosa
Marcelo do Patrocínio Luz autor da criação da capa do livro
Os organizadores do livro com o reitor da UFBA João Carlos Salles Pires da Silva,o professor Narciso José do Patrocínio e Marcos Gonçalves Pires Luz
Colaboradores e incentivadores Mauricio Luz Ose Awo ,Professor Narciso Patrocínio e Marcos Omo Oba Kini
Para saber mais visite os links
quinta-feira, 16 de agosto de 2018
Convite Lançamento do livro Pensamento Insurgente
É com satisfação que compartilhamos a publicação do nosso
livro "Pensamento Insurgente, direito
à alteridade, educação e comunicação" pela Editora da Universidade
Federal da Bahia.
Depois de uma longa jornada, o lançamento será no dia 27 de agosto (segunda feira) das 17 às
20 horas na Reitoria da Ufba no bairro do Canela.
O livro conta com as contribuições valiosas de Michel
Maffesoli, Marco Aurélio Luz, Joel Rufino dos Santos, Dalmir Francisco, Pedro
Benjamim Garcia, Narcimária Luz, Elisa Larkin Nascimento, Muniz Sodré, José
Félix Dos Santos, Raquel Paiva, Félix Ayoh’omidire, Gildeci de Oliveira Leite, Lúcia Fernandes
Lobato e Léa Ferreira.
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
terça-feira, 14 de agosto de 2018
LIBERDADE RELIGIOSA, DIREITO CONSTITUCIONAL
No ile Egungundo ile Asipa, escultura de Elexin o cavaleiro fundador de territórios.
Foto M. A. Luz
No território sagrado da tradição africano brasileira para o animal ser oferecido a uma entidade, tem que ter condições muito específicas dentro da liturgia. Ele se apresenta com uma compreensão, de circulação de axé, ciclo vital, restituição. Uma pessoa, ou uma comunidade está atravessando determinado problema... Há na natureza substâncias que, utilizadas liturgicamente, resultam em acionar axé, promover força de existência.
Escultura de igbin o caracol no Ile Asipa.
Foto: M. A. Luz
Quando se oferece um animal é para reforçar o axé de um orixá, ou um ancestral. Refere-se ao orixá de uma pessoa, ou a um orixá ligado a uma comunidade que, vai também reforçar os vínculos espirituais. Por isso as entidades compartilham essa integração de axé das oferendas com as pessoas.
Ile Egungun do ile Asipa, escultura de akuko
Foto M.A. Luz
As pessoas comem a comida litúrgica. Então, há uma comunhão entre as forças da natureza e aquelas pessoas. Agora, para isso, não é preciso ser uma quantidade enorme de animal, mesmo porque não são só animais que compõem as oferendas, são folhas, vegetais e outros elementos, substâncias que participam, que vão ser transformados em alimento pela culinária litúrgica, são uma culinária de símbolos, que expressa uma visão de mundo, e vai ser repartida entre os fiéis, convidados, sacerdotisas e sacerdotes, é uma confraternização.
Ajapa escultura no ile Asipa
Foto: M. A. Luz
Vai haver uma elaboração muito grande em relação à vida, porque ali você está elaborando o viver e o morrer, uma elaboração muito delicada, muito sutil, muito vivenciada. Ali você não tem o frango do supermercado de que você tem um pedaço de perna e come como se nem tivesse um frango ou uma galinha ali. A ideia de galinha está muito longe encoberta pela coxinha... Muito diferente da tradição religiosa, onde você tem o animal inteiro, com quem você entra em contato... . Você vai viver a dramaticidade natural da situação do viver e do morrer e, por isso são poucos animais.
É uma hipocrisia a
crítica a esse ato porque nessa sociedade industrial é que o animal é reduzido
simplesmente a um animal seriado para morrer e que vai ser engordado de acordo
com a necessidade do mercado econômico que exige produção em massa. Vão ser
dados a eles alhos e bugalhos para ele alcançar rapidamente determinado peso.
Foto disponível na internet
Até coisas que
comprometem a saúde humana de quem consome, são dadas e os deformam. Eles têm
uma vida completamente voltada para isso. São presos ou confinados, uma vida
como carne. Eles não vivem uma vida de animal. Eles não têm uma identificação
de animal.
A eles é projetada uma
identificação de carne, um produto de uma cadeia de produção. Não se cria o animal
como animal, aquilo é criado como a produção de um bem unicamente para dar
lucro, que vai favorecer uma atividade econômica. Então é uma hipocrisia se
colocar a favor dessa sociedade que faz isso e lança no mercado diariamente uma
enorme quantidade, porque são mortos industrialmente e chegam para o consumidor
sem nenhum aspecto daquele bicho que foi e você nem se lembra do que ele é ou
que deixa de ser.
Foto disponível na internet
Então, todas as
referências de uma vida social que esteja ligada a isso estão esmaecidas ou
apagadas, é simplesmente uma atividade de ir ao supermercado e consumir. Assim
como se consome chiclete se consome um animal. Está tudo ali reduzido a
condição de produto para o consumo. Não há nada ali que faça pensar na condição
da vida animal.
Ao contrário da situação
da oferenda em que a pessoa que está oferecendo se identifica com aquele
animal, fala com ele dá recados e elabora a restituição que integra a dinâmica
do ciclo vital, a circulação de axé. No território sagrado inclusive não é
permitido maltratar ou matar qualquer animal.
Embora a função do
caçador do predador acompanhe a natureza humana, algo característico da
espécie, há diferentes contextos... Agora o que não podemos é aceitar a
hipocrisia das críticas vindas do preconceito...
Coluna na casa dos ancestres e ancestrais no ile Asipa de culto aos Egungun
Foto M.A. Luz
DA RELIGIÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
A Constituição Federal,
no artigo 5º, VI, estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de
crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na
forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.
segunda-feira, 13 de agosto de 2018
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