sábado, 27 de fevereiro de 2016
LIVRO DA EKEDE SINHA DA CASA BRANCA
No dia internacional da
mulher - 08 de março - será lançado às 19h, no Terreiro da Casa Branca, em
Salvador,
Equede - A Mãe de
Todos, o livro testemunho de Gersonice Azevedo Brandão, conhecida como Equede
Sinha. A publicação é da editora Barabô e mostra a importância, o respeito e o
reconhecimento que o cargo de equede tem dentro do candomblé.
Além registrar um testemunho – visto a
raridade de se encontrar publicações com figuras de destaques da comunidade
negra sendo porta vozes de sua própria história, sem intermediários – o livro é
também uma publicação histórica, já que a vida de Sinha, nascida dentro do
terreiro da Casa Branca, se funde com a história do mais famoso terreiro de
candomblé nagô do Brasil.
Com 172 páginas, o
livro conta com mais de 200 fotos do acervo pessoal da autora, da Casa Branca e
dos fotógrafos Dadá Jaques, Flávio Damm, da Fundação Pierre Verger, além de
ilustrações exclusivas do artista Carlos
Rezende. Organizado por Alexandre Lyrio e Dadá
Jaques, traz ainda histórias inéditas, nunca registradas, como a invasão do
Posto Esso imposta contra o terreiro na década de 70.
“A dedicação é a marca
de equede (...) Para exercê-lo devidamente, como mostra Sinha com sua obra e
exemplo, o amor é indispensável”, garante o antropólogo e ogâ de Iansã da Casa
Branca, Ordep Serra, ao escrever a apresentação
do livro, logo nas primeiras páginas. O livro
Equede - A Mãe de Todos é uma declaração de amor da Equede Sinha ao povo de axé
e especialmente à família da Casa Branca, a sua mãe biológica, vovó Conceição e
as entidades de luz, os Orixás. Uma leitura
que ensina um pouco da cultura afro-brasileira
e muito da nossa história. E como diz a própria autora. Equede é mãe. De Exu a
Oxalá.
Quando:
08 de março, às 19h.
Local:
Praça de Oxum do Ilê Axé Iyá Nassô Oká – Terreiro Casa Branca, Avenida Vasco da
Gama, 463.
Editora
Barabô
Valor
do livro: R$ 100 (promocional de lançamento
Assessoria
de imprensa: Mel Adún (71) 98802-4314 | Kaliane Barbos (71) 99987-9013.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
A GEMA CARIOCA É AFRO BAIANA
Por
Marco Aurélio Luz
Rio de Janeiro, região portuária e Pedra do Sal, localidades da imigração baiana
Efemérides da religião nagô de então lá
estiveram deixando sua marca na história para sempre, dentre elas destacamos
Mãe Aninha, Iyalorixá Oba Biyi, fundadora do Ilê Axé Opo Afonjá, que juntamente
com Mãe Agripina a Iyalorixá Oba Deyi fundaram o Ilê Axé Opo Afonjá do Rio de
Janeiro; também Maria Ogala da sociedade Gelede, Rodolpho Martins de Andrade, Bamboxê Obitiko,
e Joaquim Vieira, Obá Sanya dentre outros e que ainda podemos destacar Arsênio dos Santos, Paizinho Alaba
personalidade proeminente do culto aos Egungun.
Não
vou me estender nessa presença que incluiria além das casas de culto o afoxé
Filhos de Gandhi e tanto mais. Vou me deter nas escolas de samba, a propósito
do desfile vitorioso da Mangueira neste ano.
Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi
Hilária
Batista de Almeida, Omo Oxum, Tia Ciata, Iyá Kekere do Ilê Axé de João Alabá,
nascida em Santo Amaro conseguiu através da medicina da cultura africana curar a
perna do presidente Wenceslau Bras de uma ferida incurável. Obteve então a
liberdade de seu território. Oásis da repressão da época sua casa tornou-se
centro de encontro de religiosos e gente de toda arte das tradições afro
baiana.
Os
ranchos desfilavam com seus estandartes, suas músicas sua agregação da gente
baiana pelas regiões limítrofes da zona portuária. O rancho da gente de tia
Ciata era o Rosa Branca. Participavam também no rancho organizado por membros
da Resistência dos Trabalhadores em Trapiches de Café.
Hilário
Jovino Ferreira, Lalu de Ouro, Ogã, da casa de João Alaba, fundada por Bamboxe,
transferiu a data de saída de seu rancho, o Rei de Ouro de 6 de janeiro para os
dias de carnaval. Fez transformações e adaptações para o tempo e espaço do
carnaval. Em depoimento a Roberto Moura,
Jovino comenta:
"Nunca se tinha visto aquilo aqui
no Rio de Janeiro: Porta-bandeira, porta-machado, batedores etc. Perfeitamente
organizado, saímos licenciado pela polícia..."
Hilario Jovino e filhos
A formação dos ranchos, além disso, tinha comissão de frente, mestre de harmonia, canto e coreografia.
Célebres
músicos e compositores se encontravam como Donga, João da Baiana, Sinhô,
Pixinguinha e outros em meio ao samba de roda do Recôncavo.
Personalidades da música, João da Baiana, Clementina de Jesus, Pixinguinha,e Donga.
O primeiro samba registrado e gravado foi Pelo Telefone de Donga.
Imagem disponível em
A culinária baiana alimentava o povo pelos dias desses encontros. Tia Ciata teve tabuleiro da baiana no centro da cidade sempre muito concorrido e apreciado.
Germano, genro de Tia Ciata criou um bloco de carnaval o famoso "O Macaco é Outro".
As escolas de samba derivam da efervescência da Pequena África que ia da zona portuária a Cidade Nova sendo a Praça Onze a culminância das apresentações e desfiles de carnaval.As escolas de samba surgiram com a mudança da música. A percussão e o samba se distinguiram das marchas e os instrumentos de sopro dos ranchos.Ismael Silva foi fundador da Deixa Falar e Bide criador da bateria de percussão.Daí foi-se desdobrando, a Mangueira de Cartola, a Portela de Paulo da Portela e muito mais.
É importante dizer que tudo isso se apoiava na estética africana desdobrada e recriada congregando o povo num momento de afirmação cultural e existencial.
Pela década de 30 começa a presença de ``brancos no samba´´. O jornalista Mário Filho através do Jornal do Brasil promove o concurso de Escolas de Samba. Surge a figura do carnavalesco.Um dos primeiros foi Toniquinho, funcionário do Teatro Municipal que consegue faróis da Marinha para em frente a sede do Jornal do Brasil iluminar o enredo Aída derivado da Ópera de mesmo nome. As escolas passam cada vez mais a depender dos carnavalescos vão se transformando no que Cartola definiu como "teatro ambulante".
A entrada da TV nos desfiles vai alterar bastante, dando valor as imagens, dimensões visuais espetaculares em detrimento da estética original. Além disso, impondo essa estética adaptada a linguagem do espetáculo cria especialistas que irão referendá-la nos concursos.
É neste caudal que se afirmam os carnavalescos mais próximos de escolas de samba de menos tradição. É tempo de Beija Flor, Unidos da Tijuca, Vila Isabel dentre outras. Fantásticos carros alegóricos e personagens do mundo do espetáculo ganham espaço e poder nos desfiles. Transformam a comissão de frente originalmente formada pelos dignitários da escola, criação da Portela, e a ala das baianas, homenagem à tradição.
Cartola e a Comissão de Frente da Mangueira
O samba no pé dá vez às coreografias de passo marcado das alas. Enfim, surge "o maior espetáculo da Terra". Tempo e espaço são adaptados, altera-se o ritmo da bateria. Toda essa linguagem transfere para o carnavalesco o poder de organização e até mesmo na ala de compositores ele terá ingerência na composição do samba. As escolas de samba adquirem feição empresarial exigindo corpus administrativo.
Uma luta ideológica se estabelece entre líderes da tradição e os que navegam pela indústria do espetáculo.
Neste ano o novo se apresenta através dos ventos de Oya.A tradição da Mangueira se renova. Um desfile magnifico através da recriação dos valores e linguagem da estética africano brasileira.
Imagem disponível em http://s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/02/09/mangueira_fabio_tito-g1_img_0323.jpg
Da crina da cauda do bufalo, parte poente do animal, são confeccionados os irukere, emblema instrumento de Iyansã, com que limpa os males comandando os ancestrais.
Nesse carro é homenageado um dos dignatários da Escola, Nelson Sargento.
Imagem disponível em http://s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/02/09/mangueira_fabio_tito-g1_img_0323.jpg
A iyawô, caracteriza a continuidade ininterrupta da tradição religiosa. Ela inspira a roupagem da porta bandeira de forma magnifica.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
O ELO MAIS FORTE,O VALOR DOS CONTOS NAGÔ
Por Marco Aurélio Luz
É com muita alegria no
coração que leio "Peregun e Outras Fabulações da Minha Terra" do amigo e irmão
Félix Ayoh’ Omidire, que aproveita nossos laços identitários alicerçados numa
civilização milenar.
‘’ Pela força da história,...os iorubanos passaram a ter uma ativa atuação intercontinental, uma parte significativa da população...forçada para o outro lado do Atlântico, em condição de extremos constrangimentos, nunca deixou de lutar para não permitir morrer o que há de mais livre em cada ser humano, a sua cultura que constitui a sua única e verdadeira identidade.’’
‘’ Pela força da história,...os iorubanos passaram a ter uma ativa atuação intercontinental, uma parte significativa da população...forçada para o outro lado do Atlântico, em condição de extremos constrangimentos, nunca deixou de lutar para não permitir morrer o que há de mais livre em cada ser humano, a sua cultura que constitui a sua única e verdadeira identidade.’’
Há pouco tivemos o
(re)lançamento das obras de Mestre Didi, que fundou entre nós uma escritura que
adapta a narrativa da comunicação direta do acervo de contos emergentes da
comunalidade africano- brasileira.
Esses relançamentos enriquecem sobremaneira não só as relações da comunalidade negra ampliando os raios de comunicação de suas riquezas culturais, mas também a própria sociedade brasileira, acrescentando um gênero literário que sobressai no cenário de nossa pujante herança africana.
Os contos que originalmente,
em nossa terra por um lado, fazem parte do acervo das comunidades-terreiro,
também eram parte da narrativa dos contadores de histórias, os apalo
que percorriam cidades e fazendas de nosso interior, se apresentando
com música e danças dramáticas, ensinando lições de vida e de existência
baseado nos valores éticos e estéticos e visão de mundo nagô. Nessas
narrativas, personagens de animais, especialmente o jabuti, ocupam a cena
principal.
Agora, com o livro de Ayoh’
Omidire de Ilê Ifé revela-se o fluxo do continuum cultural nagô-yorubá no
terreno da literatura escrita das adaptações do acervo das narrativas
tradicionais dos Apálo; Onde também a presença de animais, especialmente Ijàpá,
o cágado que ocupa um lugar especial.
Em diversas ocasiões nos
referimos a essa literatura no Brasil. ‘’
Vemos um estilo que se aproxima muito mais da chamada narrativa oral do que da
narrativa escrita. A plasticidade das imagens, as analogias, as alegorias, os
diálogos dramatizáveis, a maneira negra de falar, o português dos antigos
africanos, procuram adaptar e ilustrar no plano do texto, o complexo contexto
simbólico nagô. ’’
Da mesma forma, PEREGUN... reúne os contos adaptando-os à
escrita e além disso à necessidade de realizar a continuidade da tradição
cultural negro-africana reforçando os elos dos valores estéticos de nossa
comunalidade transatlântica.
Os contos yorubá enfatizam a
dimensão transcendente do existir, através das narrativas que englobam o
fantástico, o mundo contíguo e atuante entrecruzando-se entre as fronteiras do
cotidiano consciente e o bizarro latente, o indescritível, o inefável, o
surpreendente.
Nele as categorias de aiyê,
este mundo e orun, o além, constituem
uma relação de diferença contígua e dinâmica. A função restituidora das
oferendas, o fluxo do axé, os ebós, e o conhecimento
profundo dos babalawô (pais dos mistérios, conhecedores do oráculo de ifá) pode
minimizar o caos oriundo do desconhecido.
Nessa medida a ética dos
contos é principalmente a de procurar demonstrar essa característica do
existir, isto é, o conflito entre tendência da anomia caótica de um lado, e da
tentativa de controle do outro, baseado nas liturgias da religião tradicional.
Em ambos aspectos o mistério, o segredo, incluso o não saber, o desconhecido se
pronunciam.
Nesse ponto mais do que
nunca o fluxo da existência contido no processo civilizatório negro africano,
espalhado pelo ‘’novo mundo’’ nos incluem num compromisso, num comprometimento
com as ‘’obrigações’’ para que os destinos se desenvolvam e esse mundo não se
acabe.
Com certeza, o livro de
Ayoh’ Omidire é um reforço para a manutenção do elo mais forte de nossos
vínculos com a África, berço da humanidade e da civilização.
Lauro
de Freitas, 16 de agosto de 2004
Marco Aurélio Luz
(Oju Oba ati Elebogui do Ilê Asipá)
Nota: Esse texto é o prefácio do livro PÉRÉGÚN E OUTRAS FABULAÇÕES DA MINHA TERRA.Contos cantados iorubá-africanos de Félix Ayoh`OMIDIRE(EDUFBA,2004) .
PRESENÇA DOS CONTOS NO PROCESSO EDUCATIVO
Os contos da tradição nagô foram recriados na experiência pioneira de educação pluricultural MINI COMUNIDADE OBA BIYI. Adaptados por Mestre Didi ele constituíram a base do currículo.
Mini Comunidade Oba Biyi
foto M.A.Luz
foto M.A.Luz
"A CHUVA DOS PODERES" conto de Mestre Didi encenada na Mini Comunidade Oba Biyi 1985
Foto M.A.LUZ
Foto M.A.LUZ
Outras experiências se desdobraram através da divulgação dessa experiência original através dos trabalhos de Marco Aurélio Luz dentre os quais o livro em co-autoria com Mestre Didi "Oba Biyi o Rei Nasce Aqui"(Fala Nagô,2007).
A Doutora Narcimária do PatrocÍnio Luz escreveu "A Canção do Infinito"(2009)e os integrantes da equipe pedagógica da Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra) orientaram as crianças e jovens para a encenação.
Demais encenações e narrativas dos contos se espalham enriquecendo processos educacionais.
Demais encenações e narrativas dos contos se espalham enriquecendo processos educacionais.
Sidney Argolo prepara a performance musical ACRA 2009
Foto acêrvo Narcimária P. Luz
Participantes da Associação Crianças Raízes do Abaeté desenvolvem a encenação de A Canção do Infinito de Narcimária C. P. Luz
Encenação de trechos do livro Oba Nijo(Pallas Editora,2015) pelo grupo Teatral ODEART coordenado pela Doutora Janice Nicolin durante o lançamento do livro da Doutora Narcimária Luz Livraria Cultura.
Grupo ODEART em "Oba Nijô o Rei que Dança Pela Liberdade"
Acervo Narcimária C. P. Luz
Acervo Narcimária C. P. Luz
Babalawo e Akpalo a fonte dos contos nagô
Entrevista de Marco Aurélio Luz concedida a doutoranda Janice Nicolin do PRODESE em 2015.
domingo, 31 de janeiro de 2016
DIÁLOGO ABERTO EM LIVRO-CATÁLOGO UNE UNIVERSIDADE E COMUNIDADE
Imagem disponível na Internet
Na
beira da Lagoa do Abaeté, na Casa da Música, junto com amigos e representantes
da comunidade local, Mônica Bitencourt, Doutora em Educação, celebra o
lançamento do livro-catálogo “A Cultura Visual de Itapuã”. Fotos e textos
harmonizados em 132 páginas de intenso colorido direcionam o olhar do leitor
para uma experiência estética prazerosa e indicadora da beleza existente na
cidade de Salvador, no bairro de Itapuã, cantado em versos e prosas. Sem a
pretensão de esgotar o assunto e se desculpando por deixar de contemplar muitas
das tradições existentes, Mônica fala: “tem muita coisa neste Itapuã ainda a
ser pesquisada, ainda a ser revelada. Eu espero que outras pessoas façam esta
ampliação”.
O
ponto alto da celebração foram as declarações dos representantes culturais da
comunidade que tiveram oportunidade de voz frente ao público presente. Após a
homenagem do anfitrião e músico Amadeu Alves com as Ganhadeiras de Itapuã,
Mônica agradece, presenteia a todos os colaboradores com o livro-catálogo que
fora patrocinado com recursos próprios e abre o microfone para os
participantes. Ainda na sua fala contempla o pensamento de D. Niçu, que lutou
até o último dia de vida para manter a tradição que realizava com o pouco
dinheiro que juntava durante o ano. Nas palavras de D. Romilda, D. Niçu dizia,
“nós fazemos as festas para manter as tradições. E as tradições importantes.
Não deixar que as donas de cervejarias, das industrias, tomem conta da nossa
festa”.
Professora
da Uneb e do IFBA, Mônica concretiza com este trabalho o diálogo entre
Universidade e comunidade. Dani Romero, revisor dos textos para espanhol,
descreve com clareza esta relação de proximidade: “ a gente neste contexto de
guerra global, de um império global, a maneira de sair disto é apostar nas
letras, e apostar nas letras é apostar na cultura, na arte. Na banca de
professores tudo isto é muito bonito, e na prática eu acho que é isto aqui”, a
expressão artística e cultural de um povo que vive a sua essência, a sua
existência e que luta para manter e difundir a sabedoria ancestral que permeia
seu imaginário.
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Disponível
em https://www.youtube.com/watch?v=3WL4RjOs8b8&sns=em
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
LIVRO-CATÁLOGO DESVENDA A “CULTURA VISUAL DE ITAPUÔ
Por Albenísio Fonseca
Cantado em verso e prosa, o mais
emblemático bairro de Salvador ganha o primeiro levantamento sobre as
manifestações culturais, arquitetônicas, sacras e artísticas do lugar com o
lançamento do livro-catálogo “A Cultura Visual de Itapuã”. O evento
acontece nesta sexta-feira, 22, das 18h30 às 21h, na Casa da Música,
no Parque Metropolitano do Abaeté e contará com a participação especial do
grupo As Ganhadeiras de Itapuã, entre outros artistas e convidados.
A abordagem, em texto e fotos da
professora e doutora em Ciência da Educação, Mônica Lemos Bitencourt – docente
da Universidade Estadual da Bahia/UNEB e do Instituto Federal de Educação
Tecnológica da Bahia/IFBA – demonstra o quanto “Itapuã é um museu a céu
aberto”. Na publicação, decorrente de tese de doutorado em “defesa da inserção
da cultura local no desenho curricular das escolas públicas do bairro”, a
pesquisadora proporciona à memória da cidade informações de caráter ‘quase
arqueológico’ que, de todo modo, não se restringem ao local em si, mas para com
toda a secular história da capital, a exemplo da capela de São Francisco,
construída no século XVI no Alto da Boa Vista, na antiga vila de pescadores.
Em artigo publicado recentemente, ao
defender o tombamento deste patrimônio, a autora obteve a adesão da vereadora
Aladilce Souza, líder da oposição na Câmara Municipal, que já requereu o
tombamento deste marco arquitetônico e religioso junto à Municipalidade e a
organismos como o Ipac-Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia e
o Iphan-Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O livro-catálogo inaugura a Editora Boa
Ideia com primorosa edição de luxo, bilíngue (português/espanhol), capa dura,
132 páginas e abrange o período de 2009 a 2014. O amplo trabalho de pesquisa
contido na publicação privilegia as mais diversas manifestações culturais,
artísticas, sacras (com ênfase, também, para os terreiros de candomblé),
monumentos arquitetônicos, pinturas, grafites, esculturas, mosaicos,
artesanatos e objetos do cotidiano. O compêndio reúne, ainda, produções
criativas em espaço público de artistas como Carlos Bastos, Calazans Neto,
Juarez Paraíso, Márcia Magno, Bel Borba, Menelaw Sete, Baldomiro, Adauto
Barata, o italiano Giuliano Ottaviani, Manoel Araújo (Basqueteira), Ives
Quaglia, entre outros, em abordagem inédita.
Da estética do sagrado a um complexo de
linguagens
Manifestações culturais tradicionais de
Itapuã, pouco conhecidas dos demais soteropolitanos, como o Bando Anunciador,
Lavagem Nativa e a Lavagem com cortejo de baianas, que marcam a festa do lugar,
compõem, também, o memorial de extrema relevância para história de Salvador
como um todo e do bairro, em particular. Conforme a doutora em Educação
Narcimária Correia do Patrocínio Luz, que faz a apresentação do livro-catálogo,
“além do olhar atento sobre as singularidades de Itapuã transformadas em
imagens, Mônica Bitencourt também não se rendeu ao silêncio sobre a pulsão
criativa que emana, por exemplo, dos ritos africano-brasileiros que culminam
com as oferendas à Yemanjá no mar de Itapuã”.
De acordo com Narcimária Luz, “essa
pulsão criativa também se desdobra na estética do sagrado que estrutura as
comunidades-terreiros nas colônias de pesca, nas ruas, na feira, nos blocos
afros, festas de largo, Carnaval, grupos de samba, todo um complexo de
linguagens e dinâmicas institucionais características de Itapuã, são
cuidadosamente apresentadas pela autora”.
Mônica diz ter buscado contextualizar a
cultura visual enquanto campo de estudo transdisciplinar, híbrido, que se
alimenta, entre outros, dos estudos culturais, a um só tempo indagando como o
universo de imagens, artefatos e manifestações culturais, em Itapuã, afeta o
modo como vemos, como somos vistos e como somos capazes de ver, para além do
bairro, a nós mesmos e ao mundo”. Mesmo ressaltando “não ter a pretensão de
esgotar as abordagens possíveis sobre o amplo patrimônio ali existente”, ela
acentua o “propósito de provocar e valorizar um olhar estético na educação e na
ação pedagógica enquanto inserida na prática social, na medida em que o
livro-catálogo visa contribuir como material a ser utilizado nas escolas”.
Projeção de uma memória coletiva
A doutora em Ciência da Educação pela
Universidad de Cuyo, na Argentina, salienta o quanto “as representações
simbólicas da produção cultural e artística são significativas e fundamentais
na construção da identidade e do conhecimento dos indivíduos no universo dessa
localidade”. Para ela, “a cultura e a arte produzidas localmente em espaços
públicos, no geral, refletem, através do seu simbolismo, a ocupação de um
território e a projeção de uma memória coletiva da sua gente”.
Ela enfatiza, além do mais, que “a
presença de obras de arte nos espaços públicos (ruas e praças) democratiza o
acesso da população a esses bens, antes restrito a exposições em museus e para
públicos privilegiados”. Nesse sentido, Mônica destaca que “Itapuã distingue-se
de outros bairros de Salvador por comportar, em sua cultura visual, produções
de artistas acadêmicos e autodidatas que expressam vínculos históricos e
culturais do lugar, revelando sentimentos e percepções incrustados na cena
cotidiana da cidade”.
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Roteiro
O que: Lançamento do livro-catálogo “A Cultura Visual de Itapuã”, da
professora- doutora Mônica Lemos Bitencourt, pela Editora Boa Ideia.
Quando: Sexta-feira, dia 22 de janeiro, das 18h30 às 21h
Onde: Casa da Música, no Parque Metropolitano do Abaeté
Participação: As Ganhadeiras de Itapuã
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Albenísio Fonseca é jornalista, poeta e compositor
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
KIPOVI CABULEIRO, UM TOM DA MEMÓRIA DO CABULA.
Fachada
da Casa de Angola localizada na Praça dos Veteranos na Barroquinha
Foto
disponível em https://dimusbahia.wordpress.com/museus-da-bahia/centro-cultural-casa-de-angola-na-bahia/
A
Casa de Angola acolheu no dia 08 de janeiro
a defesa da tese de Doutorado da Professora Janice de Sena Nicolin
intitulada “Kipovi Cabuleiro, um tom da memória do Cabula”, sob a orientação da
Professora Doutora Jaci Maria Ferraz de Menezes. A tese integra o Programa de
Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia-UNEB.
Foto
cedida pela Casa de Angola na pessoa do
Professor Camilo Afonso
Antes
da defesa da tese, o Sr. Camilo Afonso convidou as Professora Doutoras
Narcimária Luz e Inaycira Falcão dos Santos para conhecerem as instalações e o
interessante acervo da Casa de Angola.
Foto
cedida pelo Professor Sérgio Ricardo Santos da Silva(Bahialista) pesquisador do Prodese
A banca examinadora foi composta pelas Professoras(da direita para a esquerda): Doutoras Inaycira Falcão dos Santos da Universidade de Campinas, Narcimária Correia do Patrocínio Luz Universidade do Estado da Bahia,Jaci Maria Ferraz de Menezes(orientadora e presidente da Banca)Universidade do Estado da Bahia, Ana Célia da Silva da Universidade do Estado da Bahia e Nadir Nóbrega da Universidade Federal de Alagoas.
Professora
Janice de Sena Nicolin no momento da sua defesa
Foto
cedida pela Professora Lúcia Oliveira professora do curso de Design da UNEB.
O
público atento a defesa da tese
Foto
cedida pela Casa de Angola na pessoa do
Professor Camilo Afonso
Foto cedida pela Professora Lúcia Oliveira professora do curso de Design da UNEB.
A Professora Doutora Narcimária antes de apresentar seu parecer, fez uma homenagem a Oxalá orixá patrono da sexta feira dia da defesa da tese.
A Professora Narcimária destacou no seu parecer:
"Os mais antigos nos contam que quando Oxalá, orixá que representa o ar veio a esse mundo, criou os seres humanos, e para cada ser humano criou uma árvore. As árvores carregam o princípio de ancestralidade, representam os ancestrais, e são elas que estabelecem a dinâmica da relação entre os seres humanos e a natureza. Oxalá possui poderes que garantem a existência e, pela sua importância no panteão nagô, merece respeito e atenção. As árvores são as responsáveis pela purificação do ar para que os seres humanos tenham plenitude de vida. Das árvores criadas, algumas se destacam nessa relação simbólica, a exemplo do dendezeiro com seus frutos, folhas e taliscas. As folhas estão relacionadas aos ancestrais,representando filhos,descendência ininterrupta. Nesta estética do sagrado, as árvores são as responsáveis pela purificação do ar para que os seres humanos tenham plenitude de vida.
Infelizmente as matas, e toda biodiversidade da Bahia, estão sendo destruídas pela máxima “time is Money”, colocando em risco o princípio de ancestralidade primordial para toda a humanidade.
Mas graças a Oxalá e o panteão das divindades africanas, a Bahia tá viva ainda lá!(parafraseando Caymmi 1964 com o samba de Adalgisa).O Cabula tá vivo ainda lá! Lá, nas comunidades tradicionais africano brasileiras que reverenciam o mar,os rios,as matas, as árvores,as dunas...A natureza, principío seminal de toda existência. “Ainda lá”, como um lugar de origem que torna a Bahia singular. "
Todos ficaram de pé compartilhando a saudação a Oxalá.
Foto
cedida pela Casa de Angola na pessoa do
Professor Camilo Afonso
Foto cedida pela Professora Lúcia Oliveira professora do curso de Design da UNEB.
A
professora Janice e sua netinha acompanham atentas os comentários da Banca
Para o PRODESE, a originalidade maior da tese da Professora Janice está em revelar que os contos como narrativas características da tradição africano-brasileira, se situam no contexto epistemológico africano, uma arkhé, uma origem de um complexo de linguagens e instituições.
Logo do Programa Descolonização e Educação-Podese
Criação Marco Aurélio Luz
Em
meio a uma espiral que dinamiza a expansão do patrimônio africano-brasileiro,
os contos são resultado da origem de um contínuo civilizatório que atravessa a
noite dos tempos, e estão presentes no Cabula. Instituições do complexo
cultural nagô e Congo-Angola sustentam essa continuidade através do kipovi.
Professora Janice respondendo as inquietações da Banca
Foto cedida pela Casa de Angola na pessoa do Professor Camilo Afonso
Outro aspecto fundamental nos “tons” do kipovi é o quilombo abordado como uma referência histórica e atualizado pelo valor da LIBERDADE!
Janice rasura e transcende os discursos etnocêntricos e racistas que atravessam o pensamento sobre Educação no Brasil.
É
dessa ligação profunda com sua territorialidade, seu solo de origem que Janice
nos aproxima dos “tons” do kipovi, nos
convidando a continuar a cultuar nossas origens, nossos ancestrais, envolvendo
nossas crianças e jovens, animando-os a erguerem a cabeça e terem orgulho de ser e pertencer as suas
comunalidades, que ao longo dos séculos se dedicam a manter a pulsão de vida para que a Bahia não acabe. Não podemos esquecer: a Bahia carrega
a identidade profunda das civilizações milenares das Américas e África.
Após a apresentação dos pareceres, a Professora Nadir Nóbrega tomou a iniciativa de homenagear a doutoranda e para isso, convidou a Professora Doutora Inaycira Falcão dos Santos para cantar apoiando a criação coreográfica que iria fazer. Foi sugerida o oriki que celebra a Iyalossô Odanadana que junto com a Iyá Nassô Akalá fundadaram o Ilê Axè Airá Intilé, considerada a 1ª casa da tradição nagô na Bahia.
Professora Nadir cria uma coreografia acompanhando o cântico Professora Inaycira homenageando Odanadana.
Foto cedida pela Casa de Angola na pessoa do Professor Camilo Afonso
Momento
em que a Professora Doutora Jaci Maria Ferraz de Menezes presidente da banca e Coordenadora do Programa Memória da Educação na Bahia-Promeba
faz a leitura da ata.
Foto
cedida pela Casa de Angola na pessoa do
Professor Camilo Afonso
Momento
solene da leitura da ata pela presidente da Banca
Foto
cedida pela Casa de Angola na pessoa do
Professor Camilo Afonso
Professoras
Jaci e Nadir Nóbrega curtindo seus presentes.
Foto
cedida pela Casa de Angola na pessoa do
Professor Camilo Afonso
No
encerramento do evento a Professora e recém Doutora Janice de Sena Nicolin, brindou
a Banca com presentes do artesanato baiano.
Foto
cedida pelo Professor Sérgio Ricardo Santos da Silva(Bahialista)pesquisador do Prodese
Finalizando os trabalhos,o Sr. Camilo Afonso aproveitou para destacar a importância da Casa de Angola para a Bahia, as perspectivas de intercâmbio e parcerias com as Universidades e comunalidades tradicionais.Demonstrou a satisfação na parceria bem sucedida realizada entre a Casa de Angola Professoras Jaci Maria Ferraz de Menezes e Janice de Sena Nicolin abrigando a defesa da tese.
Momentos
de descontração no pátio e jardins da Casa de Angola.
Foto cedida pela Casa de Angola na pessoa do Professor Camilo Afonso
Jovens
do Grupo ODEART prestigiando e apoiando o evento.
Foto cedida pela Casa de Angola na pessoa do Professor Camilo Afonso
Pátio
e jardim da Casa de Angola
Foto
cedida pela Casa de Angola na pessoa do
Professor Camilo Afonso
Professoras Doutoras Inaycira Falcão e Narcimária Luz no momento em que são presenteadas por crianças
Foto cedida pela Casa de Angola na pessoa do Professor Camilo Afonso
A
recém Doutora em Educação e Contemporaneidade comemorando com as netinhas
Foto
cedida pela Casa de Angola na pessoa do
Professor Camilo Afonso
Da esquerda para a direita: Professora Mille
Caroline Fernandes que inicia esse ano seu Doutorado em Educação e
Contemporaneidade e integra o grupo de pesquisadores do PRODESE; a recém
Doutora Professora Janice de Sena Nicolin integra o grupo de pesquisadores do
PRODESE; professora Doutora Narcimária Luz Coordenadora do
PRODESE;Professor Doutor Camilo Afonso
Nanizau, antigo adido cultural da embaixada de Angola em Portugal e atualmente
Diretor Permanente da Casa de Angola na Bahia,e a Professora Doutora Elizabeth Santana pesquisadora do Programa Memória da Educação na Bahia-PROMEBA
Inaycira Falcão dos Santos
Imagem disponível em hhtp://darinproducoes.blogspot.com.br/
A
referência e homenagem a Odanadana que compôs o inesquecível momento entrelaçando a bela
voz e interpretação da Professora Doutora Inaycira Falcão dos Santos e a
coreografia criativa da Professora Nadir Nóbrega,veio através de um
questionamento feito pela Professora Inaycira
sobre um aspecto da tese.
A seguir a Professora Doutora Inaycira Falcão interpreta no seu CD OKAN AWA o oriki que celebra os feitos da ancestral Odanadana.
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