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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 19 de março de 2011

SONHOS E PESADELOS

A propósito da tragédia que ocorre no Japão, com o pesar e sentimento de toda a humanidade solidária com a dor e o sofrimento dos que foram atingidos.Todavia não podemos nos omitir de pensar e refletir sobre as dimensões do que lá ocorre. Para isso nos valemos do filme SONHOS de Akira Kurosawa a quem rendemos nossa homenagem extensiva ao povo japonês. Lembrando que dia 23/03 é o dia do nascimento do expoente cineasta Kurosawa.
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Por Marco Aurélio Luz

Imagem disponível em http://eduardolamas.blogspot.com/2010/07/os-sonhos-de-kurosawa.html


Akira Kurosawa um dos mais importantes cineastas do mundo, dentre suas várias obras primas nos legou SONHOS.
Os sonhos narrados cinematograficamente na forma de contos são na verdade lições de vida de nossa atualidade marcada pela modernidade decadente que denega as tradições de diversos povos e impõe uma nova ordem imperial baseada nos valores anglo- saxônicos via EUA.
Com o Japão não é diferente e Kurosawa por diversas formas procurou sublinhar a riqueza cultural da tradição japonesa em seus filmes.
Em SONHOS o primeiro conto se refere à perda do respeito ao mistério, ao mundo dos ancestrais pelas novas gerações e as suas conseqüências.



Imagem disponível em http://www.samshiraishi.com/%E2%80%8Echuva-e-sol-casamento-da-raposa-dizia-minha-avo-japonesa/

Um menino curioso afronta o perigo adentrando-se na floresta para descobrir o mistério de quando faz sol e chove dá-se o casamento da raposa. Ele não ouve os conselhos da mãe para manter-se afastado, pois a raposa pode ficar muito zangada.
De repente numa atmosfera de neblina ele se depara com uma procissão de ancestrais que logo desconfiam de estarem sendo observados.

Imagem disponível emhttp://www.samshiraishi.com/%E2%80%8Echuva-e-sol-casamento-da-raposa-dizia-minha-avo-japonesa/

O menino com medo sai de detrás da árvore e foge para casa. Encontra a mãe na soleira do portão. A raposa já havia ali estado e deixara uma encomenda para o menino. A mãe lhe entrega já sabendo o que se passara. Ele verifica a encomenda e vê um punhal com o recado que deve se matar com ele. A mãe lhe aconselha de pedir perdão à raposa e fecha o portão dizendo que ele não pode voltar para o mundo da casa. Ele ainda pergunta onde encontrar a raposa. E a mãe responde que é no fim do arco-íris...

Imagem disponível em http://renatodidi.blogspot.com/2009/03/dreams-akira-kurosawa.html


Imagem disponível em http://vitaminab.blogspot.com/2008/01/entre-sonhos-e-castigos.html


No conto seguinte, há um menino de bom coração que sente muito pesar pelo que seus familiares fizeram com os pessegueiros, cortaram todos...
Ele então é visitado pelos espíritos das árvores, que só ele presencia, e eles usam trajes magníficos do Japão ancestral.
Eles testam o menino. Percebendo que ele destoa da humanidade vigente que não respeita as árvores, eles lhe concedem a graça de ver de novo os pessegueiros floridos através de um belo ritual com dança e música invocativas. Mas depois as lindas imagens se desvanecem e, resta ao menino o pesar pelo legado deixado pela geração anterior.

Imagem disponível em http://www.cinemaemcena.com.br/forum/forum_posts.asp?TID=16313&PN=2

A natureza pode ser benéfica ou maléfica para a humanidade. Essa é a lição do terceiro conto. Perdidos na neve um grupo de soldados é envolvido pela nevasca e pela presença sedutora da Morte.
O comandante procura reagir, a Morte recua, e então cessa a nevasca, o brilho do sol transparece por entre os cimos das montanhas e eles redivivos encontram de volta o acampamento.
O quarto conto nos fala da estupidez das guerras, o nonsense de viver para matar e morrer sem razão. Um túnel com soldados e seus espíritos ligando o nada à coisa nenhuma ilustra a situação em cores cinzentas.

Imagem disponíovel em http://www.ms.gov.br/noticias/index.php?templat=vis&site=136&id_comp=1068&id_reg=31704&voltar=home&site_reg=136&id_comp_orig=1068


O personagem guia dos sonhos de kurosawa está à procura de Vincent Van Gogh. Naquela presentificação onírica ele é tido como louco, mas é sobretudo um pintor obcecado. Ele se esforça por pintar a beleza do mundo exterior querendo que a pintura provoque as mesmas emoções e encantamentos das belas paisagens da natureza sentidas por ele. Porém elas se lhes escapa por mais talento e técnica pictórica utilizados.
O seu próprio corpo lhe escapa; não conseguindo pintar sua orelha como deseja, prefere cortá-la fora...
O personagem deixa o pintor e caminha por seus quadros e assim nessa busca, continua buscando.


Imagem disponível em http://tonsdecinza.estudioacre.com.br/?cat=26


Outro conto fala de como uma manifestação da natureza pode abalar a segurança das usinas atômicas precipitando uma tragédia. As usinas atômicas são símbolos ideológicos do domínio tecnológico do progresso industrial e bélico.
Uma família, ingênua de tudo, um casal e dois filhos pequenos, encontram-se acuados no alto de um penhasco precipitando-se no mar aberto pelas nuvens de poeira atômica que se aproximam. Elas resultam do descontrole das usinas. Compartilhando esse momento com a família um senhor de roupa ocidental de terno e gravata vivendo aquela angústia vai explicando o perigo de morte que se lhes aproxima. Por fim ele acaba por revelar que é um dos cúmplices daquele acontecimento, pois é um dos gerentes da concretização desse programa nuclear. Por fim aconselha a se jogarem no mar por ser uma morte de menos sofrimento. A poeira se aproxima e num repente ele se atira se suicidando. A família tenta inutilmente afastar a poeira mortal, o pai tira o capote para com ele tentar se defender com safanões, a mãe se debruça sobre os filhos para protegê-los. De nada adianta a nuvem de radiatividade vai envolvendo a todos.
Como num sonho um personagem nos guia perdido num mundo pós destruição atômica. Deformações genéticas e a esterilidade da natureza que compõem a paisagem formam um
cenário aterrador. Surgem homens com chifres que tentam reerguer uma nova ordem social de hierarquias que abrange o canibalismo. Tudo muito triste...



Imagem disponível em http://www.cinesemana.com.br/categoria/filme-favorito/

No último sonho o personagem caminha por paisagens do interior e vai parar numa aldeia do Japão rural afastado da mundaneidade moderna.
Está acontecendo um funeral. Aqui a morte é comemorada com alegria, pois a pessoa cumpriu o seu ciclo vital, alcançou a longevidade, colaborou com a comunidade que agora se reúne para celebrar.Encontra-se com um senhor de idade avançada, mas com muita saúde.

O cenário é de paz e harmonia com a natureza. As águas límpidas do regato movem os moinhos que transformam grãos para alimentar a vida.

Imagem disponível em http://setimofilme.wordpress.com/category/akira-kurosawa/


O senhor explica esses valores de equilíbrio e harmonia e se despede integrando-se ao séquito do funeral numa procissão levando o caixão com arte: música dança e cânticos de alegria.
A procissão passa como as imagens das águas do regato, límpidas contendo plantas aquáticas que embelezam o fluxo da correnteza... É a vida numa outra dimensão...

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