Falar de futebol é falar de lúdico e simulacro. O lúdico se
refere à aprendizagem de forma prazerosa através do jogo, que se expressa através
do simulacro, uma imitação de outra realidade.
A competição é o
caminho das emoções que envolvem vencer ou perder para o adversário. Vida e
morte estão sublimadas pelo prazer lúdico do jogo.
O futebol atual foi criado na sociedade industrial. Ele se
caracteriza pela simulação da produção fabril.
Surgindo na Inglaterra no bojo do neocolonialismo ele se
espalhou por diversos países.
Fábrica Bangu e o campo de futebol
O jogo começa como o turno fabril pelo apito, que expressa a
autoridade que regerá o espaço e o tempo de duração e o cumprimento das regras
que restringindo as ações culminam com o produto final, ¨ goal¨. As equipes lutam
entre si para fazer mais gol, para acabado o tempo resultar a vencedora.
A equipe ou ¨team¨ se caracteriza por onze jogadores com
características e funções complementares, como a divisão do trabalho por
setores. A passagem da manufatura para a indústria se revela, sobretudo, por
essa forma de organização. Assim como na indústria, cabe ao técnico elaborar as
táticas de organização mais produtivas durante o tempo e o espaço delimitado.
O campo de jogo é esquadrinhado, e a atuação no estilo do ¨nobre
esporte bretão¨, se faz por linhas retas, acrescentado de cruzamentos pelo
alto. Dois valores do imaginário europeu se projetam, o golpe de cabeça que
guarda o cérebro expressando a abstração e o mundo científico e, o celestial
desdobrado da religião.
O mundo científico
procurará nortear a prática do futebol, como de resto toda sociedade industrial.
As chamadas comissões técnicas ocupando mais espaço.
Tanto as elites dirigentes do Estado, quanto os
trabalhadores, praticarão o futebol em suas origens em fins do século XIX.
Garrincha na equipe da Fábrica da América Fabril em Pau Grande
Na várzea ou em espaços nas fábricas foi tomando conta do
Brasil.
Com a presença de jogadores negros, os melhores, uma
filosofia, uma nova linguagem transformará o¨nobre esporte bretão. ¨
No Rio de Janeiro, com a imigração baiana nos inicios do
século XX, o conceito de odara emerge
da religião para se desdobrar por outras instituições. Lembremos que o núcleo
original do samba na casa de Tia Ciata de Oxun, Iya Kekere do terreiro de João
Alagba, se espraiou levando beleza, alegria e encantamento aos desfiles dos
ranchos até as escolas de samba.
Odara significa
bom e bonito, técnico e estético simultaneamente. Em toda comunicação
institucional, odara sobredetermina
as ações através de diversos códigos, dos
itans, contos da literatura de Ifá
à culinária litúrgica, das festas de largo ao carnaval.
Não podia ser diferente com a participação da comunidade
negra no futebol.
Equipe do Bangu, com Domingos da Guia à direita da foto
Nomes gravados na história, como Friedenreich, Manteiga,
Domingos da Guia o Divino Mestre, Fausto a Maravilha Negra, Leônidas o Diamante
Negro, e tantos outros foram os pioneiros na criação do Futebol Arte.
Leônidas da Silva, Friedenreich e Pelé
O
tempo e o espaço do jogo tomaram outra dimensão para se adaptar à beleza e
singularidade da ginga emergente da roda de capoeira, permitindo se tornar
invisível para o adversário como o inimaginável
Didi e Garrincha
Garrincha,
acrescentando ludicidade, alegria e eficiência desestruturando as defesas do
adversário. A maestria do toque na bola envolvendo a mágica na sua trajetória
como a folha seca de Didi, que afirma:"quem corre é a bola" respondendo aos "idiotas da obviedade" conforme Nelson Rodrigues.
Ele apreciava a cadência
elegante das passadas de Didi, numa
postura ereta levando-o então denomina-lo de Príncipe Etíope de Rancho. O
imponderável Pelé que aos 17 anos já rei, tratava a bola de chulinha embelezando
gols imortais e que com seus companheiros na copa de 1958 acabava com o que
Nelson denominou de "complexo de vira lata".
Mario Filho relata que numa excursão a Europa em 1956 assim
se referiam à seleção brasileira: "Nas folhas londrinas, o futebol brasileiro
tinha tudo de um circo: o comedor de fogo, o engolidor de faca, os acrobatas,
os trapezistas, até os palhaços. Só não tinha essa coisa elementar que era um time."
A
taque da seleção de 1956, Sabará, Didi, Zizinho Valter e Escurinho
Como dizem:sabe de
nada inocente...
Seleção Campeã do Mundo em 1958
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