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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


terça-feira, 28 de outubro de 2014

O MUTANTE EGÍPCIO Remember the Time, TV de Cor

         
Por Marco Aurélio Luz


Em artigo anterior publicado na “A Tarde Cultural”, realizamos algumas reflexões sobre o clip de Michael Jackson, Black or White. Naquela ocasião chamamos a atenção sobre duas partes da narrativa, a primeira que se referia a diversidade humana, compreendendo as diferenças culturais e suas formas de comunicação, a segunda que indicava que para se perceber essa multiplicidade de alteridades era preciso quebrar as vidraças da redoma do paradigma do Estado ou sistema social da modernidade uno, unívoco e unidimensional, positivista, consumista e totalizante.
            Essa segunda parte, uma ousada coreografia, foi posteriormente censurada pela TV.
            Mas depois do quebra-quebra não surge a anomia, a desordem ou o caos. Ao contrário emerge com o clip Remember the time, o novo com a projeção dionisíaca da temporalidade pós-moderna, apontando para valores antiquíssimos das civilizações humanas, alimentando a força imaginal constituinte de novas utopias.
            Uma das características da pós-modernidade é a emergência da afirmação da diversidade humana e da pluralidade cultural, mesmo que essa emergência venha acompanhada de reações como ocorre com alguns movimentos intransigentes como por exemplo na França e na Alemanha.
            Portanto esse novo, já foi aludido pelo clip Black or White nas imagens das crianças brancas que metaforicamente pontuam a nova esperança de um possível verdadeiro ecumenismo.
Em Remember the Time também elas estão lá, ao lado de Michael Jackson assistindo as filmagens.



Egito Antigo
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Imagem disponível em michael_jackson_remember_the_time_1-9247
            
O novo é portanto a crença num mundo mutante, mas ao mesmo tempo de valores imperecíveis corno pode se decodificar da presença do gato e o ouro, matiz dourado que transluz na encenação e abre a narrativa do clip.
            O ouro neste contexto não é símbolo de riqueza entesourada traduzido em contabilidades monetárias, mas, por ser metal nobre, imperecível tange a simbolização da dimensão inexplicável da eternidade do existir, gema de ouro.
            Luminicencias douradas marcam essa coreografia que conta uma estória do Egito faraônico. Um faraó que querendo agradar sua esposa entediada oferece-lhe a apresentação de algumas atrações espetaculares para que se divirta. Todavia ele perde o controle quando um personagem misterioso e sedutor desperta nela a paixão. Com seus soldados ele persegue o personagem que acuado some no invisível.
            Poderíamos perguntar, conforme se faz com as fábulas de Esopo, qual a moral da estória?
            E responderíamos primeiramente realçando o fato de todos os atores-personagens serem negros. Isto porque durante anos de colonialismo, o Egito faraônico foi representado, de forma deformada, embranquecido..., especialmente há alguns anos atrás pela indústria do cinema de Hollywood.
            Num tempo, que ainda se prolonga, em que as ideologias racistas e positivistas procuravam apresentar os povos não-brancos como inferiores através de sofisticadas teorias, o Egito faraônico, berço das civilizações, causava um impacto que precisava ser silenciado.
       


Imagem disponível em egito_antigo httpmisteriosantigos.50webs.com
  



Egito Antigo

 Imagem disponível em black20 pharaohhttp://kamugere.wordpress.com/


Imagem disponível em http://africanhistory-histoireafricaine.com/

Entretanto, os movimentos de libertação do colonialismo e do imperialismo trouxeram em seu contexto intelectuais como Cheikh Anta Diop do Senegal, que dedicou-se em seus trabalhos em resgatar a veracidade étnica negra do Egito faraônico, constituído no baixo Egito e num tempo muito anterior as presenças de povos semíticos e indo-europeus e cuja formação étnica era totalmente distinta da atual população mestiça árabe-muçulmana que caracteriza o país na atualidade. 



Imagem disponível em http://diop-docteur-HC http://www.sangonet.com/



   Cabe acrescentar, que Diop e outros intelectuais provocaram significativa revisão das influências do Egito faraônico em diversos continentes, não só na África, na Ásia e na Europa, mas também na América, comprovando relações entre a civilização Egípcia e a dos Maia, Azteca e Inca, ocorridas há milênios.


Egito Antigo

 Imagem disponível em http://19419833e7a045a7705e1110.Lhttp://www.redeangola.info/

Portanto é nesse Egito negro faraônico resgatado que se desenvolve a dramatização da narrativa de Remember the Time.

Egito Antigo
Imagem disponível em http://ppretaegorda.blogspot.com.br


Além disso porém, a narrativa possui um significado transcendental.
 É que diante das atrações espetaculares, a rainha não se comove nem com a destreza do malabarista, nem com o poder mágico do engolidor de fogo. Ela se encanta porém com o personagem entidade, que semeia grãos, some e reaparece com nova forma. Aquele que é capaz de abranger com sua ação os planos do visível é do invisível. O que tangencia o mistério da gênese e portanto da ancestralidade.
            Sabemos que em geral na África e nas Américas negras, os papéis sociais masculinos e femininos são diferenciados, todavia complementares. Enquanto os homens estão mais voltados para a organização social comunitária, as mulheres estão voltadas para gerir o equilíbrio e a harmonia cósmica uma vez tendo o poder sagrado de lidar com ás forças da natureza.
            O poder feminino está ligado ao processo de gestação, a capacidade de transformação do corpo da mulher, promovendo o desenvolvimento de um novo ser e que a aproxima com as representações dos mistérios do interior da terra. O mistério da sucessão de linhagens, o eterno ciclo de nascimento e morte, envolve o desejo desperto de um poder feminino representado na narrativa por um beijo do personagem etéreo na rainha, com as pirâmides, que guardam os sárcófagos faraônicos, na paisagem do horizonte da janela.
            Pirâmides que representam a força de uma civilização alicerçada no culto aos ancestrais veneráveis, corrente ininterrupta de vida e morte que garantem o estarmos hoje aqui e agora... Na África e nas Américas negra, o culto aos ancestrais tem a mesma pujança na constituição das alianças comunitárias.
            Todavia esse desejo e poder despertado na rainha preocupa o faraó, e como o lúdico não está separado do sagrado, segue-se na narrativa a perseguição, o esconde-esconde, até que o personagem misterioso é cercado pelos guardiões do palácio e então some num redemoinho de pó de ouro; estava aqui, não está mais, visível/invisível, estará sempre...
            Esta elaboração de aspectos transcendentais da existência, como indicou Muniz Sodré no livro Samba o Dono do Corpo está representado na música negra pela síncopa, a presença da ausência, o vazio, a batida que falta; presente, ausente, presente num tempo mais forte.
            Englobar dimensões múltiplas da existência, ou do existir, o visível e o invisível é característica da cultura negra, elaborações de conhecimentos envoltos numa dimensão estética. Odara, é um conceito nagô onde o útil e o belo constituem-se de forma única, bom e bonito é uma coisa só. Essa dimensão estética do saber recorre a diversos códigos complementares que apóiam e expressam a narrativa. Dança, canto, música, dramatização, vestuário, coreografia, cenário, etc. se unem na harmonia da linguagem negra, e é o que Michael Jackson realiza na TV.
            Assim como o negro americano já fizera com os instrumentos brancos criando o jazz inicia-se um processo de Tv de cor, pós-moderna.

Notas
* Publicado no Caderno Cultural do Jornal A Tarde, 1992.
 Publicado no livro;  http://www.cairu.br/biblioteca/arquivos/Diversidade_Cultural/Cultura_negra_tempos_pos_modernos.pdf

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