Por
Marco Aurélio Luz
O filme consagrado de Luchino Visconti é baseado no famoso livro Il Gattopardo (1954-1957) de Giuseppe Tomasi di Lampedusa.
O filme O LEOPARDO
(1963) de Luchino Visconti, é uma belíssima abordagem sobre a época do
Ressurgimento Italiano dos inícios aos meados do século XIX que culmina com a
reunificação da Itália e o reinado de Vitor Emanuel II da Casa de Saboia. O
movimento teve participação ativa de Giuseppe Mazzini, admirador das ideias
socialistas de Saint-Simon e de Giuseppe Garibaldi. Depois de muitas batalhas e
combates, o grande herói Garibaldi, aceita aliança com o rei pela unificação da Itália
e são descartados naquele momento ideais republicanos e socialistas.
O encontro de Garibaldi e Vitor Emanuel II, Pintura de Sebastiano De Albertis (1870)
As primeiras
imagens denotam a aparência de um grande palácio desgastado pelo tempo.
Palácio do Príncipe de Salinas
O
caminho de entrada margeado por estatuas de mármore, culmina com um terraço
que dá entrada a uma sala onde a família do Príncipe de Salinas Don Fabrizio (Burt
Lancaster), reza unida acompanhando a ladainha do padre.
Tropas revolucionárias de Garibaldi invadem a Sicília, levando a bandeira tricolor.
Num repente, alaridos externos denotam a situação. Há guerra. Tropas de Garibaldi
desembarcam na Sicília desejando o fim da aristocracia e seus privilégios.
Seu
jovem sobrinho Tancredi (Alain Delon), surpreendentemente vai se alistar nas
forças revolucionárias. Seu tio pede uma explicação e obtém a respostas que
será o mote do magnifico filme:"é preciso que as coisas mudem de lugar para
permanecer onde estão".
Don Fabrizio lê a carta de um aristocrata alertando para os perigos que etão correndo
Para Don
Fabrizio se retirar para seu palácio de férias em Donna Fugata, é a solução. A
ultrapassagem de uma barreira na estrada, composta pelos revolucionários com a
intervenção de Tancredi, é um primeiro sinal de que o sobrinho tem suas razões.
Barreira na estrada
A chegada na
vila com o respeitoso acolhimento e reconhecimento do poder aristocrático, é
um índice para novas negociações. O prefeito do lugar, próspero novo rico, Don
Calogero Sedara (Paolo Stoppa) ainda súdito e admirador da aristocracia de sua
refinada e elegante linguagem do poder, representará um novo tempo de aliança
entre a nobreza e a burguesia.
Don Calógero estende a mão ao Príncipe que o trata com desprezo.
Convidados para
um jantar, a filha de Don Calógero chama atenção por seu charme e estonteante
beleza.
O jantar no palácio do Príncipe de Salinas em Donna Fugata
Angélica filha de Don Calógero, abastado burgues.
Angélica (Claudia Cardinale) e Tancredi se seduzem um pelo outro.
O charme da burguesia encanta o jovem aristocrata
Tancredi conta uma historieta picante de convento freiras e soldados. Angélica reage com estrepitosa gargalhada, o que provoca a retirada de todos da mesa acompanhando Don Fabrizio. Está encerrado o jantar.
A aliança com a burguesia encerra também a aliança da nobreza com o clero. O Estado será laico.
Outro admirador
da estética que envolve a decoração do palácio na Sicília e seus afrescos no
teto, é o general que comanda as tropas e que acompanha Tancredi. Em dado
momento da visita o general refere-se a Don Fabrizio com o tratamento de
Excelência, o que logo Tancredi percebe como índice de confirmação de suas ideias.
O general a convite de Tancredi visita o palácio do Princípe de Salinas
Acontece um
plebiscito sobre a Itália unificada. Surpreendendo a todos, Don Fabrizio vota a
favor. Em diálogo com um súdito que o acompanha nas caçadas Don Ciccio, ele
explica a mesma estratégia que lhe sugeriu Tancredi.
Durante caçada Don Ciccio tenta entender a estratégia da aristocracia
Sem bem entender do que se
trata por ser grato e fiel a aristocracia dos Bourbons ele se exalta dizendo que votou contra a unificação da Italia. A pedido do príncipe Don Ciccio dá informações preciosas sobre a fortuna de Don
Calogero e o comportamento de sua filha de esplendorosa beleza.
Mais tarde quando Don Fabrizio revela o interesse de aliança com representantes da burguesia Don Ciccio se revolta dizendo ser o fim da nobreza.
Foi acalmado por D. Fabrizio que afirma que é essa aliança que manterá a continuidade da aristocracia.
O Príncipe recebe
carta de Tancredi pedindo que intervenha num pedido de casamento da linda Angélica. Don Calogero é convidado ao palácio e em meio
a soberba do príncipe apresentando sua árvore genealógica, ele contrapôs
apresentando o dote para sua filha, um latifúndio de ótimas terras produtivas,
e uma apreciável soma de dinheiro para Tancredi. Está selado o acordo.
Com a oferta de Don Calógero o acordo de casamento é selado
Em meio a uma
tempestade, retorna das batalhas Tancredi acompanhado de um amigo também nobre e
de um ordenança. Entre abraços e regozijos de sua chegada, Don Fabrizio
estranha o novo uniforme azul ao invés do anterior vermelho. Tancredi explica
que a revolução acabou e que então ingressou no exército do rei Don Emmanuel,
agora sim "um verdadeiro exército", diferente das guerrilhas populares de
Garibaldi.
Tancredi passeia
com Angélica pela opulência decadente do palácio, caem deitados numa alcova
empoeirada em um dos cômodos se beijam, mas ele renuncia prosseguir alegando
que só depois de casar. Preserva o direito de herança da nobreza.
Com dinheiro
dado por Don Fabrizio que economizou, apresenta um lindo anel de noivado.
Integrado no exército do rei Vitor Emmanuel II Tancredi oferece o anel de aliança
Num lindo palácio há um grande baile
oferecido pela nobreza,onde as linhagens aristocráticas, abastados burgueses e a alta hierarquia militar se confraternizam . A Itália unificada demonstra no baile, as
novas alianças que constituem o novo bloco no poder.
O baile sacramenta a aliança da aristocracia com a burguesia garantida pela força militar
A burguesia
admira maravilhada a linguagem estética do poder aristocrático e este admira o
poder dos novos tempos de exercício de acumulação econômica.
Enquanto o casal se encontra no baile Don Calógero admira a decoração que ostenta o palácio
O Príncipe demonstra satisfação com a nova união
Esta aliança
esta representada pela excelência na dança do par Angélica,com sua beleza e o
frescor dos novos tempos, e Don Fabrizio em sua admirável elegância
aristocrática.
A elegante apresentação na valsa de Don Fabrizio e Angelica demonstra a todos a passagem do tempo
Saindo do
palácio o Príncipe caminha só, deprimido, sabe que os tempos são outros.
Saindo do palácio só, o Príncipe caminha pelas alamedas da vila carente.
No caminhar ele pensa:
"-Nós éramos os leopardos, os leões; esses que nos substituiram são os chacais, as hienas; e todos os leopardos, chacais e ovelhas, continuarão a acreditar no sal da terra".
Nota: Fotos disponíveis na internet
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