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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sexta-feira, 12 de junho de 2015

DESCOLONIZAÇÃO E EDUCAÇÃO POR UMA ECOLOGIA DE SABERES

Por Narcimária C. do Patrocinio Luz 




Solenidade de Colação de Grau dos Formandos 2.014.2- Pedagogia - UNEB Lauro de Freitas
Mesa composta por autoridades e membros do corpo docente da UNEB
Ao centro o Reitor da Universidade do Estado da Bahia José Bites.Da esquerda para à direita: Elita Nair dos Santos, uma das  funcionárias homenageada;Narcimária Correia do Patrocínio Luz, Patrona da turma;Mary Valda Souza Sales, Coordenadora do Colegiado de Pedagogia;Valdélio  Santos da Silva, professor homenageado da turma e Diretor do Departamento de Educação Campus I;representante da Prefeitura de Lauro de Freitas;Maria Helena Moraes Amorim, Paraninfa da turma;Antônio Amorim, professor homenageado da turma;Elaine Cristina Secretária Acadêmica do Departamento de Educação.
Foto Maurício Luz

Estendo essa homenagem às gerações de educadores que muito influenciaram a minha vida científico acadêmica.
Dentre eles, educadores como meus pais, Januária e Narciso com os quais compartilhei muitas ideias, valores e diversas performances na área de Educação.

Professora,pintora e educadora Januária Correia do Patrocínio


Professor, Educador Narciso José do Patrocínio

Meu pai costuma dizer:
“Acredito em Educação como um caminho valioso para superarmos as desigualdades sociais, a desesperança que toma o planeta... A Educação para mim é uma forma de aplacarmos o ponto de interrogação que temos sobre o futuro. Estamos vivendo uma sociedade que valoriza o ter mais que o ser... O dinheiro é a máxima da vida agora, e esse valor coloca a vida por um fio...” (Narciso Patrocínio).
Outra personalidade de suma importância na minha vida foi o querido Mestre Didi, um educador importante na história da Educação no Brasil, e que sempre me inspirou e  proporcionou descobertas infindáveis de linguagens na área de Educação.


Líder sacerdotal, escritor, escultor, educador, Deoscoredes M. dos Santos, Mestre Didi

Peço uma salva de palmas para o Professor Doutor Marco Aurélio Luz, cientista social, cujo pensamento teórico-epistemológico alicerçou todas as aulas que realizei nessa turma.

Professor, escritor, escultor, educador Marco Aurélio Luz no auditório do Cine Teatro de Lauro de Freitas.
Foto Maurício Luz


Outra personalidade que gostaria de destacar estendendo essa  homenagem, é  B.B. King,conhecido como o"Rei do Blues" e que perdemos neste mês de maio.A genialidade do toque da guitarra de  B.B. King e a riqueza do seu  seu repertório,  também faz parte das escutas poéticas que marcaram a minha vida alimentando-me emocionalmente.  



Imagem disponível em http://www.business2community.com/social-buzz/thrill-gone-b-b-king-gone-01227823

 Assim como o  blues,o samba,o jazz,  também me  inspiram  animando-me como educadora a transcender corajosamente a teia dos discursos   tecnoburocráticos  na área de Educação. BB King certa vez comentou:
 “A beleza do aprendizado é que ninguém pode roubá-lo de você. Eu sei que tenho um trabalho que eu gosto, e quando parece que as pessoas gostam do que eu faço, eu ainda gosto mais. Quando eu consigo deixar aflorar algo que me faz mais forte, sinto que isso me dá energia.” (B.B. King).
Também tenho esse mesmo sentimento!
 Esse é meu ânimo!
Acredito que pensar e atuar na área da Educação no Brasil do jeito que venho fazendo, deve-se muito ao meu envolvimento comunitário! Através dele me aproximo das minhas origens, ancestralidade africana, minha descendência africano-brasileira que me envolve em linguagens ético-estéticas singulares. Só sei que minhas atividades científicas e acadêmicas são influenciadas por esse envolvimento comunitário que torna possível identificar abordagens, reflexões, proposições e iniciativas preciosas.
Há um provérbio africano nagô que diz que “os dedos não são iguais”.
Simples, não? Não. Não é!

Imagem disponível em http://pt.dreamstime.com/fotografia-de-stock-aberto-entregue-para-tr%C3%A1s-image2183782

Cada dedo tem um tamanho que os diferencia. Eles são opostos, mas a mão serve como base de sustentação, reunindo-os, assegurando as diferenças que os caracteriza, fazendo-os conviverem com suas singularidades, tornando cada um importante para a funcionalidade da mão.
Esse aprendizado dos provérbios caracterizam canais valiosos para nós educadores! Esse de modo especial, me fez reconhecer e valorizar a pulsão de vida que essa turma emana!

Professora Narcimária C. Do Patrocínio Luz profere seu discurso de patronesse.

Foto: Maurício Luz


Aprendi com vocês a lidar com emoções envolvendo, dor, alegrias, perdas, ternura, raiva, recalques profundos a identidade própria, silêncios profundos, medos, frustrações, vitórias, impotências, superação, sonhos, encontros, desencontros, arrogância, egocentrismo, lágrimas, ternura, morte/vida... ou parafraseando o poeta Gonzaguinha “trajetórias opostas sem jamais deixar de sonhar”.
Pois bem graduandos/as (aqui acho melhor falar no singular): Se você sabe quem você é, a sua origem, sempre vai fazer o exercício de: "...  Voltar e apanhar de novo. Aprender do passado, construir sobre as fundações do passado.  Em outras palavras, volte às suas raízes e construa sobre elas para (...) a prosperidade de sua comunidade em todos os aspectos da realização humana". (Elisa Larkin)

SANKOFA!




Lembram-se do nosso mosaico de histórias da educação?



Oficinas lúdico-estéticas Sankofa Mosaico Redivivo de História(S) de Educação desenvolvidas com crianças da Educação Infantil e Ensino Fundamental pelos graduandos/as de Pedagogia no 1ºsemestre 2011.


Oficinas lúdico-estéticas Sankofa Mosaico Redivivo de História(S) de Educação desenvolvidas com crianças da Educação Infantil e Ensino Fundamental pelos graduandos/as de Pedagogia no 1ºsemestre 2011.

Indagações de princípio compuseram a minha convivência com vocês: é possível “formar” educadores sem aproximá-los da riqueza de linguagens que caracterizam a formação social brasileira? É possível “formar” educadores sem que eles exercitem a análise do discurso fundamental às elaborações contextuais capazes de transcender a abordagem linear e evolucionista da história?
Audácia, curiosidade, sensibilidade, criatividade e vivacidade eis algumas das características fundamentais para o exercício de uma nova arte de pensar a contemporaneidade e seus desdobramentos na educação. Como ser educador sem conhecer a História da humanidade, e aqui me refiro às civilizações da Áfricas, Américas, Caribe, Ásia, Europa, Oceania? Que educador pode viver sem conhecer a história das suas origens?
Aqui destaco que todo caminho que percorremos foi o da descolonização e, através dele, conseguimos compor uma ECOLOGIA DE SABERES . A descolonização nos obriga a pensar radicalmente o lugar em que estamos pensar a partir das nossas raízes. Você só muda ou se transforma a partir do seu lugar, da sua comunidade. Você só se universaliza a partir da sua cidade de seu país.
Descolonizar na área de Educação é para promover a diversidade, educar para o sensível, o afeto, para uma ética da coexistência.
Quando me refiro à ecologia de saberes, é para destacar a importância de darmos valor as nossas territorialidades, ao povo que nela vive, e aprendermos a recorrer a esses arquivos vivos de sabedorias e memórias africanas e aborígines para falarmos sobre o nosso solo de origem, sobre quem nós somos e o impacto desses valores para as gerações sucessoras.

Homenagem à professora Narcimária.
Professora Narcimária com a graduanda Cremilda Sacramento
Foto Maurício Luz


De tudo o que fica...
O exercício que fizemos durante o tempo de convivência... A recusa implacável ao lugar comum e equivocado da educação neocolonial que impõe a subserviência.
Estamos formando uma geração de educadores que terão que lidar com muitos desafios. Aproveito a oportunidade para me referir a Declaração de Incheon na Coréia do Sul que traça a agenda de educação global para os próximos 15 anos, ou seja, as novas metas mundiais de educação no período 2016-2030. Nelas estão as orientações legais de políticas para a educação, em um documento que irá mobilizar todos os países para implementar a nova agenda.
Desejo que vocês não se calem diante da agenda da Declaração de Incheon. Ousem! Proponham! Incluam inquietações urgentes e candentes! Assumam o direito à alteridade civilizatória dos povos como um princípio fundamental!
Quando apresentarem a vocês (os tecnoburocratas da educação) a Declaração de Incheon, como uma “moda” a ser seguida. Insurjam-se! Incluam na agenda da Declaração de Incheon o direito à vida, à existência! Abram o debate para a institucionalização de instrumentos jurídicos que protejam as nossas crianças e jovens das políticas genocidas tão presentes nas sociedades contemporâneas; Reivindiquem políticas públicas que contemplem direitos coletivos capazes de estabelecer espaços institucionais de combate ao racismo e suas engrenagens ideológicas, que tendem a tragar a vida, levando muitos povos  a terem que lidar com situações marcadas por muita dor e humilhação.  
Vocês podem perguntar: mas professora será que estamos preparados/as?
Essa pergunta me lembra um diálogo muito interessante que vi no filme “Selma, uma luta pela igualdade”(2014).


Imagem disponível em http://ahoradofilme.com.br/2015/01/12/bilheteira-fim-de-semana-nos-eua-busca-implacavel-3-fica-com-lideranca/


 O filme aborda aspectos da organização e realização da marcha pelos direitos civis na cidade de Selma no Alabama em 1965. O diálogo acontece entre Coretta King esposa de Martin Luther King e Amélia Boynton, uma liderança feminina importante na história do movimento dos direitos civis nos EUA.
Martin Luther King é preso,e Coretta se vê envolvida na condução do processo de organização da marcha e outras providências.Nesse ínterim,acontecerá  um importante encontro com Malcom X  e nele, ela terá que afirmar e assegurar que  as ideias do seu marido não se dispersem. Coretta se sente insegura no decorrer desses preparativos,é assim que ela expõe seus sentimentos e receios para Amélia.
O diálogo é assim:
Coretta King: Gostaria de ter mais tempo para preparar todos nós. Será que estou preparada?
Amélia Boynton: Não tema!Somos descendentes de gente poderosa, que deu a civilização para o mundo. Gente que sobreviveu a navios negreiros, através de vastos oceanos. Gente que inovou ,criou e amou, apesar das grandes pressões e torturas inimagináveis. Estão no nosso sangue, bombeando nossos corações a cada segundo. Eles lhe prepararam! "


Cena do filme “Selma, uma luta pela igualdade”(2014) Diálogo entre Coretta King e Amélia Boynton interpretada pelas atrizes Carmen Ejogo e Lorraine Toussaint
Imagem disponível em https://abbieplouff.wordpress.com/2015/01/19/on-the-women-of-selma/
Vocês estão preparados/as!


Homenagem ao Professor Doutor Marco Aurélio Luz.
Marco Aurélio recebendo a placa de Amigo da Turma pela Graduanda Ana Patrícia F. Reis da Silva
Foto Maurício Luz
Acrescento ainda outra perspectiva político filosófica que ratifica a abordagem da Descolonização e Educação tão preciosa em nossas vidas.
A utopia que nos move na direção dessa abordagem da Descolonização e Educação, carrega também um pouco da sabedoria guerreira milenar dos nossos povos inaugurais das Américas. Escutem  a mensagem que finaliza o conjunto dessas reflexões que trago essa noite com o coração:
 “[...] no caminho do guerreiro, cabe você discernir o que foi tecido pelos fios divinos e o que foi tecido pelos fios humanos. Quando você principia a discernir, você se torna um txucarramãe-um guerreiro sem armas. Porque os fios tecidos pela mão do humano formam pedaços vivificados pelo seu espírito. Essa mão gera todos os tipos de criação. Muitas coisas fazem parte de você para se defender do mundo externo, geradas pela sua própria mão e pelo seu pensamento. Quando você descobre o que tem feito da sua vida e como é a sua dança no mundo, desapega-se aos poucos das armas, que são criações feitas para matar criações. De repente, descobre-se que, quando paramos de criar o inimigo, extingue-se a necessidade das armas” (Kaká Werá Jecupé).


Kaká Werá Jecupé
Imagem disponível em http://www.irradiandoluz.com.br/2008/10/somos-parte-da-terra-e-ela-e-parte-de.html
Muito obrigada por essa singela e importante homenagem!
Para dar mais vigor a essas reflexões acompanhem a genialidade do Rei do Blues B. B. King no vídeo a seguir.



Reflexões desenvolvidas no âmbito da formatura do curso de Pedagogia do Polo Universitário de Santo Amaro de Ipitanga-PUSAI/Departamento de Educação Campus I   Universidade do Estado da Bahia em 29/05/2015






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