Por Maria de Fátima Souza Costa
Acreditamos que a Educação é capaz de abrir boas perspectivas para as sociedades contemporâneas, pois através dela, podemos quebrar algemas e denunciar os “reis que desfilam nus nas passarelas da vida“,dando um show da ‘ética da embromação’(Cf.LUZ, Narcimária) que tende a corromper valores e direitos da população.
Sobre essa ética da embromação Narcimária comenta:
“Estamos vivendo situações no nosso cotidiano,em determinados contextos urbano-industriais, que nos obrigam a parar e refletir sobre a “ética da embromação” que estimula atitudes como: dissimulação,descaso,desrespeito,mediocridade,egoísmo,”puxa saquismo”,agressividade,"em terra de cego quem tem olho é rei”,”levar vantagem em tudo”,”intrigas”,prepotência,arrogância,jogo das aparências,”levar no bico”,”se dar bem doa a quem doer”,ganhar sempre... A “ética da embromação”, estabelece regras comportamentais de como “ser” no mundo contemporâneo,constituindo um triste e perverso legado para as gerações sucessoras que nascem acreditando que isso é viver,é ser, isso é “normal”.O mais triste nesse cenário: quem recusa a “ética da embromação” é considerado:bobo,”otário”,abestalhado,fora de moda,etc.
O desfile do “rei” (ou “reis”)que estão no poder político e se auto definem como representantes do povo,nos leva aqui a fazer uma alusão ao conto de Hans Christian Anderson “A roupa Nova do Rei” de 1837.No conto, Christian Anderson reflete o olhar de uma criança diante do desfile do rei nu pelas ruas da cidade, sendo aplaudido pela hipocrisia,ignorância ou “puxação de saco” do público que o assistia.Mas no meio dessa multidão “cega” e submissa a vaidade do rei, aparece uma criança que grita:
-O rei está nu!
E confirma:
_ Eu estou vendo!”
Assim tem sido a história de muitas sociedades,inclusive no Brasil.Essa “ética da embromação” dos “reis que andam nus” pelas ruas e mídias,tentando manter seus poderes e submeter a população na ignorância,nos leva a pensar nas reflexões importantes que encontramos lendo os contos de Afonso Henrique de Lima Barreto,nos alertando sobre a falta de escrúpulos que tendem a reger as relações entres as pessoas e instituições,a exemplo do personagem Castelo no conto “O Homem que sabia Javanês”.
Vale a pena conferir no blog da ACRA (http:blogdoacra.com.br/2011/05/embromacaoa-maxima-contemporanea-nas.html).
Nosso objetivo aqui,é ressaltar o valor da educação reconhecendo-a como fundamental para educar gerações que tenham a capacidade de identificar e punir aqueles que querem ser “professor de Javanês” e continuar enganando o povo que na sua ignorância, por falta de oportunidade de uma educação que o torne crítico e altivo, tende a continuar a aplaudir os “reis” que estejam completamente “nus”.
Infelizmente a forma como a Educação tem sido tratada nesse país,procura manter uma multidão que aplaude hipocritamente “reis” que com a sua onipotência mesmo nu, se acham intocáveis.
Lima Barreto intelectual afrodescendente, nasceu um ano após a abolição da escravatura, mas,a educação que recebeu da família que o acolheu e os percalços que viveu,proporcionou o acesso a conhecimentos significativos sobre o mundo que o cercava estimulando-o a denunciar através de uma literatura formidável,a “ética da embromação”. (baoobaa.com/home/lima-barreto-biografia)
A memória da sociedade Brasileira está marcada por momentos históricos importantes na constituição da nossa cidadania, e para termos essas referencias, a educação se torna importante, porque pode nos proporcionar o exercício de pensar, ouvir e intercambiar com o outro e suas culturas ,extensões do que somos como povo.É acreditar numa educação que se estrutura também a partir dos valores das civilizações indígenas e africanas, reconhecendo- as e respeitando-as.
A “ética da embromação” europocêntrica, é muito forte em nossos dias, sabemos disso, mas se convivermos com educadores/as que nos proporcionam meios, através de pesquisas e estudos sobre as tradições de “civilizações milenares”que formam o Brasil, seremos capaz de entender que todos os povos possuem modos distintos que organizam legados importantes para a área da Educação.Acreditarmos numa educação que se estrutura também a partir dos valores das civilizações indígenas e africanas, reconhecendo- as e respeitando-as.
Deixar de acreditar na educação como um canal valioso para nos prover de direitos de cidadania, é ignorar os esforços das gerações de educadores/as que nos convidam e encorajam a superar a “ética da embromação” e dos “reis" que desfilam nus nas passarelas da vida.
Aqui vale lembrar a convivência instigante que tive com muitos professores/as entre eles/as Narcimária,Valdélio e Heloísa,e muitos outros/as educadores/as que lutam por uma sociedade livre da “ética da embromação”.
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Maria de Fátima Souza Costa é graduanda do curso de Pedagogia do Departamento de Educação do Campus I/Lauro de Freitas da Universidade do Estado da Bahia-UNEB.Essa reflexão foi desenvolvida no âmbito da disciplina História da Educação I.
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