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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


segunda-feira, 23 de maio de 2016

UM NOVO SACERDOTE ARTISTA






Por Marco Aurélio Luz

                                                                                 
Na ambiência da continuidade da tradição civilizatória afro-brasileira, em uma das linhagens mais significativas, a da família Axipá, surge um novo escultor, Antônio Carlos dos Santos, Ojé Oloxê De.

Nas comunidades religiosas da tradição cultural nagô a linguagem ritual é revestida pela noção de ODARA que significa bom e bonito simultaneamente, útil e belo.

Nesse sentido são constituídos os paramentos e os emblemas das entidades que emergem de uma floresta de símbolos que juntamente com outras dimensões estéticas realizam uma visão de mundo milenar.

Oloxê De, é neto de Mestre Didi Axipá Alapini que foi confirmado Asogbá, aos quinze anos de idade por Mãe Aninha Iyalorixá Obá Biyi, fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá. Supremo sacerdote do ilê orixá ninu ilé, da casa dos orixá do interior da terra, o Asogba então é também responsável pela confecção dos emblemas dos orixá Nanã, o ibiri e Obaluaiyê o xaxará.

Então são dessas atribuições sacerdotais que se desdobram a arte escultórica de Mestre Didi, hoje um artista de renome internacional.

A bisavó de Oloxê De, Mãe Senhora, Iyalorixá Oxun Muiwa, Iya Nassô caracterizou também o brilho sua gestão, depois de Mãe Aninha e Mãe Bada, por proporcionar a  acolhida e convivência no Ilê Axé Opô Afonjá de inúmeros artistas, escritores, e cientistas e, muitos compuseram sua corte como Caribé, Rubem Valentim, Jorge Amado, Vasconcelos Maia, Dorival Caymi, Pierre Verger, Vivaldo Costa Lima, dentre muitos outros.

Quando menino, Oloxê De teve a ocasião na década de 80 de frequentar a Mini Comunidade Obá Biyi, experiência piloto de Educação Pluricultural que teve como principal mentor Mestre Didi. Após algumas experiências de tentativas com especialistas em educação exógenos a vida comunitária que não apresentaram resultados satisfatórios, foi através dos contos de Mestre Didi e suas dramatizações que se estruturou o curriculum pluricultural que constituiu o sucesso da Mini Comunidade Oba Biyi.

A partir dessa aproximação de ter a tradição cultural comunitária como fonte para uma nova pedagogia vários desdobramentos aconteceram.

Num deles foi a incorporação das arraias, contemplando e valorizando um dos principais brinquedos e jogos dos adolescentes da comunidade e do bairro adjacente. Os desenhos geométricos e suas cores culminaram numa participação no festival de Arte Integrada Mini Comunidade Oba Biyi. Oloxê De participava ativamente, e também das visitas a Museus que estimulavam a criatividade.

Numa dessas visitas ao MAM na capela do Solar do Unhão se depararam com uma exposição de grandes “arraias” de pano de uma artista conhecida.  Alguém comentou valorizando as atividades deles e que no dia de amanhã poderiam também ser artistas, o que um deles retrucou:

-- “Mas essas arraias não voam!” 

Nesse sentido o voo de Oloxê De foi ser iniciado por Mestre Didi e fazer parte do corpo dos Ojé do Ilê Axipá que cultuam os Baba Egun ancestres e ancestrais masculinos, tradição originária de Oyó capital do antigo império yoruba.

Mestre Didi inspira a Oloxê De para que através de seu dom e talento se dedique ao mister e mistério das recriações estéticas.

As taliscas de palmeira, que tanto selecionou para o avô, contas e búzios, tiras de couro, arame e outros elementos constituem a base material das esculturas.

Esses elementos possuem uma dimensão simbólica que comporão o significado da escultura.

Os búzios representam ancestrais, compostos em forma de escamas de peixe ou em sequencia representam sucessões de ancestralidade, então fecundidade e fertilidade que constituem através das gerações o poder de antigas linhagens.

As contas remetem aos orixá, representando singularidade de partes desprendidas das “forças da natureza” compondo os seres que uma vez criados e individualizados passam por esse mundo, o aiyê.

As tiras de couro nas cores que representam a qualidade do poder dos orixá, servem para unir as tiras de taliscas de palmeira. Awon alaxé ku igi é um preceito em língua yoruba que fala no poder e na força dos galhos finos quando reunidos, referem-se aqui ao corpo sacerdotal dos ojé. No caso das taliscas de palmeira representam a força coletiva dos ancestrais reunidos.

No caso da composição do xaxará, as taliscas de mariwo reunidas, frondes do dendezeiro, representam a coletividade dos ancestrais sob o comando de Obaluaiye, Oda-olu-aiye, rei dos espíritos do mundo.

É nessa bacia semântica da visão de mundo e da estética do sagrado, que emergem e se desdobram as recriações de Oloxê De.

Discípulo de Mestre Didi, já é mais do que meio caminho andado para obter êxitos que possam ajudar a enaltecer nossa comunidade da porteira para dentro da porteira para fora como demarcou a territorialização do axé a sua sempre lembrada bisavó, Mãe Senhora.

 







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