Maracatu de Nação Leão Coroado
Foto disponível em:
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Por Marco Aurélio Luz
As
instituições culturais expostas no Museu Afro Brasil além de grandiosas são numerosas. Selecionamos algumas que enriquecem a cultura e a sociedade
brasileira.
Primeiramente
convém destacar que as instituições culturais são centros irradiadores de
valores, linguagens e formas de sociabilidade que contém regras, hierarquias,
organização, história e tradição estética.
MARACATU
O Maracatu é
uma instituição característica de Pernambuco embora também exista em outros
regiões do Brasil.
O Maracatu
de Nação é composto de um cortejo que homenageia a realeza da tradição africano
brasileira durante o período do carnaval.
Sua origem
se refere ao "Maracatu Elefante" criado no início da primeira metade do século
XIX no contexto da coroação do rei e
rainha do Congo que caracteriza as congadas. Está relacionado com os espaços e
tempos das festas de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito todavia
está vinculado a tradição religiosa nagô.
Outro
maracatu antigo é o "Estrela Brilhante" de Igarassú também com a referencia da
tradição nagô.
Tanto um
como outro deixaram de sair, já no período do carnaval por um longo tempo
mas retornaram com muito reconhecimento.
Dentre
muitos outros maracatus, destacamos o "Leão Coroado" fundado na segunda metade do
século XIX.
Todos eles
têm como líderes altos sacerdotes e altas sacerdotisas da tradição religiosa
nagô, embora haja também a presença de referências e presença aos cultos de
caboclo.
As bonecas
importantes símbolos da presença religiosa ora representam o poder de um orixá,
ora de um egun que quando vivente era de um orixá.
Além do rei
e rainha que evoluem no cortejo sob um pálio como os reis nagô, há várias alas
que compõem o desfile. As baianas inclusive as que levam as bonecas, os
caboclinhos, a nobreza, a orquestra percussiva,etc.
O maracatu
evolui ao ritmo do chamado "Baque Virado" com pompa e circunstância devida à
realeza.
Maracatu de Nação ou Baque Virado, Linda Flor
Foto disponível em:
Rei Marcos, Rainha Mylenna e Pirulito, com o pálio
Maracatu Várzea do Capibaribe,
Rei e Rainha de Maracatu de Nação Nagô.
Foto disponível em:
http://varzeacap.byethost7.com/corte.html?i=1
Estandarte do tradicional Maracatu Elefante, fundado no início do séc. XIX.
Foto: Narcimária Luz
Boneca do Maracatu, importante elemento de expressão religiosa e proteção.
Foto: Narcimária Luz
Trajes e ornamentos de rainha e rei do Maracatu de Nação.
Foto: Maurício Luz
Há também o
maracatu de "Baque Solto" ou "Maracatu Rural" com ritmo diferente, mais acelerado
com instrumentos de sopro e percussão.
Também diferem
nas vestimentas e personagens. Aqui é o caboclo de lança e suas evoluções que
constitui o protagonismo. Outras participações são os reis e rainhas, as
baianas, Mateus e Catirina, Catita etc.
O mais
antigo é o "Cambinda Brasileira".Na 2ª feira de carnaval ocorre o encontro de
maracatu em Nazaré da Mata com dezenas de instituições de brincantes
homenageando as entidades religiosas.
Maracatu Rural ou do Baque Solto.
Foto disponível em
http://mw2.google.com/mw-panoramio/photos/medium/8323891.jpg
Trajes e ornamentos do Maracatu Rural ou do Baque Solto
Foto: Maurício Luz
ARTE CERÂMICA
As origens da arte cerâmica se perde na noite dos tempos e fazem parte de inúmeras civilizações dos quatro continentes. No Brasil é muito enaltecida a cerâmica marajoara do Pará e as do nordeste como os centros artísticos de Pernambuco, Tracunhaém, Alto do Moura e tantos outros. Na Bahia em Cachoeira, e destaque para Maragojipinho, e por esse Brasil afora.
A arte cerâmica é de caráter contemplativo e utilitário, representando aspectos do cotidiano, incluindo a religião e instituições sociais em geral .
A Barca dos Exus de Temba, Cândido Santos Xavier de Cachoeira, Bahia.
Foto disponível em:
Cândido Santos Xavier de Cachoeira, Bahia
Foto disponível em:
Cena da religião dos orixá.
Foto: Narcimária Luz
Maracatu de Manuel Eudócio do Alto do Moura
http://d.i.uol.com.br/diversao/2012/02/16/detalhe-de-trabalhos-artesanais-de-manuel-eudocio-artesao-de-alto-do-moura-declarado-patrimonio-vivo-do-pernambuco-mais-d
Seis pássaros três mães e três crianças
Foto disponível em:
https://c1.staticflickr.com/4/3207/2715947792_6ce7991701_b.jpg
Leão de Mestre Nuca de Trucunhaém
Foto disponível em:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsIkWe4NHqvaw5LYNKdtx39sXFy8HXun-ssUHlZAkZS2lcZKcFw9xcQlGJDCpE73e4bw7sNmR-OdJ9Gbjw3ya5p4RbVJv2b0kPts-ts_02QwGrF4_BKgxOGIiZMZPFjsSaX1L450Vcj94D/s1600/LEAO-MESTRE-NUCA+M+Boitata.jpg
Cenas do viver
Foto: Narcimária Luz
Comício
Foto: Narcimária Luz
Presépio
Foto: Narcimária Luz
Viajantes de caminhão
Foto: Narcimária Luz
Músicos do forró
Foto: Narcimária Luz
Boi cerâmica de Maragojipinho Ba.
Foto disponível em:
https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/236x/bd/00/34/bd0034adb9697957d1c054474cbc9887.jpg
OUTRAS ARTES
Bonecas de pano usando representações de trajes e paramentos dos orixá e ainda um Baba Egun.
Foto: Narcimária Luz
Foto: Narcimária Luz
COMPANHIA DE REIS
Foto disponível em:
http://www.museuafrobrasil.org.br/
A Companhia
de Reis ou Folia de Reis ou ainda Reisado é uma forma de vinculação comunitária
ou de reforço de laços comunitários espalhada por diversas regiões rurais do
Brasil. Ela possui essa invariante mas muitas variáveis na composição das
narrativas, nas músicas, nos versos, nas danças, nos personagens nas evoluções
etc.
Vamos tomar
como referência uma que acompanhei no interior de S. Paulo, região de Santa
Rosa.
O líder da
Companhia guarda em sua moradia o presépio, e é aí que se reúnem os
participantes músicos personagens e devotos para iniciarem as caminhadas para
visitarem as famílias que possui o sinal da imagem do Sagrado Coração. Durante
o ciclo natalino até o dia dos reis procedem as visitas e caminhadas.
Essas
famílias já têm uma vinculação proporcionada pela lida de plantio e colheita na
forma de mutirões.
Nas visitas
a Companhia se apresenta e pede licença a família reunida. A família faz
agradecimentos e pedidos envolvidos pelas cantigas sagradas. Depois se faz
oferendas de alimentos para serem também usados na grande confraternização a 6
de janeiro dia de Reis em frente ao presépio, quando se reforçam os laços de
sociabilidade.
Os reis
homenageados principalmente Balthazar que representa o continente africano nas
comemorações natalinas é uma forma sublimada dos participantes atualizarem o
vínculo histórico com os reinos originários de seus ancestrais.
Foto: Narcimária Luz
Foto disponível em:
Foto disponível em:
http://www.acessa.com/cidade/arquivo/jfhoje/2008/01/05-folia/
Foto disponível em:
http://digitalizacao.fundaj.gov.br/fundaj2/files/i/2045/2-KR_0355.jpg
CAVALHADAS
Foto disponível em:
As cavalhadas são auto coreográficos que dramatizam a guerra das cruzadas entre cristãos e mouros que ocorre durante as festas do Divino, com personagens da nobreza tanto dos cristãos quanto dos muçulmanos. Os muçulmanos conquistaram e ocuparam a Península Ibérica por quase 800 anos do século VIII ao XV. O auto coreográfico equestre rememora a retomada pelos cristãos.
Os cristãos com rei, rainha e outros personagens da côrte vestem trajes a adornam-se de cor azul inclusive as montarias. O mesmo acontece com os mouros porém com a cor vermelha.
Esse festival acontece no centro-oeste e na região sul do Brasil e evoluem em locais fechados como nos espaços das exposições agropecuárias. O festival mais conhecido é o da cidade de Pirinópolis em Goiás.
Outros personagens que integram a comemoração representam o povo que margeia a cavalhada apresentando-se na cidade fazendo uma paródia e uma meta linguagem anárquica do evento.
Esses personagens se apresentam com máscaras adornadas de figuras de boi, onça e outros animais. As vestimentas são de cores variadas e também cobrem as montarias. Se divertem em reuniões de confraternização e comemoração pelas ruas da cidade.
Mascarado cavaleiro e cavalo adornado
Foto disponível em:
http://digitalizacao.fundaj.gov.br/fundaj2/files/i/2045/2-K
Máscaras sorridentes
Foto disponível em http://mundografico.emol.cl/
BUMBA MEU BOI
Povo Dinka da região do Sudão
Foto disponível em:
As relações
entre a humanidade e o boi atravessam os tempos antigos, desde que o caçador
foi sobreposto pelo domesticador de animais estabelecendo um novo patamar nas
origens das civilizações.
Povo Massai região de Kenia
Foto disponivel em
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5KEEhKG-lwPTner61IboEOA6LCJEDXwGooRI9gb1mfUcf7dZGYMixGUknNPpC1me2HjQC6SkuVNb53n-oWegW07qIxwsYos-FIc-FLCORIJHPnTDdZcyOvOm-UGKUccllEJ6qp3v_r859/s400/masai_herdsman-web.jpg
A diferença
entre os sexos, masculino e feminino
sempre foi índice das formas de organização social caracterizando divisão de
poderes e funções.
O mistério
feminino encontra na gestação o ápice de seu poder. Seu corpo é capaz de gestar
filhos e alimento ao nascituro garantindo a continuidade do grupo social. E se
até a cobra respeita a mulher grávida, é consenso geral que seus desejos devem
ser atendidos em benefício da boa gestação e desenvolvimento do feto.
É nesse
contexto que se processa a narrativa do Bumba Meu Boi.
Todos
sabemos que dimensões oníricas que integram nossa constituição espiritual,
inconsciente emergem como desejo durante a gravidez.
O casal Catirina e Mateus
Foto disponível na Internet
Catirina
mulher do vaqueiro Mateus está grávida. E então tem o desejo louco e compulsivo
de comer língua de boi. Mas deseja a língua de um boi. O boi mais admirado e
predileto do rebanho.
Boi no Museu Afro Brasil
Foto: Maurício Luz
Bois no Museu Afro Brasil
Foto Maurício Luz
Mateus que
cuidava do gado, diante do mistério e poder da mulher grávida resolve atender ao
pedido. Mata o boi e entrega a língua.
A situação gera
grande desconforto, principalmente ao dono do boi.
Mateus e
Catirina então resolvem se refugiar se retirando do lugar.
São
procurados sem sucesso pelos vaqueiros.
Vaqueiros de Fita
Foto disponível em
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Todavia eles
se vêm diante dos espíritos ancestrais da floresta que exigem a reparação de
uma ordem natural transgredida e que constituía o equilíbrio social e do
rebanho bovino.
Kazumba, espíritos ancestrais
Foto disponível em:
files.wordpress.com/2012/06/cazumbas.jpg
Kazumba espírito da floresta
Foto disponível em:
http://scontent.cdninstagram.com/
Os Kazumba
são personagens que caracterizam esse espaço sagrado na representação do Boi
Bumba.
Mateus e
Catirina resolvem então voltar e tentar com a comunidade reunida apelarem para
tudo e a todos pela ressurreição do boi.
Caciques
Foto disponível em:
http://static.wixstatic.com
Jovens Índias e Índios
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É com o apoio dos índios "os donos da terra" com seu corpo social,seus elementos signos de vitalidade,fertilidade e com a força espiritual do pajé e outros
curandeiros é que Mateus e Catirina conseguem dar vida ao boi que enfim ressurge com tamanho
ímpeto vital.
Pajé
Foto disponível em:
Boi Magnifico
Foto disponível em:
http://www.sarandeiros.com.br
Nesse
momento que acontece o ápice da dramatização com as evoluções coreográficas do
magnífico boi e o vaqueiro.
O Bumba Meu boi além dos efeitos estéticos de
toda trama musicada, dançada com harmonia graça e sofisticação exige para tanto
muita energia dos participantes cada qual com suas funções no preparo e na execução da trama obedecendo
às hierarquias.
Os homens fabricam, cuidam, e tocam os instrumentos de percussão.
http://wikidanca.net/wiki/images/a/a2/Instrumentos_boi.jpg
Sra. Tânia Soares renomada bordadeira
Os mais antigos com o apito orientam a movimentação da trama
O Bumba meu
Boi acontece principalmente na cidade de
S. Luiz do Maranhão e seus arredores durante o ciclo junino. Nessa época a
cidade se transforma .
Os grupos
são classificados em sotaques pelas referências a sua forma de percussão e
ritmo trajes e evoluções.
O mais
tradicional é o sotaque de Zabumba da cidade de Guimarães. A zabumba é o
instrumento principal.
O sotaque de
Matraca ou da ilha de S. Luiz usa pandeirões e matracas.
O sotaque da
Baixada ou Pindaré que usa pandeiros e matracas.
O
sotaque de orquestra de Rosário ou Axixá
que se afasta da tradição e usa zabumba, tarol, banjo, saxofone, trompete,
trombone e clarineta.
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