Por Narcimária Luz
Para
desenvolver esse primeiro episódio, que apresenta outra perspectiva do Agadá,
dinâmica da civilização africano-brasileira, recorremos à metáfora “aquarelas
semânticas” com o intuito de aproximar as leitoras e leitores do repertório de
conceitos, noções e categorias que compõem o livro.
Essas
aquarelas semânticas, além de comunicar a singularidade da obra, nos permitem
adentrar em outro continente teórico e fazer
rupturas conceituais do positivismo e empirismo que satura os espaços
acadêmicos.
Imagem
disponível em https://vocenaneve.com.br/onde-ver-aurora-boreal-ideias-de-lugares/
Horror
na Faixa de Gaza
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disponível em https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2025/01/7035763-destino-da-faixa-de-gaza-e-incerto-apesar-de-tregua.html#google_vignette
Mulheres tocando cabaça num ambiente ritualístico.
https://terreirodegriots.blogspot.com/2014/10/cabaca.html
Passaremos
a destacar alguns aspectos singulares do livro que são radicais do ponto de
vista da historiografia positivista que sustenta a ideologia do recalque. A
partir daqui, selecionamos trechos de entrevista com Marco Aurélio no Jornal A Tarde em
17/06/1995.
“...Há
uma crise de valores da cultura europeia, por conta daquele paradigma de
progresso, do positivismo, do progresso a qualquer custo, que encantou, vamos
dizer assim, que esse progresso garantisse a felicidade da humanidade, isso
caminhou e... caiu num colapso... “
Imagem
disponível em https://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/entenda-conceitos-ecoterrorismo-violencia-ambiental/
Imagem disponível em https://guiaviajarmelhor.com.br/5-cachoeiras-com-aguas-incrivelmente-azuis-para-voce-conhecer-no-brasil/
Integrantes do Ile Axipá levam oferendas as entidades que regem a natureza
Foto
de Kleyson Otun Elebogi
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disponível em https://www.itapuacity.com.br/itapua-e-a-pedra-de-ponta/
Foi através do Agadá, dinâmica da civilização africano-brasileira que Marco Aurélio Luz com muita propriedade teórica fez rupturas urgentes e necessárias. Em destaque três delas: a primeira que se refere a independência do Haiti, que até o início dos anos 1980, era tratada de forma equivocada e superficial pela historiografia hegemônica na ambiência acadêmica. Sobre isso Marco Aurélio comentou:
Povo celebrando os 230 anos da Independência do Haiti
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disponível em https://www.esquerdadiario.com.br/O-imperialismo-e-o-Haiti-230-anos-apos-a-Revolucao
“Cerimônia
vodum de Bois Caiman, 1791. A cerimônia é lembrada como evento catalisador da
Revolução Haitiana, e serviu como um encontro espiritual e político que
organizou revoltas e resistências contra o império europeu”
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disponível em https://outraspalavras.net/outrasmidias/uma-historia-pouco-conhecida-do-haiti/
Disponível
em https://editorialpaco.com.br/conhece-a-historia-da-revolucao-do-haiti/
“Os espaços do sul estavam ocupados pelos povos originários Xokleng e Kaigang cujo modo de vida respeitava a floresta como ambiente sagrado.”
Imagem disponível em https://www.enfoquems.com.br/arte-e-danca-indigena-na-programacao-infantil-do-sesc-cultura-deste-sabado/
"Os imigrantes constituíram milícias para dizimar os povos originários que ocupavam as terras."
Imagem disponível em https://www.youtube.com/watch?v=iDlt_2WP4hE
O
Agadá desnuda o manto ideológico do racismo, suas metanarrativas e analíticas
da finitude sobre a alteridade civilizatória africana característica
fundamental na constituição da identidade profunda de muitos povos.
Imagem disponível em https://www.veranunesleiloes.com.br/peca.asp?Id=15248700&srsltid=AfmBOoo21KyWJZJcdcM19orACs_qQSrXZRImGIn4ptit4984NR3kzH4h
Conceitos
como sincretismo, mestiçagem, “laboratório racial”, identidade de escravo, o
recorte positivista evolucionista da África pré-colonial e pós-colonial,
cidadania, democracia, República, “ordem e progresso”, nas perspectivas de
análises finitas reeditados, antes do Agadá, saturavam vários espaços
acadêmicos.
Arthur
Ramos entre simpatizantes de seus
estudos na Bahia.
Observem
que há um rapaz negro em pé sendo submetido as análises racistas em voga.
Imagem
disponível em https://www.portalentretextos.com.br/post/tese-de-arhur-ramos-foi-elogiada-por-freud
Arthur
Ramos aliado de Anísio Teixeira ambos divulgaram a ideologia higienista
aplicada na educação.
https://www.traca.com.br/livro/502896/
-Chega
de se referir ao africano como escravo! Nunca os africanos assumiram a
identidade de escravo!
E
discorreu sobre o recalque que alimenta o discurso de “escravo”.
Vista panorâmica do Quilombo dos Palmares
Imagem
disponível em https://www.historiadealagoas.com.br/origem-do-parque-memorial-quilombo-dos-palmares-na-serra-da-barriga.html
Há
uma alteridade civilizatória legítima irrigando nossas territorialidades
essencialmente negras, erguendo vínculos comunais singulares, a exemplo: da
“Roma negra” como bem definiu a Iyá Oba Biyi Mãe Aninha,Iyalorixá fundadora do
Ilê Axé Opô Afonjá personalidade exponencial
nas Américas(1910-1938).
Mãe
Aninha Iyalorixá Oba Biyi fundadora do tradicional Ile Axé Opo Afonja em 1910.
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disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Eug%C3%AAnia_Ana_dos_Santos
Expoentes
da música João da Baiana, Clementina de Jesus, e Pixinguinha
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disponível em https://documentosrevelados.com.br/foto-memoria-joao-da-baiana-clementina-pixinguinha-e-dondo-na-passeata-dos-cem-mil/
Tia
Ciata Iya Kekere do ile Axé de João Alaba tornou sua casa o centro de reunião e
difusão da cultura da tradição africana e seus desdobramentos.
Ngola Kiluanji Rainha Ginga referência da expansão civilizatória africano-brasileira
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disponível em https://www.gov.br/palmares/pt-br/assuntos/noticias/nzinga-mbandi-2013-a-rainha-guerreira
Canudos
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disponível https://fpabramo.org.br/2021/11/08/canudos-uma-guerra-que-ainda-nao-acabou/
"Descendentes
de africanos no pós-abolição da escravatura, no início da República, fundaram
um arraial às margens do morro da Favela, que era assim chamado, por conta da
abundância da planta que caracterizava o lugar.”
Planta favela
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disponível em https://michelechristine.wordpress.com/curiosidades/favela-significado/
Morador de Canudos
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disponível em https://multi.rio/index.php/artigos/11514-a-guerra-de-canudos
“Os
moradores, em sua grande maioria africanos-brasileiros, guardavam o cabedal das
experiências estratégicas de luta acumulada nas referências dos quilombos ao
longo da história, desde o tempo da rainha Ginga do Ndongo. Assim, essas
táticas de guerra derrotaram as investidas de diversos batalhões da força
federal que eram deslocados de Santa Catarina para Canudos. Demorou muito, mas
com a chegada dos canhões da força federal, o arraial de Canudos foi dizimado.”
Canhão Whitworth 32 usado na última expedição militar contra Canudos
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disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Canudos
Morro
da Favela, pintura de Tarsila do Amaral 1924.
Imagem
disponível em https://sme.goiania.go.gov.br/conexaoescola/eaja/morro-da-favela/
Integrantes da I COMTOC em Ile Ifé
https://blogdoacra.blogspot.com/2019/01/intecab-origens.htm
Integrantes da delegação africana na II Comtoc em Salvador visitam ile axé Iya Omi Axé Iya Mase.
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disponível em https://blogdoacra.blogspot.com/2019/01/intecab-origens.html
O
OOni Ife Oba Okunade Sijuwade Olubuse recepcionou a I COMTOC em 1981
https://blogdoacra.blogspot.com/2019/01/intecab-origens.html
Mestre Didi Axipa Alapini saúda os presentes na Comtoc
https://blogdoacra.blogspot.com/2019/01/intecab-origens.html
"A participação de lideranças da tradição como o Oni Ifé e do Alapini Deoscoredes Maximiliano dos Santos, Mestre Didi Asipá, marcariam o vigor e a pujança da continuidade dinâmica da tradição civilizatória."
Por
fim, recorro a percepção de Nei Lopes no prefácio da 5ª edição do livro ao se
referir a Marco Aurélio e sua performance
intelectual na escrita do Agadá:
“(...)é
um dos grandes nomes da intelectualidade brasileira, e faz da pena a sua
espada.”
REFERÊNCIAS
MAFFESOLI, Michel.O Tempo Retorna, formas elementares da pós-modernidade. Rio de Janeiro, Forense Universitária.2012
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Segue
convite para a live dedicada a comemoração dos 30 anos do Agadá,dinâmica
da civilização africano-brasileira.
HELENA
THEODORO
Possui
graduação de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (1967), graduação em Pedagogia- Faculdade de Educação pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1970), mestrado em Educação pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (1978) e doutorado em Filosofia pela
Universidade Gama Filho (1985). Pós-doutorado no IFCS/UFRJ /PPGHC (Programa de
Pós Graduação em História Comparada) - 2018. Atualmente é Professora visitante
do Programa de Pós-Graduação em Filosofia do IFCS/UFRJ, de 6/10/23 até 5/10/24,
além de responsável pela cátedra Maria Firmina dos Reis por Helena Theodoro
pelo Colégio Brasileiro de Altos Estudos - CBAE/ UFRJ, presidente do Conselho
do FUNDO ELAS e Coordenadora da Liga Universitária de Pesquisadores e artistas
do Carnaval.
JANICE DE SENA NICOLIN
Doutora
em Educação e Contemporaneidade (2016), Universidade do Estado da Bahia, possui
Graduação em Letras Vernáculas com Francês pela Universidade Federal da Bahia
(1989), Graduação em Pedagogia pela Fundação Visconde de Cairu (2013) e
Mestrado em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia
(2007). Professora da educação básica do Estado da Bahia como regente do
componente curricular Língua Portuguesa, Docente da Faculdade Montessoriano de
Salvador, Coordenadora geral dos projetos de educação e cultura da Associação
Artístico-Cultural Odeart. Tem experiência na área da Educação com ênfase nos
seguintes temas: educação pluricultural, práticas pedagógicas, estética
teatral; identidade, territorialidade e ancestralidade africana e
afro-brasileira; formação do educador e memória da educação, experiência com
Projetos de leitura e produção de textos, literatura afro-brasileira; é
diretora de teatro e contadora de história com a recriação cênica
"Contador de história" da tradição africana.
PEDRO
MORAES TRINDADE
Possui Graduação em Letras Vernáculas com Inglês pela Universidade Católica do Salvador (1991), Mestrado em História Social pela Universidade Federal da Bahia (2008) e Doutor do Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia, desenvolvendo pesquisa sobre capoeira, cultura no século XXI. Ministra as disciplinas História de Cultura Indígena e Afro-Brasileira, Relações de Gênero Etnia e Classes Sociais e Metodologia Científica. É Professor Pesquisadora UNEAD ministrando a disciplina Estágio Supervisionado em História II. é mestre de capoeira e Presidente fundador do GCAP - Grupo de Capoeira Angola Pelourinho. Autor de várias produções culturais tendo sido indicado ao 46th Grammy Awards Year 2003 na categoria Best Tradicional World Musica Álbum.
KLEYSON
ROSÁRIO ASSIS
Doutor
em Ensino, Filosofia e História das Ciências (UFBa-UEFS), Mestre em Filosofia
(Ufba) e graduado em Filosofia pela mesma instituição. Possui pós-doutorado em
educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de
Feira de Santana (PPGE-UEFS). Atualmente é professor Associado I de Filosofia
da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Atua como pesquisador nos
grupos de pesquisa Investigações Filosóficas (UFBA) e Rizoma (UEFS), nos quais problematiza
a relação entre epistemologia, cultura, artes visuais, relações étnico-raciais,
ciência e ensino de ciências desde uma perspectiva filosófica. Coordenador do
Curso de Licenciatura em Filosofia, do Programa de Extensão CIA (Coletivo de
Inteligência Afrofuturista) e do Projeto LABII (Laboratório de Inteligência e
Imagem), todos do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia.
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