Acompanhem a primeira parte do relato II Seminário Nacional Africanidades e Afrodescendência.
Após a apresentação da Mesa Profa. Maria Aparecida Santos Corrêa Barreto convida o Professor Marco Aurélio Luz para iniciar sua exposição, em que ele destaca que para as comunidades de cultura e tradição afro–brasileiras o valor da ancestralidade é exatamente honrar, homenagear e cultuar, os ancestrais que dedicaram suas vidas a preservação, desse contínuo civilizatório.
Esse contínuo legado pela sucessão dos ancestrais possibilita trilharmos os caminhos do bem viver nesse mundo da melhor maneira possível procurando reforçar a tradição.
O valor dos seres humanos, dos ancestrais que foram viventes nesse mundo já está constituído nos destinos. A eles já é atribuído determinadas obrigações que sustentam a continuidade da tradição. Assim podemos dizer que determinadas lideranças comunitárias já podem ser consideradas ancestrais até mesmo antes de sua viagem definitiva para o orun, o além.
De 1976 a 1986, realizou-se a experiência educacional Mini-Comunidade Oba Biyi. Foi uma rica experiência que abre caminhos para a Educação Pluricultural Africano Brasileira. Oba Biyi era o nome do Xangô da Sra. Eugennia Ana dos Santos, a fundadora da comunidade do Ilê Axé Opô Afonjá. Então, o nome da experiência já constituía uma homenagem a uma ancestral, uma Iya mi Agba que foi a primeira Iyalorixá da casa fundada em 1910.
Certa ocasião Mãe Aninha como era também conhecida manifestou o desejo de: - “Quero ver as crianças de hoje, no dia de amanhã de anel no dedo e aos pés de Xangô.”
Oba Biyi no idioma yoruba significa, O Rei Nasce Aqui, e dessa forma se homenageia também o orixá patrono da comunidade protegendo a todos.
A experiência constituiu-se num processo que resultou numa nova pedagogia baseada nas formas da comunicação e transmissão do saber emergente da linguagem e dos valores comunitários.
A base do novo currículo foi a dramatização dos contos adaptados de Mestre Didi Axipa, Alapini e Assogba, Sr. Deoscoredes M. dos Santos líder inconteste da comunalidade da tradição religiosa afro brasileira.
A recriação de uma nova pedagogia estabeleceu um novo continente epistemológico, composto de uma nova bacia semântica que alimenta uma nova didática para além do manto de ferro da imposição da escrita universalizante e totalitária.
Acontece uma revolução à la Copérnico, não é mais o livro o centro único do sistema totalizante erigido em seu entorno , mas a linguagem dramática dos contos espiralando conhecimentos para uma metodologia sinérgica de ensino.
A experiência se desdobra em vários níveis inspirando novos projetos comunitários, estudos, pesquisas e publicações acadêmicas, formação de grupos de extensão universitária atuantes nas comunidades como o PRODESE da UNEB que será mais bem apresentado por sua coordenadora.
Para encerrar ele escolheu apresentar o conto “A Vendedora de Akasa que ficou rica” de mestre Didi que foi escolhido para encenação pelo Grupo de Jovens da Oba Biyi compostos por aqueles que por conta de terem mais de 14 anos de idade não tinham mais como participar das atividades rotineiras da Mini Comunidade.
Após a coordenadora passou a palavra para a profa. Doutora Narcimária Luz que iniciou falando do precioso legado da Mini Comunidade Oba Biyi que está relatado em várias publicações, dentre as quais o livro, OBA BIYI, O Rei Nasce Aqui.
As formas de acesso ao universo simbólico de conhecimentos das milenares civilizações africanas exigem do sistema de ensino uma adaptação para que possam dar o acolhimento as nossas crianças. Um dos fatos geradores da criação da experiência de educação pluricultural foi que em certa ocasião em que indagadas por não freqüentarem a escola do bairro as crianças afirmaram:- “Não gostam da gente lá”.
Para se entender melhor as razões do contexto dessa rejeição é que foi criado o PRODESE Programa de Descolonização e Educação, na faculdade de Educação da UNEB. Ele de certa forma dá continuidade as primeiras atuações realizadas na graduação e pós graduação da Faculdade de Educação da UFBA pelo prof. Marco Aurélio Luz entre 1985e1994, a partir de sua experiência na Mini-Comunidade Oba Biyi.
CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA.
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