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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


domingo, 18 de abril de 2010

“SEI LÁ, NÃO SEI NÃO...”



Por Narcimária C. P. Luz




Uma cena que me calou profundamente...

Na catástrofe do Morro do Bumba a repórter de uma TV aproxima-se de uma criança de dez anos que está sentada chorando muito tomando chuva e aturdida com toda a agonia que está em torno dela.

Gritos, choros, lamentos, pedidos de socorro, muita tristeza.A câmara se aproxima da criança e perguntam seu nome e idade. É uma menina negra com dez anos de idade.

-O que aconteceu?Pergunta a repórter.

A menina responde em meio a soluços:

- Perdi minha avó e meus irmãos. Estou muito triste. Isso tudo é muito triste para mim.

A repórter ainda insiste em saber mais do que ela pensa e sente sobre a tragédia. E ela responde chorando:

-Não sei. Aprendi que a vida continua. Eu quero viver.Quero ser muito feliz.E repete:a vida continua...

Essa cena, imagem e mensagem dessa criança, podem servir como referência para pensarmos as perspectivas de vida que se apresentam para as populações que estão vivendo situações adversas em várias partes do Brasil. Um Brasil que insiste num projeto urbano que retira o direito de ser e viver das populações de descendência africana e indígena.

Não vamos aqui fazer uma crítica fixada no lugar comum que indaga: como é possível deixar famílias, comunidades se instalarem em lixões, em ribanceiras nas chamadas “áreas de risco”?

A pergunta é: como é possível condenar à morte famílias, comunidades inteiras retirando-lhes o direito à vida, à expansão dos valores que caracterizam a constituição de territorialidades importantes na história da formação social brasileira?

Infelizmente, o projeto urbano das cidades brasileiras não contempla os valores característicos de viver da grande maioria da nossa população. O valor desse projeto urbano brasileiro se assenta na expansão de mercado, de acumulação de bens e capital, da financeirização do mundo.
A terra e toda vida que dela emana vai sendo tragada pela ganância cujo valor máximo é :Quanto vai se ganhar?Como posso ter?Que vantagens individuais ou de grupo pode-se ter?

Reduziram a vida a essa ordem de valores que é o ter. Estamos a cada dia assistindo atônitos a derrubada de árvores ainda referências da Mata Atlântica, nascentes de rios sendo entulhadas,rios desviados ou represados, tudo em função de uma urbanização inflacionada por prédios,shoppings, resorts, condomínios de luxo.

Enfim,tudo que nos afasta do que os povos indígenas chamavam de Pindorama a Terra das Palmeiras, ou como os povos africanos se referiam a nossa terra,Ilê Axé. Para esses povos,a natureza é o valor máximo da vida!

As explicações técnico-científicas, tentam justificar as catástrofes que arrebatam a vida de milhares de pessoas, famílias e comunidades, mas não conseguem dar conta de uma coisa: a natureza não pode ser controlada, não há como estabelecer cálculos matemáticos infalíveis para lidar com a natureza ou como acreditam uns, domá-la e retirar-lhe tudo que possa garantir lucros.

Ela sempre surpreenderá!

Quando a natureza resolve manifestar seu poder de recusa a essa malha crescente de devastação a sua existência, assusta e nos obriga a refletir sobre o que estamos fazendo com o valioso patrimônio milenar desse planeta.


2 comentários:

  1. Inquietar-se! Indignar-se com a política genogica que busca negar a alteridade do nosso povo, e não nos deixar destruir pela deseperança. Esta é uma das grandes lições que iniciei com Freire e que agora dou continuidade na partilha com estes novos e avassaladores saberes que me apresentam , os quais passam a significar de forma mais politizada a minha existência de mulher e educadora negra.
    Aprender a desvelar a vida que pulsa e insiste em ser exuberante apesar da negação, está sendo um grande presente pra mim.
    Grande abraço,
    Arlene Malta

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  2. A vida continua... A garotinha resumiu bem que apesar de tudo a vida não vai parar para cuidar de seus comtemplados, ela vai passando como um rolo compresor deixando apenas lições. Porque a morte, ao contrário do que muitos pensam, faz parte da vida. E não importa se é fatídica, repentina, casual ou natural, ela virá. E temos que nos preparar.
    Não acho que as pessoas do morro do Bumba foram colocadas lá para morrer, mas, sim, foram deixadas lá por conviniência política. Por populismo muitas autoridades permitem que terras publicas e privadas sejam invadidas. E o populismo, faz com que as autoridades em comum acordo com as pessoas da comunidade tornem aquelas áreas comunidades legais, construindo escolas, ruas, colocando postes... mas, desconsiderando riscos aquela população. A Bahia é um exemplo clássico dessa "negligência", várias àreas de risco são invadidas e na época de chuva muitas dessas áreas deslizam colocando a vida dos moradores em risco. O governo não as retira da área, em parte muitos moradores se recusam a sair, não dando condições de segurança, retirando dessa população o direito à vida, que é um direito básico. A França deu o exemplo. Retirou todos os moradores que estavam habitando áreas de risco e os idenizou cada um dos morados e os retirou mesmo contra á vontade das áreas de risco. Em entrevista Sakozy falou: "Temos que garantir a segurança e a vida daquela população, se elas não reconhecem o risco e insiste em permanecer nas áreas de risco... é dever do Estado retirá-las e colocá-las em segurança mesmo contra a vontade daquela população"

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