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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


terça-feira, 9 de setembro de 2014

NAGÔ NILÊ E IAWÔ

Por Marco Aurélio Luz

Os percursos da civilização africano-brasileira se constituíram de acordo a dinâmica que Mãe Senhora enunciou: ¨da porteira para dentro, da porteira para fora¨. Nesse vai e vem temos a variação de distância, mais ou menos afastados da porteira no que se referem às manifestações sócio culturais.
Iyawo é o princípio de iniciação no universo nagô. É o processo litúrgico que culmina com a integração daquela iniciada no espaço sagrado culminando com o dia de dar o nome, seu oruko ¨da porteira para dentro¨ para sempre.
Iyawo ou Iaô é o nome do samba de terreiro de Gastão Vianna e Pixinguinha, nos inicios do século passado, que deve ser interpretado por vozes como de Clementina de Jesus. O samba se refere a proximidade da porteira para dentro enunciando:
No jakutá de Preto Velho há uma festa de iaô/tem nêga de Ogum/de Oxalá/ de Iemanjá/mucama de Oxóssi que é caçador/Nanã Burukô/ora viva Nanã/ iooo, iooo/...no terreiro de Preto velho iá iá, vamo sarava/côro: -Prá quem meu pai? Todos: Xangô ooo
Era a época da imigração baiana no Rio de Janeiro e a casa de tia Ciata Iya Kekere abrigava e acolhia os bambas do samba, músicos e compositores extraordinários que marcaram a história.




Tia Ciata Iya Kekere.
Foto disponível em http://www.conib.org.br/blog/noticias/822/cano_mein_yiddishe_mame_ganha_verso_em_samba_para_homenagear_tia_ciata

Então agora passados muitos anos ouço uma composição de Genaldo Novaes Alabá com o tema Iyawô que é a abertura do CD Nagô Nilê.
Aqui Iyawo além de entrada no espaço sagrado pela iniciação, é também a porta de entrada para um novo mundo de valores e de conhecimento, o deparar-se com uma nova visão de mundo: ¨ A paz do mundo é iawo/ amor do mundo é iawo/berço do mundo é iyawo/a fé do mundo é iyawo¨.


Genaldo Novaes ao violão e Gerson J. Santos Costa na percussão. 
Foto M. A. Luz

Depois Nagô Nilê flui citando aspectos do panteão dos orixá forças cósmicas que governam a natureza e que constituem características singulares que se traduzem nos seres humanos.
A iyawo se deparará com sua identidade profunda aquela constituída por seu eledá, seu orixá criador, e se socializará a partir de novos valores com a convivência comunitária presente no processo da iniciação. A introjeção de valores do comportamento que regem a hierarquia comunitária entre os mais novos e mais antigos acompanha o acesso ao simbólico de uma sabedoria milenar. Entrega, dedicação e amorosidade regem as ações rituais que envolvem o processo de nascimento para quem vai viver no mundo da tradição.
A letra poética conceitual é acompanhada de ritmo e de arranjos musicais que formam uma harmonia homogênea.
 Há um processo de criatividade envolvendo o retorno do reprimido. Sabemos que a religião tradicional africana e a percussão que participa das orquestras rituais foram reprimidas na América do Norte. Assim sendo o negro nos USA teve que transformar a execução dos instrumentos dos brancos criando o blues e o jazz primeiramente, e depois inúmeros outros gêneros que constituem a identidade musical daquele país espalhando-se mundo afora.
Portanto no Brasil há também os admiradores desses gêneros musicais que fazem parte do panorama musical brasileiro.


Pixinguinha e Louis Amstrong,genialidades das músicas transatlânticas.
 Foto disponível em
http://arquibabotafogo.com/blog/wp-content/uploads/2014/05/pixinguinhaarmstrong.jpg


A atitude de usar e transformar as armas musicais dos brancos está nos inicios do panorama musical brasileiro que enseja a criação de vários gêneros musicais.
A famosa música de Pedro Caetano É com esse que eu vou diz tudo num verso: Mas quebra quebra/eu quero ver muita cabrocha boa/batucando no piano da patroa.



Músicos e interpretes Componentes do CD Nagô Nilê.


Então em Nagô Nilê há um processo criativo de composição de música percussiva das orquestras rituais com a música do jazz, porque o jazz é odara, é música boa e bonita.
O jazz mantém os princípios da estética da comunalidade africana uma vez transposta para as Américas. Basta falarmos de Louis Amstrong sua voz e seu instrumento de sopro ou do afamado e talentoso Errol Garner que nos dá uma ilustração nas suas execuções ao piano: A beleza musical se caracteriza pela liberdade das interpretações que acontecem com ludicidade e o grande prazer de tocar, a alegria do prazer estético.


Errol Garner  e a alegria da criação musical.
Foto disponível em
http://lamorguefiles.blogspot.com.br/2014/01/musician-erroll-garner-dies-en-route-to.html

 Nagô Nilê reúne músicos e interpretes da tradição com músicos e arranjadores do jazz, e se pode então usufruir da liberdade de apreciar a percussão da tradição com seus desdobramentos recriativos, que originou- se da repressão, mas que como diz o ditado, ¨o bambu, enverga para não quebrar¨, ganhou e conquistou uma territorialidade própria com beleza, alegria e encantamento, odara pupo.

Para maiores informações:
https://www.youtube.com/watch?v=UROwbsSTxKshttp://nagonile.com/project.html



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