No
dia 9 de outubro no auditório do Teatro UNEB teve início o II Simpósio
Internacional de Baianidade-SINBAIANIDADE e o II Congresso Internacional de
Línguas e Literaturas Africanas e Afro-Brasilidades-CIALLA.
Mesa de autoridades
Foto Maurício Luz
A
solenidade de abertura constou de uma mesa composta pelas autoridades presentes
dentre as quais a Iyalorixá do Ilê Axé Opo Afonjá, Iyá Ode Kaiyode Mãe Stela,
Doutora Honoris Causa da Universidade do Estado da Bahia, o reitor da UNEB
Professor José Bites de Carvalho, o vereador e ex-governador Valdir Pires, a vice-prefeita
de Salvador Sra. Célia Sacramento, representantes das embaixadas de Angola e
Nigéria e o Professor Gildeci de Oliveira Leite idealizador e organizador dos
eventos SINBAIANIDADE e CIALLA e responsável pela Assessoria de Projetos
Interinstitucionais para Difusão da Cultura da UNEB.
Após
o hino nacional foi composta a mesa e seguiram-se as saudações e os
pronunciamentos.
Pronunciamento do professor Gildeci Leite idealizador e Presidente do Comitê Organizador e Científico do evento
Foto disponível na internet
Encerrada
a abertura, foram convidados os componentes da próxima Mesa que teve a mediação
da Professora Doutora Narcimária Correia do Patrocínio Luz e as participações
do poeta e escritor angolano Manuel Rui e o cantor e compositor Martinho da
Vila.
Sobre
os integrantes da mesa de abertura:
Manuel
Rui
É
considerado hoje um dos maiores autores da literatura angolana. É poeta,
contista, romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico literário. É licenciado em
Direito pela Universidade de Coimbra. Após
a Revolução regressou a Angola, tornando-se Ministro da Informação do MPLA no governo
de transição. Representou Angola na Organização da Unidade Africana e nas
Nações Unidas. Foi membro fundador da União dos Artistas e Compositores
Angolanos, da União dos Escritores Angolanos e da Sociedade de Autores Angolanos.
É o autor do Hino Nacional Angolano
Martinho
da Vila
Cantor,
compositor e interprete de sambas que se tornaram clássicos na música popular
brasileira.
Foi
responsável pelo projeto O Canto Livre de Angola que, em 1982 trouxe os
primeiro artistas africanos ao Brasil. Liderou também o Grupo Kizomba, promoveu
encontros internacionais de arte negra. Recebeu o título honorário de
Embaixador Cultural de Angola e Embaixador da Boa Vontade da CPLP (Comunidade
de Países de Língua Portuguesa), por ser um incentivador das relações linguísticas
do português e divulgador da lusofonia. Em 2006 recebeu no plenário da Assembleia
Legislativa da Bahia o título de Cidadão Baiano.
Martinho da Vila e Manuel Rui
Foto disponível na internet
Narcimária Correia do Patrocínio Luz
Professora Titular Plena da Universidade do Estado
da Bahia tem Mestrado e Doutorado em Educação ambos pela Universidade Federal
da Bahia; Pós-doutorado em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio
de Janeiro. É coordenadora do PRODESE- Programa de Descolonização e Educação,
idealizadora fundadora e ex-diretora do CEPAIA-Centro de Estudos das Populações
Afro-Ameríndias. Integrou a equipe de professores/pesquisadores que concebeu e
fundou o Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade da UNEB. Editora
das Revistas SEMENTES Caderno de Pesquisa, detentora da comenda Oxum Muiwá
recebida por ocasião do I SINBAIANIDADE realizado no Campus de Seabra, autora
de diversos livros, artigos e ensaios, dentre os quais OBA NIJO O Rei que Dança
pela Liberdade(PALLAS) e ITAPUÃ da Ancestralidade Africano-Brasileira(EDUFBA).
Narcimária na coordenação da mesa
Foto Maurício Luz
Narcimária abriu a Mesa saudando os ancestrais
e o patrono do dia de sexta feira Oxalá,
orixá princípio que representa o ar , responsável pela criação dos seres humanos, e para
cada ser humano criou uma árvore. Iniciou a mediação da Mesa destacando três
legendas de suma importância na História da Bahia. “A primeira é o legado da
Iyá Oba Biyi Mãe Aninha fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá que disse:” A Bahia é
uma Roma Negra” no contexto de afirmação do patrimônio africano brasileiro face
à imposição da romanização católica na primeira República, que tentou de todas
as formas censurar a dinâmica da civilização africana pujante na Bahia e no
Brasil. Interpretamos que a Bahia, Salvador é uma cidade sagrada onde está
concentrada os cultos aos ancestrais, aos orixá, inkice, e voduns com sua ordem
de valores, linguagens e vínculos institucionais, constituindo a transcendência
que escoa pela cidade, seiva que alimenta a essência da baianidade.
A
outra legenda vem da poesia de Caymmi: "Bahia tá viva ainda lá!”.
Narcimária pronuncia suas reflexões
Foto Mauricio Luz
Composição
do nosso saudoso Dorival Caymmi, o Oba Onikoyi (título que ele teve em vida no
Ilê Opô Afonjá) que cantou e encantou com sua baianidade "Adalgisa mandou
dizer que a Bahia tá viva ainda lá” (1964). Narcimária ressaltou " “ainda lá”, como o lugar de origem que
torna a Bahia singular, onde há a recusa ao processo urbano-industrial onde a
Bahia foi colocada no centro do capitalismo transnacional e suas derivações
tecnoeconômicas. O recado de Adalgisa é um aviso importante, atravessando o
tempo animando-nos a acreditar ainda, numa Bahia que insiste em se manter viva.
Viva, face à teia dos valores que tendem a transformá-la numa metrópole,
extensão geopolítica e expansionista de alguns Estados Nacionais com suas
supremacias étnicas e territoriais.
Como
diria Caymmi: "pobre de quem acredita na glória e no dinheiro para ser
feliz.”.
Feito
esses destaques, Narcimária passou a palavra para Martinho da Vila sublinhando
o elo transatlântico que se expressava naquela mesa: África e América... Brasil
e Angola...Angola, Bahia e Rio de Janeiro...
Nesse
elo destacado por Narcimária, a palavra KIZOMBA da língua kibundo referência
ancestral de Angola seria o fio condutor para Martinho da Vila abordar a sua
contribuição nos anos 1980 aproximando Angola do Brasil.
Assim Martinho iniciou sua participação
contando que em Angola ele fez muitos amigos ilustres, dentre esses, o escritor
Manuel Rui. Ele trouxe de lá e divulgou pelo Brasil afora o conceito kimbundo
de kizomba que significa celebração. Foi com através do kizomba que ele
elaborou o enredo "KIZOMBA a Festa da Raça" para a Escola de Samba
Unidos de Vila Isabel campeã em 1988.
A
comunicação de Martinho foi em torno de justificar sua identificação com a Bahia,
lembrando que quando jovem no Rio de Janeiro, era chamado de baiano
mesmo sendo natural do interior do Estado do Rio, da região de Cordeiro,
Macuco, Nova Friburgo. Depois relatou suas diversas viagens a Salvador suas
amizades citando Mãe Celina que era da Casa Branca e tinha o restaurante
Aguidar na Boca do Rio. Falou da amizade com o povo de Maria de São Pedro e com
Camafeu de Oxóssi.
Lembrou
que frequentava o antigo Mercado onde Camafeu tinha uma loja de artesanato e
especiarias do culto afro. O mercado sofreu um incêndio, e mais tarde Camafeu
recebeu um restaurante no novo Mercado Modelo. Nas suas andanças pela Bahia,
costumava pescar com Camafeu na Baía de Todos os Santos.
Contou
uma aventura de uma pescaria com Camafeu em que não encontraram um peixe
sequer, apesar de ter muita gente à espera dos peixes que eles pretendiam
trazer.
Por
fim declarou que recebeu da Assembleia Legislativa da Bahia o título de Cidadão
Baiano que para muitos é uma formalidade, mas para ele, tem um valor especial.
Logo
a seguir a Doutora Narcimária passou a palavra para o escritor Manuel Rui.
Lendo
um texto poético de sua autoria, ele procurou dizer que a presença de uma
cultura é contextual como demonstra o sentimento por entidades do candomblé da
Bahia nas obras literárias de autores angolanos, como ele mesmo.
Afirmou
que há uma fenda abissal entre os valores do hemisfério norte e o hemisfério
sul, aprofundado, sobretudo pelo preconceito e rejeição. Todavia, nós do
hemisfério sul, devemos valorizar nossa epistemologia, o que alguém nomeou de
uma "ecologia de saberes" e nesse sentido é muito significativa essa aproximação
Angola, Bahia, que já existe através da história e da reposição dos valores
culturais.
O auditório na abertura do evento.
Foto Maurício Luz
A Doutora Narcimária pediu a Martinho para
cantar o samba enredo Kizomba para encerrar essa celebração.
Martinho
então cantou
" Valeu Zumbi"!
KIZOMBA,
A FESTA DA RAÇA
(Rodolpho / Jonas / Luiz Carlos
da Vila)
Valeu, Zumbi
O grito forte dos Palmares
Que correu terra, céus e mares
Influenciando a abolição
Zumbi, valeu
Hoje a Vila é Kizomba
É batuque, canto e dança
Jongo e Maracatu
Vem, menininha
Pra dançar o Caxambu
Ô,ô, Ô,ô
Nega mina
Anastácia não se deixou
escravizar
Ô,ô
Ô,ô,ô,ô
Clementina, o pagode é o partido
popular
Sacerdote ergue a taça
Convocando toda a massa
Neste evento que congraça
Gente de todas as raças
Numa mesma emoção
Esta Kizomba é nossa constituição
Esta Kizomba é nossa constituição
Que magia
Reza, AG1 e Orixá
Tem a força da cultura
Tem a arte e a bravura
E o bom jogo de cintura
Faz valer seus ideais
E a beleza pura dos seus rituais
Vem a Lua de Luanda
Para iluminar a rua
Nossa sede e nossa sede
De que o apartheid se destrua
Gravação Original: Samba Enredo
da Vila Isabel 1988
Gravado por Emílio Santiago,
Martinho da Vila
O
vídeo a seguir apresenta Kizomba interpretada por Martinho da Vila
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