Por Marco Aurélio Luz
No
mês de agosto a cidade de Badagry na Nigéria, realiza um grandioso Festival que
celebra a sua importância para a tradição cultural e preservação da memória
histórica referente à diáspora.
Badagry
foi um porto
de embarque de africanos escravizados para as Américas, daí a sua importância histórica.
Foto disponível na internet
A
memória do momento de transformação da população de prisioneiros em
escravizados, se mantém preservando aspectos físicos do sítio e os instrumentos
escravistas, e a atmosfera que envolveu essa viagem sem retorno.
O
Festival de Badagry reúne inúmeros eventos, a exemplo da apresentação de vários grupos
culturais; competição de barcos enfeitados;aparição dos Zangbeto espíritos ancestrais cobertos de palha da costa; competição de barcos enfeitados e torneio de futebol que disputam a taça do Oba o rei.
Grupo Cultural
Foto disponível na internet
Grupo Cultural
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Aparição dos Zangbeto espíritos ancestrais cobertos de palha da costa.
Foto disponível na internet
Competição de barcos enfeitados.
Foto disponível na internet
O
mais importante porém, são as homenagens aos líderes da diáspora que se destacaram
no processo de libertação, de afirmação da identidade e reposição da
civilização africana nas Américas. Em 2013 foi Marcus Garvey, em 2015 Toussaint
L´Ouverture, em 2016 Olaudah Equiano e agora em 2017, Deoscoredes Maximiliano
dos Santos, Mestre Didi.
Uma
delegação de lideranças religiosas do terreiro Ilê Asipá fundado por Mestre
Didi Asipá Alapini, está presente.
O Alagba nilé Asipá presente no Festival
A presença da linhagem Asipá no
Brasil é um fato histórico fundamental para se entender a continuidade da
tradição religiosa e cultural de origem nagô/yorubá. Desde a atuação marcante
na fundação das primeiras casas de culto aos orixás, nas
primeiras viagens e intercâmbios com a África, e na presença nos tradicionais
cultos aos Egungun. Mestre Didi foi consagrado Alapini Ipekun Ojé, sacerdote
supremo do culto aos Egungun. O Ilê Asipá concentra importante constelação de
Egun Agba.
Em
1965 Mestre Didi acolheu em Salvador o poeta do movimento da Negritude Leon Damas,
que impressionado com o seu valor para a continuidade da civilização africana
na diáspora, reuniu esforços e conseguiu uma bolsa da UNESCO para ele na
Nigéria.
Mestre
Didi viajou em 1967 com sua esposa Juana E. Dos Santos. Com a participação de
Verger, aconteceu o encontro histórico com a família Asipá em Ketú. Ele narrou
o episódio desse elo transcendente em “Um Negro Baiano em Ketu”:
“O Rei, todos os seus ministros e as demais
pessoas que lá se encontravam na ocasião ficaram surpresos e me escutavam
emocionados, pois eles nunca tinham imaginado que, do outro lado do Oceano,
pudesse ainda existir pessoas como eu, capaz de cantar os cânticos tradicionais
que eram cantados pelos nossos antepassados.”
Mestre
Didi é sem dúvida um ponto de convergência de todos que participaram e
participam na reconstituição da tradição africana com suas linguagens, valores
e instituições nas Américas.
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