O cantor e compositor Amadeu Alves Ribeiro Filho,concedeu ao blog da ACRA uma entrevista onde vai nos apresentando histórias,paisagens,personalidades,sabores, valores,referências e memórias do bairro de Itapuã.Faz também reflexões importantes sobre a saturação urbana que tenta “calar” Itapuã e toda a poesia que dela transborda, influenciando o seu trabalho como músico e compositor inspirado nesse lugar tão precioso que faz parte da história da Bahia. Amadeu Alves Ribeiro Filho, é Coordenador da Casa da Música localizada no Parque Metropolitano do Abaeté,espaço onde vem desenvolvendo com o seu talento e sensibilidade artística momentos singulares envolvendo saraus,teatro,exposições,palestra,etc. Acompanhem esse bate papo proporcionado pelas professoras Caroline Nepomuceno e Naiára Bittencourt,ambas da equipe PRODESE/DAYÓ/ACRA.
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... Até Mussurunga ainda não existia, era só verde, mato, pés de manga, coco, caju, mangaba, cambuí, araçá. As festas de largo, o sambão da galera, onde participava dando meus primeiros toques em instrumentos de percussão. Via a banda marcial do Colégio Lomanto Júnior, que me encantava principalmente com o som da caixa/tarol. Assim também era quando vinham os trios elétricos, o parque de diversões, o trio paralítico de Seu Menezes, os ternos de reis, a chegança, os bailes pastoris. Tudo isso na minha infância. As puxadas de rede, a relação com o mar, os babas na praia, no Campo da Ilha, no Campinho e no Beira Rio. Os carurus de sete meninos... é muita coisa, muitas lembranças.
A década de 1980 veio com novas experiências. O início da carreira musical, ainda aos 13 anos de idade. Novas amizades, a chegada da adolescência, as namoradas. Foi uma década de grandes transformações no bairro. O desenvolvimento urbano chegou mais acelerado. As dunas se foram nas caçambas e se transformaram em prédios, o Abaeté virou uma favela, os ônibus da VIBEMSA (Viação Beira Mar) passavam superlotados, a cultura dava sinais de mudanças radicais. As relações foram se transformando e quando vimos já nos encontrávamos em outro momento.
ACRA-Com relação a sua história no espaço escolar, estudou em alguma escola de Itapuã? Fale-nos um pouco sobre as boas lembranças desde local?
AMADEU-Sim, estudei primeiro na Escola Moderna de Itapuã (hoje Calazans Neto), com a professora Olga, que ficava na Rua do Gravatá e depois foi pro Alto da Cacimba. Na seqüência, fui para a Escola Geny Gomes fazer a terceira série, depois a quarta série no Rotary, depois o ginásio no Educandário Itapuã. Da Escola Moderna lembro-me do parquinho, das professoras, e que eu fiz a primeira e segunda série no mesmo ano, em 1974. Da Geny, lembro do caminho para ir para a escola, passando pelo Largo do Jenipapeiro. Foi quando eu comecei a ir sozinho pra escola. Do Rotary, eu lembro que a merenda escolar, muitas vezes era uma salada de bacalhau, Nescau. Era uma beleza. Também o caminho para a escola era muito interessante. Nesse tempo as dunas chegavam até a Av. Otávio Mangabeira (hoje Dorival Caymmi), até a frente da minha casa, onde moro até hoje. Então, eu atravessava a rua, subia a duna, entre os cajueiros, mangabeiras, chegava na Rua Guararapes (esta rua que hoje leva o nome de meu pai), e ia até o Rotary. Aí passei para o Educandário Itapuã, de Dona Terezinha. Fiz todo meu ginásio. Gostei muito também de estudar lá. Os colegas, uma turma muito legal. As professoras (Yoná, Evanise, Odaísa, Áurea). A kombi do transporte escolar eu não usava, que a própria Dona Terezinha dirigia. Depois do Educandário, fui para o Colégio Águia, que já era na Praça da Piedade, fora de Itapuã.
ACRA-Sabemos que seu pai Amadeu Alves foi professor em Itapuã. Qual é a maior recordação que tem dele?
AMADEU-Eu convivi até os meus seis anos, quando ele faleceu. Além de professor, ele foi vice-diretor do Colégio Lomanto Júnior, com o Professor Narciso como diretor. Encontro até hoje pessoas que foram alunas dele. Era uma pessoa de grande erudição. Lembro quando ele voltava do Lomanto, naquela época, as noites eram mais silenciosas, então nós ouvíamos de longe o som do DKV, o carro dele, e isso era uma alegria muito intensa, quando ele retornava para casa à noite.
ACRA-Compreendemos que a tradição oral transmitida pelos mais velhos (as) é para povos, sobretudo, de matriz africana, um forte de sua cultura. Baseado nisso o que você aprendeu com os moradores mais velhos (as) de Itapuã, tendo em vista que grande parte desses moradores e de toda Salvador, são descendentes desses povos e que de alguma forma carregam essa tradição?
Os anciãos guardam tesouros. Se todos bem soubéssemos, cada vez mais valorizaríamos e nos aproximaríamos desses detentores de tesouros. É a memória, a experiência rica de vida, que podemos captar através da convivência, de diálogos. Acho que bebi um tanto nessa fonte, o que me estimulou a trabalhar mais pela preservação desse bem que é a história de nosso povo.
ACRA-Quais são os lugares que considera especiais em Itapuã?Por quê?
AMADEU-As duas pontas, do Farol e de Piatã, nos dão uma amplitude de horizonte que é especial. As pedras de Itapuã, principalmente a Ponta de Pedra que termina com a grande Pedra que Ronca, que especialidade!!! Quem já foi ver a lua nascer de lá, ou o pôr-do-sol, sabe quanto especial é. Ou então, sair de caiaque, remando até perto da pedra. É isso, são os lugares associados aos eventos que acontecem neles, principalmente os eventos naturais. A Lagoa do Abaeté com a lua prateando suas águas. E das fontes que existiam em Itapuã, uma ainda sobrevive em meio a tanta urbanidade. Ela fica no quintal da minha casa, e da origem a um rio que batizei de Pequenino.
AMADEU-Das aldeias dos índios que habitaram este lugar, passando pela vila de pescadores que foi, Itapuã guarda seus encantos, não só nas lembranças de um lugar paradisíaco, que recebia pessoas que desejavam sentir a felicidade de vivê-la. Quando cantar Itapuã em versos e prosa, era simplesmente dizer o que estava sentindo. Mas também no dia-a-dia de um lugar, onde o caos do progresso desordenado parece ter vencido a poesia. Perceber esses encantos requer uma atenção especial às pessoas nativas e agregadas que conhecem muito da história do bairro e que aos pouco estão partindo com todo esse conhecimento. E as pessoas novas que estão chegando com todo gás da juventude, e que são os principais sujeitos da construção de novas relações.
NADA ESTANCA ITAPUÃ, AINDA SOMOS FELIZES!!!
Para conhecer mais sobre o trabalho de Amadeu Alves Ribeiro Filho os contatos:
(71) 9911-8010 / 3116-1512
alves.amadeu@gmail.com
www.myspace.com/amadeualves
casadamusicabahia.wordpress.com
Muito linda a entrevista Amadeu, legal tb poder participar um pouco da vida de ITAPUÃ através de pessoas tão especiais q tenho conhecido nos eventos da casa da música, tais como os saraus, os passeios eco-histórico-culturais pelo Abaeté...., bem como entir o aconchego da "Casa do Músico"
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