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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


domingo, 6 de maio de 2012

INDIGNAÇÃO E DOR, UM REI QUE CAÇA ELEFANTES



Ronaldo Martins

Senti um misto de indignação e tristeza ao saber que em pleno século XXI o rei Juan Carlos da Espanha participa de safaris para caçar elefantes. Minha indignação foi maior ao ver a foto do rei com outro caçador ostentando os seus rifles e, como cenário da foto, está um elefante morto com a cabeça, apoiada pela presa e tromba, em uma árvore. Uma cena degradante.
Na foto, o animal e sua dor servem de cenário para a perversidade e estupidez dos seres humanos, infelizmente, representados pelo orgulhoso caçador e pelo rei da Espanha.
Lembrando a expressão “uma a imagem vale mais que as palavras”, a foto do rei da Espanha ostentando o seu troféu de caça, um elefante africano, me reportou a algumas questões que certamente causaram grande inquietação, dor e desequilíbrio a toda humanidade. Refiro-me as atitudes perversas de mentes cruéis, como no caso dos esnobes caçadores de elefantes, que caçam pelo prazer de ostentar um troféu exótico para seus amigos.
A imagem antiquada do caçador que dizima animais por prazer remonta a um momento histórico colonialista, onde exploradores europeus e americanos em busca da aquisição de matéria prima e expansão dos seus mercados, além de apropriar-se daquilo que desejavam, divertiam-se exterminando animais e pessoas na África e nas Américas. Faz parte desse momento a concepção racial que considerava os “brancos” superiores aos “negros” e “índios”; a ideia da natureza – os animais, a terra, a água, as florestas – como objetos a serem usados e explorados; e a equivocada concepção da cultura europeia como exemplo superior de civilização para todo o ocidente.

Neste ano de 2012 em que ocorrem discursões, reflexões e ações para conservação da biodiversidade no planeta, preservação da fauna e flora para as futuras gerações, pesquisas científicas de impacto ambiental na produção de alimento, questões que sensibilizam as populações do mundo inteiro. Espanta-me ver a foto do rei da Espanha caçando elefantes. Sobre essa atitude brutal, muitas críticas focam no investimento de 35.000 ou 45.000 euros, feito pelo governo espanhol na caçada de cada elefante para divertir o rei, no momento atual de grande dificuldade econômica que passa a Espanha. A atitude de caçar um animal tão magnifico, nessas abordagens, está relegada a um segundo plano e a matança dos elefantes feita pelo rei, passa a ser minimizada.


Sobre a legitimidade das autorizações de caça de animais e extração de madeira em muitos países africanos e nas florestas brasileiras, sabemos que muitas normas de manejo ambiental e autorização de caça, são criadas a partir de conchavos entre políticos e comerciantes para favorecimento individual. São verdadeiras armações que a partir de autorizações de instituições locais, criam arranjos para legitimar a devastação das florestas e a matança dos animais. Trata-se de uma burocracia construída muitas vezes a partir de um discurso “politicamente correto” que diz buscar proteger a natureza e promover um desenvolvimento sustentável, mas são aparatos práticos que visam unicamente o lucro fácil e o favorecimento de uma elite local inconsequente.



 
Tratando das atitudes aparentemente corretas que envolvem os jogos de interesse por trás das autorizações para matança de animais em alguns países africanos e no Brasil, vale ressaltar o cinismo e o jogo de aparência que envolve alguns acordos entre os ambientalistas e os representantes públicos. Nesse sentido, o rei Juan Carlos, caçador de elefantes, é um péssimo exemplo, se por um lado pousava como um membro ilustre do Fundo Mundial para Natureza , WWF, considerado um protetor da vida, por outro lado, matava elefantes, destruía a vida que dizia proteger.

Sinto certo alivio ao transcrever a minha indignação, ao expressar a emoção que brotou de meu coração e do meu pensamento, sentimento de muitas outras pessoas ao redor do mundo. Pessoas que sabem que estamos em outra época, tempos de cuidar um dos outros. Momento em que não se permite mais atitudes inconsequentes, perversas contra pessoas, animais, plantas e lugares. Momento em que cada um deve se comprometer em promover à vida, a saúde, a paz, a tranquilidade e o bem estar um dos outros, seja atuando como pedreiro, professor, médico, cozinheira ou rey.

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Ronaldo Martins é Mestre em Educação.Pesquisador do PRODESE – Programa de Educação e Descolonização, UNEB/CNPq.

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