*

*

PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


domingo, 29 de julho de 2012

“ADALGISA MANDOU DIZER QUE A BAHIA TÁ VIVA AINDA LÁ...”

Por Narcimária C.P.Luz

Aproveito o samba Adalgisa (1964), composição e interpretação do nosso saudoso Dorival Caymmi, para trocar algumas ideias sobre essa Bahia “que tá viva ainda lá”. Vou considerar “ainda lá”, como um lugar de origem que torna a Bahia singular.
Caymmi compôs Adalgisa, no tempo em que a Bahia foi colocada no centro do capitalismo transnacional e suas derivações tecnoeconômicas. O recado de Adalgisa é um aviso importante, atravessando o tempo animando-nos a acreditar ainda, numa Bahia que insiste em se manter viva.

Viva, face à teia dos valores que tendem a transformá-la numa metrópole, extensão geopolítica e expansionista de alguns Estados Nacionais com suas supremacias étnicas e territoriais.
Estamos assistindo a imposição de um mercado global, que cria cenários alegóricos forjando um novo sujeito social: o produtor, consumidor, refém das leis do capital.
“Ainda lá” no recado de Adalgisa, é o lugar da recusa à geografia civilizatória europocêntrica, e que mantêm comunidades, estruturadas através do patrimônio civilizatório africano.


São comunidades que continuam expandindo seus valores de civilização, face às imposições espaço-temporais de cunho militar-econômico que tem a pretensão de quantificar, controlar, classificar e estabelecer com a natureza uma relação mediatizada pela ciência como técnica, interferindo substancialmente nos modos de elaboração de mundo característicos da nossa gente.

Que nada mudou inda lá...


A Bahia carrega um rico universo simbólico africano-brasileiro sustentado por modos e formas de comunicação atravessados por narrativas sobre os princípios fundadores que marcam o alvorecer da humanidade, permitindo presentificar acontecimentos míticos, aproximar-nos de tempos imemoriais, das descrições de experiências vividas pelos/as ancestrais, da relação dialética entre vida e morte, rememorar e reverenciar famílias, linhagens, personalidades exponenciais que contribuíram para expandir e fortalecer as instituições, remeter a lugares sagrados, alianças e conflitos, dramatizações que contam a história de afirmação das nossas comunidades.


Na Bahia, transborda a dinâmica ininterrupta da ancestralidade africana, que constitui a corrente sucessiva de gerações que mantêm, com dignidade, o legado dos nossos antepassados.
Adalgisa mandou dizê/ Que a Bahia tá viva ainda lá/ Com a graça de Deus inda lá/ Que nada mudou inda lá...


Os/as mais antigos/as nos contam que quando Oxalá, orixá querepresenta o ar veio a esse mundo, criou os seres humanos, e para cada ser humano criou uma árvore. As árvores carregam o princípio de ancestralidade, representam, portanto, os ancestrais, e são elas que estabelecem a dinâmica da relação entre os seres humanos e a natureza.
Oxalá possui poderes que garantem a existência e, pela sua importância no panteão nagô, merece respeito e atenção. Nesta estética do sagrado, as árvores são as responsáveis pela purificação do ar para que os seres humanos tenham plenitude de vida. Infelizmente as matas,as árvores e toda biodiversidade que a Bahia carrega, estão sendo destruídas pela máxima “time is Money”, colocando em risco o princípio de ancestralidade primordial para toda a humanidade.





Mas graças a Oxalá e o panteão das divindades africanas, a Bahia tá viva ainda lá!Lá, nas comunidades tradicionais afrobrasileiras que reverenciam o mar,os rios,as matas,as árvores...
A natureza, principío seminal de toda existência.Continuamos a cultuar nossas origens, nossos ancestrais,envolvendo nossas crianças e jovens, animando-os a erguerem a cabeça e terem orgulho de ser e pertencer as suas comunidades,que ao longo dos séculos se dedicam a manter a pulsão de vida para que a Bahia não acabe.

Kosi Ewe, Kosi Orixá/ Sem folhas não há orixá
 (Provérbio nagô).

Salsa da praia vegetal ligado a Oxum
Foto da autora

Se não existissem as folhas, não existiriam os orixás e não existiria o mundo.


********************

Narcimária Correia do Patrocínio Luz é Doutora em Educação; Pós Doutorado em Comunicação e Cultura; Coordenadora do Programa Descolonização e Educação/CNPQ.

Nenhum comentário:

Postar um comentário