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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 8 de dezembro de 2012

“O SEGREDO DA MACUMBA”:40 ANOS DA PUBLICAÇÃO/O RETORNO DO REPRIMIDO-PARTE 8

CONTEXTO DA CONTRA CULTURA
Por Marco Aurélio Luz

          LIVING THEATER
No ano de 1971 aportou no Rio de Janeiro a companhia de teatro Living Teather. É um afamado e importante grupo de teatro experimental de vanguarda americano localizado em Nova York fundado em 1947. Seus diretores eram o casal Julien Beck e Judith Malina. Na ocasião integravam e navegavam na onda do movimento da contra cultura originado nos EUA, uma repercussão e reação à guerra fria e a guerra do Vietnam.
Nessa ocasião no Brasil procuravam reforçar suas experiências teatrais de vanguarda estabelecendo também uma estratégia de observação da linguagem da dramatização sagrada nos cultos afro-brasileiros, especificamente a Umbanda.
Foi então que foram me encontrar para que pudessem ter acesso aos terreiros. Com eles participava também o professor Georges Lapassade da Universidade de Paris VIII. Ele era um sociólogo dedicado a uma nova linha de trabalho a Análise Institucional.
Depois de visitarem diversos terreiros, inclusive do Sr. Alcides na Rocinha, cuja entidade Exu Mangueira muito impressionara os visitantes, se reuniram para uma reflexão conjunta e avaliação.
Foi então que Lapassade muito impressionado com o que assistira nos terreiros, indagado respondeu mais ou menos assim: - "comparado com o que vi nos rituais de Umbanda os recursos dramáticos do Living Teather são uma merda" .




Georges Lapassade

Depois dessa análise foi convidado a se retirar do grupo. Sem ter para onde ir encontrou abrigo em minha casa e por lá ficou alguns meses.
Nesse tempo me acompanhou nas idas aos terreiros e foi se inteirando dos meus estudos que comparavam os terreiros de morro com os templos do asfalto, trocando idéias sobre análise institucional. Fazia muitas anotações e retornou para Paris com a idéia fixa de voltar para o Brasil. Por outro lado me revelou através das teorias e de sua prática provocativa o significado e o valor da Análise Institucional que me permitiram descongelar, dar elásticidade e ultrapassar o conceito de aparelho ideológico de estado de Althusser.
Meus cursos na ECO UFRJ e no IACS UFF já refletiam esses estudos e conversando com o amigo e colega Muniz Sodré estabeleci a linha: Formas de Comunicação no Brasil: A Cultura afro-brasileira.
O amigo e colega Antonio Serra do IACS/UFF subiu muitas vezes o morro em minha companhia. Ele também acompanhou as andanças e as intervenções de análise institucional do professor Lapassade.
Roberto Moura então estudante de cinema se interessou a ponto de me acompanhar nos terreiros e baseado nos meus estudos concebeu um roteiro para um filme curta metragem documentário. Juntando seus amigos formou uma equipe da qual faziam parte Murilo Salles, Roberto Foster, Ismael Cordeiro, Sergio Santos, Valéria, Monica Secreto, José Paulo e eu próprio.
Quero porém registrar que por indicação da professora Lélia Gonzales fui dar aulas de filosofia num colégio particular na Praia de Botafogo. Não sei dizer como alguns alunos souberam das “pesquisas” e me pediram com insistência que queriam visitar o terreiro de Umbanda. Levei-os ao D. Marta. Maravilhados com a experiência espalharam pela turma, no final do ano fui demitido sem que nem prá que.
Num dos retornos de Lapassade lendo meus escritos ele achou que já cabia uma publicação e dizendo ter também os dele, sugeriu um livro em co- autoria. Acabei aceitando e apresentamos os originais ao poeta Moacir Felix editor da Paz e Terra.
Ele era muito admirado e respeitado e enfrentava as pressões da censura naquela época o que já estava inviabilizando a editora bem como a co-irmã a Civilização Brasileira. 


Depois de tomar conhecimento dos originais, Moacir propôs uma edição de 10.000 exemplares a ser distribuída nas bancas de jornal, o que daria um retorno rápido. Com Lapassade acordou o título O Segredo da Macumba capaz de atrair a atenção de possíveis leitores e não deixar de ser uma revelação pela abordagem original, tanto mais que nada existia sobre esse assunto na bibliografia da época.
O resultado desta combinação foi uma incrível repercussão nos meios jornalísticos e intelectuais e nos meios de comunicação de maneira geral.
Entre erros e acertos o livro marcou um momento e acendeu uma fagulha no ainda latente Movimento Negro principalmente em relação a simbologia do Quilombo dos
Palmares e ao respeito as tradições religiosas africano brasileiras e seus desdobramentos.
Apesar disso a editora foi vendida e não houve novas edições.
Por outro lado, com o interesse do diretor da ECO, professor Simeão Leal, o filme de Roberto Moura Sái Dessa Exú, foi realizado com o apoio da Embrafilme.Tanto o livro como o filme se tornaram marcos iniciais nos nossos trabalhos. Roberto dentre vários trabalhos publicou o livro sobre Tia Ciata, um ponto de refêrencia obrigatória, e também sobre Cartola e ainda Grande Otelo dentre outros escritos e filmes.

Professor Simeão Leal e Marco Aurélio Luz.
Foto Roberto Moura, Corisco Filmes



Roberto Moura e Aloisio Salles filmagem de "Sái Dessa Exu"
Foto Corisco Filmes

"Sái Dessa Exu" termina com uma bela imagem do culto ao Preto Velho na praia, o sol nascendo no mar que vai dar na África com Vovó Maria Conga cantando a cantiga que diz:
“Um dia serás reis Preto Velho/serás dono de comarca, branco chegará na minha mão e nos meus pés para gritar maleme e pedir/hoje em dia estão pedindo.”

O sol nasceu já vai baiana

O sol nasceu nas ondas do mar

As ondas do mar batia

Lá se vai Maria Conga feticêra da Bahia”

Eu fui convidado por Muniz Sodré a ir a Bahia visitar o terreiro de culto aos ancestrais nagô, os Egungun na ilha de Itaparica em 1973. Aí já começa uma outra história que mudou completamente a minha vida.
O Segredo da Macumba foi um ponto de partida. O início de um rompimento com sistemas ideológicos de prolongamentos neocoloniais eurocêntricos, uma irrupção vulcânica de novos valores de liberdade.

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