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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

MESTRE DIDI EDUCADOR CONTEMPORÂNEO - PARTE 1


 

Por Narcimária Correia do Patrocínio Luz
Dia 02 de dezembro de 1917, nasceu Deoscoredes Maximiliano dos Santos, Mestre Didi Asipá, Supremo Sacerdote do Culto Egungun.
Mestre Didi pertence à família Axipá,  originária de Oyó e uma das sete famílias  fundadoras da cidade de Ketu. Essa família repõe no Brasil, especificamente na Bahia, uma dinâmica sócio-política, mítico-religiosa da cultura Nagô expressa em casas tradicionais como o Ilê Axé Opô Afonjá. Mestre Didi é neto de Iyá Oba Biyi e filho de sangue de Mãe Senhora,ambas expressivas lideranças da tradição africana  nas Américas. 

 
Mãe Senhora com Zélia Gattai, Sartre, Simone de Beauvoir e Jorge Amado em  1960

É o membro mais velho da família Axipá no Brasil. Podemos afirmar que é um Omo Bibi, um bem-nascido.
“...Na tradição afro-brasileira de origem nagô, omo bibi, quer dizer, bem nascido, isto é, aquela pessoa que vem a esse mundo para dar continuidade a expansão de uma linhagem, de uma família considerada muito antiga, receptáculo de tesouros de valores espirituais e experiências históricas de grande valor para a comunalidade. Os valores  espirituais estão expressos pela continuidade e expansão das instituições religiosas, de um lado, o culto aos orixá,  forças cósmicas que constituem o universo, princípios da natureza, e de outro o culto aos ancestres e ancestrais, como aos Esa, espírito das pessoas que se destacaram na tradição religiosa ,ou aos Babá Egun, espíritos dos ojé, sacerdotes que se destacaram no culto aos ancestres masculinos.”(LUZ,Marco Aurélio. A Favor de Egun. A Tarde, Salvador, 09 de abril, 2005. Caderno Cultural).

O PRODESE retoma hoje as postagens do blog, dedicando-se a homenagear esse expoente ancestral, que durante toda a sua vida dedicou-se a fundar espaços institucionais que promovesse entre as gerações africano-brasileiras a dignidade e o direito à alteridade.
Essa singela homenagem, caracteriza-se por realçar aspectos que lidam com  infinitude das linguagens educacionais projetadas por Deoscoredes Maximiliano dos Santos,  o Mestre Didi Asipá uma das mais expressivas lideranças do contínuo africano nas Américas, e personalidade exponencial da educação contemporânea.
Mestre Didi através de suas obras,quer na literatura, escultura ou no campo da História do povo  negro nas Américas, nos permite o acesso ao riquíssimo patrimônio simbólico africano que influencia de modo significativo o nosso pensamento educacional.
O legado do Mestre Didi constitui um universo de criações estéticas singulares que carregam ancestralidade e visão de mundo  próprios da civilização africana, abrindo perspectiva de coexistência  com outros patrimônios civilizatórios.
 
 
Pertencente a importante linhagem de Ketu, Mestre Didi teve sua iniciação no culto do orixá Obaluaiyê que junto aos orixá Nanâ e Oxumarê compõem o panteão da Terra, expressões míticas que nucleiam suas obras.
Seu compromisso como Assogbá Sacerdote Supremo, título que recebeu  de Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi envolve executar e  sacralizar os emblemas rituais de seu culto, e isso o torna herdeiro e continuador dessa experiência ancestral africana.

Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi
 
Desde a sua infância Mestre Didi produz objetos rituais, cuja extensão são belíssimas recriações  no campo das artes escultóricas obtendo consagração nacional e internacional. Além disso, muito pequenino teve o privilégio de viver imerso ao universo mítico literário africano, que o levou a adaptar diversos contos que vêm influenciando sobremaneira a proposição curricular de iniciativas de vanguarda na área de educação.
 
Mestre Didi Axipá visita  Ojubó o assentamento de Oxossi da família Axipá em Ketu
Ainda sobre a importância da obra de Mestre Didi temos um valioso comentário do  professor da Sorbonne, Roger Bastide na década de sessenta, sobre a  História de um Terreiro Nagô ,  livro que  se tornou referência fundamental para a compreensão da dinâmica das comunalidades africano-brasileiras na contemporaneidade :
 
 
 
“...Recebo com satisfação o novo livro de  Deoscoredes Maximiliano dos Santos. Filho da prestigiosa Mãe Senhora, criado no conhecimento de todos os rituais do Opô Afonjá, o saboroso livro do autor de Contos Negros é realmente o único que nos pode oferecer uma monografia sobre este candomblé, onde tenho tantos amigos, e que é tão caro ao meu coração. Parabéns  Deoscoredes, e que seu precioso trabalho sirva de modelo para   outros. Livro de sábio,de filho da seita e de admirável narrador.”
Como previu o professor Roger Bastide, Mestre Didi prosseguiu afirmando institucionalmente  a dinâmica existencial das populações afro-brasileiras, influenciando e encorajando as gerações sucessoras a manterem erguidas os emblemas e referenciais que caracterizam e eternizam a nossa ancestralidade africana.
Mestre Didi como pessoa nascida e criada dentro dos valores da comunidade, sempre procurou desenvolver atividades que quando situadas principalmente no âmbito da sociedade oficial, afirmasse o que ele é, seus valores, seu orgulho pela tradição, como ele mesmo afirma: “...Procurarmos ser nós mesmos,nos valorizando,valorizando a tudo que adoramos, principalmente a natureza.
"É comum se dizer Kosi Ewe,Kosi Orixá; se não existissem as folhas, não existiriam os orixá, e não existiria o mundo. Já é tempo de nos unir, dar-nos as mãos, abrir os nossos corações para ir ao encontro da irmandade de justiça e da fraternidade para fortalecer e preservar cada vez mais as nossas origens e o axé de cada uma delas”.
 
Opa Osaiyn ati Oxumare Meji escultura de Mestre Didi
 
Estamos diante de um educador ,que nos permite de modo singular  a aproximação do rico e complexo patrimônio civilizatório  milenar africano indicando perspectivas  atravessadas por uma ética do futuro para a educação.
Procuraremos destacar, desse contínuo civilizatório, a primeira concepção e proposta de educação pluricultural que nasceu no Brasil protagonizada pelo Mestre Didi  -a Mini Comunidade Oba Biyi.
A experiência da Mini Comunidade Oba Biyi  demonstrou   que o legado civilizatório africano no Brasil e, especificamente, na Bahia constitui alteridades e caracteriza, em relação a outros processos civilizatórios, a nossa diversidade cultural.
 

 
Um dos exemplos expressivos dessa trajetória do  Mestre Didi  são as iniciativas  na área de Educação,   influenciado  por   Mãe Aninha, a venerável Iyá Oba Biyi com a qual ele conviveu desde menino, e sempre lhe dizia :
“Quero ver nossas crianças de hoje, no dia de amanhã de anel de anel no dedo e aos pés de Xangô"
 Mãe Aninha já tinha percebido que era impostergável a legitimação dos valores da comunalidade africano-brasileira, no âmbito do sistema oficial.
Iyá Oba Biyi, nos indicou o grande desafio que se apresenta para nós educadores. De um lado o “anel no dedo”, que significa as possibilidades de mobilidade social da população infanto-juvenil de descendência africana na sociedade oficial - , e de outro, Xangô, orixá do fogo que assegura a vida no aiyê , a expansão de linhagens, da existência concreta ininterrupta, filhos, descendência, ancestralidade, continuidade da comunalidade africano-brasileira, presença transatlântica dos valores culturais. De anel no dedo e aos pés de Xangô.”
Continua na próxima semana

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