“Só há poucos anos é que deixei de me preocupar
com o quê os outros possam dizer sobre o meu cabelo. Só nesses últimos anos foi
que eu senti consecutivamente o prazer lavando, penteando e cuidando do meu
cabelo. Esses sentimentos me lembram o aconchego e o deleite que eu sentia
quando menina, sentada entre as pernas de minha mãe, sentindo o calor do seu
corpo e do seu ser enquanto ela penteava e trançava o meu cabelo.”
Bell Hooks- Alisando o nosso cabelo.
Nos últimos meses, a cidade de Salvador tem construído e presenciado uma
grande chuva de acontecimentos que irá deixar marcas profundamente no coração e
na estética de milhares de mulheres, crianças e homens negros. Foi construída e
realizada a 1ª
Marcha de Emponderamento Crespo de Salvador, cuja comissão organizadora contou com Naíra Gomes, Ivy Guedes, Lorena Lacerda,
Vanessa Ribeiro, Milla Carol, Nadja Santos, Hilmara Bitencourt, Samira Soares,
Andréa Souza, João Vieira, Chermie Ferreira e Jack Nascimento. A ideia da
Marcha surgiu depois da 1ª Marcha de Orgulho Crespo que ocorreu em julho na
cidade de São Paulo. Foi então, que a comissão se reuniu com o intuito de
repetir o mesmo nas ruas da cidade de Salvador.
Foto Caroline Nepomuceno
Com o auxílio de grupos políticos e estéticos no Facebook conseguiram se
organizar e mobilizar mais de três mil pessoas nas ruas de cidade de Salvador
no último dia 7 de novembro de 2015. Em um cortejo negro-afro que seguiu da
Praça do Campo Grande até a Praça Castro Alves, o que se ouvia era um clamar
negro que se repetia : “Eu estou na rua é pra lutar pelo direito do cabelo
encrespar!” e mais “Cabelo crespo não é moda, pelo contrário, é resitência e
história!”.
As organizadoras da Marcha definem seus obejtivos de forma bem sucinta na
página do Facebook:
A Marcha do Empoderamento
Crespo é um ato político de reconhecimento identitário e fortalecimento de um
povo que historicamente tem a sua existência negada. É necessário pautar o
cabelo crespo, expressar nossa raiz e ancestralidade, mas entendemos que essa
luta ultrapassa o viés estético, ela é um campo de afrontamento ao racismo.
Através do debate afirmativo da estética negra, queremos empoderar o corpo
negro, que é maioria na defasada e descontextualizada rede pública de ensino,
que é maioria nos presídios, que morre todo dia pela ação violenta da polícia,
que é arrastado por quilômetros pela viatura policial, que é maioria no
subemprego, que é maioria entre os 'moradores de rua', que está vulnerável à
violência, que é maioria numérica, porém, uma minoria política e social. Por
isso, entendemos que o nosso movimento é relevante e necessário e vem pra somar
às lutas antirracismo.
E mais, como forma a dialogar com diferentes
comunidades locais, ocorreram duas Pré- Marchas. A primeira pré- marcha ocorreu
no dia 29 de setembro de 2015, no bairro do Cabula, no campus da Universidade
do Estado da Bahia, contando com um público de 100 pessoas. A Pré- Macha contou
com intervenções artísticas, oficinas de turbantes e rodas de debates, além de
abrir espaços para jovens empreendedoras negras.
Foto Caroline Nepomuceno
A segunda pré- marcha aconteceu no bairro do
Nordeste de Amaralina, no dia 17 de outubro de 2015. Organizada próxima ao ao
dia das crianças (12 de outubro), estas se mostraram como pauta principal da
marcha. Entre oficinas de turbantes, contação de histórias e contos infantis,
rodas de conversas, produções de cartazes e apresentações artísticas do Grupo
Boca Quente e do grupo de percussão Quabales, do próprio bairro, a caminhada
seguiu nas ruas finalizando seu trajeto com uma grande roda no largo do fim de
linha do bairro.
Foto Caroline Nepomuceno
A 1ª Marcha de Emponderamento Crespo contou
com o apoio a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado ( Sepromi),
a Secretaria Municipal da Reparação (Semur), Secretaria de Políticas para
Mulheres ( SPM Bahia), entre outros órgãos e organizações.
Como todos sabemos, o negro na sociedade
brasileira construiu inúmeras formas de resistências, desde a criação e
manutenção de quilombos, rebeliões, revoltas, construção de Irmandades, caixas
de alforrias, constituição de movimentos sociais unificados, etc. Na década dos
anos 1960, surge o movimento Black Power como forma de afirmação e valorização
do corpo e estética negra.
Hoje encontramos novas formas de racismos na
sociedade, por se encontrarem de forma velada e silenciosa, se torna mais
perigoso e sutil. Com a utilização das redes sociais pela grande massa da
população temos nos deparado com atitudes racistas que agridem desde pessoas anônimas
aos olhos da mídia até modelos, atrizes e apresentadoras de TV.
Diante dessa urgência, é mais do que
pertinente a necessidade de nos fortificarmos para enfrentar situações
preconceituosas como as citadas. Atos políticos como o que foi proposto pela 1ª
Marcha de Emponderamento Crespo devem servir de inspiração e de fortalecimento
da identidade negra e, por que não, do seu empoderamento?
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Caroline Nepomuceno é Professora da Rede
Municipal de Educação
Fonte:
Prezada Carol feliz demais em ter educadoras comprometidas com o fortalecimento da identidade das crianças negras na escola. O sucesso do movimento se da porque temos um objetivo comum: O Fim do Racismo. Gratidão
ResponderExcluirIvy Guedes