Por Marco Aurélio Luz
Se não me
falha a memória, fui convidado por João Jorge do Olodum e Walmir França dos
Negões a participar de um grupo reunido na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, para sugerir ações a serem
adotadas nos primeiros "100 dias" do governo Valdir Pires.
João Jorge Rodrigues dirigente do Olodum
Foto disponível na Internet
Valmir França Tata e Marco Aurélio Luz Oju Oba
Foto do acervo M . A. Luz
Nossa parte
era referente aos interesses da “comunidade negra”. Resolvemos convidar
representantes de instituições do “movimento negro” de então, como Mestre Didi Alapini que pediu para representá-lo, o professor Abade Ogan Otun Olokotun Jagun da Casa Branca, o
Abajigan Everaldo Duarte do Bogun,Valmir França Tata do Bate Folha, Mestre Cobrinha e Mestre Moraes ambos da capoeira, Djalma dos Filhos de Gandhi, Vovô do Ilê Aiyê, João
Jorge e Lazinho do Olodum, Amor Divino do Oba Dudu, e tantos outros, que se
reuniam na Secretaria de Justiça e Direitos Humanos no Centro Administrativo
então dirigida por Jorge Medauar.
As
principais propostas para os "100 dias" foram; a retirada do posto de gasolina em
área limítrofe com a entrada do terreiro da Casa Branca, considerado o mais
antigo da tradição dos orixá; a retomada dos objetos de arte sacra do museu da
polícia Nina Rodrigues, devolvendo-os para seus lugares de origem ou lugares adequados, conforme
recomendações do Iº Seminários de Cultura da Cidade de Salvador em 1975; um
local acolhedor para as academias de capoeira; contemplar espaços no carnaval
para os desfiles de afoxés e blocos afro.
Vale
ressaltar que o Iº Seminário de Cultura da Cidade de Salvador, encaminhou
proposta de um abaixo assinado, convocando figuras exponenciais da sociedade
para exigir o fim da exigência das casas de culto de matriz africana, de
informar as autoridades policiais o dia e data que realizariam suas
cerimônias públicas. Em 1976 o Governo da Bahia atendeu a esse reclamo.
Para o
encaminhamento de propostas durante o governo ora estabelecido, foi proposto a
criação de um Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra a ser instalado no Gabinete do Governador.
Por
iniciativa de João Jorge, foi convidado o advogado e constituinte liderança do
movimento negro, Hélio Santos da Secretaria de Assuntos Afro de São Paulo e que
participara da criação do Conselho.
O Jurista Dr. Helio Santos
Foto disponível na internet
A Secretaria
de Assuntos Afro de São Paulo se destacava, pela realização do Projeto Zumbi com o apoio da Secretaria de
Cultura e alguns líderes como Cândido, Gustavo de Exu, Benedito Luís Amauro o Lumumba e Batista dentre muitos outros, com
a presença de várias delegações do Brasil.
Nessa
efervescência, Hélio Santos esteve na Bahia e apresentou a experiência de São
Paulo que foi incorporada as nossas propostas.
Encaminhada
as propostas ao governo eleito,infelizmente elas não tiveram nenhuma resposta e aos poucos
nosso grupo foi se dissolvendo.
Sem Conselho,
algumas propostas se concretizaram como a retirada do posto de gasolina e a
criação de uma praça pertinente a fachada do terreiro da Casa Branca, e a
criação do espaço Forte da Capoeira no largo de Santo Antônio.
A Praça de Oxum na Casa Branca, Ilê Iyá Nassô Oká
Foto disponível na Internet
Forte da Capoeira
Foto disponível na internet
Anos depois,
outro governo se apropriou da criação do Conselho, esvaziando a proposta
inicial, e também substituindo a composição de líderes das instituições por
pessoas indicadas pelo governo de ACM.
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