Logo do Programa Descolonização e Educação
Criação/concepção de Marco Aurélio Luz
Por Narcimária Luz
Em
1998, concebemos no Departamento de Educação do Campus I o Programa
Descolonização e Educação-Prodese,cujo logo foi criado pelo escultor Marco Aurélio Luz.O logo vem estampado nas capas do ciclo das publicações SEMENTES Caderno de Pesquisa, canal editorial próprio do Programa institucionalizado em 2000 na UNEB.
Sobre o logo,é importante destacar sua simbologia.Observem
os triângulos. Eles formam o machado duplo, símbolo de sociabilidade 2+1=3,o
casal mais um, continuidade ininterrupta da existência, princípio do orixá
Xangô, complementado pelos pequenos círculos que contém as três cores básicas
da existência: branco, preto e vermelho, existência abstrata, mistério, sangue
circulante. Duas flechas, simbologia da origem da humanidade, emblemas de Odé o
caçador. Dois arcos complementar o ofá, arco e flecha, e também alusão ao
berimbau, instrumento básico da capoeira, ícone da liberdade. Coluna de
triângulos, losângulos, simbologia dos machados duplos sustentando a sucessão
contínua do existir.
No
Prodese, reunimos ao longo dos anos pesquisadores/as mobilizados/as para
produzir ideias e iniciativas que removam os entulhos ideológicos
característicos de determinadas geografias conceituais, a exemplo do
recrudescer de análises reducionistas sobre
alteridade e diversidade cultural, que recuperam perspectivas do final do
século XIX e início do século XX.
Seminário Ètica da Coexistência,dinâmicas Territoriais e Comunalidades/2001
Mesa Mémória e Continuidade
Da direita para esquerda Pedro Garcia,Marcos Terena.
Sincretismo, mestiçagem, “laboratório racial”
no dizer de Gilberto Freire agora reeditado, saturam vários espaços acadêmicos,
inclusive aqueles dedicados à formação de educadores. Apesar das nossas
críticas a essas ideologias, ainda encontramos classificações
etnocêntrico-evolucionistas sobre as projeções educacionais das comunalidades
africano-brasileiras tratando-as como essencialistas, holísticas,exóticas,românticas,híbridas,mutantes,classificadas
como pensamento “não científico”, deformando, apequenando e encobrindo os
valores do nosso patrimônio cultural.
Mesa de abertura do Seminário Ètica da Coexistência,dinâmicas Territoriais e Comunalidades/2001Da direita para a esquerda Gilca Assis,Manoelito Damasceno,Maria José Palmeira e Narcimária Luz
Esses
repertórios conceituais em voga, geralmente reprodução de contextos
radicalmente distintos da nossa realidade, se estabelecem como um “manto de
ferro”, censurando de modo perverso a nossa alteridade civilizatória.
Nesse
contexto teórico-ideológico, a rejeição possui inúmeros aspectos, é o terreno
onde se constrói o apartheid ideológico,
onde derivam os preconceitos e os estereótipos.
Painel Ética da Coexistência,dinâmicas Territoriais e Comunalidades/2001A esquerda Juana Elbein dos Santos e à direita Joel Rufino dos Santos
No sistema oficial de ensino, a
onipotência do conhecimento e a pura abstração que envolve a ciência,se vale da
crítica,condenação e o combate incessante aos discursos míticos e filosóficos.
Acrescente-se ainda que por sua vez o discurso científico cada vez mais visa
atender as demandas da tecnologia e essa, por sua vez as demandas do
produtivismo industrial, de estimulação militarista, fator de acumulação
incessante do capital financeiro, uma ordem de valores bem distinta das
elaborações sobre o mistério do existir constituinte dos demais discursos,
especificamente em outros contextos culturais.5
Conferencistas e pós-graduandos/as do Programa de pós Graduação em Educação e Contemporaneide que participaram do evento em 2001.
O mais decepcionante dessa
constatação é a sujeição voluntária de muitos educadores aos discursos que
denegam a possibilidade de afirmação do princípio de ancestralidade que
dinamiza o estar no mundo de muitas comunalidades de base africana e aborígine
nas Américas. Este tem sido o nosso maior desafio: penetrar nesses espaços
institucionais oficiais e tentar (des) recalcá-los e (re) aproximá-los do nosso
solo de origem.
Professores Marco Aurélio Luz e Samuel Vida colaborando com a disciplina Epistemologia Africano-brasileira e Educação(2003)
Numa
entrevista o Professor Márcio Nery de Almeida pesquisador do PRODESE,
indagou-me: “Como e porque surgiu o PRODESE-Programa Descolonização e Luz,
Marco Aurélio. Entrevista concedida a coordenadora do PRODESE em outubro de
2007 Educação?”
Respondi:
Como
forma de ação para expandir novos valores e linguagens emergentes da
civilização africano-brasileira na educação. O Prodese não foi uma escolha. Foi
uma precisão, um caminho necessário para exatamente transitar, caminhar por
territórios outros, “casa alheia” sem ter de perder a identidade, sufocada por
uma educação neocolonial. Identifico-me com o campo semântico prenhe dos
princípios que caracterizam a ancestralidade africano-brasileira. Então quando
apelo para o princípio de ancestralidade estou me referindo aos princípios
inaugurais da existência que irão constituir a fundação de territorialidades,
famílias, instituições, comunalidades, modos de sociabilidades, inclusive modos
de produção, enriquecidas por valores éticos e estéticos que asseguram a
continuidade de civilização africana. A ancestralidade carrega os princípios
masculinos e femininos da existência e se perde na noite dos tempos. (Luz, N.
2007, p.35-46)
Atividades do Prodese no auditório do Departamento de Educação I Uneb
Pois
bem, a equipe Prodese dedica-se a apurar essas abordagens e apontar um outro
continente teórico-epistemológico que transcenda as fronteiras do recalque e
legitime nossas origens
Atividade do Prodese no auditório o Departamento de Educação I Uneb
Ao centro Nilma Lino Gomes e Raphael Vieira Filho coloborador e parceiro nessa atividade em 2012
O
PRODESE integrou até 2015 o Diretório de Grupos de Pesquisa do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq, e ao longo desses
anos fomos compondo parcerias importantes que nos abriram vários canais para
divulgarmos nossas produções, a exemplo: Ministério da Cultura Fundação
Biblioteca Nacional-(Rio de Janeiro-Brasil)onde tivemos oportunidade de
participar do Programa de Bolsas para Autores em Obra em Fase de Conclusão com
a obra “Itapuã;portal da nossa ancestralidade afro-brasileira” desdobramentos
da nossa pesquisa no âmbito do Pós-Doutorado na Escola de Comunicação na
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Evento de comemoração dos 70 anos de Muniz Sodré na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro/2012.
Da esquerda para a direita Raquel Paiva,Muniz Sodré,Márcio Tavares do Amaral e Narcimária Luz
Destacamos também a nossa relação com o Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro(Brasil) junto à equipe do Drº Muniz Sodré Conselheiro da Revista Sementes,desenvolvendo iniciativas comuns no campo da Comunicação e Cultura
especificamente das comunalidades africano-brasileiras;outra importante
parceria é a Alliance pour um Monde Responsable, Pluriel et Solidaire (França)
juntamente com a Rede Mundial de Artistas em Aliança espaços em participamos
como animadores culturais desde 2001, e na Bahia o projeto de Extensão
Dayó nos representa junto à essas Redes e Alianças; Université Renée Descartes
Paris V Sorbonne através do Centre d'Études sur l'Actuel et le Quotidien(França)
sob a coordenação do professor Michel Maffesoli, Conselheiro da Revista
Sementes, publicação do PRODESE.
Pesquisadoras do Prodese Austrelina dos S. Ferreira e Rosemeire Rufina dos Santos num encontro com Michel Maffesoli em Salvador em 2005 entregando exemplares do Sementes.
O professor Michel Maffesoli tem acolhido as
solicitações de nossos/as pesquisadores/as para realização de curso de
Doutorado e Estágio Pós-Doutoral; ACRA - Associação Cultural Crianças Raízes do
Abaeté (Ponto de cultura do MINC em Salvador-Bahia-Brasil) e o
Grupo Capoeira
Abolição em Oxford-Inglaterra e também na África do Sul sob a responsabilidade do Mestre Luís
Negão,são organizações que intercambiaram com as iniciativas do nosso projeto de
extensão DAYÓ.
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