Por Narcimária Luz
Estamos vivendo situações no nosso cotidiano,em determinados contextos urbano-industriais, que nos obrigam a parar e refletir sobre a “ética da embromação” que estimula atitudes como: dissimulação,descaso,desrespeito,mediocridade,egoísmo,”puxa saquismo”,agressividade,"em terra de cego quem tem olho é rei”,”levar vantagem em tudo”,”intrigas”,prepotência,arrogância,jogo das aparências,”levar no bico”,”se dar bem doa a quem doer”,ganhar sempre...
A “ética da embromação”, estabelece regras comportamentais de como “ser” no mundo contemporâneo,constituindo um triste e perverso legado para as gerações sucessoras que nascem acreditando que isso é viver,é ser, isso é “normal”.O mais triste nesse cenário: quem recusa a “ética da embromação” é considerado:bobo,”otário”,abestalhado,fora de moda,etc.
Essas tramas comportamentais, infelizmente vêm se impondo nas relações sociais entre adultos,jovens e crianças...Não se considera mais nada!
Para aprofundar essas e outras inquietações,o blog da ACRA apresentará a cada semana, uma parte da crônica de Lima Barreto “O homem que sabia javanês”.
A crônica escrita no contexto da velha República (1911) no Brasil,carrega humor, ironia, mobilizando o/a leitor/a e fazendo-o/a entender de forma crítica, a “ética da embromação” no Brasil dos tempos de Lima Barreto e o Brasil do nosso tempo.
Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro no dia 13 de maio de 1881.
Imaginem só!
No dia da abolição da escravatura ele completou 7(sete)anos.
Seus pais eram afrobrasileiros reféns do sistema escravista.Seu pai Joaquim Henriques de Lima Barreto, trabalhava como tipógrafo.Sua mãe Amália Augusta, era professora primária.
Essas memórias da sociedade brasileira marcada pela ideologia racista,desigualdades sociais e as mazelas características da conduta do estamento dirigente no período escravista e pós-abolição,influenciaram decisivamente a qualidade literária,crítica e competente desse exponencial jornalista e escritor.A sociedade da “embromação" que Lima Barreto viveu,prossegue mantendo as mesmas mazelas,claro que com outros matizes contemporâneos.Mas,uma coisa temos certeza, se Lima Barreto estivesse vivo verificaria que nada mudou,infelizmente.
Afonso Henriques de Lima Barreto,esse era o nome desse carioca da “gema do ovo”.
Lima compôs suas obras com abordagens que nos aproximam do ponto de reflexão que apresentamos hoje no blog: a embromação como uma ética que atravessa os tempos regulando as relações sociais.
“O homem que sabia javanês” é narrado na primeira pessoa, apresenta a história de Castelo que encontra numa confeitaria do Rio de Janeiro, um amigo e aproveita para contar as embromações que ele fez para “se dar bem na vida”.
A embromação de Castelo, foi ter ministrado aulas de javanês para o Barão de Jacuecanga sem nunca ter aprendido o idioma javanês.Imaginem só quantas situações inusitadas Lima Barreto explorou para compor a trama.
Convidamos a todos/as a acompanharem semanalmente essa crônica intrigante,divertida cheia de suspense e surpresas.
Li e recomendo a todos/as.
Boa leitura!
Gosto da obra, é incrível como realmente estamos vivendo este momento da "embromação", onde um quer ser melhor do que o outro, onde a individualidade impera, e o "eu primeiro"é que importa. O amor ao proximo ficou só nas palavras e na escrita, por que na prática, um abraço, e ações não existem.
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