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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

AFOXÉ É DE ORIGEM NOBRE

Seguindo o alerta que está na música do compositor e poeta Gerônimo a ACRA tem o prazer de anunciar:

JÁ É CARNAVAL CIDADE ACORDA PRA VER!!!!!!!!


AFOXÉ

É DE ORIGEM NOBRE


Marco Aurélio Luz¹


Mãe Senhora, Iyalorixá Oxun Muiwa e Iyanassô, esse título recebido do Alaafin Oyó, rei de Oyó, a capital política do reino nagô-yoruba onde Xangô é o orixá patrono, demarcava a territorialidade de seus poderes com a frase “- da porteira prá dentro, da porteira para fora”, querendo destacar a soberania absoluta da tradição que assegura a continuidade do axé, dos ilê axé das casas de axé.

Se por um lado no que se refere à liturgia, aos preceitos rituais, os poderes hierárquicos da tradição são absolutos, no que se refere as ações projetadas para fora elas entram em espaços de luta e afirmação.

É aqui nesse contexto que se situam os afoxés, cujas armas são a estética do encantamento composta de beleza e alegria, valores da linguagem da tradição nagô se espraiando pelo espaço urbano do carnaval.

Nas vilas e cidades nagô-yoruba na África é comum festivais religiosos acontecerem em espaços públicos, as entidades desfilam acompanhadas pelo povo em procissão, como o culto Gelede dedicado as Mães Ancestrais, em Ketu, festivais do culto aos Baba Egun, os ancestrais masculinos, em diversas cidades do antigo império yoruba, as oferendas do Ataojá ao rio Oxun para o rei Laro, ancestral fundador da cidade de Oshogbo, onde Oxun é o orixá patrono, ocasião que ocorre a visita de vários reis vizinhos que reforçam os laços de amizade, o festival Epa em Ekiti, onde ocorre um cortejo de entidades que proporciona a elaboração da saga da humanidade, na presença das maiores autoridades locais, dentre muitos e muitos outros cortejos.

No Brasil, num contexto histórico adverso para manter viva essas tradições africanas dos cortejos, eles acontecem em meio a certas referências católicas como a procissão da sociedade de N. Senhora da Boa Morte em Cachoeira, a famosa Lavagem do Bonfim em Salvador, e outras referências africano brasileiras como os cortejos das Congadas, a coroação dos reis e rainhas do congo, espalhadas pelo país.

Algumas instituições se deslocam para o carnaval, como por exemplo os Maracatus.

O afoxé Troça Carnavalesca Pai Buruko, foi fundado em Salvador por Deoscoredes Maximiliano dos Santos, descendente da tradicional linhagem Asipa, nos dias de hoje Mestre Didi Alapini, na roça do Ilê Axé Opo Afonjá, no tempo da inesquecível Mãe Aninha, Iyalorixá Oba Biyi, nos fins da década de 30. Ele e mais alguns amigos seguiram as orientações da avó Aninha, e depois de algumas tratativas foi criado o Pai Burukô.

Afoxé é palavra da língua yoruba composta de duas outras palavras, afo, que é sopro, hálito que acompanha a emissão da palavra pronunciada, de quem a pronuncia, e axé, que em geral se traduz por força espiritual, força emanada de uma visão sagrada de mundo.
A levada das mensagens dos integrantes do grupo carnavalesco se faz através do ritmo ijexá, que é característico de Oxun patrona da música.

Os instrumentos são básicamente pequenos tambores ou atabaques, os agogô, os xekeré,
e ainda, na partida também os clarins para a execução do hino.

Antes de mais nada porém, para que as mensagens sejam bem recebidas , e tudo ocorra bem são feitos os preceitos necessários as entidades para que protejam e abram os caminhos por onde circulará a Troça...

O Pai Burukô canta e dramatiza os valores e os desejos de liberdade de sua gente afirmando desde suas vestimentas, o cabedal de herança do contínuo civilizatório africano e as estratégias da luta de reposição e afirmação existencial no contexto em que acontece.

O afoxé possui alguns momentos característicos após o hino, afirmações e reinvindicações como nos versos,”jiribumbum, qui tera é nossa”, “visitá governadô prá esse vida miorô” a dramatização do “oluô” que brinca com os assistentes “jogando búzios”, “aile aila Buruko já vai jogá”, a “fuga”, “pai Buruko soldadevém”, “entra em beco sái in beco”, as brincadeiras ao som do ijexá ou do samba de roda, “o samba aqui tava bão gente de fora chego trapaiô”, as despedidas, “ minha gente vam simbora qui o vapo já suviô essa gente anda dizendo qui o agogô num presto...”

O afoxé vai evoluindo no ritmo encantador do ijexá e na alegria de seus componentes irmanados na liberdade da afirmação de seus valores através da brincadeira, da troça, Troça Carnavalesca Pai Buruko.
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¹ Elebogi e Oju Oba, integrante da Troça Carnavalesca Pai Buruko
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A seguir uma entrevista com Fernando Pamplona um dos grandes carnavalescos da história das escolas de samba do Rio de Janeiro e que promoveu e afirmou nos desfiles temas relacionados a civilização africana no Brasil, a exemplo de 1971 em que o Salgueiro ganhou com o enredo "Festa para um rei Negro".

Fernando Pamplona é "Mestre de uma geração de carnavalescos que mudou a história dos desfiles das escolas de samba, Fernando Pamplona dispensa maiores apresentações. Após mais um dia de trabalho na TV Educativa do Rio de Janeiro, onde apresenta o programa "A Verdade", o ex-carnavalesco recebeu com simpatia a reportagem de OBatuque.com numa mesa do tradicional Salsa & Cebolinha para um descontraído bate-papo sobre escolas de samba e cultura popular.
"OBatuque.com - Como se aproximou do mundo do samba?
Fernando Pamplona - O único interesse que eu tenho de conhecimento é cultura popular. (...) Eu sempre me interessei pela cultura popular. Primeira coisa que eu fiz lá além dos desafios: "Capivara correu / No buraco se meteu / Esse bicho corre mais / Do que o vapor Minas Gerais". Vapor Minas Gerais era um ferro-velho, um couraçado inglês da 2ª Guerra que nós compramos. Era capitânia da esquadra do Brasil. Eu vi um boi e me encantei pelo boi. Daí em diante, mesmo adulto e já no Rio, quando eu viajava queria ver o maracatu, entrava em Minas e queria saber o que era uma congada. Via tudo que era atividade popular. A mesma coisa era o carnaval. Carnaval não era meu interesse fundamental e nunca foi. Era uma expressão cultural, popular e autêntica." Veja aqui a entrevista na íntegra
Veja o vídeo com a velha guarda do Salgueiro cantando Festa para um Rei Negro Ver

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